A sua pesquisa
Resultados 135 recursos
-
Este trabalho visa trazer à cena os diferentes modos de produção de subjetividades engendrados pelas práticas psicológicas. Tal investigação tem como base conceitual a Epistemologia Política de Isabelle Stengers e Vinciane Despret e a Teoria Ator-Rede de Bruno Latour e John Law. Para estes autores, o conhecimento científico se produz não como representação da realidade através de sentenças bem formadas, mas como modos de articulação entre pesquisadores e entes pesquisados. De modo geral, estes modos de articulação podem engendrar um efeito de recalcitrância (problematização das hipóteses, conceitos, instrumentos ou mesmo questões da pesquisa) ou docilidade (extorsão da resposta esperada) por parte dos entes investigados. A possibilidade de gerar e acolher a recalcitrância seria a base para um novo parâmetro de legitimidade científica, em substituição ao modelo que busca a aproximação ao que seria uma verdade. Para investigar estes modos de articulação produzidos pelos saberes e práticas psicológicos, observou-se os modos de articulação que certas técnicas psicológicas, especialmente no campo terapêutico, têm com seus usuários. De modo mais específico estas técnicas, vindas de orientações distintas (psicanálise, terapia cognitiva-comportamental, Gestalt-Terapia e Análise Institucional) estão sendo acompanhadas na Divisão de Psicologia Aplicada da UFRJ. Para tal, além da descrição dos artefatos presentes em certas práticas terapêuticas foram entrevistadas pessoas em início e em término de terapia, estagiários, a equipe de triagem e orientadores. Em tais entrevistas, os pesquisados são considerados co-experts aptos a se manifestar sobre temas como: a natureza da psicologia, seus aspectos terapêuticos e seus efeitos na vida cotidiana. Destacamos neste trabalho as narrativas da equipe de triagem e em início de terapia. No que diz respeito à equipe de triagem, pode-se destacar os modos de negociação não lineares que existem entre os estagiários da DPA para a entrada de novos usuários. Foi possível perceber que não há um critério pré-determinado de encaminhamento do usuário para uma abordagem terapêutica específica. A forma de escolha se baseia em uma disponibilidade de vagas em determinada abordagem, ficando em segundo plano a demanda do usuário. No que se refere às pessoas em início de terapia, após a análise das entrevistas foi possível perceber 2 padrões de respostas: 1) Respostas canônicas sobre o que é a terapia e quais são seus objetivos, demonstrando uma postura dócil frente à autoridade do psicólogo que era encarnada pelos entrevistadores estudantes de Psicologia. 2) Respostas com um posicionamento mais inquisidor sobre a Psicologia, entendendo esta como um modo de ver o mundo, uma filosofia de vida, apresentando uma postura mais recalcitrante.
-
O alvo deste trabalho é examinar os efeitos de subjetivação produzidos pelas práticas psi, notadamente as oriundas do campo clínico. Para tal tomaremos como ferramenta-chave o conceito de tecnologias ou técnicas de si, desenvolvido na última fase dos escritos de Michel Foucault, nos anos 1980. Tais tecnologias são analisáveis em componentes como substância, askesis, práticas de si, e teleologia. A partir destes componentes, Foucault estabelece alguns sistemas éticos específicos, dentre eles, a hermenêutica de si cristã, que seria fundamental para o surgimento dos saberes psi. Contudo, mais do que sugerir uma aplicação do conceito foucaultiano às práticas psicológicas, o campo de estudos da Antropologia da Ciência ou Epistemologia Política, como também é chamado, nos permite fazer um estudo das técnicas de si presentes nas práticas clínicas atuais. Para tal, seguimos com uma pesquisa de campo realizada com dispositivos psicológicos específicos, na Divisão de Psicologia Aplicada da UFRJ. Ao longo da pesquisa acompanhamos as distintas técnicas terapêuticas que são colocadas em prática neste espaço por estudantes do curso de psicologia sob orientação de profissionais mais experientes, sendo este estágio uma parte do processo de formação dos primeiros. Além de entrevista com estagiários, a pesquisa conta com outros recursos como entrevista a pacientes e supervisores e observação participante.
-
Esta dissertação é produto de meu percurso no Mestrado em Psicologia Social e apresenta as diferentes modulações do trajeto desenvolvido durante dois anos. Descreve de que modo um projeto que buscava conhecer a experiência dos usuários de Saúde Mental se modificou, passando a questionar as relações entre a Universidade, a Reforma Psiquiátrica e o cuidado na pesquisa com pessoas. A partir da metodologia da História Oral, foram realizadas entrevistas com diversos atores pesquisadores, professores, militantes, estudantes, residentes e coordenadores de residências que se somaram, na qualidade de trabalho de campo, à participação em eventos promovidos por grupos de usuários e ao estágio docente na disciplina Políticas e Planejamento em Saúde Mental, do curso de graduação em Psicologia. Também se recorreu à pesquisa bibliográfica e à utilização do diário de campo. A partir desta última ferramenta, primordialmente, foi possível realizar a análise de implicações que permeia todo o trabalho, na perspectiva da Análise Institucional. Esta dissertação descreve e reflete, em especial, sobre os dilemas com os quais me defrontei, desde o início da pesquisa, quando quis entrevistar participantes dos coletivos de usuários de saúde mental. Meu interesse era conhecer como tinha sido a experiência desses usuários dentro da chamada Reforma Psiquiátrica; porém, em face da insistência, por parte dos coordenadores dos grupos, de que solicitasse a autorização do Comitê de Ética e obtivesse o respectivo consentimento informado, comecei a me interessar pela origem dessa demanda e sua atual função. Tomei como analisador o dispositivo Consentimento Informado ou Esclarecido tal como é requisitado hoje, ou seja, algo cada dia mais exigido no campo da pesquisa com seres humanos, em ciências sociais. Apresentando-se como um discurso de proteção de direitos, ele permite colocar em discussão a questão do cuidado e da ética na pesquisa: certos aspectos priorizados pelos Comitês de Ética, tais como riscos , benefícios e desfecho primário , supõem a antecipação dos resultados de um processo que, ao contrário, está em construção. Extrapolam-se modelos do campo biomédico, obstaculizando pesquisas que contemplem as subjetividades dos participantes (pesquisadores e pesquisados). Nesse sentido, a presente dissertação questiona a que cuidado (e ao cuidado de quem) tais dispositivos efetivamente respondem. Também se coloca um outro analisador em pauta, o dispositivo apresentação de doentes , a fim de refletir sobre a manicomialidade presente, ainda hoje, no ensino universitário de psicologia. Tanto pela experiência no campo como mediante a bibliografia consultada, percebe-se uma cisão entre Universidade e Reforma. Certos espaços acadêmicos e disciplinas ligadas à prática clínica permanecem intactos frente ao processo da Reforma, mesmo depois de uma recente mudança no currículo. Novos espaços e disciplinas emergem sem conseguir dialogar com os antigos, que transmitem ao jovem psi uma prática atemporal, científica , objetiva , fundada nos manuais psiquiátricos (DSM, CID) e em discursos psicanalíticos descontextualizados. Percebe-se, assim, que temas fundamentais, como as condições de cuidado em saúde mental, são escassamente, discutidos no curso psicologia hoje.
-
Esta pesquisa é disparada a partir do encontro da pesquisadora com as chamadas moradias dentro de hospitais psiquiátricos no Estado do Rio de Janeiro. No seio da reforma psiquiátrica e da instalação de uma rede de assistência substitutiva ao hospício, ocorrem transformações também no interior deste último: humanizam-se as práticas, retirando de cena o eletrochoque, a lobotomia, a camisa-de-força, fazendo documentos como CPF, RG e etc. Contudo, a edificação manicomial permanece de pé com os seus grandes pavilhões, alguns agora travestidos em moradias, que tanto podem operacionalizar uma passagem de dentro para fora dos muros como perpetuar o hospício. O texto indaga por que motivo, a partir de um certo momento, inaugura-se um novo modo de organização em saúde mental, em que a antiga centralidade hospitalar se fragmenta em moradias internas e se difundem os novos serviços, ditos abertos , para em seguida afirmar que a construção de uma rede substitutiva não assegura, definitivamente, o fim da relação manicomial. Com o suporte teórico de Foucault e Deleuze, propõe uma discussão acerca da biopolítica da espécie humana, da coexistência de tecnologias disciplinares e regulamentadoras e da inauguração, na sociedade de controle, de um exercício de poder difuso, a céu-aberto, dispensando a coação física e a instituição da reclusão. O texto, entretanto, não se deixa abater por essas análises, mantendo suas apostas numa Reforma Psiquiátrica que propõe como um campo de disputas, de embates cotidianos. É então que a temática do cuidado entra em cena. Para tanto, faz-se uma releitura do período helenístico-romano através dos olhos de Foucault. O Cuidado de Si é apresentado ao leitor para, em seguida, ser estabelecido um contraponto entre o mesmo e o modo de ser sujeito moderno e cristão, com exercícios de renúncia a si e práticas de sacrifício, que em muito se assemelham à maneira como os trabalhadores vêm atuando, hoje, no campo da saúde mental. O texto procura dar pistas e visibilizar as resistências presentes em meio às tantas capturas postas em análise. Trata-se de uma experimentação de práticas de liberdade que se atualizem na operação de cuidado.
-
A experiência do tempo se modificou radicalmente e, entre as diversas novas experiências temporais, vivenciamos pela primeira vez na história da humanidade a sensação de impossibilidade de perda total e absoluta de seus objetos, que nos criam a forte ilusão de terem se tornado seres de passagem que podem retornar e se fixar no tempo presente, como se nunca daqui tivessem se afastado. Através das novas e cada vez mais sofisticadas tecnologias, nada parece desaparecer totalmente, mas, talvez, ter se transformado em fantasmagorias que ressoam no tempo presente. Estas e outras questões são debatidas, nesta coletânea, por estudiosos de diversas áreas e várias nacionalidades, a partir de um colóquio internacional sobre o tempo, realizado no Rio de Janeiro.
-
O artigo pretende mostrar que os exercícios espirituais, conforme os denomina Hadot, não apenas unem os textos da filosofia antiga como foram praticados por Nietzsche e Foucault. Os exercícios espirituais constituíam práticas de si que visavam a criar condições para que alguém se colocasse em ação na confecção da própria existência, afirmando assim um singular modo de vida. Nietzsche e Foucault, mediante seus experimentos com as formas como o pensamento ocidental se apresentou na história, tanto retomaram essa discussão da filosofia antiga como a encarnaram em suas trajetórias existenciais. O compromisso com a liberdade de pensamento por eles assumido prossegue uma desejável fonte de inquietação para as práticas educativas no contemporâneo. Palavras chave: Pierre Hadot; exercícios espirituais; Nietzsche; Foucault.
-
Apesar do século XVIII ser pouco enfatizado na historiografia da psicologia, é possível observar uma riqueza de material psicológico junto à logica, à metafísica, à filosofia moral, à estética, etc., especialmente no Iluminismo alemão. Neste século, focamos o estudo empírico da alma que Johann Nicolas Tetens discutiu nos Ensaios Filosóficos Sobre a Natureza Humana e seu Desenvolvimento (Philosophische Versuche über die menschliche Natur und ihre Entwickelung) publicado em 1777. Nosso objetivo principal é analisar a concepção de psicologia empírica, bem como sua relação com a filosofia, nesta obra. Esta questão é particularmente relevante quando constatamos que há interpretações distintas, até mesmo divergentes, sobre este tema na literatura secundária. Em nossa análise, verificamos que, em continuidade com as discussões de 1760 e 1775, nos Ensaios Filosóficos, a psicologia empírica é compreendida como um conhecimento histórico-filosófico que tem um papel preliminar e fundamental na determinação da legitimidade da metafísica, e que a primazia do método introspectivo não significa uma recusa irrestrita da análise racional.
-
Muitas ideias de Immanuel Kant (1724-1804) a respeito da psicologia são ainda entendidas, em geral, de forma bastante incompleta ou com distorções e más interpretações na literatura secundária especializada, mas, principalmente, em manuais de história da psicologia. Um dos grandes problemas encontrados é a não consideração ou o exame superficial da relação existente entre a psicologia empírica e a antropologia pragmática. Por conta disso, há ainda muitos problemas interpretativos que permanecem sem uma solução apropriada. Um deles é a falta de clareza a respeito de uma afirmação feita por Kant, em sua obra de 1781, referente à relação entre a psicologia empírica e a antropologia. O presente trabalho tem o objetivo de compreender melhor tal afirmação e, além disso, através do exame detalhado da relação entre estes dois campos, apresentar de forma mais completa as concepções de Kant a respeito da psicologia. A tese geral defendida é a de que essa relação precisa ser considerada e examinada com profundidade para se compreender de forma adequada o que Kant realmente quis dizer na obra de 1781 e a amplitude de suas concepções sobre a psicologia.
-
Este livro reúne pesquisas apresentadas no X Encontro Clio-Psyché (2012), organizado pelo Programa de Estudos e Pesquisas em História da Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Os autores são da Argentina, Brasil, Espanha e Portugal, e os estudos se referem às instituições e sua intersecção com a psicologia e com a história, objetivo do Encontro.
Explorar
Autor
Tipo de recurso
- Artigo de periódico (76)
- Livro (18)
- Seção de livro (22)
- Tese (19)