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O texto apresenta uma crítica a abordagens historiográficas encontradas algumas vezes no Brasil em que são aplicadas perspectivas e análises teóricas desenvolvidas em outros lugares, principalmente na França, sem a devida atenção às condições específicas de emergência e constituição de determinados campos de saberes em nosso país. Neste sentido, apóia-se na perspectiva dialógica de Bakhtin de que a análise de um dado conjunto de relações não pode ser expropriada de seu entorno original. Esta proposição bakhtiniana é complementada com a feliz expressão de Schwarz, de “idéias fora do lugar”. Com estes autores, procede-se a dois estudos de caso, a criação de um hospício em Campos, interior do Rio de Janeiro, e o laudo psiquiátrico de Febrônio Índio do Brasil, personagem exemplar da junção Direito e Psiquiatria em nossa realidade. Considera-se que a análise destes dois casos torna clara a necessidade de atenção às contingências dos acontecimentos para sua análise adequada.
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No início do século XIX, Jean Marc-Gaspard Itard, realizou intervenções pedagógicas com um menino encontrado nos bosques do sul da França. Dessas experiências foram redigidos dois relatórios. Tomando-os como base, o objetivo central deste artigo é relatar uma pesquisa histórica, de base documental, que discute as contribuições de Itard sobre as relações entre educação, aprendizagem e desenvolvimento na constituição do homem como ser histórico e cultural. Buscou-se articular três diferentes níveis de análise: o nível interno, que se refere aos conceitos, pressupostos e métodos, relacionados à obra de Itard; a base epistêmico-metodológica adotada pelo autor e a articulação entre seu trabalho e a realidade histórico-social em que viveu. Por meio de sua obra é possível refletir, entre outras questões, sobre a fragilidade e a importância do vínculo entre educando e educador, as concepções do educador que determinam sua prática pedagógica e como a comunicação se faz presente nos processos educativos.
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Trata-se de um estudo teórico que tem por objetivo compreender o sentido de psicologia para Haufniensis (um dos vários pseudônimos de Kierkegaard) em sua única obra: “O conceito de angústia”. O estudo dos discursos psicológicos de Kierkegaard é ainda incipiente no Brasil e com este artigo buscamos contribuir com a discussão de sua obra em outros meios que não somente o da filosofia e o da teologia. Constatou-se que a psicologia é uma ciência privilegiada, que trata da existência e da história individual (o espírito subjetivo) por intermédio da observação de si e de outros em seu cotidiano. Ao final, surgiu a questão sobre o possível ânimo irônico que deveria existir naqueles que se dedicam à psicologia e uma nova pergunta: deveriam ser os psicólogos irônicos?
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O presente artigo discute as concepções sobre o coração humano numa perspectiva histórica, desde as representações pictóricas da pré-história até o alvorecer da Modernidade. Associado à própria idéia de pessoalidade, o coração, em diversas culturas e tradições assumiu um papel antropológico central, não apenas numa perspectiva biológica, mas também psicológica e espiritual. Com o advento da “Revolução Científica” e o racionalismo o coração se verá “destronado” de sua posição hegemônica. Este trabalho é o resultado de uma primeira aproximação frente ao tema da querela entre coração e cérebro que se esboça na Antiguidade, se radicaliza na Modernidade e agora volta surgir no contexto da crise antropológica da pós-modernidade.
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Este trabalho tem por objetivo o estabelecimento de diretrizes para a pesquisa atual em Psicologia Histórico-Cultural por meio de uma breve revisão da trajetória percorrida por Lev Semionovich Vigotski. Considerando as implicações advindas dos períodos históricos prévio e posterior à revolução socialista, assim como os impactos provenientes de diversas vertentes da psicologia do seu tempo, sustenta-se que o incremento de abordagens históricas do processo de construção da obra do autor bielo-russo pode competir para o incremento da compreensão atual do seu pensamento, além de auxiliar no desenvolvimento de aplicações mais alinhadas com os significados originais da produção intelectual Vigotskiana.
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O artigo aborda algumas etapas do percurso conceitual que levou à elaboração e transmissão do conceito de pessoa e dos métodos para o seu conhecimento ao longo da história da cultura ocidental e da cultura brasileira, desde a antiguidade grega até ao século XIX. Evidencia que o conceito de pessoa é inerente à modalidade própria do homem ocidental conhecer a si mesmo e seus semelhantes e que este saber constituiu-se desde a origem num dinamismo caracterizado por um duplo e paradoxal movimento, cujo foco é simultaneamente voltado para a interioridade e aberto para a alteridade. Conclui que o conceito de pessoa e o seu conhecimento representam ainda hoje um desafio para a psicologia contemporânea.
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Procurou-se com essa investigação identificar, em sua correlação, os elementos saudosamente recordados relativos ao período da juventude/mocidade presentes em letras de canções brasileiras compostas e/ou gravadas a partir de 1927. Um conjunto de 106 letras foi submetido à Análise Lexical e a um procedimento clássico de Análise de Conteúdo. Os resultados obtidos apontaram para um compartilhamento de conteúdos recordados veiculados nas letras analisadas. Tal compartilhamento pode ser identificado sob dois eixos: a) o primeiro deles seria o que poderíamos chamar de intrageracional (a especificidade de alguns elementos recordados vincula-se diretamente à época na qual foi vivida a mocidade/juventude dos compositores); b) o segundo eixo seria intergeracional ou, poderíamos dizer, transgeracional e relaciona-se aos elementos que atravessam com considerável significância todo o período analisado. Esses últimos elementos possivelmente constituem a base comum que possibilita a coexistência de mais de um discurso sobre a(s) mocidade(s) ou juventude(s) recordada(s) num dado período histórico.
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Este artigo investiga a formação do psicólogo brasileiro, tendo por recorte histórico, o período do final da década de 1970 ao início dos anos 2000, quando tanto a atuação quanto a formação do psicólogo sofreram grande modificação, de um modelo essencialmente clínico liberal privado para um modelo plural de “práticas emergentes”. O enfoque teórico e metodológico da pesquisa é a genealogia de Foucault. O estudo localiza como principal perigo da formação em psicologia, nos anos de 1970, a desconexão de suas práticas da dimensão social. Nos anos mais recentes, o “social” passa a ser pauta importante na sociedade em geral e na psicologia em particular. Um novo perigo se apresenta: a força onipresente do mercado ditando os parâmetros da formação. O artigo adverte contra a sedução da formação tecnicista voltada para o mercado e afirma a importância de referencias ético-políticas para a formação e atuação do psicólogo.
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Dans cet article, notre but est d’analyser un corpus, constitué par des récits oraux de fiction qui montrent un rapport entre des expressions proverbiales sur l’esclavage noir brésilien et la mémoire discursive sur l’eugénisme. Ces sont des récits produits par une femme qui n’a pas participé au processus d’alphabétisation et qui habite la banlieue de Ribeirao Preto-SP (Brésil). Les maximes, proverbes, aphorismes, slogans ont été recueillis par Mexias-Simon; donc se situent «dehors» les récits, au point de contact entre leur unité intérieure et l’interdiscours («déjà dit» ou mémoire du dire) soutenus par une interpellation idéologique rapportée aux idéaux eugéniques de la psychiatrie brésilienne de la fin de XIX siècle et du début du XX siècle. On montre ainsi que la présence des expressions proverbiales, comme par exemple, du portugais brésilien Negro sabido, negro atrevido (traduit par “Noir sage, noir audacieux”) soutient une répétition de la mémoire historique sur l’esclavage, comme montrée par la recherche de Mexias-Simon (1996), au niveau d’un mécanisme de “porte-parole” de l’eugénisme mis en place dans les récits analysés.
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Joseph Nuttin foi um psicólogo belga, influente em seu tempo, que tratou o comportamento humano como uma função de relação entre a representação interna e o ambiente externo tal qual é percebido e vivido. Ele desenvolveu uma teoria complexa de motivação, ao mesmo tempo cognitivista e fenomenológica. Este trabalho é um esforço de síntese desta teoria interacionista, que focaliza os projetos de ação construídos pelas pessoas em seu ambiente. O sujeito interage com o objeto a partir de três formas de contato, a física, a cognitiva e a interpessoal ou social. Nuttin recusa-se a reduzir o homem a esquemas simplificados de reforçamento ou à mera reação a necessidades ou a impulsos internos, demandando uma abordagem compreensiva e interativa com o sujeito. Esta teoria, ao mesmo tempo em que aborda o homem com sua subjetividade, põe limites ao desejo subjacente de se manipulá-lo através do mero controle de contingências ou da administração da satisfação de necessidades, demandando uma interação singular e dialógica com o empregado como condição para o estabelecimento de políticas e programas.
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O pensamento do teólogo protestante Paul Tillich é caracterizado por uma perspectiva interdisciplinar. Uma das interfaces mais importantes em seu pensamento é entre a religião e a psicologia. Ele interpretou as obras de diversos psicólogos e utilizou a ciência psicológica em seus construtos teológicos. Além disso, ele participou das reuniões do New York Psychology Group, debatendo com importantes pesquisadores de sua época. O artigo apresenta o diálogo de Tillich com a psicanálise freudiana, com Erich Fromm, Carl Rogers e Rollo May. Por fim, discutem-se as fronteiras entre psicologia e religião no que se refere ao campo teórico e prático do psicoterapeuta e do líder religioso.
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Recorrendo ao conceito deleuziano de intercessor, o artigo visa a por em cena certa prática da História Oral como dispositivo epistemológico-narrativo de invenção. Os problemas que assediam os oralistas se prendem, hoje, menos a demonstrações de que as fontes orais devam gozar do prestígio associado a procedimentos científicos do que a uma singularização da História Oral enquanto crítica em ato aos cânones hierarquizantes no campo da pesquisa social – âmbito em que as contribuições de Alessandro Portelli se mostram decisivas. O livro Changer de société. Refaire de la sociologie, de Bruno Latour, permite fabricar uma intercessão adicional, pois a análise latouriana potencializa as proposições de Portelli quanto à forma de representatividade imanente à História Oral e ao valor diferencial da relação entrevistador-entrevistado no que tange à reflexividade.
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Este artigo tem por objetivo problematizar um dispositivo importante no processo de reforma psiquiátrica brasileira que é a reabilitação psicossocial. Os autores observam que novas modalidades de tratamento em saúde mental não determinam que os doentes mentais possam efetivamente assumir a condição de cidadão, pois princípios manicomiais podem estar presentes, embasando serviços e práticas. O que se observou é que a reabilitação psicossocial tem uma grande importância na vida dos ditos doentes mentais, mas apresenta o risco de promover a manutenção da condição de psiquiatrizado. Para se pensar sobre essa questão, recorre-se à genealogia de Michel Foucault que consiste na problematização das práticas de poder subjacentes aos discursos psiquiátricos contemporâneos no Brasil.
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Phenomenal qualities of recollection and reflexive properties of freely recalled momentous personal events were investigated in 2 experiments. Brazilian undergraduates recalled and rated specific autobiographical episodes through the Autobiographical Memory Questionnaire. In Experiment 1, momentous events were compared to childhood and adolescence scenes. Experiment 2 used an eventcuing paradigm to form 3 pairs of cuing and respective cued events: momentous, earliest recollection, and an event from the subject's birthday last year. No significant differences were found within clusters, but all variables differed between momentous and earliest clusters, whereas only vivid event variables (importance, emotion, rehearsal, unusualness, and consequences) distinguished momentous events from last birthday. Momentous events were characterized in terms of reflexively attributed vivid memory properties, rather than of phenomenal qualities of recollection. Results are discussed in their implications for the relationship between phenomenal qualities of recollection and judgments of autobiographical events and patterns of association in event clusters.
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Production of meaning in the dialogical self emerges from the movement and combination of I-positions. In that sense, psychotherapy is a preferential setting for such processes to occur. Dialogical Valence (DiaV) is suggested as a novel measure of the promptness of I-positions to combine in the dialogical self. Derived from the Personal Position Repertoire, DiaV is intended to reflect the dynamics of the dialogical self. The study compared people under psychological treatment with controls on DiaV and neuroticism. Neuroticism did not yield significant differences, whereas DiaV was lower in the psychotherapy group. Findings are discussed in terms of the potential movements of the dialogical self in psychotherapy. The DiaV measure allows for data summarizing, between-subjects comparisons and assessment of psychotherapeutic process otherwise impracticable with standard dialogical self approaches.
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O artigo em questão é uma versão histórica que reconstitui e analisa o processo de regulamentação da profissão de psicólogo, e abrange o período que tem início no final da década de 40, quando os profissionais brasileiros começaram a se manifestar sobre a questão e quando foram organizados os primeiros cursos de especialização, e se encerra na década de 70, quando os principais atos regulatórios já haviam sido aprovados e os conselhos de classe instalados. São utilizados como fontes documentos produzidos sobre a regulamentação, literatura e notícias que fazem referência a esses documentos, ao processo de produção e de avaliação crítica dos mesmos, aos movimentos e aos profissionais que os produziram, apoiaram e rejeitaram, e também os depoimentos de três profissionais que participaram ativamente do processo. O artigo aponta os grupos inseridos no contexto social brasileiro e no contexto histórico da Psicologia que foram responsáveis por produções ou movimentos relacionados às propostas de formação e de regulamentação, assim como os que criticaram e se opuseram às mesmas.
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O presente artigo apresenta um panorama histórico da psicologia escolar no Brasil desde a transição do século XIX para o XX, com a formação dos primeiros laboratórios de psicologia para estudos de crianças com problemas de aprendizagem, constituídos, principalmente, a partir da influência norte-americana e francesa. Discutem-se, ainda, momentos posteriores de crise, localizados na década de 1980, e a busca por novas bases teórico-metodológicas para a atuação. O artigo está dividido em duas partes: em primeiro lugar, apresentam-se um panorama dos principais fatos históricos e dados de pesquisas acerca das concepções e da atuação em psicologia escolar no cenário brasileiro; posteriormente, discutem-se temas contemporâneos que emergiram a partir de um movimento de ressignificação das práticas de algumas ações que vêm sendo propostas a partir da década de 1990.
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This article discusses the Federal University of Minas Gerais (UFMG) Archives of the history of psychology in Brazil. The Archives were originally established in 1997, in the Helena Antipoff Room at the Central Library of the UFMG. The team responsible for today’s archive operations has grown to include psychology and education archival specialists, as well as personnel trained in conservation and restoration techniques and consultants who provide advice on the organization of the material. As psychology in Brazil is profoundly related to the history of education, above all to the history of educational thinking and the systems of teaching, the collections also constitute material of interest to education historians. Thus, in institutional terms, the UFMG Archives of the History of Psychology in Brazil are connected both to the postgraduate programs in psychology, “History of Psychology and Sociocultural Context,” and education, “Psychology, Psychoanalysis and Education,” at the UFMG.
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The evolution of the historiography of psychology in Brazil is surveyed, to describe how the field has evolved from the seminal works of the pioneer, mostly self-taught, psychologists, to the now professional historians working from a variety of theoretical models and methods of inquiry. The first accounts of the history of psychology written by Brazilians and by foreigners are surveyed, as well as the recent works made by researchers linked to the Work Group on the History of Psychology of the Brazilian Association of Research and Graduate Education in Psychology and published in periodicals such as Memorandum and Mnemosine. The present historiography focuses mainly the relationship of psychological knowledge to specific social and cultural conditions, emphasizing themes such as women's participation in the construction of the field, the development of psychology as a science and as a profession in education and health, and the development of psychology as an expression of Brazilian culture and of the experience of resistance of local communities to domination. To reveal this process of identity construction, a cultural historiography is an important tool, coupled with methodological pluralism.
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Entre 2000 e 2025
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