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O objetivo deste artigo é discutir a teoria dos temperamentos, partindo de informações contidas em alguns tratados do Corpus Hippocraticum e contribuições de Galeno, bem como alguns de seus desdobramentos. Segundo essa doutrina, a condição de saúde depende do equilíbrio de humores corpóreos, sua combinação ocasiona os temperamentos e existem relações entre o caráter do homem, temperamento, aparência física e afetos. A teoria humoral tinha tanto aspectos médicos propriamente ditos como psicológicos. Alguns autores afirmam que no século XV ocorreu a decadência dessa teoria, mas ela esteve presente não apenas na Idade Média (por exemplo, em Tomás de Aquino), como em obras do início da Idade Moderna (como de autores jesuítas), e persistiu nos regimes médicos do século XVIII. Apesar de ter sido abandonada pela maioria dos médicos no século XIX, até hoje são encontrados resquícios da mesma.
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Este artigo mostra num primeiro momento como Baldassare Castiglione, no Libro del Cortegiano (1528), previne o leitor da idealidade de seu quadro sobre a corte e o cortesão, promovendo o que poderíamos chamar de um cortesão moralizado; em seguida, pontua-se a questão da ação honesta por meio da dissimulação prescrita por Castiglione, tomando como base aqui a fundamentação e validação desta ação no pequeno tratado Della Dissimulazione Onesta (1641/1990) de Torquato Accetto; por fim, trazemos a corte e o cortesão pintados por Eustache du Refuge, em seu Traité de la court (1616/1617), no qual se expandem, ao que parece, os limites da conduta honesta prevista nos tratadistas anteriormente considerados.
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Este estudo tem por objetivo apontar alguns dos processos de formação e sustentação de uma comunidade. Para atingir tal objetivo, descreve um recorte específico de uma comunidade afro-descendente, localizada no litoral baiano, durante seu processo de reconhecimento como Remanescente de Quiolombo. Relata a entrevista com membros de uma família realizada pela pesquisadora e por uma lider local, ao mesmo temp em que percorrem os espaços onde outrora havia um terreiro de Candomblé. Nesse percorrer, tempo e espaço se entrecruzam criando pontos em comum a partir de onde se pode ler os acontecimentos atuais e passados, com vistas a um futuro desejado.
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A recordação de eventos pessoais marcantes é acompanhada de julgamentos relativos ao evento recuperado (reflexivos) e ao ato de lembrar em si (heurísticos). O presente estudo teve por objetivo explorar relações e distinções entre esses tipos de julgamentos na atribuição de importância pessoal a eventos autobiográficos. Para tanto, solicitou-se a 208 estudantes universitários (170 mulheres) que recordassem um evento marcante de vida e respondessem a um Questionário de Memória Autobiográfica, composto de 16 escalas. Em uma análise de componentes principais, o primeiro agrupou 10 variáveis referentes a qualidades fenomenais e a modalidades de imaginação. Um segundo componente agrupou seis variáveis referentes a julgamentos reflexivos. A importância atribuída ao evento encontrou-se mais relacionada a julgamentos reflexivos por meio dos quais o indivíduo atribui características ao evento de forma retroativa do que a qualidades fenomenais da experiência imediata de lembrar.
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O artigo visa entender as relações entre a potência psíquica do "engenho", algumas qualidades temperamentais específicas e as funções a serem exercidas pelo indivíduo possuidor destas características delineadas nos Catálogos da Companhia de Jesus ao longo dos séculos XVII e XVIII. Evidencia a presença destas associações como lugar-comum na literatura jesuítica da época, a importância do engenho como qualidade exigida para exercer ministérios relevantes na Ordem, e necessidade do indivíduo possuir uma complexão física adequada a estas exigências.
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Pretende-se evidenciar, numa perspectiva multidisciplinar e histórica, o processo que transformou o destinatário da persuasão - de sujeito ativo e crítico em consumidor passivo do produto. Na história da cultura ocidental, opõem-se duas concepções diversas do processo da persuasão: de um lado, entende-se que esta deva proporcionar uma experiência ao sujeito concebido como receptor ativo e intencional dos estímulos advindos do mundo externo, corpo vivente e espiritual (dotado de capacidade de juízo e decisão); do outro, vê-se a persuasão como indução de experiência num sujeito considerado como mero receptor passivo dos estímulos externos, corpo determinado pelo mecanismo das reações.
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Investigações sobre diferenças de sexo na atribuição de qualidades fenomenais à recordação de eventos pessoais têm apresentado resultados controversos. Enquanto alguns estudos enfatizam que mulheres experimentam maior intensidade emocional e ensaiam memórias mais freqüentemente (reminiscência), outros não encontraram diferenças significativas. Este estudo investigou efeitos de sexo sobre a intensidade emocional de memórias autobiográficas, tanto como qualidade fenomenal da experiência presente de recordação, quanto como propriedade atribuída retrospectivamente ao evento original. Participaram do estudo 66 estudantes de graduação, pareados por sexo e idade, que responderam a 16 itens do Questionário de Memória Autobiográfica (QMA) para diversos tipos de eventos autobiográficos. Mulheres tiveram escores mais altos em todas exceto uma escala (evento incomum). Imaginação visual e ensaio manifesto foram as únicas variáveis cujas diferenças foram estatisticamente significativas (p < 0,05). Os resultados concordam com a literatura que tem encontrado diferenças de sexo pequenas, não-significativas, na atribuição que qualidades fenomenais a memórias autobiográficas. Defende-se uma abordagem que integre evidências de qualidades fenomenais e reminiscência.
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Este artigo busca elucidar como Machado de Assis desenvolveu o tema da memória nos contos “Dona Paula”, “Missa do Galo” e no romance “Dom Casmurro”. No conto “Dona Paula”, podemos encontrar uma complexa relação entre a memória, o inconsciente e o conteúdo emocional da memória. Em “Missa do Galo”, Machado cria um narrador capaz de relatar uma vivência passada, mas que, ainda assim, não toma consciência do sentido não verbal do episódio vivido; todavia, no momento em que o narrador expressa sua experiência, ele anuncia nas entrelinhas e no estilo narrativo esse sentido não verbal. E no romance “Dom Casmurro”, observamos como Machado representou a memória não como coisa fixa, mas como algo que pode se alterar e se reorganizar pela linguagem expressiva e se deformar pela imaginação e por fatores inconscientes.
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O artigo relata a pesquisa sobre a experiência de produção de duas imagens – a bandeira e o altar biográfico – em Morro Vermelho, uma comunidade rural e tradicional brasileira. Foram colhidos depoimentos de sujeitos envolvidos no processo de criação das imagens. Analisou-se fenomenologicamente os dados, com atenção à centralidade da pessoa nos processos sociais e culturais. Utilizou-se os conceitos de hilética, noética, dinamismo psíquico na visão aristolético-tomista e memória coletiva, para compreender os sentidos que emergiram entre pessoa, imagem e cultura. Foi possível identificar uma relação dinâmica entre os dados sensoriais (hyle), como cores e figuras, e a expressão de significados próprios da comunidade. A produção das imagens pelos moradores se torna significativa dentro da comunidade, por se encontrar profundamente enraizada nas suas tradições mantidas pela memória coletiva. A força de significado dessa memória na experiência da pessoa permite que a produção da imagem se torne verdadeiramente produção de cultura.
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Aprofundando a contribuição da fenomenologia hermenêutica de Paul Ricoeur para um enfoque histórico e cultural da psicologia, este texto focaliza o desenvolvimento histórico do pensamento filosófico sobre o Ser, a Consciência e a Subjetividade. Situa a perspectiva do autor no contexto das transformações atuais da filosofia, da fenomenologia e das ciências humanas e sociais. Mostra como este enfoque possibilita não apenas a descrição e interpretação dos sentidos da consciência e das representações históricas, mas também o estudo histórico e cultural dos fundamentos dos processos psicossociais, das transformações pessoais e das transformações de grupos e comunidades. Ressalta a importância do estudo da linguagem e da interpretação, da narração e do universo cultural para que se possa melhor entender o sentido dos documentos e testemunhos levantados pelas pesquisas de campo.
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Este trabalho visa discutir idéias contidas em uma tese de Medicina da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro datada de 1836, na qual os principais conceitos investigados são os de paixões, afetos da alma, gratidão, amizade e amor à pátria. Busca-se investigar as tendências de compreensão das concepções acerca dos temas citados, dando principal relevo às influências sofridas pelos saberes da época, quais sejam, filosóficos, científicos, literários, etc. Como referencial teórico para este artigo, utilizamos os conceitos de “operações dos usuários” de Michel de Certeau e de “bricolagem” de Claude LéviStrauss, que tornam-se, neste ensejo, ferramentas para a compreensão da maneira como se desenvolve a discussão feita pelo autor da tese. É importante lembrar que as obras de Medicina eram um dos principais canais para a difusão de saberes psicológicos no século XIX, fato que fundamentou o interesse na presente investigação.
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Este artigo é um ensaio teórico que analisa a palavra “construtivismo” no contexto da teoria epistemológica de Jean Piaget. Além disto, discute o modo como os educadores do ensino básico compreendem e utilizam este conceito, especialmente a partir da década de 1970. As teorias da linguagem de Mikhail Bakhtin e Walter Benjamin foram utilizadas como referências para a análise do sentido da palavra “construtivismo” no contexto das práticas discursivas dos professores do ensino básico. O uso meramente instrumental da linguagem e a preocupação exclusiva com métodos e técnicas de ensinoaprendizagem, nos cursos de formação de professores, são abordagens consideradas inadequadas para dar conta da complexidade do ato educativo, merecendo uma avaliação crítica dos profissionais da área.
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O tema felicidade é visto sob o prisma de um texto autobiográfico medieval da teologia cristã, utilizando-se do livro A vida Feliz de Santo Agostinho, no qual o autor se empenha na discussão sobre a felicidade com base no conhecimento da verdade na interioridade da alma. Como pensador da memória, Santo Agostinho faz a sua autobiografia, inscrevendo-se, assim, na busca constante do amor de Deus, pois a felicidade é um dom dado por Ele. A vida feliz agostiniana só pode ser alcançada na busca de Deus. É voltando-se a Ele que a pessoa poderá atingir a verdadeira felicidade e a completude do seu ser. Marca, assim, um desenvolvimento pessoal, capaz de olhar profundamente dentro de si mesmo, em uma incursão autobiográfica, registrando na História, o hino de vida e esperança na vida feliz.
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Uma série de trabalhos desenvolvidos em torno do pensamento pragmatista e da abordagem pragmática que se caracterizam por uma abordagem de temas filosóficos e de linguagem não mais pela depuração das essências ou das estruturas universais presentes no sujeito ou no mundo, mas pelo rastro que certas categorias ou enunciados produzem em sua experiência errante. A par de algumas diferenças, seria isto o que une o movimento pragmatista, surgido na virada para o século XX com Charles Peirce, William James e John Dewey (e atualmente com autores como Richard Rorty, Hilary Putnam e Donald Davidson), e a abordagem pragmática na linguagem, inspirada nos trabalhos de Ludwig Wittgenstein e desenvolvida por John Austin, John Searle e outros.
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Este trabalho tem como objetivo principal apresentar uma história da Psicologia Social no Rio de Janeiro no período compreendido entre as décadas de 60 e 90. Iniciamos este trabalho discutindo a crise no campo da Psicologia Social que ocorreu na Europa e nos Estados Unidos a partir de meados dos anos 60. No Brasil, a crise começou a ter desdobramentos apenas na década de 70. Iniciava-se a crítica a Psicologia Social cognitiva norte-americana e a busca de novas teorias, metodologias e interlocutores no campo da Psicologia Social. No Rio de Janeiro, o principal representante desta perspectiva foi Aroldo Rodrigues. Sua principal opositora foi Silvia Lane. Em Minas Gerais, O Setor de Psicologia Social foi outro importante eixo de oposição. Ao longo da tese, buscamos compreender como alguns enunciados presentes nos anos 60 e 70, entre os movimentos de resistência como o CPC da UNE, o Tropicalismo e a Teologia da Libertação, como crítica e alternativa aos ditames positivistas. Era necessária uma Psicologia Social que permitisse pensar a realidade social brasileira. As categorias universalizantes da Psicologia Social norte-americana, que pensavam o homem fora da história e da cultura, passaram a ser objeto de crítica. Como afirmamos, buscamos apresentar uma história da Psicologia Social no Rio de Janeiro no período histórico já definido anteriormente. Para isso, além do levantamento de referências sobre o tema fizemos entrevistas com vários dos personagens que participaram desta mesma história, como professores, pesquisadores e alunos.
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