A sua pesquisa
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O objetivo do artigo é compreender a noção de linguagem e expressão em Merleau-Ponty, de modo a evidenciar como se dá a gênese de sentido linguístico. Primeiro, optamos em expor o estado da questão na Fenomenologia da Percepção. Introduzimos o corpo como potência expressiva e significativa de mundo, e a linguagem como expressão atrelada ao caráter gestual da palavra. Em seguida, apresentamos a expressão da linguagem após a apropriação feita por Merleau-Ponty da linguística de Saussure. Por fim, enfocamos a articulação entre o sentido gestual da palavra e o caráter sistemático da língua: o sujeito falante, enquanto potência de atualização e criação de sentido, assume a língua à qual pertence, ao mesmo tempo em que a língua forma sua possibilidade de expressão.
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Neste artigo, os autores investigam uma série de tensões notáveis pela presença do termo “primitivo” como um enunciado na origem da psicologia das artes no Brasil. A exploração dos significados relacionados a esse termo e palavras correlatas (tal como “primitivismo”) permite-nos mapear as marcas da dominação colonial, a crítica e possibilidades de superação. Nossa base histórica foram alguns textos escritos por importantes autores, os quais tornaram-se referências fundamentais para o campo acadêmico da psicologia das artes no Brasil. O estudo da conceituação então elaborada possibilita os pesquisadores compreenderem o primitivismo como um problema acadêmico e como uma sombra a cobrir as origens tanto da psicologia da arte quanto da psicologia social. A interpretação daqueles escritos permite identificar enunciados que articulam a abordagem psicológica de objetos estéticos produzidos pelas classes populares e a invenção de algumas categorias discursivas coerentes. Como resultado, esperamos evidenciar a própria genealogia da psicologia da arte brasileira, a qual foi construída a partir de fundamentos ambíguos, estes articulados à dominação colonial e seus reflexos históricos e políticos no discurso científico. Concluímos pontuando a relevância do mapeamento e reflexão acerca da presença de tais ambiguidades na abordagem científica da produção estética de diferentes grupos sociais subalternos, historicamente invisíveis e representados em termos de minorias.
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A presente contribuição busca mostrar a formação – acadêmica e humana – recebida por de Edith Stein nos anos de seus estudos universitários apontando sua importância para o que viria a desenvolver depois em obra e na própria existência da filósofa. Inicialmente, se esclarece o que Stein entende por formação. Em seguida, através da escuta empática do que ela mesma relata em escritos autobiográficos e cartas a amigos e colegas, mostra-se o vínculo entre as experiências vividas nas duas cidades onde estudou e os temas enfrentados nas obras redigidas nos anos imediatamente sucessivos à aprovação de sua tese, que voltariam também nas obras mais maduras em várias passagens.
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O artigo aborda as pesquisas de René Spitz sobre o desenvolvimento das psicopatologias precoces infantis, enfatizando seus aspectos metodológicos e a maneira como o autor procura articular a investigação experimental e a perspectiva clínica e teórica da psicanálise. Os principais métodos e os procedimentos complementares de suas pesquisas empíricas são apresentados e discutidos, a partir da análise das publicações originais do autor. Críticas e debates que cercaram seus trabalhos à época são também revisitados e analisados. Em conclusão, argumenta-se que os trabalhos de Spitz, apesar de suas limitações, constituem um exemplo histórico significativo de como a psicanálise pode se beneficiar de uma perspectiva mais plural e interdisciplinar e suas pesquisas clínicas e empíricas.
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O objetivo da pesquisa é evidenciar, nos escritos e na correspondência epistolar de Diego de Torres Bollo (1551-1638), missionário jesuíta espanhol no Paraguai nas primeiras décadas do século XVII, a elaboração da experiência acerca dos primeiros anos de vida missionária junto às populações indígenas, nos espaços territoriais chamados de Reduções. O método é abordar a tópica da experiência relatada nos documentos pelo autor e entendida conforme as categorias interpretativas próprias da cultura jesuítica da época. No âmbito da experiência narrada, serão evidenciados os saberes psicológicos elaborados na tradição cultural da Companhia de Jesus, especialmente os saberes referentes aos afetos.
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Em 2021 a Revista Memorandum alcançou o marco de 20 anos de publicação ininterrupta, difundindo no país pesquisas do campo da fenomenologia, memória, história e religião. No mesmo ano, celebramos também 20 anos do início da parceria da filósofa italiana Angela Ales Bello com pesquisadores brasileiros. Como um brinde à dupla comemoração, discutimos neste texto a originalidade da fenomenologia clássica e suas contribuições para as ciências em geral e, em particular, para a psicologia, psicopatologia e estudo das religiões. Também é realizado um resgate de memórias sobre o início do intercâmbio com pesquisadores brasileiros que contribuiu a um só tempo para o desenvolvimento da psicologia fenomenológica no país e para a consolidação da revista Memorandum como periódico de referência nesta área.
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O trabalho propõe uma reflexão sobre o lugar da alteridade e da dimensão do laço social articulados à expressão da subjetividade. Para tanto, partimos da análise da amizade entre Freud e o psicanalista e pastor Pfister que, ao longo de décadas, sustentaram uma relação de amizade significativa, sem renunciarem aos fundamentos e pressupostos que eram caros a cada um, preservando, dessa forma, suas diferenças nessa relação, tal como acompanharemos em alguns trechos das correspondências trocadas entre os autores. A alteridade é representada também pelo debate entre ciência e religião no diálogo entre os teóricos. Utilizamos alguns fundamentos da psicanálise freudiana para construir nossa reflexão, a saber, a onipotência, o lugar da alteridade, o laço social, a idealização, a ilusão e a direção do tratamento analítico. A abertura à alteridade, fundamento da clínica psicanalítica, parece fundamental para uma experiência subjetiva significativa que, nesse sentido, mantém estreita conexão com âmbito da coletividade.
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A formação do psicólogo, sua profissionalização e regulamentação da Psicologia são temáticas recorrentes de pesquisas e discussões, no Brasil. Nessa direção, objetivamos identificar e caracterizar condições do campo científico-profissional da Psicologia que estiveram envolvidas no processo da regulamentação da profissão entre as décadas de 1940 e 1950. Metodologicamente, esta é uma pesquisa na interlocução entre História Social da Psicologia e a História do Tempo Presente. As fontes primárias foram prioritariamente aqueles presentes no Dossiê Legislativo vinculado à proposição da Lei nº 4.119/62. Os resultados indicam a existência de condições típicas das comunidades científico-profissionais (e.g., sociedades, revistas, exercício profissional, etc.) antes da referida regulamentação. Tais condições respondiam ao projeto de “modernização” nacional a partir de aplicações e da formação de “especialistas” em Psicologia. Assim, o que nos parece é que, para que profissão e a formação fossem legisladas, parte das condições necessárias para sua existência já estavam presentes no país.
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Medard Boss é considerado fundador da Daseinsanalyse. Conquanto a relevância de seu legado para a psicologia, sua obra é pouco conhecida na comunidade científica brasileira. Esta pesquisa, no intento de descobrir o que e como se tem referenciado o daseinsanalista, orienta-se por uma revisão integrativa da literatura de artigos científicos, indexados em portais abertos e gratuitos, que citem Medard Boss. Foram eleitas palavras-chave, então aplicadas em três bancos de dados (SciELO, PePSIC e Lilacs). Após seleção por critérios de exclusão, chegou-se a um N final de 37 publicações. Dos resultados, percebe-se que Boss é pouco referenciado pelos artigos brasileiros. Quando lembrado, a maior parte das menções é breve. Uma minoria de autores concentra a maior parte das publicações. Apenas dois livros de Boss estão traduzidos para o português. Vinte e sete porcento dos artigos que remetem ao daseinsanalista não usam nenhuma referência de sua obra.
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O objetivo deste memorandum é a proposição de uma definição conceitual para a psicologia capaz de integrar desdobramentos de objetos, diferenças entre métodos, e variedades de aplicações. O argumento baseia-se no fato óbvio de que existe apenas um psiquismo, mesmo que se reconheça diferentes modos de descrevê-lo, estudá-lo, preveni-lo e tratá-lo. Desde modo, a psicologia pode ser definida como um vasto campo de manifestações impressivas e expressivas as quais podem ser sintetizadas em articulações de suas propriedades afetivas, cognitivas e conativas, podendo tais manifestações serem observáveis (perspectiva de terceira pessoa) ou não (perspectiva de primeira pessoa). Os termos do enunciado serão definidos e discutidos após análise lógica e histórica de definições apresentadas por filósofos e psicólogos, do final do século XIX ao início do século XXI. A proposição assenta-se na esclarecedora diferenciação entre pluralidade de objetos (hierarquia ontológica ou desdobramentos de objetos) e pluralismo de concepções (diversidade epistemológica).
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As biografias têm ganhado espaço na História das Ciências, no geral e, em específico, na História da Psicologia. Elas têm permitido compreender a atuação de personagens relevantes na história da Psicologia, em diversos locais e, entre eles, no Brasil. Este artigo se constitui como uma biografia de Reinier Johannes Antonius Rozestraten (1924-2008). A partir de fontes textuais (e.g., memoriais, relatórios, etc.) e orais (entrevista com ex-colegas e ex-alunos), apresentamos cidades pelas quais o biografado passou e parte de suas atividades vinculadas ao campo científico-profissional da Psicologia. As fontes foram analisadas a partir de seu conteúdo. Vemos um ator interessado em uma Psicologia científica, capaz de se envolver em questões aplicadas, do que a de uma personagem vinculada a uma teoria, em especial. Ademais, observamos uma atuação que concorreu à criação e desenvolvimento de Sociedades científico-profissionais. Assim, sua trajetória nos permite compreender os caminhos da Psicologia, no geral, e da Psicologia do Trânsito, em específico, no Brasil.
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Este artigo tem como objetivo cartografar as ações e articulações de dois grupos de mulheres, mães e familiares de jovens assassinados ou privados de liberdade nos centros socioeducativos do Ceará. O estudo foi construído por meio de uma pesquisa-intervenção. O objetivo foi acompanhar as movimentações dessas mulheres-mães na cidade de Fortaleza, a partir do método cartográfico, ressaltando o grupo enquanto dispositivo. Dialogando com autores da Psicologia Social e os debates acerca da necropolítica, acompanhamos ainda o agenciamento de outros dois dispositivos, de escuta e de mobilização social e política, enquanto estratégias de apoio psicossocial e luta política. Buscamos evidenciar o papel da psicologia em organizações da sociedade civil e seu potencial de fazer funcionar e fortalecer a atenção psicossocial através do agenciamento de dispositivos grupais, de escuta e de mobilização política e social, pautando a saúde mental e o cuidado de si e do outro como político.
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Este artigo propõe identificar as potências e limites do cuidado em saúde, a partir da atuação de uma psicóloga em um Programa de Residência em Saúde. Buscou-se compreender os modos de cuidar em psicologia, na relação com outros profissionais de serviços de saúde, e perceber em que aspectos este cuidado é atravessado pela lógica da medicalização e biomedicalização. Trata-se de uma pesquisa-intervenção, inspirada no referencial da Análise Institucional, em que se utiliza o Diário de Pesquisa como ferramenta de registro de vivências, a partir do qual se constroem narrativas. Estas permitem acessar alguns analisadores discutidos dentro de três campos temáticos: Ser psicóloga residente; Corpos que se encontram e desencontram; e Medicalização e Biomedicalização. Foi possível compreender que o cuidado em psicologia, neste contexto, não se orienta pela cura do sofrimento, mas é permeado por limites inseparáveis da potência, própria aos modos de acolher um usuário, com a participação de familiares e profissionais.
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O presente artigo pretende apresentar os percursos metodológicos de uma pesquisa que se interessa pelo carnaval, pela cidade e pelos modos de subjetivação contemporâneos. Com a aproximação de autores como Michel Foucault e Jorge Larrosa, afirma-se o primado da experiência e o caráter singular do método, distante de uma via única, verdadeira e replicável que enfraqueceria a potência micropolítica dos problemas e a força irreverente, imprevisível e efêmera do carnaval. Tomando como direção não-prescritiva o gesto inventivo e alegre de experimentação, a aposta é viver o campo do mesmo modo e ao mesmo tempo em que se vive a festa, na composição de uma metodologia ébria e de um ethos pesquisador-folião.
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O cenário pandêmico deflagrou a importância dos cuidados em saúde mental da população em geral. No entanto, grupos de trabalhadoras sexuais colocam sob nossas vistas que a perpetuação e o adensamento da precariedade a que estão sujeitos certos grupos podem implicar na exacerbação de sofrimentos psíquicos já existentes. Observando que os debates sobre saúde para esta população direcionaram suas preocupações majoritariamente às infecções sexualmente transmissíveis, neste trabalho objetivamos evidenciar os contornos da pandemia e sua incidência sobre a saúde mental das trabalhadoras sexuais. Para isso, trazemos à cena uma disparadora narrativa de trabalhadoras sexuais que, no cenário pandêmico, não puderam cessar suas atividades. Além disso, problematizamos como as falhas nos processos formativos em psicologia quanto às questões de gênero e sexualidade podem gerar consequências nas práticas em psicologia e na saúde mental destas populações; e concluímos sugerindo posicionamentos éticos nas práticas profissionais diante daqueles grupos considerados desviantes.
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O Estado brasileiro, implicado em certa forma de governar, se apoia em divisões entre grupos que ocupam diferentes lugares na hierarquia social com recorte racial e que acessam assimetricamente as condições de participação política em processos decisórios de gestão das relações e de autodeterminação da vida. No jogo móvel e complexo da razão governamental, as vidas negras atravessadas pela política socioeducativa ocupam lugares esquadrinhados e pré-determinados na organização social, enquadradas em um itinerário que as conduz, não raro, à interrupção violenta da vida. Esse artigo, fruto de uma pesquisa realizada em meio ao fazer profissional de uma psicóloga na socioeducação, busca chaves para a compreensão dos atravessamentos do racismo e da colonialidade nas vidas negras que pelos espaços da política circulam, apontando para a descolonização e para a abolição das penas como caminhos para a construção de possíveis nesse cenário de destituição e morte.
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Em março de 2020, a Organização Mundial de Saúde decretou como pandemia a doença causada pelo novo coronavírus (COVID-19), afetando a saúde global e seus sistemas de atenção, além das relações interpessoais, o trabalho, os sistemas financeiros, e muitos outros aspectos de nossa sociedade globalizada. Mais do que isso, a pandemia também ampliou e escancarou desigualdades sociais das populações vulnerabilizadas pelo capitalismo neoliberal, inclusive nós, LGBTIs, que além das tradicionais violências misóginas, machistas, sexistas, LGBTIfóbicas, agora temos que lidar com isolamento físico, insegurança financeira, convivências familiares opressivas e deterioramento da saúde mental. E o vírus, obviamente. Propomos aqui discutir como a saúde física e mental, o trabalho e a segurança de pessoas LGBTI têm sido afetadas desde o início da pandemia no Brasil, através de uma revisão bibliográfica e das vivências dos autores como integrantes dessa população e pesquisadores da temática de diversidade afetiva-sexual, de gênero e sexo biológico.
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Este artigo realizou uma revisão sistemática de literatura em um viés narrativo. Para tal, a partir da delimitação do campo problemático, a pesquisa buscou descritores na base de dados da Scielo a fim de encontrar publicações da área da psicologia que versassem sobre as medidas socioeducativas em meio aberto. Assim, a partir dos critérios de inclusão e exclusão foram encontrados oito artigos, classificados em dois campos de análise: estudos derivados da execução e estudos de coletas de dados. Como principais resultados, o artigo encontrou desde condições precárias de trabalho, práticas e concepções obsoletas, tanto no âmbito institucional formal quanto nos recintos cotidianos, até a utilização, por parte de alguns estudos, de ferramentas teórico-metodológicas que permitem vislumbrar a implementação do ECA e do SINASE. Não obstante, foram observadas também considerações incidindo em problematizações destes mesmos instrumentos legais.
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A euforia de um grupo de amigos celebrando mais um réveillon, a renovação da aposta anual de que dali em diante tudo seria melhor, porque tudo só dependia da afirmação daquele amor gratuito e grandioso, tudo só dependia da aposta indefectível no brilho daquela geração; uma juventude que desabrocha em meio aos encontros suscitados pela vida universitária, à experimentação do amor, à descoberta da política, do esforço de transformação urgente e necessário que a realidade exigia; a amizade entre dois psicólogos recém-formados, abalada pela encruzilhada entre a adesão ao lucrativo receituário capitalístico e a persistência na tarefa de construir outro mundo que era, sim, possível, tinha de ser.
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Entre os anos de 2018 e 2021, produzimos, no Núcleo de Ecologias e Políticas Cognitivas (NUCOGS) dois jogos: “Indústria do gênero” e “Ilha dos afetos”, buscando provocar breakdowns e contágios sensíveis que desloquem regimes de sensibilidade, dizibilidade, visibilidade de modo a complexificar-singularizar tramas de afetações e romper com políticas narrativas da outridade e do alterocídio. Os jogos operam como figurações para construírem espaços narrativos colaborativos heterotópicos por meio dos quais xs jogadorxs possam estabelecer dispositivos coletivos analíticos que coloquem em cena e problematizemos modos de vivermos juntxs. O artigo desenvolve uma reflexão acerca da potência micropolítica de narrativas e de figurações como dispositivos clínico-políticos e ético-estéticos para transformar o campo de possibilidades de afetar e ser afetado. Discute experiências de criação e realização desses dois jogos que tensionam, produzindo breakdown em nossos regimes normativos para as questões de gênero, raça, sexualidade, deficiências, classe, nacionalidade, entre outras. A proposta é produzir um artigo teórico-empírico que articule os conceitos de figuração e breakdown com a inserção de relatos da construção e uso dos jogos com adultos e crianças.
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