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  • Os autores oferecem um breve estudo sobre a pesquisa e a prática psicológica em hospitais, baseada em percurso histórico. O texto organiza-se em torno de três temas: 1) aspectos que levaram psicólogos a trabalharem em hospitais gerais; 2) relações entre o desenvolvimento da profissão como um todo e o trabalho em hospitais; e 3) contribuições da prática hospitalar para a profissão. Os autores detêm-se no debate entre argumentos que defendem as inovações profissionais decorrentes da prática em hospitais e que entendem que não há inovações e sim adequações de práticas existentes. Concluiu-se que o debate entre inovações e adequações tem sido importante para definir as especificidades necessárias ao trabalho em hospitais e para o aprimoramento da formação psicológica. Seja como for, é inegável que a prática psicológica é uma atividade indispensável ao hospital e uma forma de levar atendimento psicológico a um grande segmento da sociedade.

  • Este artigo persegue o conceito de consciência na obra de Vigotski, o principal problema de sua psicologia. Resume a importância do contexto sociopolítico da União Soviética para o desenvolvimento de sua teoria, que se iniciou com influências da reflexologia e do pavlovismo, integrando progressivamente os amplos conhecimentos do autor (nas artes, na filosofia clássica e marxista) até a neuropsicologia e a psicologia experimental. Através da leitura de trabalhos produzidos de 1924 a 1934, este artigo revisa as ocorrências semânticas da palavra consciência, identificando seus fundamentos monistas e materialistas, extraindo seus sentidos principais e incluindo o conceito no enfoque histórico-cultural. O conceito é desmembrado em suas três acepções basilares (processo de tomada de consciência da realidade externa e interna; atributo de conteúdos e processos psicológicos; sistema psicológico) que se articulam, produzindo um dos fundamentos da psicologia geral vigotskiana e articulando neuropsicologia, ética e ontologia.

  • O objetivo deste deste artigo é traçar um conjunto de relações possíveisentre a Teoria Ator-Rede, proposta por Bruno Latour e a psicologia. Inicialmenteexpomos de forma breve alguns conceitos-chave do trabalho de Latour, seguido por suas considerações críticas sobre a psicologia. Na seqüência, inspirados nosconceitos expostos na primeira parte, iremos delinear uma análise das características do saber psicológico em sua singularidade, concluindo na reformulação de alguns conceitos básicos deste saber.

  • O presente artigo tem como objetivo discutir as modificações nas formas de compreensão e de enfrentamento da loucura na passagem do Império para a República, levando-se em conta a influência das teorias raciais importadas da Europa a partir de 1870. A adoção desses modelos teóricos cumpriu uma série de funções sociais e políticas referente a um projeto de nação. Neste contexto, as manifestações da loucura passaram a ser associadas à doença, à degeneração e ao risco e sofreram variadas medidas de opressão justificadas "cientificamente". Até hoje, as interpretações científicas do problema da "doença mental" continuam localizando a enfermidade no paciente. Ao reduzir a doença e a sua causa a uma problemática exclusivamente pessoal, sem que se considere o contexto socioeconômico e político da sua emergência, estas explicações configuram-se como ideologia.

  • Este trabalho pretende, sob a forma de experimentação ou ensaio, estabelecer analogias entre possíveis caminhos da psicologia e descrições de anjos. Dessa forma, partindo das imagens do anjo católico, modelo de perfeição que tem como função iluminar o caminho dos mortais, e dos anjos do filme “Asas do Desejo”, do cineasta alemão Win Wenders, que, longe da perfeição, podem ser atingidos por sentimentos como tédio e inveja, vivem sobre o céu cinzento de Berlim e não possuem o poder de intervir na vida de nenhum mortal, busca-se discutir os possíveis enrijecimentos e potencialidades das teorias e práticas da psicologia. Toma-se como intercessor conceitual o anjo de Paul Klee, que Walter Benjamim chamou de “anjo da História”. Este, ao reger as narrativas humanas, não é doce nem roliço como o anjo católico, nem pretende iluminar o “melhor caminho”; pelo contrário, é anguloso e deformado, devastado por todas as paixões e acontecimentos. Tampouco pode, como o anjo de Wenders, ser compassivo, ou mesmo entediado; ele se reveste de horror pelas ruínas que se amontoam à sua volta, e somente isso tem a oferecer. Qual desses anjos permeará nossas práticas? No que tange aos dados referentes aos católicos, utilizamos aqueles coletados através do projeto de pesquisa “A Constituição da Psicologia no Brasil: Católicos e Médicos”, cujo objetivo é apreender as inter-relações do catolicismo e do pensamento médico na formação e autonomização da Psicologia no Brasil.

  • A partir de breve exposição sobre três concepções de corpo que se constituíram ao longo do desenvolvimento da ciência e da tecnologia, discutem-se algumas idéias propostas por Bruno Latour, para quem o corpo não é definido como substância − o que o coloca no território da natureza − nem, tampouco, como uma construção discursiva − o que o desloca para o campo da cultura. O corpo é tomado em suas relações com outros elementos do mundo, como algo, simultaneamente, real, fabricado e fabricante do mundo. Assumir essa perspectiva requer a instauração de uma nova dimensão normativa para a ciência cujas implicações podem contribuir para pensarmos a história da Psicologia que estamos inventando.

  • Este trabalho surgiu de um convite feito por um professor de Educação Física da rede municipal de ensino, durante muitos anos voltado para o trabalho com sujeitos portadores de necessidades educativas especiais (SPNEE), para ministrar uma palestra sobre "Relações Familiares" para professores de Educação Física do Programa Esporte Para Pessoas Portadoras de Deficiências, o PEPPD, um projeto desenvolvido pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, através da Secretaria de Esportes e Lazer e Fundação Rio Esportes, em parceria com o Comando Militar do Leste e a Fundação de Apoio ao Instituto Benjamin Constant, em setembro de 2002. Em maio de 2003, indicada para atuar no mesmo, já como profissional "psi" prestadora de serviços ao referido Programa, pude me valer das conexões existentes entre a Disciplina Pedagogia Terapêutica, com a qual trabalhei, por cinco anos seguidos, no Curso de Psicologia de um Centro Universitário privado, e a de Conhecimentos Didático-Pedagógicos da Educação Especial, para a qual fui solicitada a lecionar, no Curso Normal de um colégio estadual, a partir de 2003. Pretendendo contribuir para o debate contemporâneo sobre "Corpo: psicologia e história", o texto visa a apresentar o processo de discussão que vem ocorrendo no locus da formação de professores de uma escola pública. Objetivando desconstruir certas práticas político-pedagógicas, vem apontar para as necessárias transformações conceituais, bem como institucionais, contribuindo para o fortalecimento dos movimentos sociais no tocante às imagens/formas de visibilidade do corpo dos S.P.N.E.E., em seus diferenciados matizes.

  • O artigo apresenta uma análise dos laudos psicológicos constantes de ações judiciais das Varas de Família da cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, no intuito de identificar tendências do pensamento psicológico que contribuem para a constituição dos direitos da infância. São enfatizados temas relativos à participação dos psicólogos na definição dos direitos da infância no Judiciário.

  • A análise do surgimento do Hospital Henrique Roxo, no interior do norte fluminense, em 1942, se constitui no objetivo fundamental deste estudo, que resulta de uma investigação de campo realizada em cumprimento às demandas de pesquisa em psicologia da Universidade Estácio de Sá, situada em Campos, justamente o local onde o referido sanatório se tornou uma referência no contexto da saúde mental.

  • O aumento da ocorrência da gravidez, a incidência de doenças sexualmente transmissíveis e o aumento da contaminação pelo vírus HIV entre adolescentes e jovens têm mbilizado esforços na área da educação, que através dos Parâmetros Curriculares Nacionais estipula como tema transversal a Orientação Sexual. A atenção ao adolescente e ao jovem tem sido alvo de fervorosos debates; no entanto, verifica-se uma quase total ausência de políticas que disponham sobre este ciclo da vida, o que gera como conseqüência uma falta de incentivo à implantação e implementação de estratégias e ações em diversos setores, como é o caso da educação. Ao mesmo tempo, os discursos e as ações dirigidas a este estrato populacional utilizam uma lógica que, via de regra, remete à sua patologização. Na ausência de uma perspectiva histórica que aponte para a produção da adolescência enquanto um grupo social com estilo de vida e características específicas, impõe-se uma naturalização desta etapa, acompanhada por uma patologização de suas formas de expressão. Neste contexto, o corpo do adolescente é alvo privilegiado de várias prescrições e proscrições dirigidas, prioritariamente, à sua sexualidade, que passa a ser analisada a partir da categoria “comportamentos de risco”. Este trabalho é uma tentativa de fazer face a este quadro. Para tal, consideramos de extrema importância um melhor conhecimento da forma como as categorias gênero, sexualidade e saúde reprodutiva são trabalhadas no contexto escolar. Tal fato implica que devemos considerar tanto as estratégias curriculares instituídas como os pontos de vista dos adolescentes e jovens, entendidos como protagonistas das ações, discursos e políticas das quais são objeto. Propomo-nos a investigar (além das referidas estratégias curriculares) estas concepções, assim como as concepções de outros atores da comunidade escolar, com vistas a oferecer subsídios para a elaboração de projetos que sejam considerados relevantes e que se baseiem nos princípios do protagonismo/ participação juvenil.

  • No presente trabalho, partindo das considerações de Foucault a respeito das noções de autor e obra, e sua articulação com a de discurso, além de restos de lembrança pessoal e vasto material obtido via internet, pretende-se traçar um retorno aos processos de construção de Nicolas Bourbaki e Jérôme Jabin, de modo a abordar os efeitos envolvidos na escrita, tanto no que diz respeito às condições para sua consecução, como ao que dela decorre; os aspectos relacionados a seu registro e legitimação; a efetivação daquele que executa o ato de escrever como autor; e os desdobramentos que se efetuam sobre outros escritos.

  • Este artigo tem como objetivo apresentar uma visão institucional da clínica, propondo, como elemento fundamental para dimensionar a prática da mesma, a construção de determinada noção de ética. A análise institucional é utilizada como ferramenta para um entendimento histórico-social do sujeito e, portanto, das práticas clínicas a ele voltadas. Procurando desfazer a falsa dicotomia entre clínica e política, opomo-nos a uma suposta neutralidade, na medida em que concebemos toda e qualquer prática como implicando um posicionamento político imanente. A perspectiva ética mencionada contrapõe-se a uma subordinação acrítica a um corpo teórico hermeticamente fechado, propondo uma relação de diálogo entre teoria e prática, privilegiando uma prática clínica voltada para a produção do novo e da diferença, ou seja, de processos de singularização, em detrimento de mecanismos de reprodução de modos dominantes de subjetivação. No que diz respeito à loucura, além de viabilizar a construção de modos de vida novos e autônomos, trata-se de conferir legitimidade e consistência aos territórios já construídos, quase sempre política e culturalmente esvaziados. Por fim, é discutida a experiência de estágio no Espaço Aberto ao Tempo, serviço de atenção diária em Saúde Mental, cuja prática assistencial – em permanente construção – vem se consolidando como experiência clínica singular.

  • Murilo Rubião é sem dúvida um dos nomes mais representativos do gênero fantástico da literatura brasileira. Talvez a pouca extensão de seu trabalho como contista tenha colaborado para torná-lo pouco conhecido do grande público, talvez a crítica severa que em muitas e nem sempre veladas ocasiões o acusou de plágio de Kafka o tenham assim tornado. Assim como Kafka, Rubião retratou a realidade do cotidiano de uma forma fantástica, quase-mágica, muito embora realista. Realidade e fantasia unem-se na obra de ambos os autores, fundem-se, ora por eles tornarem o impossível verossímil, ora por tornarem o hodierno inacreditável, inaceitável apesar de verdadeiro. Interessa-nos aqui realçar a abordagem fantástica que Murilo Rubião faz das cidades, de seu cotidiano e seu modo de funcionamento, e é aí que sua proximidade de Kafka se torna valiosa, pois se Rubião é pouco conhecido, Kafka não o é, o que torna mais fácil ao leitor compreender o universo de Rubião. A dinâmica das cidades e os absurdos com os quais se confrontam os protagonistas dos cinco contos aqui selecionados para proceder à análise − A Cidade, O Edifício, A Fila, Os Dragões e Botão-de-Rosa − são extremamente semelhantes àqueles encontrados por Josef K. em O Processo, ou ainda pelo agrimensor K. de O Castelo. O que procuraremos abordar é tanto a verossimilhança dos eventos fantásticos narrados por Rubião quanto o aspecto mágico de eventos absurdos, porém hodiernos. O objetivo deste trabalho é indicar onde o realismo mágico de Murilo Rubião desvela aquilo que muitas vezes se esconde ao estudioso das cidades, seja ele o urbanista, o psicólogo, o historiador, o arqueólogo: o cotidiano. O cotidiano e suas contradições, em especial a contradição inerente aos projetos ou ideias de cidades e as cidades enquanto tais, onde as pessoas não só habitam, transitam, ou visitam, mas, antes de tudo, vivem.

  • Baseada em etnografia realizada em um hospital público brasileiro especializado em assistência a doentes com câncer considerados sem possibilidades de cura, aliada à observação de congressos sobre Cuidados Paliativos e de pesquisa bibliográfica sobre o tema, apresento a trajetória do paciente a partir do diagnóstico de “fora de possibilidades terapêuticas”.  O hospital observado, na cidade do Rio de Janeiro, se insere no modelo denominado internacionalmente de Cuidados Paliativos, implantado na Inglaterra e Estados Unidos no final da década de 1960. Segundo seus fundadores, esta proposta opõe-se a uma prática médica eminentemente tecnologizada, produtora de uma morte solitária e “desumana”. Os Cuidados Paliativos voltam-se à “humanização” do morrer e sua equipe multiprofissional busca prestar assistência à “totalidade bio-psico-social-espiritual” dos pacientes e de seus familiares, na qual a meta seria a produção de uma “boa morte”. Para a equipe observada, há um modelo “ideal” a ser percorrido pelo doente até a morte: incorporação da nova identidade – “FPT”, aceitação desta condição, resolução das pendências da vida, despedida das pessoas próximas e, sobretudo, despedida do próprio corpo e da vida. A ambigüidade da posição deste novo sujeito – não mais um doente qualquer, mas um “FPT”, ainda com vida, vivenciando seu período final, tomando decisões sobre o tempo que ainda lhe resta – é analisada e comparada com a produção estrangeira que reflete sobre a assistência paliativa. Discuto especificamente algumas situações observadas, nas quais surgiram tensões e conflitos entre profissionais, doentes e familiares – relativas a distintas concepções de corpo, expressão de sentimentos, despedida e, sobretudo, indivíduo e pessoa. Por fim, são abordadas as diferentes construções históricas e sociais em torno da morte, do luto e do lugar ocupado pelo doente.

  • O presente trabalho é fruto de uma pesquisa de mesmo nome, iniciada em 2003 e vinculada ao Programa de Intervenção Voltado às Engrenagens e Territórios de Exclusão Social (PIVETES/UFF). Seu principal objetivo é colocar em análise as práticas que os psicólogos vêm produzindo no Judiciário, a saber, em Juizados da Infância e Juventude e em Varas de família no Estado do Rio de Janeiro. Para pensar o cotidiano desses profissionais e problematizar as instituições que vêm se afirmando nesse espaço, foram tomadas como ferramentas as noções de implicação, análise de implicações e sobreimplicação propostas por René Lourau. Através das entrevistas realizadas com os psicólogos, percebemos que o acúmulo de tarefas e a urgência em realizá-las, muitas vezes, possibilitam a constituição de um campo sobreimplicado, dificultando a análise das relações institucionais presentes nas práticas. Em contrapartida, encontramos também psicólogos que, fugindo de uma intervenção no campo do individual, onde a subjetividade é tomada como interioridade a ser diagnosticada ou interpretada, apostam na construção de uma prática que contextualiza sócio-historicamente o indivíduo como sujeito de direitos.

  • O corpo, na tradição metafísica ocidental, foi considerado um objeto. Platão é um autor relevante, nessa tradição, que sustenta a dicotomia corpo-alma, como duas naturezas totalmente heterogêneas. A alma é o propriamente humano, já o corpo é um vasilhame descartável, uma prisão que limita a essência do homem: um objeto que nos encadeia e nos cerceia. Partindo desta tradição, o corpo foi enunciado, codificado, interpretado e dominado nas relações sociais que tentaram regimentar e controlar essa corporalidade. Inúmeras conceituações objetivantes e dicotômicas sobre o corpo construíram uma memória e uma identidade corporais que o reduziram a uma coisa ou a uma mercadoria apropriável. Contudo, há outras formas de ver o corpo. Na leitura nietzschiana, por exemplo, o corpo é celebrado como uma multidão de impulsos criativos em jogo, como a dinâmica do devir que exprime as potências instintivas do homem; na linguagem mítica arcaica, através do corpo falam Dioniso e todas as forças salutares da terra, da vida.

  • Este artigo tem por objetivo uma melhor compreensão de um tipo de relacionamento sexual – a relação entre homens –, sobre o qual percebo haver uma carga de preconceitos, oriundos de um viés moral. Ao longo do desenvolvimento deste trabalho, o estudo de artigos, livros, dissertações e teses, nas áreas de psicologia e medicina, de diferentes autores que se dedicaram ao estudo do tema serviram de alicerce, com especial relevo aos trabalhos de Jurandir Freire Costa. No tocante ao recorte temporal, o texto passa, brevemente, pela Grécia e Roma Antiga, e discute o ocidente, especificamente o Brasil, nos séculos XIX e XX. Desta forma, o aprofundamento nos diferentes modos históricos de compreensão dessa forma específica de relação amorosa pareceu uma alternativa de auxílio à realização deste objetivo. É importante destacar que, ao aproximar estes modos históricos, o autor não tem por fim a simples comparação entre eles, mas sim dar atenção a uma diversidade de relações amorosas entre homens construídas ao longo dos tempos.

  • Nossa pesquisa procura descrever como surgiu o domínio da subjetividade, crucial para o surgimento da Psicologia. Recorremos ao trabalho de Michel Foucault, em sua História da Sexualidade, no que diz respeito ao surgimento do domínio da subjetividade, e ao de Fernando Vidal para entender o surgimento da Psicologia no século XVIII. Uma forma de compreender o que estamos definindo por subjetividade pode ser tomada a partir de uma das variantes do que Foucault chamou de cuidado de si em seus trabalhos dos anos 80. O cuidado de si diz respeito aos atos do indivíduo que o constituem como sujeito ético perante os códigos morais. Buscamos alguns indícios que poderiam nos levar ao cuidado de si próprio da Modernidade. O surgimento do domínio da subjetividade está vinculado à proliferação do discurso sobre a sexualidade a partir do século XVI, concomitante à intensificação da prática da confissão. As práticas de poder/saber originadas na confissão se transmutam numa scientia sexualis, difundindo seus efeitos na Medicina, na Pedagogia, na Demografia, nas práticas jurídicas, na polícia administrativa. Os rituais de confissão passam a funcionar nos esquemas da regularidade científica A sexualidade passa a ser um domínio penetrável por processos patológicos, solicitando intervenções terapêuticas e de normalização. Concomitantemente ao aparecimento da sexualidade como verdade do sujeito, no século XVIII também surge uma Psicologia que vincula outras formas de saberes de si com a noção de verdade no indivíduo, conforme nos mostra Fernando Vidal. No século XVIII, ocorre uma profusão de discursos sobre o sujeito, a Psicologia, a alma e outros aspectos filosóficos, teológicos e científicos não necessariamente vinculados à sexualidade. Todos esses discursos têm a proposta de examinar o sujeito, produzindo um novo campo discursivo a ser explorado. A verdade, então, passa pela Psicologia e por um conhecimento dos pormenores da alma humana. Aproxima-se, dessa forma, da idéia defendida por Foucault sobre a existência de uma verdade interiorizada no indivíduo. O que nos interessa, de fato, é mostrar como já no século XVIII havia a produção de saberes que buscavam examinar, desvendar e dissecar a interioridade do sujeito, a partir da noção de verdade, além de fomentar o campo da subjetividade, do qual surgiu a Psicologia.

Última atualização da base de dados: 03/02/2025 13:43 (UTC)

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