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Muito tem sido falado no último ano acerca de uma suposta crise global de refugiados. Ao longo deste artigo, pretende-se questionar a existência de tal “crise” e seus múltiplos efeitos. É possível analisar e discutir o fenômeno global migratório a partir de diversos recortes acadêmicos: juridicamente, economicamente e no âmbito da saúde. Partindo de uma noção construída por Michel Foucault de Saúde – biopolítica, de controle e disciplina, normatizadora – se buscou pensar nas maneiras pelas quais os sistemas de Saúde Pública vêm se estruturando para atender – ou não – migrantes e refugiados. É preciso que conceitos engessados de Saúde e Refúgio sejam reelaborados, que, diante do novo, não se caia em discursos estereotipados e preconceituosos, mas se construa um devir saúde, mais coletivo e múltiplo.
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O atual contexto sociopolítico brasileiro conduzido pelo Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) institui sobre a infância e adolescência um olhar de cidadania. Este artigo busca problematizar as práticas de conselheirxs tutelares que, pautadas por uma lei específica, capturam crianças e adolescentes enquanto sujeitxs de direitos, e ao mesmo tempo reafirmam seu assujeitamento pela tutelação. Narramos os estranhamentos encontrados durante uma pesquisa realizada em um Conselho Tutelar (CT) a qual buscou conhecer as relações que perpassam o trabalho dxs conselheirxs, e compreender suas experiências relativas ao acolhimento e ao encaminhamento de casos. Percebemos no decorrer da pesquisa que as práticas dxs conselheirxs indicam quais são os melhores trajetos para crianças, adolescentes e famílias caminharem, ratificando o paradoxo entre autonomia e modelação, e entre igualdade e proteção. Defendemos que é necessário romper com as naturalizações cotidianas para criar outras lógicas e direções nos modos de atuar com a infância e adolescência.
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O presente trabalho analisa o discurso da loucura na obra autobiográfica Hospício é Deus, de Maura Lopes Cançado. Analisar um discurso implica em articular texto e contexto. Para tal, a autora é colocada em foco, a partir de sua experiência como mulher subalternizada, em um determinado contexto histórico, articulado ao contexto da história das instituições psiquiátricas. Seu livro-denúncia prenuncia a reforma psiquiátrica brasileira. Em seu diário, Maura se vê às voltas com questões relacionadas a ser louca. Descreve o hospício, as mulheres internadas, as relações com médicos, enfermeiras e funcionárias, os tratamentos e os maus-tratos. A loucura desafia sua compreensão e a visão inicial do hospício como um lugar fora do mundo não encontra ressonância em um cotidiano institucional opressivo, que ela passa a denunciar.
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Introduzido como esporte e apreciado por setores privilegiados da sociedade, o futebol popularizou-se no primeiro quartel do século XX entre as camadas mais populares do Brasil. Apesar da ação repressiva governamental, é provável que a nascente burguesia industrial brasileira tenha observado na prática um elemento também capaz de promover suas marcas, além de disciplinar operários e ocupar o tempo de lazer dos trabalhadores ao impulsionar o gasto de energia dos mesmos com atividades desvinculadas da produção fabril, em plena fase de explosão do movimento operário brasileiro. A partir da década de 1930, o Estado brasileiro, sob o comando de Getúlio Vargas, conteve as mobilizações promovidas pelos trabalhadores ao enquadrar tanto a classe operária quanto a burguesia industrial sob seu controle; para tanto, um dos elementos utilizados foi o futebol que, além de instrumento de desmobilização política, serviu à edificação de certa identidade nacional, em pleno período do Estado Novo (1937-1945). O sucesso do Brasil na Copa de 1938, realizada na França, teria dado consistência às intenções varguistas.
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Saúde Coletiva, uma invenção brasileira, constitui uma nova forma de articular saberes e práticas originadas de instituições da área da Saúde Pública e da Medicina Preventiva e Social. Instituída no Brasil durante as décadas de 1960/70, teve, sem dúvida, um caráter inovador em relação ao que existia à época no setor saúde. Seu desenvolvimento até os dias atuais vem ocorrendo através de cursos de graduação e pós-graduação promovidos por universidades públicas, criados a partir, sobretudo, da atuação da Associação Brasileira de Saúde Coletiva/Abrasco, fundada em 1979. Além disso, a Associação tem promovido congressos nacionais e internacionais, bem como publicado revistas, livros e boletins. Colaborando com outras entidades da sociedade civil, a Abrasco vem se manifestando de forma crítica e ética diante de fatos relacionados às políticas de saúde e de educação e a outros acontecimentos de ordem política, econômica, social e ideológica que ocorrem no país.
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As dimensões políticas e educativas da Saúde Coletiva no Brasil
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Neste artigo problematizamos como o discurso científico, em sua face mais dura, na busca pela verdade absoluta trata a adolescência como universal. Em geral, as teorias desenvolvimentistas atribuem às etapas da vida uma linha de continuidade evolutiva, como se cada fase tivesse seu tempo e fosse ultrapassada a fim de se chegar à próxima. Baseadas em um paradigma racionalista, elevam a adolescência a um ideal, a uma fase delimitada do desenvolvimento humano, com características bem definidas. Produz-se, assim, um processo de normalização que cristaliza uma forma de ser e estar no mundo, e que nega a heterogênese dos modos de existência. Destacaremos algumas discussões com relação aos aspectos notadamente culturais e históricos da adolescência, que colocam “em xeque” essa noção de universalidade.
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Este trabalho refere-se à análise dos laudos psicológicos e sociais, ligados a vara de família, especificamente sobre um caso de separação que envolve a disputa pela guarda compartilhada. Procurou-se analisar os subtextos dos laudos em relação a questões que se referem ao conflito familiar no cuidado de uma criança, na capacitação do(s) pai (s) quanto ao exercício da guarda e também à atribuição da modalidade da guarda. Além da demanda determinada pelo juiz, investigou-se também os discursos dos operadores do direito, com a intenção de se fazer uma leitura mais aprofundada do caso. A proposta metodológica se fundamenta nos núcleos de significação, que parte da concepção de que todo fenômeno psicológico deve ser analisado a partir das condições sociais e históricas. Os resultados foram constituídos em dois núcleos: a) a dificuldade de separar a conjugalidade da parentalidade; b) os diferentes sentidos atribuídos à guarda compartilhada. Os discursos revelam muito pouco sobre as demandas da criança. Os subtextos têm como eixo a busca pela harmonia nas relações de parentalidade e a atribuição da guarda materna como prioridade. O que se destaca é que os discursos priorizam o comportamento individual e não a dinâmica família e as desavenças entre a parentalidade e conjugalidade como intrínsecas aos processos de separação e disputa de guarda.
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O objetivo desse artigo foi analisar o processo de institucionalização do espiritismo no Brasil e a opção por sua institucionalização e busca de legitimidade como religião. Percebeu-se que tal opção foi profundamente marcada pelo embate com a psiquiatria, também em busca de legitimação social à época, no questionamento que essa fazia às concepções e práticas espíritas relacionadas ao tratamento de problemas mentais. A institucionalização enquanto religião forneceu um espaço de reconhecimento social e institucional para o espiritismo, que possibilitou que suas práticas ocorressem protegidas legalmente dos questionamentos médico-psiquiátricos. Nesse contexto, a criação dos hospitais psiquiátricos espíritas foi a forma encontrada para possibilitar expressão da vertente científica do espiritismo, o que estabeleceu uma associação entre saber médico e saber espirita na estruturação dessa vertente no espiritismo no Brasil.
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Tendo como suporte a narrativa de uma experiência de trabalho em uma ONG, esse escrito assume, como objetivo principal, a investigação de algumas engrenagens do “empreendedorismo de si” em nossa sociedade. Assim, tomando como fio condutor a questão do empreendedorismo sob a forma da “capitalização da vida”, esse trabalho se desdobra em alguns eixos de análise tais como a urgência de um tempo da produtividade − onde não há separação da produção de subjetividade da econômica − e a criação de zonas de resistência num mundo regido pela velocidade. Partindo de um relato de experiência, esse artigo se desenvolverá atrelando essa narrativa a uma breve pesquisa bibliográfica, em que faremos uso de autores como Michel Foucault, Maurízio Lazzarato, Gilles Deleuze e Felix Guattari.
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Este artigo busca problematizar os modos como se engendram narrativas e escritas a partir das experiências pela cidade. Um jovem pesquisador, forasteiro na cidade que lhe é familiar, toma suas experiências como espaço de problematização do presente, analisando os processos de transformação urbana e seus efeitos sobre os modos de subjetivação. Afirmamos que outra forma de conceber e narrar a cidade é possível, na medida em que nos dispomos a outras formas de experienciá-la. Experiência e Narração são pensadas a partir das concepções de Walter Benjamin. Dessas experiências, narrativas foram forjadas, a partir de cenas do dia a dia que escapam das tentativas de normatização, com o intuito de provocar interferências e paradoxos no presente da urbe, mantendo-a viva e inacabada. Aposta-se numa escrita que se faz a partir das fissuras que irrompem naquilo que se quer contínuo na história, preservando a irredutibilidade do passado e a imprevisibilidade do presente.
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Este estudo trata de uma discussão no campo da história da psicologia no Brasil sobre a questão da originalidade e da autoria de algumas obras publicadas em território nacional. A partir de uma crítica a uma concepção de que os psicólogos brasileiros historicamente importam modelos estrangeiros, busca-se trabalhar alguns elementos autorais e aspectos nacionais presentes no interior de algumas obras publicadas no início do século XX. As obras aqui analisadas constituem-se de alguns manuais, os Testes ABC de Lourenço Filho e outras publicações fora do escopo médico e pedagógico. Com isto, propomos uma reflexão sobre a historiografia e como ela reproduz uma hierarquia na produção de conhecimento. Finalizamos a discussão com uma leitura a partir da expressão "Ciência Desembarcada" de Henrique Cukierman e algumas noções propostas por Vilém Flusser em sua Fenomenologia do Brasileiro, apontando para a possibilidade de se narrar uma história que não se reduza a aplicações de modelos estrangeiros, mas que de fato possui contornos brasileiros.
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Tendo como palco de análises um conselho tutelar do estado do Rio de Janeiro, problematizamos neste artigo alguns efeitos e produções de escuta de atores que habitam esse estabelecimento. Tomamos como referencial teórico as contribuições de Foucault, Deleuze, Guattari e Derrida no que se refere, prioritariamente, às práticas discursivas e às relações de poder. O corpus da pesquisa foram diários de campo de estagiárias de psicologia escolhidos e disponibilizados pelas autoras. A partir do encontro com o material cedido, o grupo de pesquisa foi se afetando com as narrativas ali relatadas e construindo histórias aqui apresentadas como situações analisadoras. Histórias e discursos que, norteados pela escuta surda ou pela escuta experimentação, produzem acolhimento, exclusão, normatização, sujeitos essencializados ou não.
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Tradução de BROSSAT, A. Boîte à outils ou supermarché d’idées ?. In: BERT, J.-F. & LAMY, J. Michel Foucault: un héritage critique. Paris: CNRS, 2014, p. 263-267. Tradutor: Alessandro Francisco.
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Trata-se de um ensaio crítico que, forma geral, propõe reflexões acerca das relações entre ideologia, marketing, desejo e subjetivação em contextos de reestruturação produtiva do capital. Defende-se a relevância acadêmica e social do debate permanente sobre mudanças nas formas de organização da economia e gestão do trabalho e de como essas transformações geram sofrimento psíquico para os trabalhadores e impacto nas formas de embate entre capital e trabalho. Argumenta-se da premência de se pôr em pauta, no cerne dos debates em psicologia crítica, as relações entre as categorias trabalho e subjetividade. Evidencia-se a dialética do processo de alienação e analisa-se o processo de produção de consciência alienada que se dá por intermédio dos meios de comunicação. Expõe-se, além de operações de subjetivação explícitas na propaganda de produtos e serviços, algumas armadilhas semânticas exploradas pelo marketing que se embute e se dissimula no jornalismo, sobretudo o televisivo, em tempos de impeachment.
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Este texto é um biografema – biografia inventada e fragmentária –, sem compromisso com dados e fatos comprováveis pelos grandes arquivos. É inspirado na vida de Ângelo, apenado do Presídio Central de Porto Alegre, que escreve cartas a amigos e familiares. “O açougueiro” cria uma insólita realidade em que a escrita é performatizada como ato de testemunhar, dando luz a um passado que não está nos arquivos, mas no ato de retirar de sua poeira esquecida o que insiste.
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O artigo aborda a discussão ocorrida em instituições educacionais da Companhia de Jesus sobre a função da psicologia no currículo de estudos, nas primeiras décadas do século XX na Europa. O estudo baseia-se num levantamento histórico de fontes inéditas no arquivo geral da Companhia de Jesus em Roma. A análise dos dados levantados evidencia que um dos temas mais debatidos é aquele das relações entre psicologia experimental e psicologia racional. Os resultados apontam que esta discussão é perpassada pela tensão entre tradição e inovação, que caracteriza a posição intelectual da Companhia como um todo; e pelo critério jesuíta da acomodação (acomodatio), ou seja, a necessidade da adequação ao contexto espaço-temporal de atuação. Mostram também que foi grande o interesse pela psicologia experimental no âmbito da Companhia naquele período histórico.
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Este ensaio problematiza as políticas de enclausuramento e docilização que orientam as comunidades terapêuticas voltadas ao pretenso tratamento de pessoas que usam substâncias psicoativas consideradas drogas pelo Estado. Adota como analisador o modelo terapêutico utilizado pela maior rede de comunidades terapêuticas do Brasil, a Fazenda da Esperança. As reflexões são tecidas em uma conversa com aportes teóricos antimanicomiais e da análise institucional. Argumenta-se pela importância de terapêuticas que potencializam, em contraposição às práticas de confinamento e docilização, as quais cada vez mais se fortalecem como modelos norteadores das políticas sobre drogas, no Brasil.
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Este artigo é fruto de uma investigação empírica acerca das modulações biopolíticas da amizade. A partir do estudo de alguns conceitos, como o de enunciado, sociedade de controle, biopoder, vida como obra de arte, episteme moderna e capitalismo como produtor de subjetividade, Michel Foucault, Gilles Deleuze e outros autores conduziram a uma busca metodológica pelo socius atenta a discursos pretensamente verdadeiros, que estabelecem vínculos específicos entre amizade, saúde e capital. “O que as amizades fazem do presente e o que o presente faz das amizades?” foi a pergunta que norteou o processo de escrita. Buscou-se problematizar os enunciados dirigidos à mesma, engendrados na sutileza do capitalismo contemporâneo que, reprodutores de certas relações entre saber e poder, concretizam e espraiam determinados modos de existência, em detrimento de outros possíveis. O artigo caminha, pois, na direção de uma aposta ética no posicionamento inventivo pela criação de amizades e de mundos.
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Autor
Tipo de recurso
- Artigo de periódico (1.670)
- Conferência (1)
- Livro (423)
- Seção de livro (1.091)
- Tese (494)
Ano de publicação
- Entre 1900 e 1999 (342)
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Entre 2000 e 2025
(3.333)
- Entre 2000 e 2009 (982)
- Entre 2010 e 2019 (1.578)
- Entre 2020 e 2025 (773)
- Desconhecido (4)