A sua pesquisa
Resultados 177 recursos
-
As idéias relativas à psicanálise de crianças começaram a ser difundidas no Brasil na década de 1920, por profissionais ligados a medicina e a educação. Assim, este artigo tem por objetivo apresentar as contribuições de Júlio Pires Porto-Carrero na introdução das idéias relativas à psicanálise de crianças no Brasil nas décadas de 1920 e 1930, tendo como foco a educação. Mediante pesquisa bibliográfica foram identificados todos os trabalhos do autor que empregavam idéias psicanalíticas para discutir temas relativos à educação. As conclusões indicam que, em consonância com as novas propostas educacionais surgidas no país na década de 1920, o autor dedicou-se a difundir conceitos psicanalíticos entre educadores, partindo do pressuposto de que uma melhor compreensão da criança com base na psicanálise poderia favorecer seu desenvolvimento e o processo de aprendizagem. Esta iniciativa, além de conferir legitimidade social à psicanálise, permitiu o surgimento de uma prática mais abrangente na psicanálise de crianças.
-
Embora a história da Psicologia atualmente seja um fértil campo de produção, ainda são poucos os trabalhos com registros de personagens que viveram esta história e que podem, a partir de seus testemunhos, contribuir para a escrita da mesma. Neste sentido, esta investigação, conduzida com base nos pressupostos da Nova História, teve como objetivo contribuir para a reconstrução da história da constituição do campo de estudo e atuação em Psicologia Educacional e Escolar no Brasil, por meio de depoimentos orais e outras fontes historiográficas. Investigou-se como este campo de conhecimento e prática foi se construindo em nosso solo, especialmente a partir dos anos 1930. Como objetivos específicos, procurou-se identificar as transformações do papel do psicólogo no campo educativo e compreender como ocorreu a inserção desse profissional nos contextos educacionais. Para tanto, a pesquisa construiu um corpus documental composto por fontes historiográficas sobre o tema e depoimentos orais. Foram depoentes cinco personagens pioneiros ou protagonistas da área de Psicologia Educacional e Escolar no Brasil. Definiu-se como pioneiros os primeiros a contribuir para um determinado campo de atuação e como protagonistas, aqueles que colaboraram como personagens ativos num determinado momento histórico da área. Os depoentes também foram escolhidos por terem: a) realizado publicações expressivas na área; b) atuado na área; c) sido docentes e/ou c) participado de órgãos/instituições da área. Os depoentes foram: Samuel Pfromm Netto, Geraldina Porto Witter, Arrigo Leonardo Angelini, Raquel Souza Lobo Guzzo e Maria Helena Souza Patto. O método investigativo utilizou-se da perspectiva da historiografia pluralista e história oral. A análise do corpus documental foi constituída por meio de análise documental (fontes não orais) e construção de indicadores e núcleos de significação dos registros orais. A partir das análises compôs-se um panorama da história da Psicologia Educacional e Escolar brasileira. No escopo do trabalho, são descritos os passos da pesquisa historiográfica, os depoimentos e suas respectivas análises. Cada depoimento foi analisado em separado e, em conjunto, interrelacionando ao restante do corpus documental. Os resultados incluem discussões sobre as transformações no papel, objeto de interesse e de intervenção do psicólogo neste âmbito, as finalidades da Psicologia Educacional e Escolar e a relação entre teoria e prática. É então sugerida uma proposta de periodização da história da Psicologia Educacional e Escolar no Brasil, construída a partir de marcos históricos na área, compreendendo as etapas: 1)Colonização, saberes psicológicos e Educação (1500-1914); 2)A Psicologia em outros campos de conhecimento (1914-1930); 3) Desenvolvimentismo a Escola Nova e os psicologistas na Educação (1930-1962); 4)A Psicologia Educacional e a Psicologia do Escolar (1962-1981); 5)O período da crítica (1981-1990); 6)A Psicologia Educacional e Escolar e a reconstrução (1990-2000); 7)A virada do século: novos rumos? (2000- ). Pode-se afirmar que a Psicologia Educacional e Escolar se fez e se refez ao longo do tempo em diferentes momentos, a partir da sua relação com a Educação e com a conjuntura política, histórica e social. Sua história é marcada por continuidades, descontinuidades, rupturas, reconstruções e uma discussão permanente de seu papel como uma área a serviço de interesses conservadores ou emancipatórios.
-
A intimidade entre a história da fenomenologia e a da psicologia se constata por um percurso que apresenta brevemente alguns textos selecionados para extrair a concepção de vida ética que atravessa de modo contínuo o trabalho de Husserl. Retomando o artigo centenário ‘Filosofia como Ciência Rigorosa’ vê-se a compreensão histórica da fenomenologia resumindo concisamente a ética husserliana. Husserl entende haver uma enteléquia humana que pode ser identificada como um pré-sentimento que, no limite, visa à realização do ser humano. O modo de realização, assim como é a consciência humana, é algo em aberto, mas nem por isto menos uma tensão e nem por isto não sujeito a algumas leis que estarão intimamente apegadas à natureza temporal da própria consciência. A apercepção do conjunto integral da própria vida pessoal, seguida de reflexão é o método ético geral. No conjunto da obra husserliana, a ética se confunde com o próprio fazer fenomenológico.
-
Historicamente estudiosos têm se empenhado em investigar os mecanismos e as razões pelas quais personagens retirados da experiência histórica e da memória coletiva firmaram-se no imaginário religioso brasileiro. Nesse ínterim, o preto-velho emerge como entidade espiritual proeminente, recorrente presença nas obras de autores interessados em apreender a cultura afro-brasileira a partir de suas manifestações consubstanciadas no quadro da religiosidade popular, sobretudo da umbanda. Assim, tendo em vista compreender os movimentos que marcaram o desenvolvimento dos saberes sobre o preto-velho, apresenta-se uma revisão e discussão crítica das diversas perspectivas a partir das quais ele tem sido pensado e caracterizado. De forma geral, evidencia-se que o estudo sobre o preto-velho oscilou de uma produção fundamentalmente enquadrante e contextualizadora, tomando-o como contingente à lógica sistêmica da religiosidade umbandista, para uma produção focalizada e extensiva, voltada para o seu entendimento como fenômeno dinâmico passível de múltiplos desdobramentos.
-
No presente trabalho procuramos analisar a apresentacao da constituição histórica da psicologia do desenvolvimento nos manuais de ensino da disciplina dirigidos ao ensino superior. Tendo em vista a afirmação histórica de uma escola centrada na criança/aluno, os cursos de formação inicial e continuada conferiram destaque ao estudo dos processos de desenvolvimento, da infância a idade adulta, tido como fundamental para a qualificação do educador e psicólogo escolar. Faz-se importante, portanto, compreender que saberes foram e são transmitidos no interior desta disciplina, com que estratégias e recursos didáticos. Ao realizarmos as análises, verificamos nos compêndios que a narrativa histórica mostra-se linear, centrada no registro dos principais autores e seus feitos. Não é estabelecida relação entre o processo de constituição da disciplina e os processos históricos mais amplos, nem é construída uma análise das condições de produção dos saberes, as tensões na afirmação do campo. Por outro, o relato evolutivo faz-se desvinculado de uma problematização histórica. Com isso, apresenta-se ao leitor, uma visão a - histórica da disciplina, que não permite relacionar o conhecimento produzido a seu percurso de construção e consolidação.
-
O presente artigo versa sobre temas marcantes na sociedade atual: o morador de rua, a religiosidade e o sentido de vida. Buscou-se caracterizar o fenômeno social da população de rua na atualidade e construir uma possível definição do mesmo. A partir da contribuição de diferentes autores, procurou-se também caracterizar a religiosidade e a influência da mesma sobre a realidade social e psicológica das pessoas. A partir do relato de trechos da vida de um morador de rua da cidade de Belo Horizonte a quem chamaremos de Marcelo, procurou-se mostrar como a busca de sentido se faz presente na vida nas ruas. Como resultado do presente estudo, pôde-se concluir que a religiosidade pode ser um auxílio importante na busca e na construção de um sentido de vida, além de ser uma forma de sustentação psicológica para pessoas que vivem nas ruas. Lançou-se mão da teoria de Viktor Frankl como forma de analisar esta temática.
-
Neste artigo, apresentamos algumas considerações sobre as trajetórias coletivas, construídas a partir de um conjunto de histórias de vida narradas em entrevistas coletivas, de congadeiros negros residentesem São João Del-Rei (MG/Brasil). Buscamos sua articulação das lógicas da experiência no co-engendramento público e privado, localizando os congados enquanto pequenos grupos de pertença étnica, modos de objetivação de identidades que se configuram nesta tensão. Indicamos a existência de contradições constitutivas, não no campo dos juízos de valor e binarismos, mas em uma dialética das percepções que vão construindo, no interior deste grupo social, representações diferenciadas do que é o congado e de quem são os congadeiros. Nestas identidades estão implicados valores da classe operária, produzidos na vivência comunitária e legitimados no campo religioso em suas formas ecumênicas, históricas e contemporâneas. Indicamos a importância da família e da educação para migrações futuras nos espaços sociais delineando novos contornos a estas trajetórias.
-
O artigo discute a pertinência da fonte autobiográfica como material documentário para a reconstituição histórica dos saberes psicológicos no âmbito da cultura, à luz das propostas de alguns autores contemporâneos a respeito deste tema (Zambrano, Courcelle, Hadot, Gurevič). Nesta perspectiva, relata também algumas etapas importantes da história deste gênero literário, tendo como ponto de partida a contribuição de Agostinho de Hipona, sua influência ao longo da Idade Média e as continuidades e as transformações do gênero na Idade Moderna (Montaigne, Cardano, Vico, Teresa de Ávila, Rousseau).
-
Este artigo é parte de um projeto de pesquisa da Casa de Oswaldo Cruz/Fundação Oswaldo Cruz e de duas dissertações de mestrado, apresentadas ao Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da mesma instituição. O objetivo deste estudo foi investigar os mecanismos de poder inscritos no Pavilhão de Observações e seus modos de manifestação nas práticas cotidianas, entre 1894 e 1930, bem como as relações desta instituição com a polícia, o Hospício Nacional de Alienados e a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Para tanto, utilizamos um acervo diversificado de fontes (documentos clínicos da instituição, artigos e livros médicos, relatórios, decretos, entre outros), a partir do qual foi possível perceber que a instituição estudada não era apenas um simples espaço do exercício da prática psiquiátrica no Rio de Janeiro, estando inserida em uma complexa rede de poder-saber, no âmbito psiquiátrico, durante a Primeira República do Brasil.
-
Trata-se de uma pesquisa histórica, baseada em fontes documentais e no estudo biográfico de Helena Antipoff, em que se procurou elementos que trouxessem para a história da psicologia e da educação uma contribuição sobre quem foi Helena Antipoff e quais os pressupostos teórico-metodológicos da sua formação profissional, pressupostos sobre os quais assentará suas proposições de ações técnicas no campo. O texto traz os caminhos percorridos por ela desde seu país de origem, a Rússia até receber o convite para trabalhar no Brasil. Além disso, o artigo traz elementos que esclarecem as motivações para a sua vinda para o Brasil, as suas atividades no ensino brasileiro na década de 1930 e os caminhos que direcionaram suas ações para a educação dos “excepcionais”. Apresenta também uma síntese das ações de Helena Antipoff no Brasil na área da Educação Especial. A partir dessa trajetória, foi possível colocar em tela quem foi Helena Antipoff e quais os princípios educativos endossados por ela e, ainda, traçar um panorama de suas ações voltadas para a Educação dos “excepcionais” na realidade brasileira.
-
Neste trabalho revisamos o processo histórico que levou as práticas psicológicas brasileiras a se instalarem nas políticas públicas de saúde contemporâneas, analisando, neste contexto, a epistemologia da ciência psicológica e suas transformações recentes. Revisitamos alguns aspectos históricos que marcaram a formação do pensamento psicológico pré-científico, bem como sua consolidação como ciência moderna. O pressuposto epistemológico da Psicologia, em sua concepção moderna de ciência, era associado ao pensamento liberal. Assim, alguns episódios históricos levaram os fazeres psicológicos a estarem muito mais orquestrados pelo mercado regulador – consultórios clínicos privados, consultorias empresariais, etc. - do que pelas políticas públicas. Assinalamos o desenvolvimento da reforma psiquiátrica no Brasil como um elemento determinante que impulsionou a entrada do fazer psicológico no âmbito das políticas públicas de saúde no Brasil, fato que tem afetado significativamente os modelos contemporâneos de prática.
-
Esta tese relata o meu encontro com um grupo de idosos em um projeto denominado Conversas & Memórias, e a experiência comunitária ali produzida. O objetivo central foi analisar de que forma os dispositivos utilizados na intervenção ajudaram na construção dessa experiência. Partindo de um campo de problematização que coloca em questão as possibilidades de vivermos juntos, busquei responder às seguintes perguntas: de que forma a vida coletiva nos contagia e nos constitui? que apostas podemos arriscar que nos permitam afirmar a possibilidade de construirmos experiências comunitárias no mundo de hoje? quais práticas de cuidado de si e de cuidado do outro podemos encontrar (ou inventar) em nossa cultura? como essas práticas podem produzir, como efeito, experiências de vida comunitária? como podemos viver juntos? Foi em torno dessas questões que desenvolvi o trabalho em dois campos distintos, visando à construção, por um lado, de um solo teórico-conceitual, e, por outro, de um plano prático-experimental. Na primeira parte desta tese, apresento os conceitos e intercessores que fundamentam as ideias aqui defendidas. Começo discutindo o processo de subjetivação, em um diálogo com o pensamento de Gilles Deleuze, Gilbert Simondon e Baruch Espinosa, e termino apresentando as apostas de Gilles Deleuze e Felix Guattari, Antonio Negri e Michael Hardt, Maurice Blanchot, Giorgio Agamben e Jean-Luc Nancy em uma comunidade por vir. Em seguida, apresento minhas próprias apostas, fundamentadas no diálogo de Michel Foucault com a filosofia antiga sobre as práticas de si e a construção de um novo ethos, desenhado por uma estética da existência. Descrevo, em outro capítulo, o método da pesquisa, partindo de uma discussão sobre a cartografia e as possibilidades que ela ofereceu para que eu pudesse acompanhar processos e habitar o território da pesquisa; discuto, ainda, o conceito de dispositivo e os efeitos que são produzidos ao desembaraçarem-se suas linhas; por fim, descrevo o material que utilizei nas análises da experiência do projeto. Na segunda parte da tese, arrisco-me em um campo prático-experimental, dando movimento aos conceitos discutidos anteriormente e incorporando-os à discussão dos quatro dispositivos que examino aqui. No primeiro, a Roda de Conversação e os efeitos, como o exercício ético e político, que essa prática anuncia. No segundo dispositivo, os Agenciamentos, apresento as poesias, músicas, crônicas, passeios que foram utilizados como disparadores das conversas, analisando os diálogos e as virtualidades produzidos por eles. No dispositivo três, a Experiência Narrativa, descrevo o processo de publicação de um livro com as histórias de alguns participantes do projeto. No quarto dispositivo, a Imagem Revelada, descrevo os efeitos provocados pelas imagens publicadas em um livro de fotografias. O último capítulo retoma a pergunta inicial - como viver junto? -, e oferece algumas pistas sobre as possibilidades de construirmos uma outra forma de sociabilidade nos dias de hoje.
-
A presente tese inicia-se por uma encruzilhada e um segredo: na encruzilhada está a psicologia, entre os apelos instrumentais, antropológicos e neurocientíficos; já o segredo refere-se à quase desconhecida leitura de Kierkegaard por Foucault. Os dois filósofos se inscrevem na esteira da experimentação filosófica, caminho oposto ao da metafísica. Experimentação, aqui, não diz respeito a qualquer empirismo; inspira-se nos exercícios espirituais da Antiguidade grega e romana, e nas práticas da ironia, do cuidado de si e da parresía filosófica. As aproximações possíveis entre o pensamento de Kierkegaard e o de Foucault por esse viés da filosofia antiga, visam a contribuir para uma compreensão da psicologia e de suas práticas que permita o enfrentamento dos dilemas acima referidos, ou seja, os instrumentais, antropológicos e neurocientíficos. O percurso do trabalho tem como ponto de partida as suspeitas direcionadas à psicologia, desde o questionamento colocado por Canguilhem há mais de cinqüenta anos acerca das intenções pouco claras da disciplina, passando pelas críticas aos processos de subjetivação psicologizantes, até chegar ao grave enquadramento contemporâneo que busca convencer os sujeitos de que são, em última análise, nada mais do que cérebros. Os processos de subjetivação engendrados pelas práticas psi se vêem, pois, colocados hoje frente a impasses de difícil solução. Tantas são as suspeitas e temores quanto aos efeitos psi, que os próprios profissionais da área têm, em muitos casos, assumido a posição de que a psicologia se tornou inviável e deve desaparecer. As referências objetivantes ou antropológicas, quando priorizadas pela psicologia, de fato não deixam saídas, tornando urgente o encontro com outros referenciais que possibilitem respirar novos ares. O pensamento de Kierkegaard e o de Foucault surgem como intercessores em face desse horizonte sombrio. Os dois filósofos se dedicaram a tornar o homem atento a si e ao mundo, priorizando saídas singulares e criativas em lugar da reprodução dos modos de ser hegemônicos que ameaçam igualar tudo e todos. Desnaturalizadores do presente e avessos às grandes especulações teóricas sobre a vida, escreveram obras que é preciso experienciar, mais do que simplesmente ler, a fim de captar-lhes a atmosfera e com elas operar. A partir dessa atitude, a psicologia experimental ou interpretativa pode dar lugar a uma psicologia experimentante, que acompanha o cotidiano ao invés de se colocar como uma curiosidade sem paixão. Tal psicologia segue de maneira interessada os movimentos da existência e a apropriação pessoal da verdade, que deixa de ser transcendente, metafísica ou sonhada, e aparece encarnada nas lutas, receios, enganos, ações e tensões do dia-a-dia dos sujeitos de carne, osso e espírito. É na tensão constituinte-constituído que o sujeito se forja, seja ele lançado por Deus, como pensa Kierkegaard, seja, como propõe Foucault, mergulhado nos esquemas e objetivações que toma como naturais: a tarefa do sujeito é tornar-se si mesmo, participando de forma mais livre da própria constituição, exercendo de maneira refletida e ética a liberdade e transparecendo a si mesmo, ao invés de tomar como suas as determinações que lhe são oferecidas. A presente tese visa, portanto, a estabelecer o diálogo entre Foucault e Kierkegaard, pelo viés da filosofia antiga, buscando inspiração para promover, no tempo presente, processos de subjetivação outros que os modos desesperados de ser, e práticas psicológicas mais experimentantes e menos disciplinadoras.
-
Este estudo focaliza a prática de leitura de livros de auto-ajuda com o objetivo de analisar, numa perspectiva genealógica, seu surgimento, condições de produção e modos de funcionamento em sua implicação com um estilo liberal de existência. À luz da analítica foucaultiana, postula-se que a literatura de auto-ajuda, entendida como formação discursiva, está intrinsecamente ligada a racionalidades e tecnologias do poder voltadas para a afirmação de um indivíduo que se auto-empresaria como capital humano. Tomando em referência o conceito de governamentalidade, tem-se que tal literatura associa-se a microprocessos de governo de condutas atinentes a uma razão governamental que visa alcançar pelo mínimo governo a máxima eficácia. O trajeto investigativo deu-se em diferentes planos, intimamente interligados, que incluíram detalhada pesquisa de campo, leitura e análise de livros do gênero e entrevistas com leitores. O relato parte de uma discussão sobre a contínua e sistemática circulação de ensinamentos que, a um nível infinitesimal, se afirmam na atualidade como condutores de nossas condutas, para, em seguida, introduzir uma discussão sobre a concepção foucaultiana de prática central à análise e guia da reflexão que a partir de então se faz - com o intuito de desvelar, nas práticas de leitura de auto-ajuda, possíveis interconexões entre produção de verdades, técnicas de si e governo dos outros.
-
A cultura ocidental concebeu a interioridade do ser humano de vários modos segundo o clima cultural e o período histórico. No período colonial, a oratória religiosa oferece uma rica matriz para o estudo de saberes psicológicos veiculados na época. A cultura do século XVII, rotulada como barroco é uma cultura de persuasão, sendo a pregação religiosa o meio de comunicação de massa privilegiado. O objetivo desta dissertação é geral realizar uma reconstrução histórica dos saberes psicológicos contidos nos sermões do jesuíta Antônio Vieira (1608-1697). Procuramos descrever e analisar os conceitos de imaginação e memória e outros conceitos a eles relacionados. Utilizamos como fonte primária a obra de sermões publicada pelo jesuíta em edição moderna. A partir de elementos teóricos retirados seja da História Cultura, seja da História da psicologia, buscamos identificar o contexto de produção e as apropriações feitas pelos sujeitos dos conceitos evidenciados. A leitura dos sermões foi feita a partir da hipótese da unidade teológico-retórico-política de sua matriz sacramental proposta por Alcir Pécora. Os sermões estão embebidos em uma matriz epistêmica de orientação aristotélico-tomista. Trata-se de uma psicologia filosófica que remonta ao mundo helênico, porém no século XVII é perpassada pelo humanismo e cristianismo. Nesta concepção há tanto uma visão de homem (uma antropologia filosófica cristã), como um modelo de funcionamento do que poderíamos chamar de psiquismo, identificado com o termo alma. Segundo o pressuposto da época, potências internas e externas, paixões, apetites, vontade, intelecto e espírito são os elementos que compõem a alma. Imaginação e memória tem influência preponderante nesta dinâmica e no processo persuasivo.
-
O objetivo deste trabalho é investigar, tendo como base o texto Sonhos de um Visionário, a problemática do espírito dentro do pensamento inicial de Kant, destacando, nesse contexto, as primeiras indicações do criticismo. Enfocaremos a superação da metafísica inicial de Kant, em Sonhos, e a configuração de um novo horizonte para se pensar o problema do espírito e da metafísica em geral através de uma reflexão sobre a vontade humana. Serão apresentadas as evidências de uma mudança de direção no pensamento kantiano a partir da qual a moral será apontada como a base para a fundamentação da metafísica. A religião, por sua vez, apresentar-se-á como um importante elemento dentro desta nova elaboração.
-
El objetivo de este artículo es contestar una serie de cuestiones planteadas por Sánchez-Criado sobre la ANT, especialmente sobre su posible carácter metafísico. Para esto ha sido propuesta la búsqueda de una definición sobre lo que es la agencia, sobre el papel que juega el principio de simetría, sobre el sentido de la in/distinción humanos-no humano, y sobre cómo debemos aproximarnos al estudio de la subjetividad o del self. Para tal cosa, se propone el esfuerzo de atravesar estas cuestiones, sin responderlas de forma categórica. El esfuerzo será una toma de posición sobre una serie de apuestas estratégicas. Así, será defendido el carácter de teoría solvente de la ANT, y se apunta un abordaje de la producción de subjetividad de forma más radical que el propuesto en el interior de la ANT. Partiendo de estas posiciones, también, se discutirán los conceptos de simetría y la distinción entre humanos y no humanos.
Explorar
Tipo de recurso
- Artigo de periódico (84)
- Livro (20)
- Seção de livro (43)
- Tese (30)