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A presença da massa urbana do Rio de Janeiro nos romances de Lima Barreto suscita diferentes interpretações sobre as sensibilidades que se cruzavam nos anos iniciais do século XX. Focalizar as interferências que a escrita barretiana provocou na cena literária carioca no período da Belle Époque tropical permite explicitar o feixe de relações que preenchem as formas hegemônicas que vigoravam naquela sociedade, bem como as resistências que se operavam naquele diagrama de forças. Tal caminho de investigação dispara um minucioso entendimento acerca das potências de vida que metamorfoseiam fluxos de campo social em partículas de afeto pela cidade e pela escrita. Aproximando o conceito de massa de Elias Canetti da noção de multiplicidade de Gilles Deleuze, este trabalho situa a literatura de Lima Barreto como intercessora de um estudo interessado em traduzir um outro entendimento das forças desejantes, afirmando, assim, uma perspectiva política da subjetividade.
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O artigo analisa as transições conceituais no projeto da psicologia enquanto ciência da experiência, estudando o progressivo abandono do conceito de sensação. Este conceito, para a chamada psicologia clássica, representava uma espécie de unidade básica – objetiva e matematizável – da experiência, superando as críticas kantianas. A primeira perturbação neste paradigma sensorial foram as Gestaltqualitat postuladas por Eherenfels, uma experiência não redutível às sensações. Posteriormente, a Escola de Berlim se destacou perante as demais escolas gestaltistas (Graz e Leipzig), ao afirmar a autonomia das Formas com base em conceitos físicos como Campo e Equilíbrio, provocando o esgotamento e a ruptura com o modelo sensorial.
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O presente artigo tem como objetivo explicitar como se deu a construção da noção de criança e adolescente como sujeitos de direito através de uma revisão crítica da literatura. Abordar a história da criança, do adolescente e das relações por eles estabelecidas com os adultos e as instituições ao longo do tempo permite compreender certos fenômenos contemporâneos como históricos, culturais e, ao mesmo tempo, subjetivos. Essa história é abordada a partir de três recortes. O primeiro trata do período que vai até o século XVIII; o segundo se refere aos séculos XVIII, XIX e XX; e finalmente o terceiro cobre acontecimentos como a criação de instituições e leis que tratam da situação da criança e do adolescente em nosso país. O artigo culmina numa discussão sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (LEI Nº. 8.069, DE 13-7-1990) considerado o resultado de manifestações culturais e históricas ocorridas ao longo do tempo.
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Este artigo examina o termo “experiência” a partir de sua etimologia e de seus usos em diversas línguas ocidentais atuais, com a finalidade de clarificar seu significado para a Psicologia tanto na teorização de sua prática como nas pesquisas de inspiração fenomenológica. Conclui que o termo tem um significado geral que se desdobra em duas possíveis direções: um conhecimento adquirido com a prática e a vivência emocional que é subjacente a esse conhecimento acumulado. A atenção psicológica de inspiração fenomenológica, e a pesquisa com esse mesmo enfoque, são polarizadas pelo olhar que se volta para o vivido, ou seja, para a camada mais profunda da experiência.
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O tema da atenção vem ganhando cada vez mais destaque na contemporaneidade. Não apenas na psicologia, mas também nas mais diversas esferas de nossa vida cotidiana se manifesta um claro interesse em torno do tema. Este artigo busca explorar a atenção do ponto de vista de seu funcionamento, a partir de uma análise da vertente psicológica do trabalho de William James. Não se trata aqui de uma curiosidade histórica que visaria acompanhar todo o percurso de sua conceituação acerca da atenção, mas sim de ressaltar algumas nuances de sua investigação que têm sido pouco valorizadas pelos trabalhos de psicologia da atenção e que ganham especial importância no contexto da contemporaneidade. Noções como as de seletividade, interesse e focalização são trabalhadas em articulação com o conceito de fluxo do pensamento, com o objetivo de se contrapor à concepção de um funcionamento homogêneo da atenção e privilegiando sua dimensão de flutuação.
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O objetivo deste trabalho é realizar uma reflexão introdutória sobre os pressupostos antropológicos que subjazem tanto à vida como à reflexão ética. Esta reflexão assume um caráter relevante para o psicólogo, tanto devido aos excessos da racionalidade científica, que tende a eclipsar a racionalidade ética, como pelo fato da psicologia definir-se primordialmente como ciência prática. São indicados alguns pressupostos que devem, explícita ou implicitamente, serem assumidos sempre que nos aproximamos, quer reflexiva, quer praticamente, do campo dos fenômenos morais. A tese a ser demonstrada — que não poderia ser mais trivial — é a de que o homem é constitutivamente um ser de razão e liberdade.
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Discutem-se as definições de “experiência” da história da cultura ocidental que influenciaram a constituição dos saberes psicológicos: desde Aristóteles até Wundt e James. Originariamente entendida segundo dimensões diversificadas, experiência se referia seja ao conhecimento sensorial e prático das coisas, seja à verificação e à prova, seja ao conhecimento interior. Analisam-se nessa tradição as contribuições de Agostinho, Roger Bacon, Tomás de Aquino e seus interpretes jesuítas em âmbito luso-brasileiro. A partir da Idade Moderna, pela influência das filosofias empiristas, experiência foi reduzida à dimensão de conhecimento sensorial testado e comprovado conforme os critérios do método científico; a ‘prática das coisas’ foi definida como senso comum tendo acepção negativa; e o conhecimento interno foi restrito ao âmbito determinado pelos parâmetros do conhecimento externo. Separavam-se assim dimensões da experiência anteriormente concebidas de modo unitário. Este conceito de experiência foi utilizado no século XIX no estabelecimento de domínio, métodos e objetos da nova Psicologia científica.
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Visa a reconstrução da história e memória do ENEP (Encontro Nacional dos Estudantes de Psicologia), com o intuito de analisar a dinâmica de funcionamento do movimento estudantil na Psicologia e verificar sua importância para a própria Psicologia. Enquanto um movimento específico, inserido nos movimentos estudantis e sociais, se constitui em objeto de estudo privilegiado, no sentido do resgate da história e das interrelações entre saber psicológico, identidades culturais, comunidade psi e seu papel político. Utiliza a análise de documentos escritos e de depoimentos de pessoas que viveram o movimento no período entre 1960 e 1990. Tem como eixo norteador a microesfera do ENEP e a macroesfera dos movimentos sociais e estudantis. Conclui que o movimento estudantil na Psicologia carece de uma maior organização, continuidade e legado histórico, muitas vezes se tornando um fim em si mesmo, mas que o ENEP constitui importante espaço de influência na formação de futuros psicólogos.
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Michel Foucault estuda o corpo enredado, submetido aos embates das forças dos poderes-saberes, que se articulam estrategicamente na sociedade ocidental. E Merleau-Ponty visa à experiência sensível que germina enquanto estrato originário da correlação corpo próprio-mundo, como uma região de sentidos que não se limita a seus significados histórico-culturais pois representa nossa abertura ao Ser em geral. Esta pesquisa compara o corpo enredado foucauldiano com o corpo germinante merleau-pontyano e avalia em que medida a perspectiva genealógica foucauldiana dissolveria a noção de subjetividade que reside, em Merleau-Ponty, na experiência do corpo próprio. Verificou-se que a tentativa de Foucault de submeter o corpo germinante de Merleau-Ponty à mesma pressuposição discursiva do seu corpo enredada é uma forma de desconsiderar as singularidades da paisagem enunciativa da corporeidade na fenomenologia merleau-pontyana. Este trabalho se desenvolve através da leitura de bibliografia dos referidos autores, comentaristas e de outros autores da filosofia moderna.
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