A sua pesquisa
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O manicômio, com sua função de exclusão, aniquilação de subjetividades e de vidas, foi considerado o lugar de destino e disciplina de todos os tipos de indesejados que não se ajustavam às normas. No Brasil, todavia, a intensa luta política por parte dos militantes do Movimento de Luta Antimanicomial, os avanços do progresso técnico, com a implementação de serviços substitutivos e novas forma de controle, tornou sua existência, enquanto estrutura material, obsoleta. Mas isso não significou a superação dos desejos de manicômio, expressadas nas “novas cronicidades” dos serviços de saúde mental do país. Além disso, percebe-se atualmente a persistência de um abandono de atenção e investimentos, em todos os níveis. O foco no objeto, na busca pelo órgão doente, e, portanto, a suspensão de todo elemento subjetivo presente na experiência do “estar fora de si”; o relacionamento diferenciado entre quem é imputável e pode gerir os problemas da vida e quem está submetido a um Outro que decide sobre sua vida; a validade dos conceitos de saúde e normalidade, balizados por critérios relacionados à lucratividade e à manutenção da cultura da exclusão e da marginalização, têm sido elementos persistentes no território da Saúde Mental. É preciso, então, (Re)pensar a Saúde Mental e os processos de desinstitucionalização. O livro que o leitor tem em mãos é nossa contribuição nesse sentido, uma vez que oferece análises preciosas sobre as histórias, as formas de intervenção e os desafios ético-políticos que todos necessitam conhecer para um atuação crítica e transformadora no campo da Saúde Mental.
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É comum, em nossos dias, nos deparamos com enunciados do tipo: ‘O que está acontecendo conosco?’; ‘Onde vamos parar?’; ‘Do jeito que está não dá!’ Cada um deles, a seu modo, oferece indícios de que mudanças, dos mais variados matizes, estão em curso e elas surpreendem pelas mais diversas vias: seja pela sua emergência abrupta, seja pelo incômodo que geram, seja, ainda, por nossa dificuldade de acolhê-la e lhes dar sustentação. Assim, o desafio de produzir algum tipo de compreensão sobre o vivido, traçando diagnósticos sobre o presente, foi assumido por este grupo de pesquisadores filiados às áreas da Psicologia, Filosofia, Educação, História e Publicidade, e que estão atentos à transformação social e a seus efeitos subjetivos em nossas vidas. Adotando uma inspiração foucaultiana, os autores seguiram os passos desse pensador que, ao comentar sobre suas obras, afirmou: “... procuro diagnosticar, realizar um diagnóstico do presente: dizer o que somos hoje e o que significa, hoje, dizer o que nós dizemos”(FOUCAULT, 1967). Se algum diagnóstico sobre o presente é possível, isto se deve ao próprio modo de operá-lo: sempre provisório, parcial, perspectivo, e, até mesmo, enviesado. Precisamente por isso, o traçado de análises diagnósticas sobre o presente não pode se comprometer com uma verdade, absoluta e imutável. Seu mérito é tomar em consideração as turbulências e tensões de nossas vidas, que são múltiplas. Uma vez que os enunciados acima mencionados estão se disseminando no social, coube a tarefa de sustentar, com paciência e insistência, as forças emergentes nesse campo problemático que se configura no presente, desenhando diagnósticos parciais sobre os modos de viver que estamos ajudando a construir.
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Os organizadores deste pequeno dossiê e tradutores do fragmento da longa conversa entre Michel Foucault e Thierry Voeltzel, datada de 1976 e publicada em 1978 no livro Vingt ans et aprés, apresentam brevemente a tradução de tal fragmento, que ganhou por título O anti-cu. Situam-no no cruzamento de duas sÈries que atravessam a produção foucaultiana e tÍm singular importância resistencial no contempor‚neo: a sÈrie da polÌtica do anonimato e a série da crítica da sexualidade-identidade.
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Situado no prolongamento de pesquisas anteriores dedicadas a Michel Foucault no Brasil, o presente artigo, baseado em projeto de investigação em andamento, volta-se para dois aspectos do pensamento do filósofo diagnosticados como insuficientemente explorados pelos estudiosos brasileiros e internacionais: (1) o “caminho feito ao andar”, como sugere o poema de Antonio Machado, ou seja, as considerações metodológicas sempre presentes (e sempre mutantes) nos livros e cursos de Foucault datados das décadas de 1970 e 1980; (2) as relações existentes entre as inflexões experimentadas, no mesmo período, pelas análises foucaultianas dos saberes, poderes e modos de subjetivação, e a diversidade das práticas militantes em que o filósofo esteve então envolvido — relativas à medicina moderna, à psiquiatria, às prisões, à sexualidade, aos imigrantes e exilados, aos direitos dos governados, aos movimentos de libertação em diferentes países etc. Como resultado da investigação proposta, exemplificada no artigo mediante um exercício-piloto, divisamos uma apreciação do pensamento de Michel Foucault que não separe teoria e método, tampouco filosofia e vida, e que, nesse sentido, contribua para que tal pensamento se constitua efetivamente em um equipamento ético-político para ações de caráter libertário no presente.
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Entre 1968 e o início da década 1980, a atmosfera que envolvia o pensamento francês tornou possível a emergência de perspectivas éticas, estéticas e políticas cujas problematizações levaram a um radical questionamento do sentido e do valor da infância, pensada para além do seu estatuto social. Agitada pelas obras, ideias e intervenções de René Schérer, Guy Hocquenghem, Gilles Deleuze, Félix Guattari e Michel Foucault entre muitos outros, esta “cruzada das infâncias” configurou um campo de lutas que, a partir da década de 1980, se desvanece sob a cristalização de uma imagem pretensamente universal da criança como sujeito vulnerável e em desenvolvimento necessário rumo à idade adulta. Entre 1968 e o final dos anos 1970, os jornais, as prateleiras das livrarias, os cinemas e as salas de aula testemunham a efervescência de outras maneiras de pensar e viver com as crianças. Os episódios históricos que tornaram possível a enunciação deste conjunto de problemas evidenciam que a infância, antes mesmo de ser uma categoria etária ou um constructo teórico, é um território em disputa. Mas, uma vez que se trata de pensar uma realidade ausente, como colocá-la novamente em cena? Estas notas integram uma pesquisa que se propõe a mapear a meteorologia da moral que tornou simultaneamente possíveis e conjuradas as imagens de uma “infância à penumbra” no pensamento francês contemporâneo.
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O artigo parte de um projeto de formação inventiva de professores apoiado nos trabalhos de Gilles Deleuze. Tal característica permite distanciar esse projeto de abordagens outras, recognitivas e capacitadoras, aproximando-o, outrossim, do tema da invenção. Para fortalecer esse modo de pensamento e ação, Proust e os signos, livro de Deleuze, é trazido centralmente à cena, dando ênfase à correlação entre encontro, signo e pensamento. Narrativas e trechos dos diários de campo de alguns participantes do projeto são apresentados, no intuito de ligar o acaso do encontro (que força a pensar) e a necessidade do pensamento (que só ocorre se a tanto forçado). A efetiva vinculação entre universidade e escola básica é também enfatizada, com vistas à construção de perspectivas problematizadoras da formação de professores, indispensáveis no presente, um tempo de ‘escola sem...’.
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A proposta desta dissertação é de apresentar as principais discussões sobre o status do campo de conhecimento psicológico a partir da visão e das contribuições do filósofo da ciência e psicólogo norte-americano Sigmund Koch (1917-1996). Para isso, foram analisados os principais conceitos e argumentos apresentados por Koch em sua discussão sobre a produção de conhecimento da psicologia no século XX. Durante a realização desse estudo utilizou-se como fonte de análise todas as publicações de Koch relativas a essa temática. Além disso, com intuito de contextualização do tema e da perspectiva do autor, foram consultadas fontes secundárias, artigos publicados por autores que discutem o mesmo tema no contexto de Koch e outros que fazem referência a seu trabalho. Diante disso, as discussões que permeiam o trabalho tratam dos argumentos apresentados por Koch para justificar sua avaliação do campo de conhecimento psicológico e de sua proposta de chamar a psicologia de estudos psicológicos, o que para ele, é uma forma de definição mais honesta e coerente do campo.
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Tema de interesse durante os séculos XVIII e XIX, assim como início do século XX, os chamados fenômenos psíquicos reuniram os esforços de boa parte da elite intelectual da época, principalmente no que diz respeito aos estudos da consciência. Figura importante que integrou esses debates foi William James, um dos fundadores da psicologia norte americana. Em um primeiro momento, ele recorre a Janet e à Escola Francesa tomando por base a ideia do automatismo psíquico e da dissociação da consciência. Seu interesse pelos fenômenos relativos ao self dos indivíduos levou-o, entretanto, aos estados alterados de consciência, nos quais a pessoa seria capaz de ultrapassar o poder de síntese da consciência que lhes é constitucional. Desse modo, James passa a recorrer a Myers e à sua teoria do self subliminar, que aponta para a possibilidade de um espectro psíquico transcendente. Abrir-se-iam, assim, possibilidades para o estudo dos fenômenos psíquicos, bem como das experiências religiosas e místicas, principalmente da mediunidade que, a partir da ideia do self subliminar, fugiria ao domínio do patológico. Tendo em vista o que foi apontado, o presente estudo busca compreender o self e suas alterações em James, através de uma análise conceitual, levando em consideração as publicações psicológicas do autor sobre o assunto.
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