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  • A repercussão do movimento fenomenológico na história da psicologia pode ser notada pelas persistentes tentativas de transposição do caráter eidético da fenomenologia para a análise sistemática de empiria. Nesse sentido, o conceito de redução fenomenológica, descrito pelo filósofo Edmund Husserl (1859-1938) e operacionalizado para a pesquisa psicológica, foi retomado como meio para investigar as tentativas de transição entre filosofia e psicologia. A revisão inclui três modelos de transposição metodológica, a saber: psicologia empírico-fenomenológica, fenomenologia experimental e neurofenomenologia. O trabalho enfatiza as diferenças epistemológicas entre modelos hermenêuticos e naturais no trabalho com dados de primeira pessoa. Conclui-se que um aprofundamento das discussões sobre as influências da fenomenologia à ciência psicológica seria oportuno e viável através do estudo da história desta intersecção.

  • A elaboração inicial do conceito de condicionamento operante e do delineamento experimental de sujeito único define as bases do sistema explicativo skinneriano em meados de 1930. Todavia, essas formulações não foram imediatamente aceitas. Com o objetivo de compreender os motivos envolvidos nesse episódio da história inicial da Análise do Comportamento, discutimos três eventos históricos, quais sejam: a) as dificuldades enfrentadas por Skinner após o seu pós-doutorado; b) a recepção ao seu primeiro livro, The Behavior of Organisms; c) a disputa com outros modelos explicativos do comportamento. Uma história constituída por determinantes de natureza motivacional, institucional, emocional, econômica e pelas dificuldades de ir na contramão de tendências dominantes na Psicologia Experimental norte-americana é o que se conclui na presente investigação.

  • Por clínica fenomenológica define-se a influência do método de Husserl nos tratamentos psicológicos. A presente exposição aborda: (1) a filosofia do conceito de existência, definida como cuidado de si, e de método fenomenológico, definido como estudo da consciência; (2) as polêmicas transformações sofridas pelo método fenomenológico para a análise da existência; e (3) a extensão da análise da existência para a psicoterapia como clínica fenomenológica. O estudo contrasta descrições do processo terapêutico existencial entre 1958 e 2007. Quanto às evidências empíricas, a resistência tradicional ainda é presente, mas com certa abertura. Aliás, os resultados das pesquisas são favoráveis. Nessa história, o método fenomenológico vem perdendo foco e a análise existencial movendo-se para uma abordagem psicoterapêutica mais integrada.

  • O presente artigo discute alguns elementos históricos da relação entre Psicologia e Educação no Brasil, enfatizando sua dimensão prática e teórica. Ou seja, apresenta a Psicologia Escolar e os fundamentos que subsidiam essa prática, assim como a produção intelectual decorrente. Ao mesmo tempo, discute os limites e dificuldades presentes nesse processo durante os últimos 20 anos, indicando a importância da área no cenário político social brasileiro e suas direções futuras.

  • O presente trabalho procura desenvolver uma reflexão crítica sobre o processo de condenação do magnetismo animal. Partindo de uma crítica às versões lineares e progressistas da história da Psicologia, nas quais o magnetismo é excluído ou pouco explorado, o artigo busca atingir dois objetivos. Primeiramente, questionar alguns dos pressupostos típicos das versões históricas dominantes, como a idéia de que o magnetismo não teria resistido às exigências da metodologia científica. Em segundo lugar, oferecer uma alternativa de compreensão deste processo calcada na idéia de que a rejeição ao magnetismo animal ocorreu, em parte, devido à oposição de princípios epistemológicos existente entre este e o projeto moderno de ciência. O artigo é concluído destacando o caráter acidental do nascimento do espaço psicológico a partir desta condenação, a diversidade de razões nela presentes e questiona a noção de progresso típico ao projeto moderno de ciência que inspirou o nascimento da Psicologia.

  • O trabalho de Watson sobre o pensamento foi tratado inadequadamente por muitos intérpretes, gerando uma lacuna na interpretação histórica visto que Watson exerceu ampla influência sobre a Psicologia. Nosso objetivo é sanar parte deste problema esclarecendo as principais posições de Watson sobre pensamento. Nossa hipótese é que a teoria watsoniana sobre o pensamento como hábito é uma forma de referencialização materializante influenciada pela desmetafisicização do pensamento Ocidental proveniente do Iluminismo. Admitimos que a teoria de Watson reproduziu premissas do erro de categoria cartesiano. Assumimos também que a prioritária associação entre pensamento e linguagem watsoniana denuncia influências indiretas da tradição filosófica grega clássica.

  • O texto da história da psicologia é um intertexto e o método de pesquisa dessa disciplina dirige-se para a elucidação desse intertexto. O historiador da psicologia trata com textos de psicólogos, filósofos e historiadores das culturas e das idéias. Começa investigando um texto de um psicólogo e aprofunda e amplia seu exame com o estudo de textos filosóficos e históricos que freqüentemente permanecem silenciosos no texto do psicólogo. Seguindo esse método, narra as reconstruções racionais (as analogias conceituais entre o texto do psicólogo e o pré-texto filosófico) e as revoluções psicológicas (ao inserir as reconstruções racionais nos seus contextos cultural e intelectual) que constituem o memorial da psicologia. Os casos Wilhelm Wundt por Kurt Danziger, e Edward C. Tolman por Laurence Smith são apresentados para ilustrar concretamente nossa caracterização da história da psicologia; e, também, para mostrar como escorregos e omissões intertextuais conduzem a equívocos e simplificações surpreendentes, que não poupam os melhores historiadores.

  • Wertheimer realizou um experimento que era explicado seguindo-se fatores holísticos gestálticos, e isto há mais de noventa anos. Apesar disso, estudos recentes demonstram a vivacidade desse tipo de explicação. Basicamente, ao se observar coisas do mundo, observa-se suas formas ou melhor suas Gestalten. A seguir, pode-se dividir essas Gestalten em partes. Porém cada parte será sempre parte daquela Gestalt que lhe deu inicio e não um elemento constituinte básico. A teoria da Gestalt não é exclusivamente psicológica, como o demonstraram principalmente Wertheimer, Köhler e Koffka. Iniciou-se com um experimento sobre a visão de movimentos correspondendo a estímulos estáticos, mas continuou propondo-se inclusive, de um lado, uma Gestalt física formada da corrente elétrica gestálticas dentro de um condutor ou, de outro, uma Gestalt sociológica formada de muitos seres humanos, como o dançar de pares ao som de um samba realizado por um grupo de músicos.

  • Trata-se de uma revisão dos textos psicossociais citados por Freud em Psicologia de massas e análise do eu. O objetivo é propor ao leitor algum conhecimento desses textos que já se perdem no tempo. São referidos textos de Wilfred Trotter, William MacDougall, Gustave Le Bon e Gabriel Tarde. Alude-se também a Durkheim, autor não citado por Freud, mas cuja referência permite contrastar uma visão psicologizante do fenômeno social, que é a de Freud e dos autores que ele cita, com um aporte em que o social é visto como independente do psicológico.

  • A ocupação de lugares acadêmicos e institucionais denota a expansão da Análise do Comportamento, entre as décadas de 1940 e 1950. Todavia, é a partir desse momento que a imagem de isolamento da ciência skinneriana é difundida entre adeptos e críticos da área. Neste artigo, esse ambíguo cenário foi analisado por meio do exame histórico da fundação do primeiro periódico da Análise do Comportamento: o Journal of the Experimental Analysis of Behavior (JEAB). O argumento apresentado é de que a fundação do JEAB denota episódio emblemático de um fenômeno perene na história da Análise do Comportamento, a saber, sua ininterrupta expansão institucional e científica seguida de sua crescente representação de isolamento na comunidade científica.

  • O artigo propõe uma revisão teórica da contribuição de C. G. Jung na história da psicologia e no rol das ciências humanas. O percurso adotado desenvolve o conceito de equação pessoal e a relevância do mesmo na teoria sobre os tipos psicológicos. Elucida, ainda, como esse pressuposto se insere em uma epistemologia e método da psicologia analítica, a partir dos princípios formulados por Jung. Conclui-se que o fazer nas ciências humanas, sob o prisma desse enfoque, está atrelado a um método que respeite a subjetividade do pesquisador e a integridade do sujeito de pesquisa, imbuído de princípios epistemológicos, tais como estrutura da psique, finalismo e sincronicidade e permeado por uma linguagem simbólico-metafórica que reúne imagem e palavra em narrativas de significado.

  • A Neuropsicologia se concentra em disciplinas oriundas da interface entre a neurociência e a psicologia cognitiva, e sua pesquisa converge da relação entre o cérebro e o comportamento. Como se tem observado em diversos centros de referência no Brasil, a difusão da Neuropsicologia vem ocorrendo de maneira vertiginosa, embora o estabelecimento de diretrizes de educação e treinamento ainda se encontrem despadronizados. O presente artigo descreve o desenvolvimento histórico da Neuropsicologia, enfocando seus fundamentos teóricos e metodológicos, sua condição regulatória atual, além de perspectivas futuras na criação de diretrizes para capacitação profissional. Pesquisas vêm demonstrando uma tendência em caracterizar a atividade do neuropsicólogo nos mais diversos locais nos quais a neuropsicologia é ensinada, praticada e difundida. No Brasil, faz-se necessária uma taxonomia acerca do ofício do profissional especialista em neuropsicologia, seja em relação à sua formação ou sua atuação profissional.

  • Este trabalho tem como objetivo principal apresentar uma história da Psicologia Social no Rio de Janeiro no período compreendido entre as décadas de 60 e 90. Iniciamos este trabalho discutindo a crise no campo da Psicologia Social que ocorreu na Europa e nos Estados Unidos a partir de meados dos anos 60. No Brasil, a crise começou a ter desdobramentos apenas na década de 70. Iniciava-se a crítica a Psicologia Social cognitiva norte-americana e a busca de novas teorias, metodologias e interlocutores no campo da Psicologia Social. No Rio de Janeiro, o principal representante desta perspectiva foi Aroldo Rodrigues. Sua principal opositora foi Silvia Lane. Em Minas Gerais, O Setor de Psicologia Social foi outro importante eixo de oposição. Ao longo da tese, buscamos compreender como alguns enunciados presentes nos anos 60 e 70, entre os movimentos de resistência como o CPC da UNE, o Tropicalismo e a Teologia da Libertação, como crítica e alternativa aos ditames positivistas. Era necessária uma Psicologia Social que permitisse pensar a realidade social brasileira. As categorias universalizantes da Psicologia Social norte-americana, que pensavam o homem fora da história e da cultura, passaram a ser objeto de crítica. Como afirmamos, buscamos apresentar uma história da Psicologia Social no Rio de Janeiro no período histórico já definido anteriormente. Para isso, além do levantamento de referências sobre o tema fizemos entrevistas com vários dos personagens que participaram desta mesma história, como professores, pesquisadores e alunos.

  • A Epistemologia Genética de Jean Piaget é uma das teorias mais importantes acerca do conhecimento. Esta teoria tem influência determinante nos sistemas de educação pública de diversos países, incluindo o do Brasil. Apesar da grande quantidade de publicações sobre os mais diversos aspectos desta teoria, é bem menor o volume de trabalhos sobre sua história, e menor ainda sobre a formação de seu método de pesquisa, o Método Clínico. A presente pesquisa tem por objetivo mostrar o início da gênese do método de Piaget, especialmente no período entre 1920 e 1922. Para tal, foram localizados os protocolos de pesquisa do próprio Piaget disponíveis nos Archives Jean Piaget, em Genebra. Os documentos foram fotografados e analisados, o que inclui sua leitura e identificação das informações mais relevantes. Os dados obtidos foram convertidos em resumos, quadros e gráficos. A narrativa construída para mostrar a forma como Piaget construiu seu método é baseada nos pressupostos teóricos propostos por Bruno Latour e a Teoria Ator-Rede. Nele, são recusadas histórias que tomam o cientista por herói ou a submissão de seus trabalhos a meros constrangimentos sociais, para produzir uma história onde humanos e não-humanos tem uma ação, e é a ação destes que compõe a história da gênese do Método. A análise dos protocolos permitiu a divisão do intervalo entre janeiro de 1920 e dezembro de 1922 em três partes. No primeiro período, ainda trabalhando em Paris, Piaget utiliza os resultados obtidos da padronização francesa do teste de Burt, uma tarefa designada a ele por Simon, para obter novos dados sobre o raciocínio. No segundo período, Piaget inicia a modificação de testes e provas psicológicas correntes à sua época para expandir suas pesquisas, se valendo de um novo inquérito já semelhante ao que seria utilizado no Método Clínico. No terceiro período, que se passa integralmente em Genebra, Piaget tem uma explosão criativa com vários métodos originais. Neste período também se observa um direcionamento de pesquisa muito mais claro e preciso. O trabalho conclui que são necessários mais estudos para a utilização dos pressupostos filosóficos da Teoria Ator-Rede nos estudos em história da psicologia, que Piaget foi fortemente influenciado pelo contato com o teste de Burt, o que possibilitou ao genebrino aliar seus estudos sobre lógica e as técnicas de observação que aprendera em seu treinamento como biólogo com a psicologia experimental, e que estas alianças permitiram a criação do Método Clínico. Este, por sua vez, é resultado de uma incorporação acumulativa de técnicas, tanto originais quanto adaptadas, desenvolvidas por Piaget ao longo de um tempo de maturação.

  • Esta pesquisa busca traçar as rotas pelas quais deu-se a incorporação de categorias psicológicas na construção histórica da infância criminalizada no caso brasileiro. Ao reconstruir este percurso, defende-se a tese de que a emergência de determinados saberes psicológicos no Brasil foi estruturante nessa construção no período analisado, que compreende a Primeira República. Sob essa premissa, é analisado o lugar de categorias psicológicas na constelação que demarcou o discurso sobre a infância criminalizada, pretendendo-se assim apontar marcas da sedimentação de tais categorias. Para tanto, foi necessário investigar como o controle social de numerosas crianças gerou uma norma própria ao grupo classificado como objeto de ciência. A pesquisa indicou que o objeto “infância criminalizada não é unívoco ao ser delineado nas sentenças jurídicas, nas medidas policiais, no diagnóstico psiquiátrico ou nos projetos pedagógicos. Procurou-se descrever a dispersão desses objetos durante a Primeira República, apreender os interstícios que os distinguem e apontar o jogo múltiplo de categorias psicológicas nessa dispersão. Nesse rumo, procurou-se também enfatizar em que medida o discurso psicológico foi permeável a opções filosóficas ou morais, e atravessado radicalmente pela prática política.

  • O verbo dissociar remete à cisão ou desagregação, termos esses que no campo da saúde mental estão associados à doença e à patologia, dificilmente à saúde. O objetivo desse trabalho foi mostrar como a concepção de dissociação foi construída socialmente a partir de mecanismos da mente (a associação e a desagregação de seus elementos) que se mantiveram como denominadores comuns ao longo da história da saúde mental por meio de práticas como o xamanismo, exorcismo, magnetismo animal e a hipnose. Finalmente, ao final do século XIX e início do século XX, a medicina e a nascente psicologia valeram-se da dissociação para estudarem fenômenos como as múltiplas personalidades, a histeria e mesmo a experiência religiosa, de maneira tal que diversos investigadores pioneiros como William James, Pierre Janet, Alfred Binet, Frederic Myers, Morton Prince e outros, integraram muitos (ou todos) desses princípios em suas próprias propostas teóricas e influenciaram toda a psicologia, ao conceituarem que a mente se dividia em consciente ou inconsciente, bem como apresentava múltiplos níveis e compartimentos que podiam ser tanto cindidos e desagregados como unidos e conectados. O método utilizado na investigação foi a revisão bibliográfica e a análise foi realizada a partir da ótica crítica da psicologia social. Essa tradição de pensamento psicológico cuja base é dissociativa (enquanto processo) e hipnótica (enquanto instrumento) foi obnubilada ao longo do século XX com o surgimento de novas propostas, como o behaviorismo e a psicanálise, e, também, com a patologização à qual o fenômeno dissociativo foi exposto ao longo do século XX. O presente trabalho concluiu que o estudo da dissociação é relevante para a psicologia tanto em seus aspectos históricos como atuais, por se tratar de um fenômeno psicológico presente em diversas teorias, normal em si, mas que pode adquirir conotação saudável ou patológica dependendo do contexto a partir do qual é avaliado. Por fim, concluiu também que a hipnose pode ser um valioso instrumento clínico que merece ser reintegrado à psicologia.

  • O presente estudo busca contribuir com a história recente da presença da psicologia na educação e mais especificamente no ensino da leitura e da escrita através da história, da memória e da escrita de um grupo de consultores internacionais da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Genebra. Desde os anos 90 esse grupo tem assessorado à formulação de propostas de ensino da escrita dos Parâmetros Curriculares Nacionais e dos Guias Curriculares de língua Portuguesa. A colaboração culminou com as formulações de proposições didáticas e metodológicas do ensino e da aprendizagem da escrita na escola básica em São Paulo. A pesquisa analisou alguns dos principais documentos e artigos dos autores genebrinos divulgados no Brasil e de pesquisadores brasileiros, cujos trabalhos se apoiaram nos modelos teóricos e didáticos desse grupo. A investigação se inspirou nas contribuições de uma metodologia histórica e se debruçou sobre a compreensão das ideias, conceptualizações e proposições da psicologia na sua interface com a educação, tomando como dado empírico, a análise dessa colaboração a partir do exame dessa construção conceitual e prática das contribuições da psicologia ao ensino. A tese em discussão é a de que se trata de uma nova fase da história da psicologia na educação, a da construção de uma psicologia do ensino cujos modos de conceitualização, de produção de saberes e de suas apropriações, precisam ser resgatados pela reconstituição histórica da interface entre psicologia e educação e suas questões atuais. O estudo procurou cartografar essa rede de colaboração, mediante o conhecimento do modo com que ela se operacionalizou, os saberes produzidos, as maneiras com que foram sistematizados, difundidos e transformados, na perspectiva dos assessores e suas apropriações por alguns autores brasileiros. Os resultados mostram não apenas a perpetuidade e grande influência da psicologia genebrina nos discursos pedagógicos, mas também suas apropriações, transformações e reorientações a partir de demandas político-pedagógicas de ensinar o professor a ensinar na escola básica, mediante a oferta de modelos e sequencias didáticas que definiram o texto como a unidade básica de ensino da escrita.

  • Este trabalho investiga as relações entre Psicologia e ciência, especificamente quais são as concepções - explícitas e implícitas - que a Psicologia tem de ciência. Apesar da diversidade e riqueza de teorias, dos inegáveis avanços e conquistas teóricas e profissionais, das várias comunidades científicas bem constituídas, há ainda presente na área um mal estar e incerteza em relação ao seu estatuto científico. Dentre os possíveis obstáculos existentes à consolidação e reconhecimento amplo da Psicologia como área de conhecimento legítimo e maduro, destacam-se duas condições epistemológicas que nortearam a discussão sobre sua cientificidade: em um primeiro momento, a não adequação aos critérios normativos típicos de uma noção de ciência inspirada pelo positivismo lógico; e no segundo, o pluralismo teórico que a marca fortemente não atende a um critério de consenso e uniformidade que, a partir da epistemologia historicamente orientada de Thomas Kuhn, passou a ser uma das possíveis referências para reconhecer a cientificidade e maturidade de um campo teórico. O estudo, a partir do conceito de imagens de ciência, inspirado principalmente a partir da historiografia da ciência proposta por Paolo Rossi, elege como objeto de análise os possíveis jogos combinatórios que se estabelecem entre as ideias e discursos produzidos pela área a respeito do que se considera que seja a ciência e os critérios de cientificidade a serem atendidos. A pesquisa conclui o quanto os critérios de cientificidade e as imagens de ciência são dependentes da historiografia da ciência, e que a própria história de outras disciplinas científicas tomadas como ideais é muito mais plural do que se supõe usualmente. Finaliza propondo que se possa partir de um conceito mais amplo e multifacetado de ciência para fundamentar e conduzir a discussão sobre a cientificidade da Psicologia.

  • O objetivo desta tese consiste em avaliar, sob um prisma fenomenológico, as concepções presentes na obra de Santo Agostinho referentes ao uso da reflexão como instrumento do conhecimento de si. Para isso, analisamos as obras As confissões (397d.C.) A trindade (416 d.C.) e fragmentos de outras obras em que ele aborda o tema da reflexão. Consideramos dois diferentes níveis em que as ideias se encontram presentes nas obras: nas descrições de estados subjetivos narrados em primeira pessoa por Agostinho nas Confissões e nas exposições feitas por Agostinho em outras de suas obras. Investigamos alguns temas que se mostraram de grande importância para se compreender o papel da reflexão em Agostinho. Em primeiro lugar, o espírito humano entendido como uma realidade íntima, um ser reflexivo e imaterial. Em segundo lugar, analisamos o papel do método reflexivo em suas investigações acerca da memória, da percepção e das inter-relações entre o corpo e a mente. Em terceiro lugar procuramos observar como Agostinho compreende a vida do espírito em suas inter-relações com o mundo e com Deus. Na segunda parte da tese, os temas foram retomados e abordados sob um prisma fenomenológico. Para isso procuramos expor e avaliar, no que tange aos temas abordados por Agostinho, o percurso metodológico traçado por Husserl em Ideias 1 (1913) e Ideias 2 (1952). Na terceira parte da tese, fizemos uma análise comparativa entre as concepções e os métodos adotados pelos dois autores. Observamos que, embora haja diferenças no modo de aplicar a reflexão, muitas das conclusões tiradas por Husserl já haviam sido antecipadas por Agostinho, embora, neste, com um menor nível de rigor. Merecem destaque os seguintes pontos abordados primeiramente por Agostinho e posteriormente desenvolvidos por Husserl: 1) a mente é uma realidade íntima e indubitável; 2) a essência da mente é sua reflexividade, sua capacidade de apreender-se a si mesma; 3) a atenção ou intentio voluntatis é um fator constituinte do ato de percepção e de qualquer ato do cogito; 4) o tempo é abordado por Agostinho não como realidade independente do espírito, mas sim como uma realidade vinculada ao espírito, de modo que o passado, o presente e o futuro são articulados com a memória, a atenção e a expectativa. Em suma, o objetivo das análises e comparações é contribuir para uma visão mais rica e complexa da história do método reflexivo e, ao mesmo tempo, defender sua legitimidade e seu valor cognitivo. A reflexão é instrumento intelectual capaz de fornecer não só conhecimentos seguros sobre a estrutura apodíctica da consciência e dos diferentes estratos da pessoa humana, como também é válida para que cada indivíduo possa conhecer a si mesmo em sua singularidade. E essa individualização é marcada por fatores psíquicos, corpóreos e pelo mundo espiritual do sujeito, isto é, pelo mundo da vida.

  • Situado no campo dos estudos sobre a influência e recepção, no Brasil e nos Estados Unidos da América, da psicologia produzida na Rússia, este trabalho teve como objetivo apresentar as principais ideias de Gustav Gustavovich Shpet (1879-1937) e refletir sobre o surgimento da Psicologia Étnica como abordagem significativa da psicologia produzida na Rússia, bem como acerca da ausência de sua continuidade. Buscou-se investigar: (a) quais produções intelectuais influenciaram Shpet quando o autor formulou sua proposta de construção da Psicologia Étnica; (b) como Shpet entendia o objetivo e o método da Psicologia Étnica e quais eram os conceitos principais desta área; e (c) se houve diálogo entre as teorias dos psicólogos russos posteriores a Shpet e a proposta formulada por ele. Para isso, tomando como referência os métodos de pesquisa utilizados em estudos de história da psicologia, realizou-se o seguinte procedimento: foram selecionadas obras que influenciaram a produção criativa de Shpet e elaborou-se um resumo destas obras, contendo seus principais conceitos e ideias. Em seguida, fez-se a tradução do russo para o português da obra Introdução à Psicologia Étnica, publicada em 1927 por Shpet, e, a partir dela, desenvolveu-se um resumo contendo os principais conceitos da Psicologia Étnica, seu objetivo e método de investigação. Por fim, foi efetuada uma revisão bibliográfica tanto a respeito das abordagens da Psicologia Soviética que sofreram influência da Psicologia Étnica e das abordagens da Psicologia Social brasileira que sofreram influência da Psicologia Soviética, quanto em relação aos estudos interculturais e sobre raça-etnia realizados inicialmente pela Psicologia Social brasileira. Seguindo essa metodologia, chegou-se a algumas descobertas: as ideias dos pensadores alemães Wilhelm Wundt, Moritz Lazarus e Heymann Steinthal e suas propostas para construir a Völkerpsychologie (Psicologia dos Povos) foram as principais influências intelectuais de Shpet; o objeto da Psicologia Étnica, para Shpet, é a coletividade como atitude psicológica coletiva em relação à cultura; a Psicologia Étnica é proposta como uma ciência descritiva, cujo método envolve a análise e interpretação de signos; as pesquisas interculturais e étnico-raciais foram interrompidas na Rússia por um longo período, devido a questões políticas, e, por isso, a psicologia da União Soviética não incorporou a Psicologia Étnica. Embora a concepção de Shpet não tenha tido continuação, os principais conceitos propostos pelo autor, como coletividade, tipo coletivo, interação e identificação dialogam com conceitos da Psicologia Social contemporânea, como estereótipo, interação social e identidade.

Última atualização da base de dados: 09/06/2025 10:24 (UTC)

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