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A cidade é concebida por Guattari (1992) como uma máquina produtora de subjetividades. Presencia-se no contemporâneo, entretanto, uma tentativa de uniformização dos modos de vida em subjetividades formatadas e regida pela lógica do capital, que pode por em risco a própria vida. Esta pesquisa teve por objetivo investigar as práticas que rompem, em alguma medida, com essa lógica. O estudo voltou-se para as intervenções urbanas e o combate do uso do grafite e da pichação na cidade de São Paulo (Brasil) no período em que foi implantado o denominado “Programa Cidade Linda” (2017). Os resultados mostram que as intervenções urbanas geram afetos, críticas, polêmicas e possibilidades de construir uma relação diferenciada com a cidade. Ao final, argumenta-se que a noção de sustentabilidade afetiva na interface com o conceito de resistência ajudam a compreender como ocorre a experimentação de modos de vida voltados para a produção de encontros urbanos potencializadores.
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Por meio da memória são construídos alguns tipos de nexos entre sujeito e espaço no tempo, compondo os sentidos históricos dos territórios. Este trabalho tem como objetivo relacionar conceitualmente, a partir das obras A Memória Coletiva (HALBWACHS, 1990) e Memória e Identidade (CANDAU, 2019), como os autores explicam o fato de a memória coletiva operar na coesão dos grupos sociais que compartilham um mesmo espaço-tempo no território urbano. O estudo foi realizado a partir da revisão bibliográfica acerca dos eixos de memória coletiva e as relações destes conceitos com o espaço urbano, um espaço dotado de múltiplos atores sociais que constroem nexos entre seus grupos de convívio e o fluxo da cidade. Conclui-se que a cidade é um espaço complexo e dinâmico, com grupos marcados por diferenças e disputas entre si. Tais grupos constituem-se em redes de memórias compartilhadas e criam tecnologias para estabelecer noções de continuidade, onde ancoram memórias e esquecimentos.
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Este artigo pretende, a partir de diferentes experiências de confinamento, apesar das dessemelhanças conjunturais, explorar as relações criativas que podem ser tecidas entre os sujeitos, de modo a refletir sobre a sua constituição na interação com os espaços. Desde as produções de Lima Barreto e Bispo de Rosário podemos ver que ambos conseguiram se manter (cri)ativos ao longo da trajetória de sequestro institucional e sob o espectro do diagnóstico que os colocava em situação subalternizada e num lugar de impotência. Para tanto, a noção de heterotopia (FOUCAULT, 2013) colabora no entendimento desse tipo de espaço criativo que emerge nas obras em situações de urgência. Essas trajetórias se veem perpassadas pelas ideias de trânsito, passagem, aprisionamento, “prisioneiros da passagem”; a liberdade aparece no horizonte discursivo enquanto prática e nas fissuras por onde irrompem subjetividades forjadas no embate, na crítica, no diálogo e na resistência.
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O presente artigo objetiva compreender as condições de possibilidade da dimensão ético-política do afeto (affectus) enquanto práxis transformadora da sociedade, especialmente nas lógicas de relações comunitárias. Sua construção perpassa uma perspectiva espinosana e sócio-comunitária, buscando investigar e compreender alguns dos entrelaçamentos possíveis entre subjetividade, campo social e a ação política da Psicologia. Buscou-se um caminho metodológico que possibilitasse um diálogo entre a teoria e a prática psicossocial, de forma a tecer uma pesquisa de revisão bibliográfica a partir de pesquisa narrativa exploratória em paralelo à análise de trechos do diário de campo da autora principal – usado enquanto ferramenta de ilustração ao estudo do afeto na relação com o campo comunitário. Assim, o artigo evidencia que os afetos alegres, enquanto uma práxis transformadora, se tornam um forte mediador de reação à ameaça de existência instituída pela desigualdade social, assim como um potencializador para ações coletivas que visem a transformação da realidade.
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Este artigo apresenta elementos relativos à experimentação da escrita daquilo que chamamos Cartografias Clínicas no escopo da disciplina de Práticas Analítico-Institucionais do curso de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. São apresentados trechos de escritas produzidas pelos alunos e alunas a partir de situações experienciadas em seus estágios de ênfase em Psicologia Social e Políticas Públicas como um exercício analítico clínico-institucional dos processos de subjetivação envolvidos, incluindo-se nos seus próprios campos de intervenção, possibilitando a reflexão sobre a “feitura de si” enquanto estagiários e estagiárias em ato. Discute-se a respeito de Clínica, Processos Institucionais, Cartografia e Narratividade.
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O presente artigo trata de apostar no carnaval como força afirmativa de subjetivação brasileira. Cartografando nossas mazelas históricas e presentes, mas, também e principalmente, nossas experiências estéticas modernas, trata-se, enfim, de localizar essa festa popular como um acontecimento que confronta a diretriz colonial de entristecimento dos trópicos. Para tanto, intercessores como Oswald de Andrade e Caetano Veloso surgem para ajudar a abrir veredas delicadas, inusitadas e singulares diante do grotesco que, de tempos em tempos, grita em nosso país. Sob a ativação dessas experiências estéticas, portanto, ao fim e ao cabo, a intenção maior é de forjar um equipamento ético de desvio da miséria radical em que mais recentemente nos colocamos.
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O presente artigo analisou o processo de institucionalização da Supervisão Clínico-Institucional (SCI), ressaltando os principais elementos que a tornam um importante dispositivo de formação e qualificação das práticas de saúde mental, a fim de contribuir com o resgate e a construção da memória deste processo no Brasil. Trata-se de um estudo qualitativo sobre dispositivos de formação em saúde e políticas de escrita/narratividade. Realizou-se uma leitura cuidadosa de documentos governamentais e da produção acadêmica relativa ao tema, os quais foram sistematizados tendo em vista o processo histórico de constituição da SCI como dispositivo de formação. A segunda etapa constitui-se na escrita da narrativa de memórias relacionadas aos encontros da pesquisadora com a SCI no Brasil. A terceira etapa consiste na discussão sobre as contribuições da SCI na construção e consolidação da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Conclui-se que a SCI é um dispositivo de formação fundamental na consolidação da RAPS.
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Desobedecer, no tempo presente, afirma um imperativo ético, uma aposta na vida aliançada com a coragem intrínseca aos riscos das modulações do fascismo contemporâneo. Entre cenas da educação e da saúde, percorreremos a tríade desobediência-coragem-alteridade de maneiras diferentes, implicadas em um certo modo de relação com outros que passa ou não pela produção de práticas de liberdade. Escrita que se realiza entre-duas, no feminino, compondo encontros entre psicologia e educação. A historicização da obediência parece vir acompanhada de um estreitamento de possibilidades e de uma localização específica e assimétrica, se opondo às práticas de liberdade. A tríptica composta por três cenas que abrem este texto, e os três eixos de análise e de intervenção — desobediência, coragem e alteridade — desenha um arco que abriga dispositivos conceituais do filósofo Michel Foucault. Trata-se de uma composição de um quadro geral de análise que aposta na ampliação de estratégias de enfrentamento das práticas sociais.
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O tema da defesa da vida que se afigura como defensável pelas práticas nos diversos segmentos do cotidiano ganha a tônica de nossas inquietações, especialmente no campo do trabalho. Como cuidar do trabalho é o mote de nossa indagação no presente distópico. É inviável sustentarmos uma gramática colonial, com suas naturalizações de participação, do pressuposto da cisão entre indivíduo/meio, e pensarmos o trabalho sem considerarmos outras cosmopolíticas. Gramática ainda hegemônica e que sustenta lógicas dos processos de trabalho há séculos em nosso país. Fizemos uma opção: olhar a gravidade dos ofícios no presente, criando ferramentas de análise. A ideia de ofício vai ao encontro das cosmopolíticas, pois analisar problemáticas do trabalho contemporâneo implica levar em conta a extrema precarização dos processos de trabalho - da vida. Que vida é defensável? A vida como potência é afirmada quando o trabalho é operador de saúde, do contrário trata-se de necropolítica.
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A presente carta – endereçada a todos aqueles interessados e defensores do movimento da Luta Antimanicomial – é fruto da experiência de pesquisa de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Institucional/UFES, que buscou conhecer como a cidade de Cariacica-ES acolheu a loucura em seus espaços após a abertura dos portões físicos do antigo Hospital Adauto Botelho. A pesquisa aposta na cidade como via de possibilidade para outras experiências com a loucura que não as de recusa e indiferença. Esta carta convida a experienciar, junto com as histórias narradas e entendendo experiência a partir de Michel Foucault – que explicita que uma experiência é qualquer coisa da qual se sai transformado, no intuito de possibilitar que outras tantas histórias possam ser suscitadas –, histórias de amizade, experimentação, produção de outros possíveis nos espaços da cidade.
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Na conversa com Heliana, o trato. Eu, que tive um encontro bastante singular com Gregorio, faria algo heterodoxo, seguindo o fluxo do que a própria seção “biografia” da Revista Mnemosine convoca. A seção “biografia”, inangurada junto da revista, em 2004, é bastante plurívoca e chama a atenção por sua riqueza e versatilidade. De fato, não são cultos à personalidade, mas diversas trajetórias cruzadas, devidamente emaranhadas de historietas e afetos. Verdadeiras análises da implicação, se tomarmos isso como exposição do campo de forças. Histórias de família, de compositores, de militantes, de filósofos medievais, da própria saúde publica, de anônimos artistas encerrados em manicômios, de socioanalistas em suas visitas ao Brasil, do nosso careca mais querido, de atores, de loucos, de cantores, de psicanalistas militantes ousadas e incansáveis e outros tantos queridos e queridas argentino(a)s que habitaram esse pais e emprestaram seus nomes para designar um plano dispersivo de forças nesses artigos. Por seu amigo, mestre e analista, Émílio Rodrigué, Gregorio lhe escreveu uma biografia dos encontros e dos afetos, deixando assim a indicação de como gostaria de ser lembrado. Portanto, desviar dos excessivos personalismos reverentes para acessar a parcialidade do narrador e do narrado. Destarte, deixo o vasto conhecimento da vida e obra de Gregorio para suas próprias palavras e de seus comentadores. “Eu quero ser lembrado como uma pessoa esquecida”, dizia ele em vários momentos, aos mais chegados. Acho importante que o leitor, por motivo de seu falecimento, entre em contato com fragmentos de uma vida. Uma vida e não outra, essa que se singulariza, pelas escolhas, pelo cotidiano de uma tarde de café.
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O presente artigo versa sobre a nossa relação com o tempo e com a memória, no que perdura de uma experiência nas manifestações sociais de Junho de 2013. O sentimento melancólico que insurge a partir da passagem deste acontecimento de grande intensidade política coloca-nos uma questão: o que estamos fazendo de nós? A questão se propõe a encarar os afetos que mobilizamos e nos mobilizam no âmbito da ação política e suas consequências: como rememorar a partir de uma postura ética com o presente? Utilizamo-nos da melancolia, do luto, do amor fati, do ressentimento, da força plástica, da duração, como diferentes operadores que arranjam uma ética da memória, a fim de pensar as ressonâncias entre 2013 e 2020. Buscamos construir um exercício memorialístico que abandone a posição ruminante em busca do que poderia ter sido diferente e vise a transformação, a produção de outros contornos a uma experiência.
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O artigo visa discutir algumas passagens em que Michel Foucault aborda o provável esgotamento, em nossos dias, da possibilidade do sujeito realizar um “retorno a si” e constituir uma ética e uma estética do si. Identificamos também em Pierre Hadot a mesma inquietação a respeito de uma provável perda de sentido da espiritualidade hoje. Em primeiro lugar, apresentamos uma síntese da interpretação foucaultiana do cuidado de si. Em seguida, buscamos definir o termo “espiritualidade”, tentando mostrar que tanto Foucault quanto Hadot sempre ressaltaram sua imbricação ético-política. Foucault inclusive pensou a espiritualidade como motor das revoltas e das revoluções. Por fim, partindo de duas esquetes do mundo contemporâneo, discutimos algumas passagens em que ambos autores expressam inquietações sobre a provável ausência de sentido de uma “ética do si” em nossos dias.
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O artigo busca pensar alguns aspectos da cidade e da circulação na mesma, sobretudo em contextos urbanos, interrogando os estigmas e resistências que modulam e são modulados pelas práticas complexas que fabricam os modos de ser, de viver, de sentir, de agir e se relacionar na cidade como espaço público. A cidade como lugar em que tempo e espaço convergem e se entrecruzam é um importante lugar de disputas e lutas por direitos, simultaneamente de conflitos de interesses, em constante transformação e tentativas do Estado em organizar e gerir subjetividades e vidas. A apropriação das cidades como negócios por corporações e grupos que visam extrair privilégios tem sido regular, sobretudo, no capitalismo neoliberal das últimas décadas. Concluindo, busca-se apresentar resistências em que a transformação democrática do espaço urbano é um ideal permanente diante da produção de estigmas e segregações.
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O artigo objetiva problematizar e levantar uma discussão frente à negligência e desafios que podem ser encontrados ao não se concretizar um ensino efetivo em Língua Brasileira de Sinais (Libras) na formação e ensino em psicologia. Ressalta-se que os possíveis obstáculos encontrados durante o atendimento ou intervenção com pessoas surdas realizados por profissionais em psicologia não capacitados a uma comunicação compreensível com essa população pode não apenas tornar o processo de escuta frustrante e incômodo para ambas as partes, como também pode refletir diretamente nos processos subjetivos e ter repercussões na saúde mental da pessoa que convive com a surdez. A efetivação da Libras na formação do psicólogo se mostra não apenas como uma prática inclusiva, mas também é potencializadora e de extrema importância para viabilizar e promover de forma concreta uma atenção psicológica e cuidado em saúde mental adequado para com as pessoas que convivem com a surdez.
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A partir de imersão investigativa sobre os sentidos de carnaval na cidade, o artigo orienta-se para uma abordagem da polissemia do carnaval, em seu sentido histórico-político e na ressonância das imagens de carnaval em vínculos férteis durante o trabalho de investigação. Olhar para o carnaval é, em certa medida, olhar para a história de nossas cidades e dos esforços oficiais de contenção do que nunca será definitivamente governado. O artigo aborda os signos do carnaval que nos mantém conectados com as vozes e os gestos minoritários que inventam a cidade ao se fazerem presentes nela. A cidade, a escrita e o carnaval são os temas que sustentam o argumento do presente artigo.
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Diante de um cenário de catástrofes no qual coabitamos com desigualdades sociais crescentes, poluição, envenenamento por agrotóxicos, esgotamento das fontes, diminuição do volume dos lençóis freáticos, desmonte de políticas públicas e acirramento de processos excludentes, nossa proposta metodológica, inspirada na obra de Ailton Krenak - Ideias para adiar o fim do mundo -, consiste em contar histórias, como forma de enfrentar o presente e forjar saídas em companhia dos povos originários. Há perguntas que funcionam como disparadoras do campo problemático de nossa escrita coletiva: De que modos podemos nos engajar em experimentações coletivas que buscam tecer possibilidades de um futuro aberto à alteridade e sua própria tessitura comum? Buscaremos responder aos chamamentos de povos da terra como pistas que orientam nossa escritura/ação/coletiva, atentando-nos para o imperativo de politizar o cuidado em relação às redes de interdependência que nos constituem.
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Tipo de recurso
- Artigo de periódico (1.830)
- Conferência (1)
- Livro (520)
- Seção de livro (1.249)
- Tese (703)
Ano de publicação
- Entre 1900 e 1999 (448)
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Entre 2000 e 2025
(3.851)
- Entre 2000 e 2009 (1.172)
- Entre 2010 e 2019 (1.753)
- Entre 2020 e 2025 (926)
- Desconhecido (4)