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O presente texto recolhe fragmentos de um percurso de pesquisa de pós-doutorado que toma a errância como dispositivo de abertura do corpo à experiência, ensejando ativar regimes sensíveis e práticas de si-mundo capazes de reencantar o corpo e a vida. A arte de Rosana Paulino e Lygia Clark sopra e ressoa as políticas/poéticas de encantamento e rasga a fina membrana colonial, deflagrando estados de corpo transfigurados pelas intensidades que o interpelam, numa expansão de si que ultrapassa a forma individual e conecta humanos e não-humanos numa única teia viva, como ensinam os indígenas.
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Este artigo apresenta um recorte das questões debatidas na dissertação de mestrado “Práticas de militância nômade: experimentações rebeldes e novas estéticas de luta no contemporâneo”. Utilizando-se da experiência de um dos autores no processo de luta pela terra dos povos indígenas Tupinikim-Guarani no Estado do Espírito Santo (2005-2010), o texto objetiva analisar a constituição de formas de resistência problematizadoras das relações de poder instituídas na atualidade. O ato de retomada da terra empreendido por essas etnias e os efeitos que se seguiram na produção e articulação de ações rebeldes são debatidos em meio às fissuras que provocaram nos modos de funcionamento político que tecem a máquina administrativa do Estado, bem como dos próprios movimentos sociais. A emergência de dinâmicas e estéticas de luta dissidentes se expressa nos afrontamentos entre redes de insurgência e contra-insurgência, servindo como analisadores de uma sociedade mundial de controle espraiada por todo o tecido social.
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O estudo parte dos trâmites parlamentares ocorridos entre 2009 e 2013, quando se discutiu a possibilidade de psicólogos intervirem na orientação sexual de sujeitos homossexuais. O trabalho discute atravessamentos morais religiosos no campo da psicologia e na esfera da política republicana, propondo uma narrativa histórica das intervenções médicas e psicológicas sobre a homossexualidade no Brasil, com recorte no período 1930-1940. Argumenta-se que essa disputa no campo psi evidencia dispositivos de controle sobre os modos de existência contra-hegemônicos, que reatualizam lógicas de funcionamento dos saberes psiquiátrico e criminológico do início do século XX. Conclui-se que as tentativas de captura da psicologia, enquanto saber-poder posto a serviço da repatologização da homossexualidade explicitam um projeto de poder mais abrangente, cujas tecnologias estão relacionadas ao exercício do poder pastoral.
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O artigo trata do evento “Políticas e Poéticas do Contágio: ensaios de viver entre muitxs”, assim como de suas reverberações. Organizado pelas professoras Adriana Rosa (UFF), Alice De Marchi (UERJ) e xs integrantes do estágio “Psicologia e Direitos Humanos: transversalizando práticas” – supervisionado por esta última –, foi realizado entre outubro e novembro de 2019. O encontro foi uma aposta na encruzilhada entre Psicologia, Arte, Política e Subjetividade como dispositivo para nos aproximarmos da multiplicidade como modo de vida. Através de oficinas e rodas de conversa, tematizou a arte de criar e sustentar formas de viver outras e a política como exercício a partir da diferença. Compreendemos o encontro e o contágio como meios de invenção de si e de mundos, para juntxs ensaiarmos modos de viver entre muitxs. Aqui, narramos, através de cartas trocadas, como foi experienciar esses dois dias de evento, bem como de que forma este ainda ressoa em nós.
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Este trabalho tem por finalidade relatar e analisar a atividade desenvolvida na forma de oficina durante o evento de extensão universitária “Políticas/poéticas de contágio: ensaio de viver entre muitxs”, organizado pelo Instituto de Psicologia da UERJ. A Oficina Poética do Corpo teve o intuito de abrir caminhos para o desenvolvimento da consciência de si e do outro, potencializando o ato de criação na forma de vivências práticas, funcionando como uma poética do encontro. Dessa forma, serão relatados os passos para a execução do projeto que culminou em uma rica experiência transdisciplinar na forma de oficina livre, com caráter essencialmente prático, utilizando conceitos relacionados a experiência, corpo, jogo e afeto que foram explanados na forma de ações sensíveis e lúdicas a partir da investigação de narrativas corpóreas, desvelando afetos com alunos de diferentes áreas de conhecimento e de diferentes instituições de ensino.
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A expressão psicologia francófona designa uma série de saberes e práticas psicológicas que foram desenvolvidas em países cujo idioma principal é o francês, ou por autores que desenvolveram suas ideias neste idioma. Sua conceituação, apesar de bastante ampla, agrupa muitos atores que foram relevantes para a constituição da psicologia no Brasil, através de diversos meios. Contata-se, contudo, que poucos materiais em português foram publicados no Brasil após os anos 1950 sobre vários dos atores da psicologia francófona, de modo que permanecem, em diferentes graus, desconhecidos dos profissionais da psicologia e, muitas vezes, até mesmo dos historiadores. Este trabalho pretende auxiliar no preenchimento desta lacuna ao elaborar biografias de cinco autores francófonos do final do século XIX, importantes para a compreensão da psicologia brasileira: Paul Janet, Théodule Ribot, Henri Beaunis, Alfred Binet e Pierre Janet. Conclui-se que o conceito geral é bastante plural, de modo que as recepções e apropriações destes atores no Brasil ainda estão por ser melhor analisados.
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Este artigo discute a noção de experiência nas publicações sobre a estratégia da Gestão Autônoma da Medicação no Brasil, no período de 2009 a 2018. É fruto de uma análise documental de dados secundários, em que foram material prioritário de análise os artigos publicados no período. São interlocutores destas análises Walter Benjamin, Giorgio Agamben e Jorge Larrosa. Apresentamos os diferentes empregos que a noção de experiência ganha nos textos, com ênfase para a diferença entre dois campos semânticos: o primeiro, onde ela vai significar aquilo que o sujeito vive ou experimenta; e o segundo, o qual entendemos mais forte e relevante para o campo da saúde mental, onde ela vai significar aquilo que resta da travessia de um perigo. Nosso mergulho nessas publicações nos permitiu afirmar que a GAM tem se constituído como uma experiência nesse segundo sentido para seus participantes, sejam eles usuários, familiares, trabalhadores ou pesquisadores.
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O tempo histórico manifesta o trabalho de elaboração dos grupos humanos na construção de diferentes objetos sociais que constituem a vida social. A partir do objetivo de se refletir sobre as representações sociais de ciganos entre não-ciganos, participaram do estudo 319 sujeitos, com idades entre 17 e 54 anos. A coleta dos dados foi realizada por meio da aplicação de questionários e o tratamento dos dados foi conduzido por intermédio da análise fatorial de correspondência, análise de cluster, análise de conteúdo categorial-temática e teste qui-quadrado. Nos resultados, foram identificadas três diferentes representações sociais sobre os ciganos a partir da imagem da cigana vidente, de uma cultura de liberdade e como indesejáveis, associadas a justificativas centradas na experiência do sujeito, em explicações endógenas ao grupo e comparativas entre ciganos e não-ciganos. Essa configuração orientou o debate sobre a produção de significados de densidade social a partir da ancoragem histórica.
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Desafios da convivência entre culturas mobilizaram a proposição de diferentes correntes teóricas e modelos de organização social e de educação desde o início do século XX. As classificações formuladas para categorizar tais correntes em geral enfatizam as diferentes posições ante a diversidade cultural apenas. Neste trabalho, objetivamos propor uma classificação que considere também posicionamentos sobre a igualdade humana. Realizamos revisão bibliográfica de tipo narrativa para analisar condições de surgimento e fundamentos filosóficos de três das principais perspectivas interculturais formuladas no último século: assimilacionismo, multiculturalismo e interculturalismo. A partir dessa análise, aplicamos a nova classificação e podemos compreender as três perspectivas como pertencentes ao projeto da modernidade e da pós-modernidade, destacar riscos da polarização de posições e explicitar a complexidade das profundas transformações sociais e educacionais necessárias para que se consolidem as almejadas experiências de interculturalidade. Concluímos que a nova classificação proposta pode fomentar discussões ao considerar desafios históricos a que cada perspectiva busca responder, valorizando suas contribuições próprias.
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Este empreendimento tem por finalidade apresentar um levantamento teórico-histórico a partir do deslizamento semântico dos conceitos acídia, tristeza, melancolia e seus análogos, oferecendo um diálogo entre a ciência teológica e as ciências humanas. A literatura utilizada articula a falta de sentido do mundo contemporâneo a partir dos textos bíblicos em autores de conhecida eminência teológica e teórica. A expressão grega “akédias”, que remonta à tradição bíblica, desenvolve-se dentro da tradição cristã como “demônio meridiano” por Evágrio Pôntico e, mais tarde, vê-se canonizada na perspectiva oriental por João Cassiano e ocidental por Tomás de Aquino e Gregório Magno. A profunda relação entre os conceitos acídia e melancolia coloca lado a lado a tradição dos pecados capitais e autores seculares, como Hipócrates e sua tese humoral, Aristóteles e seu homem de exceção e Freud em sua reflexão sobre o luto e o mal-estar da contemporaneidade a partir do princípio do prazer. Há também significativa correspondência do tema com a perspectiva de Viktor Frankl, especialmente a partir de conceitos como “vontade de sentido” e “neuroses noogênicas”, que foram por ele utilizados. Dada a abrangência do tema, entende-se esta como uma possibilidade interpretativa, buscando em expoentes do passado intuições que iluminem questões contemporâneas.
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Tivemos como objetivo investigar como os coveiros lidam com aspectos míticos e numinosos referentes ao fenômeno da morte no mundo da vida cotidiana e ao espaço do cemitério. Realizamos entrevistas semiestruturadas com coveiros atuantes no Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Foram utilizadas entrevistas de três sujeitos, e para a análise fenomenológica seguimos as diretrizes metodológicas de van der Leeuw. Foram encontrados quatro núcleos de sentido de experiências de coveiros diante do numinoso: a) o aspecto assombroso do cemitério; b) atravessamento da fronteira de “lá” para “cá”; c) a passagem do aquém para o além; e d) a manifestação da fronteira entre o além e o aquém. Concluímos que, ao lidarem com a fronteira porosa e flexível que separa o familiar do estranho, cada coveiro estabelece a distância e a relação com essa fronteira e com os aspectos míticos referentes ao fenômeno da morte.
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O objetivo deste trabalho é compreender os sentidos inerentes à musicalidade vivida em capoeira. Para tanto, se procede seguindo os passos de Edmund Husserl (1859-1938) no enquadre de uma arqueologia fenomenológica das culturas. Os relatos de mestres de capoeira, produzidos sob escuta suspensiva e transcritos, foram analisados mediante sucessivos cruzamentos intencionais. Muitos mestres relatam o atravessamento desta experiência musical que, desde um registro pré-reflexivo, conduz à ação seus corpos durante o jogo. Os resultados descrevem uma afecção musical crucial que inaugura intersubjetivamente uma abertura corpóreo-psíquica aos sentidos dos acontecimentos da roda. Tal abertura se mostra no compartilhar pré-reflexivo de sentimentos próprios à capoeira, em que capoeiristas manifestam-se de modo cultural e existencialmente autêntico. Aprofunda-se a análise à luz do diálogo com a literatura destacando-se a operatividade intersubjetiva da dimensão psíquica no corpo a corpo em ação, articulando-se com as investigações de Husserl sobre o substrato originário das experiências do Outro.
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Com atuação consolidada na área da Psicologia Escolar e Educacional, o Professor Doutor Herculano Ricardo Campos construiu significativo itinerário como pesquisador e docente, com destaque aos estudos sobre violência e práticas sociais e educacionais com crianças e adolescentes. Nosso entrevistado da Seção História da Revista Psicologia Escolar e Educacional é Coordenador Atual do Grupo de Trabalho Psicologia e Políticas Educacionais da ANPEPP - Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia, no biênio 2018-2020 e foi cedido pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte para o governo do estado do Rio Grande do Norte, para presidir a Fundação Estadual do Atendimento Socioeducativo - FUNDASE. É autor de diversas produções acadêmicas e técnicas, e orientou teses e dissertações que analisam as políticas públicas de educação, infância e adolescência no Brasil, sob a perspectiva histórico-cultural. Sua relevante contribuição para o conhecimento da área pode ser expressa nesta entrevista realizada por Fauston Negreiros.
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Este livro examina a obra de vinte importantes personagens que marcaram a educação brasileira, por meio de sua produção intelectual e ou engajamento político. Alguns deles se envolveram diretamente com a educação e o ensino. Outros o fizeram de modo indireto. Todavia, todos foram suficientemente inovadores, originais e influentes e, principalmente, exerceram papel destacado no cenário educacional de sua época. Muitos foram os que influenciaram os rumos da educação no país (saibamos ou não quem foram e o que fizeram). Com certeza, um número expressivo de outros autores poderia integrar esta lista. Embora o elenco não seja exaustivo, os nomes selecionados são referências fundamentais para a compreensão do desenvolvimento das políticas e do ideário educacional nacional.
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O livro que ora apresentamos é resultado direto de uma multiplicidade de temas construídos de forma transversal por seus autores. Neles, o leitor vai encontrar muito mais do que um mero comentário acerca de Foucault. Nossa intenção consiste em apresentar uma constelação entre o pensamento foucaultiano e as ciências humanas.
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