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Talvez seja possível imaginar uma vida que não seja definida por sua relação com a Empresa esse conjunto de práticas do ser-cliente e do ser-empreendedor; essa maquinaria de produção de competência e conveniência, de gestão das temporalidades e das diversidades. Acredito que seja possível, pelo menos, outras relações com a Empresa e, portanto, outras subjetividades. Por isso realizo esta analise dentro de uma perspectiva diferencialista inspirada por Foucault, Deleuze e Guattari, pela Analise Institucional, pelo poder criador da ficção. O dispositivo é montado: acompanhamos as subjetivações empresariais em ação por meio da formação, do consumo, do trabalho, do cotidiano, das atitudes, amizades e sonhos de um personagem, descrevendo o funcionamento da Empresa o jogo de suas práticas e as regras que nele se produzem e o orientam. Ao fim, não é possível ou desejável que eu te diga o que sentir, pensar ou fazer com as conclusões, mas posso te dar o diagrama da Empresa o que ela é e o que ela faz e pedi-lo que você escolha uma vida empresarial, ou não.
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O artigo apresenta a introdução das idéias relativas à psicanálise de crianças no Brasil nas primeiras décadas do século XX, na obra de Arthur Ramos. Partindo de uma investigação histórica, foram destacados da obra de Arthur Ramos os trabalhos dedicados ao tema da análise de crianças. Identificou-se a ocorrência de duas fases distintas e complementares no que concerne as características de sua produção psicanalítica. Na primeira, o autor limita-se a introduzir os conceitos psicanalíticos no meio educacional, familiarizando os professores com esta forma de pensamento. Na segunda, é introduzida uma prática de assistência a crianças com problemas escolares que foi inspirada na teoria psicanalítica e desenvolvida em Clínicas de Orientação Infantil. Conclui-se que com base nas formulações psicanalíticas e no trabalho prático, Ramos introduziu inovações no entendimento das dificuldades escolares da criança.
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Tendo por base suas próprias lembranças, mas trazendo para acompanhá-la falas de professores com os quais partilhou a experiência da implantação (1970-1982) de um dos primeiros programas de pós-graduação, a autora traça, em linhas gerais, alguns aspectos que marcam o período quanto ao vivido no país e na psicologia da época. Volta a 1963 e 1968, datas que marcam profundas alterações na instituição, descrevendo condições que propiciaram proposta comprometida com uma psicologia social diferente e com a formação de pesquisadores para a realidade brasileira. Acatando princípio segundo o qual uma data expressa ajuste de contas com o tempo anterior, descreve a experiência até a proposta do doutorado, detalhando projetos, atividades, vicissitudes em três movimentos: da criação à primeira autoavaliação (1970-75); das primeiras defesas ao debate de projetos desenvolvidos por colegas em outras áreas e países (1976-80); e, finalmente, o movimento em direção à proposta do doutorado (1981-82), consolidando o projeto.
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Evidenciam-se contribuições da Fenomenologia à discussão sobre o conceito de experiência na Psicologia contemporânea. Negação da experiência enquanto categoria gnosiológica leva a fragmentação do vivido, redução a representação ou a reações, negação do sujeito. Husserl aponta as raízes: objetivação do sujeito questiona fundamentos da cultura ocidental. Duas posições decisivas na formulação daquele conceito e constituição da Psicologia: (1) experiência subentende juízo; (2) experiência como sensação. Esta fundamenta a Psicologia moderna. Tal redução do conceito leva à crise da Psicologia científica: a inviabiliza como ciência da pessoa. A Fenomenologia (Husserl e Stein) repropõe a centralidade da experiência distinguindo vivência de experiência; síntese passiva de síntese ativa; a atitude própria das Ciências Naturais daquela das Ciências do Espírito. Experiência tem como centro a pessoa: eu-no-mundo; agente por ter experiência determinada e ordenada do mundo, podendo habitá-lo; tem experiência privilegiada do corpo próprio.
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O objetivo deste artigo é discutir a teoria dos temperamentos, partindo de informações contidas em alguns tratados do Corpus Hippocraticum e contribuições de Galeno, bem como alguns de seus desdobramentos. Segundo essa doutrina, a condição de saúde depende do equilíbrio de humores corpóreos, sua combinação ocasiona os temperamentos e existem relações entre o caráter do homem, temperamento, aparência física e afetos. A teoria humoral tinha tanto aspectos médicos propriamente ditos como psicológicos. Alguns autores afirmam que no século XV ocorreu a decadência dessa teoria, mas ela esteve presente não apenas na Idade Média (por exemplo, em Tomás de Aquino), como em obras do início da Idade Moderna (como de autores jesuítas), e persistiu nos regimes médicos do século XVIII. Apesar de ter sido abandonada pela maioria dos médicos no século XIX, até hoje são encontrados resquícios da mesma.
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Este artigo mostra num primeiro momento como Baldassare Castiglione, no Libro del Cortegiano (1528), previne o leitor da idealidade de seu quadro sobre a corte e o cortesão, promovendo o que poderíamos chamar de um cortesão moralizado; em seguida, pontua-se a questão da ação honesta por meio da dissimulação prescrita por Castiglione, tomando como base aqui a fundamentação e validação desta ação no pequeno tratado Della Dissimulazione Onesta (1641/1990) de Torquato Accetto; por fim, trazemos a corte e o cortesão pintados por Eustache du Refuge, em seu Traité de la court (1616/1617), no qual se expandem, ao que parece, os limites da conduta honesta prevista nos tratadistas anteriormente considerados.
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Este estudo tem por objetivo apontar alguns dos processos de formação e sustentação de uma comunidade. Para atingir tal objetivo, descreve um recorte específico de uma comunidade afro-descendente, localizada no litoral baiano, durante seu processo de reconhecimento como Remanescente de Quiolombo. Relata a entrevista com membros de uma família realizada pela pesquisadora e por uma lider local, ao mesmo temp em que percorrem os espaços onde outrora havia um terreiro de Candomblé. Nesse percorrer, tempo e espaço se entrecruzam criando pontos em comum a partir de onde se pode ler os acontecimentos atuais e passados, com vistas a um futuro desejado.
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A recordação de eventos pessoais marcantes é acompanhada de julgamentos relativos ao evento recuperado (reflexivos) e ao ato de lembrar em si (heurísticos). O presente estudo teve por objetivo explorar relações e distinções entre esses tipos de julgamentos na atribuição de importância pessoal a eventos autobiográficos. Para tanto, solicitou-se a 208 estudantes universitários (170 mulheres) que recordassem um evento marcante de vida e respondessem a um Questionário de Memória Autobiográfica, composto de 16 escalas. Em uma análise de componentes principais, o primeiro agrupou 10 variáveis referentes a qualidades fenomenais e a modalidades de imaginação. Um segundo componente agrupou seis variáveis referentes a julgamentos reflexivos. A importância atribuída ao evento encontrou-se mais relacionada a julgamentos reflexivos por meio dos quais o indivíduo atribui características ao evento de forma retroativa do que a qualidades fenomenais da experiência imediata de lembrar.
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O artigo visa entender as relações entre a potência psíquica do "engenho", algumas qualidades temperamentais específicas e as funções a serem exercidas pelo indivíduo possuidor destas características delineadas nos Catálogos da Companhia de Jesus ao longo dos séculos XVII e XVIII. Evidencia a presença destas associações como lugar-comum na literatura jesuítica da época, a importância do engenho como qualidade exigida para exercer ministérios relevantes na Ordem, e necessidade do indivíduo possuir uma complexão física adequada a estas exigências.
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Pretende-se evidenciar, numa perspectiva multidisciplinar e histórica, o processo que transformou o destinatário da persuasão - de sujeito ativo e crítico em consumidor passivo do produto. Na história da cultura ocidental, opõem-se duas concepções diversas do processo da persuasão: de um lado, entende-se que esta deva proporcionar uma experiência ao sujeito concebido como receptor ativo e intencional dos estímulos advindos do mundo externo, corpo vivente e espiritual (dotado de capacidade de juízo e decisão); do outro, vê-se a persuasão como indução de experiência num sujeito considerado como mero receptor passivo dos estímulos externos, corpo determinado pelo mecanismo das reações.
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Investigações sobre diferenças de sexo na atribuição de qualidades fenomenais à recordação de eventos pessoais têm apresentado resultados controversos. Enquanto alguns estudos enfatizam que mulheres experimentam maior intensidade emocional e ensaiam memórias mais freqüentemente (reminiscência), outros não encontraram diferenças significativas. Este estudo investigou efeitos de sexo sobre a intensidade emocional de memórias autobiográficas, tanto como qualidade fenomenal da experiência presente de recordação, quanto como propriedade atribuída retrospectivamente ao evento original. Participaram do estudo 66 estudantes de graduação, pareados por sexo e idade, que responderam a 16 itens do Questionário de Memória Autobiográfica (QMA) para diversos tipos de eventos autobiográficos. Mulheres tiveram escores mais altos em todas exceto uma escala (evento incomum). Imaginação visual e ensaio manifesto foram as únicas variáveis cujas diferenças foram estatisticamente significativas (p < 0,05). Os resultados concordam com a literatura que tem encontrado diferenças de sexo pequenas, não-significativas, na atribuição que qualidades fenomenais a memórias autobiográficas. Defende-se uma abordagem que integre evidências de qualidades fenomenais e reminiscência.
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Este artigo busca elucidar como Machado de Assis desenvolveu o tema da memória nos contos “Dona Paula”, “Missa do Galo” e no romance “Dom Casmurro”. No conto “Dona Paula”, podemos encontrar uma complexa relação entre a memória, o inconsciente e o conteúdo emocional da memória. Em “Missa do Galo”, Machado cria um narrador capaz de relatar uma vivência passada, mas que, ainda assim, não toma consciência do sentido não verbal do episódio vivido; todavia, no momento em que o narrador expressa sua experiência, ele anuncia nas entrelinhas e no estilo narrativo esse sentido não verbal. E no romance “Dom Casmurro”, observamos como Machado representou a memória não como coisa fixa, mas como algo que pode se alterar e se reorganizar pela linguagem expressiva e se deformar pela imaginação e por fatores inconscientes.
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O artigo relata a pesquisa sobre a experiência de produção de duas imagens – a bandeira e o altar biográfico – em Morro Vermelho, uma comunidade rural e tradicional brasileira. Foram colhidos depoimentos de sujeitos envolvidos no processo de criação das imagens. Analisou-se fenomenologicamente os dados, com atenção à centralidade da pessoa nos processos sociais e culturais. Utilizou-se os conceitos de hilética, noética, dinamismo psíquico na visão aristolético-tomista e memória coletiva, para compreender os sentidos que emergiram entre pessoa, imagem e cultura. Foi possível identificar uma relação dinâmica entre os dados sensoriais (hyle), como cores e figuras, e a expressão de significados próprios da comunidade. A produção das imagens pelos moradores se torna significativa dentro da comunidade, por se encontrar profundamente enraizada nas suas tradições mantidas pela memória coletiva. A força de significado dessa memória na experiência da pessoa permite que a produção da imagem se torne verdadeiramente produção de cultura.
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