A sua pesquisa
Resultados 88 recursos
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A meta deste trabalho é mapear as transformações nos experimentos psicológicos, apontando especialmente para os deslocamentos no lugar dos sujeitos participantes destes, notadamente no trânsito dos sujeitos treinados (onipresentes nos laboratórios psicológicos do século XIX) para os sujeitos ingênuos, que a partir da década de 1910, passam a se tornar o padrão, dentro de um tipo de design em que estes não tenham possibilidade de clareza do que está sendo experimentado. Esta transformação será discutida com base nos conceitos de docilidade e recalcitrância; se esta como possibilidade de resistência e colocação de novas questões por parte dos seres pesquisados já é considerada menor nas ciências humanas, a primeira, ou o assentimento perante as operações da pesquisa tenderia a se tornar maior nas operações com os sujeitos tratados como ingênuos.
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A tarefa deste artigo é propor algumas linhas de diálogo entre setores do pensamento kantiano, notadamente a Críticada Razão Pura e o campo da história da psicologia. Para tal, o texto se dividirá em duas partes. Na primeira parte serão trabalhadas de forma mais positiva as contribuições da crítica kantiana para a constituição de um determinado projeto de psicologia enquanto uma “Ciência da Experiência”, referindo-se à constituição dos primeiros laboratórios de psicologia a partir do terceiro quarto do século XIX. A hipótese aqui considerada é que as críticas kantianas aos modos de psicologia existentes no século XVIII foram mais orientadores para os saberes psicológicos posteriores do que as proposições mais positivas deste autor sobre este saber. A segunda parte do texto será conduzida a partir de apropriações que autores como Luís Cláudio Figueiredo e Michel Foucault fizeram da Crítica da Razão Pura para mapear um conjunto de modos de conhecimento e de experiências que são constitutivos dos saberes psicológicos. O que se buscaria aqui seria o entendimento de todo um modo de arranjo de saberes e experiências modernas que seriam fundamentais na descrição dos modos de psicologia contemporâneos. À guisa de conclusão será feita uma discussão sobre o sentido político destas apropriações críticas na história da psicologia.
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Apesar de a relação entre a psicologia empírica e a antropologia pragmática ser amplamente reconhecida na literatura especializada, não há consenso entre os pesquisadores a respeito da natureza exata dessa relação. O presente trabalho tem o objetivo de investigar este tema no pensamento crítico de Kant durante a década de 1780, de forma a contribuir para um maior esclarecimento sobre este ponto. Especificamente, buscamos compreender a afirmação de Kant, feita na Crítica da Razão Pura (1781), a respeito da inserção da psicologia empírica em uma antropologia pormenorizada. Nossa análise sugere que na década de 1780 é mantida a ligação entre a psicologia empírica e o ponto de vista teórico do conhecimento do homem. Essa ligação explica a afirmação de Kant. Ela significa que a psicologia empírica deve ser considerada antropologia escolástica (teórica) e deve ser mais bem desenvolvida de modo a constituir um campo de investigação autônomo. Além disso, mostramos que há também uma forte ligação entre os conhecimentos teóricos da psicologia empírica e a antropologia do ponto de vista pragmático.
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O artigo de Alfredo Pereira Jr. é um texto realmente instigante, no sentido de obrigar o leitor a refletir sobre a noção mesma de sentimento e do seu estatuto na ciência contemporânea. De fato, o tópico do sentimento, incluindo seu papel na determinação das ações humanas, é fundamental para qualquer teoria sobre a natureza humana. Dada a impossibilidade, porém, de fazer um comentário detalhado de cada parágrafo do texto, vou me ater aqui a alguns aspectos que me parecem cruciais para a proposta do autor. Meu objetivo principal é apontar alguns problemas de natureza teórico-conceitual que representam desafios e podem se constituir como obstáculos à realização de tal proposta.
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As transformações culturais, sociais e econômicas contemporâneas se refletem nas relações conjugais, em suas representações e práticas. Conseqüentemente, grande parte das expectativas e demandas dirigidas aos parceiros nas relações conjugais também mudaram. Este estudo de casos, baseado nas teorias de González Rey e da Rede de Significações, teve como objetivo compreender o discurso de quatro homens (25-40 anos) que coabitam com suas parceiras sobre as posições que ocupam e que lhes são atribuídas na relação conjugal. A análise de conteúdo das entrevistas realizadas mostrou que todos consideraram que cabe ao homem, na relação conjugal, ser o provedor. É permitido à mulher trabalhar, mas a contribuição financeira masculina deve ser decisiva. A representação do homem como provedor continua fortemente associada à subjetividade masculina, provavelmente pelo poder que concede aos homens na relação. A coabitação significa o aprofundamento da relação, sem a solidez do casamento. É um espaço de experimentação.
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No presente artigo busca-se estabelecer a relação entre fenomenologia, ontologia e metafísica em Edith Stein. Para tanto, examina-se sua tomada de posição na controversa discussão sobre idealismo e realismo, particularmente a partir de sua original hamonização entre a filosofia de seu mestre Edmundo Husserl e a de Tomás de Aquino. Examina-se a explicitação de Stein das diferentes ontologias dos dois autores de referência, considerando particularmente o estatuto da existência, da essência e do transcendental.
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Contemplando os aspectos afetivos nas vivências humanas, em nosso trabalho enfocamos a dimensão sensível da experiência. Recorremos às teorizações da experiência estética, forma de conhecimento singular a outros modos de pensamento, e experiência elementar, ímpeto original do homem em ação. Procuramos responder como a experiência estética favorece o reconhecimento da exigência fundamental de ser, núcleo axial da experiência elementar. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, de orientação fenomenológica, na elucidação dos elementos essenciais da conversação das literaturas respectivas. As categorias verificadas foram: a) a noção de “experiência”, pelo caráter originário e noético; b) a estrutura subjetiva de abertura ao real; c) o campo intersubjetivo que constitui a humanidade; d) o real totalizante como o propósito último do homem; e e) a dimensão ontológica atestada, notavelmente, pela busca do belo. Diante às novidades contemporâneas, destacamos a raiz afetiva da ética na Psicologia como guia em nossa prática, afinando-nos integralmente às expressões singulares.
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Na comunidade de Morro Vermelho (MG), encontramos uma grande devoção a Nossa Senhora de Nazareth, padroeira do distrito. A ela, dedica-se a festa da Cavalhada, iniciada há 310 anos pelos moradores do lugar. Na década de 80 do século XX, nasce também ali uma nova tradição: a Cavalhada Mirim, encenada por crianças. Entrevistamos três responsáveis pela Cavalhada Mirim de gerações diferentes, no intuito de compreender como eles vivenciam a responsabilidade em criar a festa, mantê-la e transmiti-la a outras pessoas que possam assegurar sua existência. Como resultado, observamos uma legitimação da presença das crianças nas festas tradicionais de Morro Vermelho e um relacionamento pessoal com a figura de Nossa Senhora. Notamos ainda que cada sujeito incorpora um momento dessa trajetória de vida em Morro Vermelho: da iniciação na devoção e nas tradições, até a resposta como responsabilidade, culminando na preocupação pela transmissão às gerações seguintes.
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O presente estudo teve como objetivo investigar o tema da “afetividade” presente no primeiro momento da filosofia de Maurice Merleau-Ponty (1908 – 1961), mais especificamente nas obras: A estrutura do comportamento, de 1942 e Fenomenologia da percepção, de 1945. Procuramos apontar de que forma tal concepção se articula com a noção de subjetividade apresentada pelo autor nos referidos trabalhos. Merleau-Ponty enfatiza a impossibilidade de compreender-se o afeto segundo os pressupostos tanto do empirismo quanto do intelectualismo. Para o autor, a afetividade apresenta-se como um campo original da consciência corporificada, uma maneira que o sujeito tem de se abrir para o mundo através de determinado estado afetivo. Tomado na corporeidade, o afeto não se apresenta como fisiologia ou ideia. A afetividade corporificada surge como realização de um significado próprio, ligado à abertura do sujeito ao mundo, que sempre se dá a partir do próprio corpo.
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In Memorian Paola Vismara (1947-2015)
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O objetivo da pesquisa foi à realização de uma inicial descrição histórica da atuação científica do professor Luiz Marcellino de Oliveira, a partir de documentos de seu arquivo pessoal, no período em que atuou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, isto exigiu a organização, higienização, classificação e descrição dessa documentação. A documentação presente em seu arquivo apontou sua atuação em áreas e instituições nas quais foi pioneiro e teve grande contribuição, como é o caso da formação da Sociedade Brasileira de Psicologia; a instituição do Bacharelado Especial em Pesquisa na USP; a utilização do Sistema Personalizado de Ensino e suas contribuições no ensino e pesquisa da Análise do Comportamento. Assim, é possível dizer que sua atuação teve alcance local em Ribeirão Preto, e importância nacional por também ter contribuído para a formação de diversos profissionais que atuam hoje por todo o país.
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Diante das diversas mudanças societárias e culturais, bem como, das ambivalências e fragmentações das políticas públicas que, em contexto brasileiro, geram o aumento de desigualdades e mazelas sociais, a família brasileira reage, se adapta, sobrevive e continua a ser fundamental e necessária para a vida humana, além de eixo principal da sociedade brasileira, principalmente, por produzir bens relacionais entre seus membros e para a sociedade. Este artigo, em seu conjunto, procura visualizar a família, em meio aos desafios da sociedade brasileira, como espaço adequado para as relações humanas de reciprocidade, confiança, gratuidade e cooperação, que por meio dos recursos e potencialidades próprios, pode gerar e transmitir Capital Social, que assume o status de Capital Social Familiar. E por fim, apresenta a Psicologia Comunitária e suas estratégias de intervenção como um importante recurso, que pode ser utilizado para subsidiar, intervir e contribuir para com as famílias brasileiras.
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A pesquisa apresentada aqui pretendeu compreender como a experiência de militares em uma missão de paz no Haiti afetou as relações com o Outro. Como objetivo secundário, buscamos observar como os dois tempos/lócus (Haiti e Brasil) se entrecruzam nas identidades e nas representações dos militares. Trata-se de uma pesquisa qualitativa empírica. Entrevistas narrativas e a técnica Photovoice foram utilizadas na produção de dados. Observou-se o entrecruzamento dos dois tempos/lócus nas identidades e representações do militar. Transformação nas identidades e nas representações também foram identificadas.
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Apresenta-se súmula histórica da formação em Psicologia no Brasil entre 1962 e 2004, focalizando o período do Currículo Mínimo. Examina-se a dimensão da formação, balizada pela trajetória socioeconômica e política do país e os debates sobre formação e profissionalização. Realizou-se leitura crítica de textos contemporâneos à consolidação da profissionalização e à expansão do ensino da Psicologia, além de documentos que resgatam a história desse movimento ou oferecem contextualização dessa dimensão. Encontrou-se flagrante descontentamento com a formação pré-determinada e uniforme para cursos de Psicologia; o Currículo Mínimo, dispositivo garantidor da uniformidade da formação, não respondia às exigências da sociedade. Inúmeras propostas apontavam para reformulação curricular como modo de alcançar transformações propostas para a formação. No auge desse processo, foram implantadas as Diretrizes Curriculares Nacionais em Psicologia, referencial normativo flexível, que reconhece a pluralidade do campo e estabelece orientações gerais para a formação.
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Segundo diversos autores, a ascensão da chamada Psiquiatria Biológica ganha força com a publicação da terceira versão do DSM – Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders –, em 1980, que retira a nomenclatura psicanalítica de seu escopo classificatório e passa a se basear em critérios descritivos e objetivos de análise, deixando de fora a discussão acerca da etiologia das doenças psiquiátricas. Neste artigo, analisaremos a ascensão do viés biológico na psiquiatria norte-americana a partir da constituição do DSM e das mudanças ocorridas ao longo de suas quatro primeiras versões. Diante de nossos propósitos, selecionamos Ludwik Fleck como principal interlocutor. Ao analisar a construção do conhecimento científico, este autor dedica especial atenção à construção do conhecimento médico, que possuiria particularidades em relação aos outros campos do conhecimento, as quais acreditamos serem ainda mais acentuadas no caso da psiquiatria, nosso objeto de estudo.
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Este artigo, realizado a partir de um recorte de uma pesquisa de mestrado, parte do cenário da hiperconectividade para problematizar os processos de subjetivação envolvidos no compartilhamento instantâneo de atualizações nas redes sociais na internet através da escrita nos dispositivos móveis de comunicação. Ao longo do texto, exploramos os efeitos que o modo de vida contemporâneo, marcado pelo imediatismo e pela sensação de falta de tempo generalizada, imprime nessas novas formas de nos subjetivarmos pela escrita, dialogando com autores como Agamben, Bauman, Benjamin, Flusser, e Foucault. Atentamos, enfim, para a dimensão da escrita enquanto relato de si e de seu possível esvaziamento diante das novas práticas que, valorizando a instantaneidade e a novidade da informação, perdem o caráter reflexivo e introspectivo apontado como necessário para a produção de tais escritas de si ou narrativas pessoais.
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Esse texto se tece para pensar os cruzamentos entre a invenção da cidade de Aracaju, em meados do século XIX, e algumas atualizações dessa história na experiência urbana contemporânea. Para isso, aproximamo-nos das descontinuidades que compõem histórias de um presente múltiplo, constituído pelo emaranhado de outros tempos. Intercessores como Michel Foucault e Walter Benjamin, entre outros, povoam a escrita e engendram um pensamento que intensifica a feitura de histórias abarrotadas de rupturas, fragmentárias, que recusam uma perspectiva progressista e contínua regida por um tempo pretensamente homogêneo. Algumas narrativas da invenção da urbe se criam no texto, perspectivando, sobretudo, o disciplinamento espacial concretizado na implantação do projeto arquitetônico traçado para a nova capital, que nasceu com a forma de um tabuleiro de xadrez. Articulando-se às histórias da invenção da cidade projetada, problematizamos algumas estratégias de controle dos espaços e da circulação dos corpos no presente.
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O artigo traz a montagem de um ca(u)so - “Um Menino que pulava para falar” – e, com essa narrativa, empreende algumas análises dos lugares produzidos para crianças e adolescentes no campo da Saúde Mental. Neste trabalho, “lugares” remetem às práticas de cuidado que emergem junto a meninos e meninas que fazem uso de algum equipamento da Saúde Mental. Dentre as linhas do caso narrado, puxamos a discussão das práticas médico-pedagógicas que objetivam a psiquiatrização da infância por meio da “criança anormal” segundo Foucault. Com essa linha histórica, analisamos a operação de divisão entre “transtorno mental” e “deficiência mental” e os efeitos disso nas práticas de cuidado de um equipamento da Saúde Mental. A montagem do caso nos serve para problematizar as práticas, não as tomando como naturais e necessárias ao campo.
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Tradução: Thalita Carla de Lima Melo - Mestre em Psicologia Social pela Universidade Federal de Sergipe (UFS)
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O contexto institucional intervém nos processos de subjetivação daqueles que estão aí inscritos. É o caso da instituição prisional cuja característica de ser fechada produz efeitos nos modos de sentir, pensar, nos valores e nas convicções. Uma análise dos processos de subjetivação em curso nas penitenciárias a partir de autores como Goffman nos permite entrever, dentre outros, os processos de infantilização que incidem sobre os detentos. Invertendo o olhar, buscamos conhecer os efeitos de subjetivação que a penitenciária provoca no contexto social, ou seja, fora dos muros da instituição. Identificamos, assim, um componente de amedrontamento da população que, neste processo, é convocada a respeitar a lei. Por fim, foi possível relacionar a instituição prisional a diferentes modos de manutenção da ordem e de submissão ao status quo.