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A subtração da alteridade a revela em suas especificidades existencial e essencial, respectivamente, pelo exame do esvaziamento no caso do karate-dô e pela redução fenomenológica. Este artigo se propõe a analisar a alteridade como um dos fundamentos da tradição existencial própria do karate-dô. Concomitantemente, explora aspectos do problema do alter ego e da empatia fenomenológica, tratados por Edmund Husserl e Edith Stein, de modo a acentuar as análises das vivências atuantes em determinados conteúdos produzidos por praticantes experientes de karate. Uma análise fenomenológica do esvaziamento introduz a questão da alteridade conforme se revela neste fenômeno em conteúdos investigados. A questão, conforme descortinada pela epoché, põe-se como análise fenomenológica da entropatia. Para concluir, são realizadas algumas distinções necessárias que precisam alguns limites da dissolução do outro num mesmo eu, sugerida em conteúdos examinados. Constata-se que a vivência de paroxismo intersubjetivo pontua um dos fenômenos fundamentais da dinâmica existencial do karate-dô.
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A reforma psiquiátrica visa a desconstruir a posição do “louco” na sociedade, colocando a doença entre parênteses para considerar um homem capaz de sentir, desejar e agir, desvinculado de um padrão de normalidade. Nessa perspectiva, decidimos traçar o perfil da demanda em saúde mental e investigar como vivem os usuários de psicotrópicos e/ou egressos de hospitais psiquiátricos residentes no bairro de Bom Pastor, Natal, a fim de melhor conhecer a experiência cotidiana desses sujeitos. Aplicamos um questionário semi-estruturado a 160 usuários, através do qual percebemos que o cotidiano dessas pessoas é estruturado a partir do diagnóstico recebido. Inúmeras atividades deixam de ser realizadas em função disso. A circulação dessas pessoas em seu bairro/cidade é bastante restrita, bem como poucas as atividades realizadas por elas, as quais estão sempre condicionadas à disponibilidade de familiares. Apesar dessa realidade, há o desejo por parte dos entrevistados de diversificar essas atividades e torná-las mais freqüentes.
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Investigar aquilo que nos configura como sujeitos de poder e de saber no presente é abrir possibilidades de novas subjetivações. A noção-saber Recursos Humanos (RH), vastamente utilizada nas empresas, bem como, atualmente, nas demais organizações que empregam força de trabalho – como governos, ONGs etc. –, configura sujeitos empresarias que não apenas trabalham, mas vivem dentro de uma lógica da empresa. O presente ensaio, explorando essas questões ao lado das perspectivas foucaultianas da história e do discurso, faz a tentativa de uma conversão do olhar para novas formas de análise do RH, da empresa, das psicologias envolvidas, das subjetivações engendradas. O trabalho se insere em um projeto maior de uma arqueogenealogia da empresa.
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A noção de indivíduo é historicamente constituída. O objetivo deste estudo é mostrar quais foram as condições históricas que possibilitaram o surgimento do indivíduo e sua tomada como valor mais precioso na sociedade moderna, e como a invenção do indivíduo ocupa um lugar relevante na história do surgimento da psicologia. Atravessaremos a Antigüidade, a constituição dos Estados Modernos e a proliferação das técnicas disciplinares para construir uma história da noção de indivíduo. A experiência de individualização a que chegamos marca toda a prática psicológica, a qual oscila entre a busca de autonomia e de controle dos seus sujeitos. Sem essa dicotomia moderna – indivíduo autônomo x controlado – talvez nem houvesse psicologia, pois uma vez que o indivíduo fosse pensado unicamente como autônomo não poderíamos tomá-lo como objeto de estudo; ao passo que se houvesse apenas determinações, cairíamos no fatalismo e não seria necessária nenhuma intervenção psicológica.
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Em meio às atas e documentos do início das atividades da psicologia dos arquivos do Hospital São Pedro de Porto Alegre, foram encontrados os rascunhos de uma entrevista com a primeira psicóloga que começou a trabalhar no hospital, em 1949. Em pleno predomínio do modelo da psiquiatria clássica adotada no hospital, inseriu e sustentou atividades que se desviavam de um projeto de psicologia psiquiátrica ao qual havia sido destinada inicialmente. Estes fragmentos conferem à psicologia um início polissêmico que nos leva a pensar a potência da psicologia no presente em buscar novas entradas e saídas dentro do hospital psiquiátrico, tomando a Oficina de Criatividade como um espaço no interior do manicômio capaz de produzir novas práticas e saberes que se deslocam do esperado.
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Esse estudo tece algumas considerações gerais sobre a cultura de imagens na qual vivemos atualmente e busca avaliar a medida em que somos afetados por suas formas e conteúdos na vida cotidiana. A seguir, como paradigma, apresenta um pequeno acervo de representações visuais do elemento judaico e do “ariano”, publicadas no Der Stürmer, um jornal dirigido às classes populares na Alemanha, fundado por Julius Streicher em 1923, na cidade de Nuremberg. A publicação, que veiculava a ideologia nazista nos anos anteriores e durante o regime como um órgão independente, era prolixa em imagens. Com essa apresentação, demonstra-se a forma como as ideologias podem ser iconizadas ou “embutidas” no tipo de retórica visual empregada. Alguns aspectos da dinâmica psíquica envolvida nesse discurso visual são observados, avaliados em sua dimensão histórico-social, e a possibilidade de aplicação de análises dessa natureza a outros contextos é levada à consideração do leitor.
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O artigo busca analisar as implicações das biociências e biotecnologias sobre a subjetividade. A questão que nos move é a colonização tecnológica da vida e da inscrição da subjetividade no registro genético. Sob a tensão da possibilidade da extinção da resistência do biológico ao domínio humano, encaminhamos uma discussão sobre o bio-poder contemporâneo diagnosticado pelo apagamento das fronteiras entre normal e patológico. Através de um exame do papel da medicina no governo de si, fazemos comparações entre as técnicas e finalidades envolvidas no cuidado com a saúde no âmbito moderno e contemporâneo. A conclusão principal é que a alteridade do biológico é deslocada, ao invés de dissolvida. Na modernidade ela esteve ligada às paixões, desejos e sexualidade incontrolável, enquanto agora, está relacionada ao caráter probabilístico dos diagnósticos genéticos, que envolvem sempre uma incerteza diante da qual se deve optar.
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Partindo da constatação de que, no âmbito universitário, o estudo da história da filosofia é o caminho comumente privilegiado na aproximação aos temas e problemáticas filosóficas, o artigo tece algumas considerações em torno das conseqüências desta verificação para a própria filosofia. Ao mesmo tempo em que critica a significação hegeliana da história da filosofia, expõe e defende um procedimento metodológico que, ao retirar do discurso filosófico a função de lei ordenadora dos demais discursos, faz do seu estudo algo intenso e vivo — e não meramente objeto de fidelidade e probidade filológicas. Para tal fim, utiliza-se do conceito de pedagogia do conceito, referido ao percurso do filósofo Gilles Deleuze.
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O debate acerca do reconhecimento da alteridade por recém-nascidos tem tradicionalmente ocupado os esforços investigativos de diferentes teorias psicológicas. O presente artigo tenciona examinar duas posições prevalentes, discriminando-as no contexto da psicologia do desenvolvimento. De um lado, defende-se a hipótese de que bebês nascem num estado de indiferenciação com o ambiente e incapazes de discriminar entre estímulos internos e externos. Essa capacidade discriminatória estaria condicionada a um processo de construção progressiva e seria dependente de marcos específicos do desenvolvimento. De outro, sustenta-se que bebês nascem equipados com um senso de self rudimentar (self ecológico) e capazes de reconhecer o próprio corpo em ação como uma entidade organizada e diferenciada do ambiente. Dessa perspectiva, a habilidade para o reconhecimento da alteridade se daria muito precocemente na vida infantil. Após o exame dos principais argumentos que sustentam as posições citadas, pretende-se ainda descrever como promovem dois modos distintos de compreender a imitação neonatal.
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Neste artigo faz-se uma interpretação da história do Serviço de Aconselhamento Psicológico (SAP) do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, abarcando o período de 1969 a 2002. Esta interpretação tem como eixo as continuidades e rupturas na constituição do projeto clínico-pedagógico do SAP, tendo em vista sua inserção na universidade pública paulistana. Este eixo, por sua vez, é atravessado pelas possibilidades e vicissitudes das políticas públicas de saúde e educação, especialmente na esfera da saúde mental e do ensino superior. Por esta razão, a reforma psiquiátrica e a reforma universitária são também tematizadas em suas conexões com a história do SAP.
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A psicologia enquanto atividade de conhecimento parece não incluir a questão da alteridade, pois, supostamente, quando conhecemos, não conhecemos um outrem, mas um objeto. Na história da psicologia teórica e experimental podemos destacar um problema, o qual portaria a questão da alteridade, e que nos serviria para reler a história da relação pesquisador e participante, a saber: o fenômeno das falsas lembranças. A psicologia experimental, ao considerar a falsa lembrança como uma falha do sistema de memória, estabelece uma relação sujeito-objeto característica da ciência natural, a qual não envolve a alteridade. Por sua vez, no tribunal torna-se importante poder distinguir o “perjúrio” de uma “falsa lembrança”. Ambas esferas colocam em cena um operador – o júri, o juiz, que julga o caráter de verdade ou falsidade dos comportamentos. Na história da psicologia esse ponto de vista sempre se estabeleceu como uma razão a posteriori, como, por exemplo, no behaviorismo e no gestaltismo.
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O artigo reconstrói os vínculos entre a gênese teórica e a gênese social de conceitos e dispositivos da Análise Institucional francesa, entendida como regime de verdade, prática e subjetivação, durante seus "anos de inverno" - expressão inspirada em Félix Guattari, que, através dela, retrata o mundo contemporâneo. Um destaque especial é dado aos conceitos de implicação e sobreimplicação, conforme concebidos por René Lourau. As considerações finais esboçam questões sobre a Análise Institucional no Brasil, particularmente em suas relações com a Universidade. Presume-se então que a 'dobra sobre si' efetuada pela Análise Institucional esteja necessariamente relacionada a um 'desprendimento de si'.
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O karate-do é uma arte marcial de origem japonesa que tem como objetivo principal formar o caráter do praticante. A presente investigação explora percursos históricos, técnicos, conceituais e vivenciais das idéias psicológicas identificadas como inerentes ao karate, visando conhecer seus estratos de base. Para tanto, o estilo shotokan do karate, fundado por Gichin Funakoshi, é analisado pelo prisma de pensamento de seu discípulo Masatoshi Nakayama, um dos responsáveis pela diáspora mundial da arte. A essência do karate é expressa pelo conceito de kime que define formas determinadas de ação em função de exigências materiais e intencionais. O conceito de sun-dome contrapõe-se ao kime, correspondendo a uma necessária contenção da intenção inicial. O equilíbrio de kime e sun-dome resulta no controle de si. Sob tais conceitos emerge zanshin, o espírito de luta, que possibilita o acesso à essência do karate-do.
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O “muito de possível” − epistemológico, ético, estético e político − implicado na relação com Sylvia Leser como orientadora é sugerido no texto por meio do relato de memórias da autora, bem como da transcrição de parte de sua tese de doutorado intitulada “No rastro dos ‘cavalos do diabo': memória e história para uma reinvenção de percursos do paradigma do grupalismo-institucionalismo no Brasil”, defendida em 2002, no Instituto de Psicologia da USP. Nesse intuito, foi utilizado um andamento de inspiração musical − atrever-se, conviver, escrever, ouvir e ler, prolongar −, capaz de se aproximar minimamente da oralidade, marca singular do vínculo de afeto-pensamento entre orientador e orientando.
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As pesquisas sobre a história das práticas psi no Brasil, quando fazem menção à Análise Institucional (AI), primam por incorporar a trajetória desse paradigma ao processo de difusão da psicanálise. O presente trabalho é parte de uma investigação dedicada a elaborar uma história diferente. Com tal intuito, privilegiamos o estudo de momentos e núcleos organizacionais em que hipotetizamos ter a AI produzido efeitos diferenciais na formação e modos de intervenção dos agentes. Dentre esses núcleos, destaca-se o Setor de Psicologia Social da UFMG, que, desde os anos 1960, incorporou a AI francesa como um de seus referenciais, e recebeu, em 1972, a visita de Georges Lapassade, um dos criadores do paradigma. Tomando a visita de Lapassade como analisador, buscamos uma apreensão analítico-crítica do funcionamento do Setor. Para tanto, além de apelar à tradicional documentação escrita, colhemos histórias orais de vida de seus antigos participantes.
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O artigo descreve vicissitudes históricas do Psicodrama no Brasil, tomando como marcos cronológico-institucionais o V Congresso Internacional de Psicodrama e Sociodrama (1970) e a promoção, em 2001, pela prefeitura da cidade de São Paulo, do evento “Ética e Cidadania”. O principal objetivo do texto é analisar os nexos entre Psicodrama e poder, em consonância com a proposta da Análise Institucional.
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O texto descreve a trajetória de Jean Piaget e sua contribuição em três importantes institutos de estudo da psicologia. São eles: o Instituto Jean-Jacques Rousseau (IJJR), Bureau Internacional de Educação (BIE), e o Centro Internacional de Epistemologia Genética (CIEG). No primeiro, as pesquisas de Piaget contribuíram para o conhecimento dos estágios do pensamento da criança, além de ter sido o responsável pela transformação de instituto em uma instituição puramente científica e, atuando como diretor, ter separado a psicologia da pedagogia. No segundo, Piaget mostra-se como um pesquisador engajado politicamente. O CIEG, por fim, foi uma criação do próprio Piaget, sendo um lugar de intercâmbio de informações de especialistas de diversas áreas visando o aprofundamento em pesquisas e estudos. É neste instituto que Piaget conclui, finalmente, sua teoria. O texto também aborda as mudanças ocorridas em cada um desses institutos, em relação tanto à estrutura quanto aos objetivos principais, ao longo dos anos.
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O artigo apresenta uma entrevista realizada com uma paciente do Instituto Municipal Philippe Pinel a partir da experiência de desinstitucionalização de pacientes de longa permanência nesta instituição. Traz um pequeno histórico da História Oral, apresentando-a como uma metodologia de pesquisa primordial de resgate de narrativas esquecidas dos pacientes há muito institucionalizados. Neste âmbito, a História Oral promove a valorização dos relatos daqueles que vivenciam o processo de mortificação promovido pelo manicômio. Conclui utilizando noções trazidas por Bourdieu, Basaglia e Foucault, de modo a potencializar as narrativas fragmentadas, a encontrar na instituição o poder de mortificar e, sobretudo, a reconhecer a resistência que encontramos à cronificação, por parte do pacientes “institucionalizados”.