A sua pesquisa
Resultados 34 recursos
-
As “Granjinhas” Escolares da Fazenda do Rosário, Ibirité, Minas Gerais, foram idealizadas pela psicóloga e professora Helena Antipoff (1892-1974) e pelo médico e professor de Ciências Naturais Henrique Marques Lisboa (1876-1967) e desenvolvidas a partir de 1957 como práticas pedagógicas integradas aos cursos de formação de especialistas em educação rural do Instituto Superior de Educação Rural – ISER, oferecidos na modalidade internato. Objetivava-se, por meios científicos, vivenciar o cotidiano das práticas rurais no currículo dos cursos, aonde realizavam-se estudos envolvendo diferentes saberes desenvolvidos numa propriedade rural, tais como: estudo do terreno disponibilizado para o plantio de hortas e vegetais, por exemplo. Por meio da análise e triangulação de fontes sobre o tema, na abordagem do estudo de caso, buscou-se tecer relações entre a proposta pedagógica das Granjinhas e a metodologia de projetos, divulgada no Brasil em meados do século XX. A maioria das fontes foram encontradas no Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff– CDPHA, quais sejam: jornais institucionais, como o Mensageiro Rural e Pequeno Mensageiro Rural; diários de ex-alunos; publicações do ISER como o relatório das Granjinha etc., bem como da publicação que explicita o Método de Projeto de Willian Heard Kilpatrick (1871- 1965) e o livro El Método de Proyectos en las escuelas rurales de Fernando Sáinz Ruiz (1891-1957). Investigaram-se possíveis interfaces entre os fundamentos e perspectivas teóricas do Método de Projeto nas práticas pedagógicas das Granjinhas. Verificou-se que tanto Kilpatrick, Fernando Sáinz, quanto Marques Lisboa e Antipoff, compartilhavam o desejo de transformar trajetórias humanas por meio de atividades reais, que estimulassem a autonomia dos aprendizes em suas próprias realidades. Apoiado nas perspectivas de interesse e esforço que fundamentavam as ideias funcionalistas de John Dewey (1859-1952), Kilpatrick apresenta o Método de Projeto em 1918 como uma proposta de materialização prática dessas ideias, afim de tornar a aprendizagem ativa e interessada. Ao conceber a atividade intencional em uma situação social, a unidade desta atividade, em ato interessado com um propósito, Kilpatrick opõe-se à artificialidade da escola tradicional e aproxima-a da realidade, numa perspectiva de educação ativa. Para Kilpatrick, um projeto teria uma finalidade real, que aconselharia os procedimentos de ensino e ofereceria motivações reais de aprendizagem. Seria um plano de trabalho que posicionaria o aluno, voluntariamente, em micro realidades, a partir de proposições e problemas vivenciados. Os dados demonstram que nas Granjinhas desenvolviam-se práticas pedagógicas em que se aproveitava ao máximo os recursos ambientais. Havia protagonismo nas ações dos estudantes para a resolução dos problemas rurícolas, demarcavam-se terrenos disponibilizados para que pudessem estudá-los, extrair deles as possibilidades de reflexões e convívio social capazes de subsidiarem trocas de conhecimentos e novos aprendizados. As práticas pedagógicas envolviam problemas da própria vida como procedimento escolar, na medida em que as ações educativas se associavam às atividades habituais da comunidade. Conclui-se que nesses espaços desenvolvia-se uma formação integral, em regime de colaboração entre os membros de uma dada comunidade, que se aproximam dos pressupostos da educação renovada, de perspectiva progressista de vertente norte-americana, da qual Dewey e Kilpatrick são representantes, tanto quanto da vertente europeia, especialmente do Instituto Jean-Jacques Rousseau onde Helena Antipoff formou-se e atuou, tornando-se dela divulgadora.
-
Historicamente os fenômenos psíquicos, atualmente chamados de parapsicológicos ou anômalos, fizeram parte do background cultural do nascimento da psiquiatria e psicologia. Diversos pesquisadores do final do século XIX e início do XX, especialmente da classe médica, buscaram avaliar estados alterados de consciência, mediunidade, telepatia, clarividência, precognição, entre outros. Esses estudos foram importantes para a nascente ciência da mente. Carl Gustav Jung foi um psiquiatra e pesquisador suíço dos mais prolíficos do século XX. Um aspecto ainda não esclarecido de seu trabalho é seu marcado interesse pelos fenômenos psíquicos. O objetivo desta tese foi compreender o papel dos fenômenos psíquicos no contexto da produção teórica de Jung. A nossa fonte primária de referência foi The Collected Works of C. G. Jung. Ainda utilizamos as C. G. Jung Letters e as principais biografias publicadas sobre Jung. Realizamos um mapeamento inicial nas Collected Works de forma a estabelecer como essa temática é trabalhada por Jung e a quais contextos ela estaria relacionada. Chegamos a três eixos de análise: 1) Os fenômenos psíquicos nas obras de autores estudados por Jung, 2) as pesquisas de Jung de fenômenos psíquicos em médiuns, e 3) os fenômenos psíquicos vivenciados por Jung. Em relação ao primeiro item analisamos o impacto das produções teóricas de Théodore Flournoy, Justinus Kerner, Frederic William Henry Myers, Joseph Banks Rhine e William James sobre a obra do autor suíço. Em relação ao segundo item detacamos o estudo maior de Jung com a médium Helene Preiswerk e seus estudos com o médium austríaco Rudi Schneider, o médium alemão Oskar Schlag e a clarividente de Zurique Frau Fässler. Em relação ao terceiro item, avaliamos as vivências parapsicológicas mais significativas de Jung, a saber, sua experiência de quase morte (EQM) em 1944, suas vivências de percepção extrassensorial (PES) das primeiras décadas do século XX e seu suposto contato com espíritos. Consideramos que essas vivências também impactaram a obra do autor através de produções expressivas como Synchronicity (1952) Mysterium Coniunctionis, (1955 – 1956), Septem sermones ad mortous (1916) e The Red Book (1913 – 1930). Concluímos que a fenomenologia anomalística e a psicologia analítica possuem associações, sendo que a psicologia analítica se estruturou sob forte influência das investigações dos fenômenos psíquicos.
-
Ainda que seja possível observar um recente interesse pela obra principal de Tetens, Philosophische Versuche über die menschliche Natur und ihre Entwickelung (1777), e reedições de suas outras obras filosóficas, ainda restam muitas lacunas a serem preenchidas na compreensão da profundidade e originalidade do seu projeto intelectual. Esse é o caso, por exemplo, do estatuto da psicologia empírica no seu sistema metafísico. Não obstante alguns estudos tenham contribuído para uma melhor compreensão das principais características da investigação psicológica em seus Philosophische Versuche, é possível observar que questões fundamentais, como a existência de uma proposta coerente e unificada de psicologia empírica e sua relação com a ontologia e a psicologia racional, permanecem sem um claro entendimento. Partindo do pressuposto de que uma análise dos escritos filosóficos e psicológicos anteriores e posteriores à sua obra magna podem auxiliar na compreensão dessas questões, o presente trabalho inicia-se com alguns apontamentos acerca da psicologia e da metafísica no período de 1759 a 1775. Em seguida, priorizamos uma descrição das investigações psicológicas nos Philosophische Versuche, para só então discutirmos o estatuto de sua psicologia empírica, a partir da análise da Metaphysik (2015). Em nossa análise, verificamos que não há nenhuma mudança significativa na sua concepção de psicologia empírica ao longo de sua obra, incluindo aí sua definição como disciplina metafísica e o uso do método analítico, ainda que isso nem sempre esteja detalhado nas discussões iniciais. Além disso, apontamos algumas evidências textuais para sustentar a tese de que a filiação da psicologia empírica à metafísica é baseada em seu caráter propedêutico à ontologia e à psicologia racional, mas também em uma concepção geral de psicologia, que, como ciência da alma, necessita ser complementada por uma análise racional, inclusive por conceitos e princípios fundamentais da ontologia.