A sua pesquisa
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Esse artigo parte do pressuposto de que para se tornar arqueiro é necessário, antes de mais nada, que aquele que lança a flecha desapareça e se confunda com seu próprio instrumento, pois somente quando a força se confunde com a materialidade do pensamento a flecha se apresenta em estado puro e assim é capaz de atingir os outros porque foi produzida na osmose entre escrita e vida. Em Nietzsche, esse aspecto está presente em todas as suas obras, sobretudo nos prefácios que escrevia a cada uma delas, podendo também ser visto em seu escrito autobiográfico Ecce Homo e através de conceitos como grande saúde, moral nobre e escrava, dentre outros. A flecha do pensamento, transformada em pura força, nos aproxima igualmente dos caminhos trilhados por Foucault. Afinal, este construiu, junto de seus escritos, uma arte de viver, mas somente tematizou essa flecha da "vida como obra de arte", isto é, como plano de trabalho denominado genealogia da ética, nos cursos em que o foco de interesse passou para as "técnicas de si". Nesse momento, experimentação e experimento se tornam um mesmo ato, se tornam o alvo da flecha, se tornam o que aqui chamaremos de tiro espiritualizado do pensamento.
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A memória autobiográfica pode ser definida de forma geral como um tipo de memória para eventos relativos à vida do próprio sujeito que a recorda. Alguns autores também associam a este tipo de memória a capacidade de viajar no tempo, que permite revivenciar a experiência original. No entanto, as especificidades sobre o seu conceito e processo de desenvolvimento variam de acordo com a abordagem teórica, a cultura e o período histórico vigente. Portanto, estudar historicamente este construto configura-se como ferramenta importante para compreendê-lo. Tais investigações emergem após a década de 60 quando os pesquisadores passaram a se preocupar com diferenças no desenvolvimento do sistema mnemônico, mas só se tornaram frequentes após a década de 80, sob a influência de linhas de pesquisa com abordagem histórico-cultural. Em seguida, o tema passa a ser investigado por diferentes abordagens, que postulam suas próprias características para a memória autobiográfica, chegando aos dias atuais, quando os pesquisadores podem contar com o suporte de tecnologias mais avançadas.
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Desenvolvemos este estudo com o objetivo de pensar a produção de subjetividade na infância em meio às relações de consumo contemporâneas. Adotamos a obra de Michel Foucault como referencial teórico e o cinema como campo analítico. Para as análises, apresentamos duas obras: Pequena Miss Sunshine (2006) e Ninguém Pode Saber (2004). Nestes filmes observamos a presença de um regime de verdade contemporâneo relacionado à lógica neoliberal, que estabelece um modo de governo em relação ao corpo-população infância. Em diálogo com as produções fílmicas, analisamos como os personagens se reconhecem como sujeitos diante deste regime de saber-poder. Podemos perceber que os personagens instauram narrativas que enunciam os efeitos de endividamento infantil, adoecimento e normatização, em coexistência com movimentos de resistência, o que nos leva a afirmar a potência dos paradoxos que engendram a produção de sentidos de uma infância que não cessa de compor novos modos de existência.
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O presente artigo se ocupa de trazer para discussão a construção de masculinidades de corpos-homens-loucos, egressos de longos períodos de internação e moradia em hospital psiquiátrico e que vêm habitar o espaço da cidade, em Serviços Residenciais Terapêuticos (SRTs), sendo cuidados por mulheres. Buscamos não separar processo e sujeitos nele inseridos, e dedicamos comentários tanto ao tema do cuidado institucional quanto às trajetórias de homens e mulheres nesse processo de desinstitucionalização. Apostamos nas novas configurações dos serviços residenciais, plenas de interpelações que oxigenam a vida, mas que exigem de todos os envolvidos a humildade de um realocar-se, no que entram também em xeque os tradicionais desempenhos de gênero.
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As novas tendências do marketing contemporâneo sugerem a inserção do tema da pessoa no que diz respeito às abordagens mercadológicas do conceito de consumidor, mas sem uma fundamentação antropológica, filosófica e psicológica específica. Na busca por uma fundamentação que desse suporte a essa tendência e ampliasse a discussão, foi analisada a abordagem da experiência elementar de Luigi Giussani (2009). O objetivo dessa pesquisa é compreender as possíveis relações entre a psicologia, o marketing e a experiência elementar em relação ao tema do consumidor enquanto pessoa. Essa pesquisa situa-se no âmbito temático entre o marketing e a psicologia do consumidor, relacionando as áreas numa perspectiva histórica no período que compreende o final do século XIX e XX. A conclusão remete à ideia de que no século XXI existe uma possibilidade de se considerar o consumidor como “pessoa”, e que a abordagem da experiência elementar pode ser pertinente para discutir essa aproximação.
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O presente estudo trata do oculto manifestado através de fenômenos excepcionais da consciência – transes mediúnicos, experiências místicas, automatismos e experiências anômalas de cura – e sua relação com a obra do psicólogo e filósofo William James (1842-1910). Portanto, sua delimitação converge para o contexto científico do período vitoriano-eduardiano inglês e estadunidense. A pesquisa em sua fase inicial priorizou a exegese de fontes primárias tais como: The Principles of Psychology, Psychology: Briefer Course, The Varieties of Religious Experience e A Pluralistic Universe. Foram analisados também, artigos contidos em outros volumes da mesma coleção The Works of William James tais com Essays in Psychology, Essays in Psychical Research, Essays in Radical Empiricism e Essays, Comments, Reviews. Igualmente, esse estudo lança mão de literatura secundária relacionada à história da vida e obra de William James e da médium Leonora Piper (1857-1950), bem como de outros intelectuais que de alguma forma se associaram ao seu trabalho. Já a segunda fase dessa pesquisa, consistiu na busca por material de arquivo inédito a esse tipo de estudo. Cartas, cadernos de anotações, apontamentos de conferências, manuscritos, marginália, transcrições e relatórios de pesquisas oriundos dos William James Papers mantidos na Houghton Library na Harvard University em Cambridge nos Estados Unidos e também dos Society for Psychical Research Papers preservados na Wren Library e na Cambridge University Library em Cambridge na Inglaterra foram fotografados, totalizando mais de 2.000 páginas de documentos na sua maioria ainda não publicados. A tese se desenvolve de forma tripartite e embora esse não seja um estudo biográfico, a pesquisa adota uma abordagem cronológica na apresentação dos textos de William James aqui selecionados. Na primeira parte, o estudo expõe os vários conceitos de oculto na história até chegar à sua relação com os fenômenos excepcionais da consciência no contexto do objeto dessa pesquisa. Na segunda, ela demostra a importância do oculto na vida e obra de William James, e defende que esses fenômenos foram relevantes para a configuração dos limites e definição do alcance de uma ciência radical da mente vislumbrada por ele. Na terceira e última parte, a tese apresenta indícios e evidências que deixam transparecer que James tenha colocado esse projeto em prática. Com a apresentação de documentos inéditos que demonstram a participação do oculto na concepção e desenvolvimento do conceito de Fluxo de Consciência, a tese conclui que a psicologia jamesiana guarda dívida maior a essa classe de fenômenos do que narra a sua história. As conclusões mais relevantes desse estudo são: que o interesse de James pelo oculto era mais do que mera excentricidade; que os muitos anos de interesse e dedicação aos fenômenos ocultos tiveram papel significativo no desenvolvimento de seu projeto psicológico. Isso significa que para se entender a obra de William James de maneira mais completa, a interface entre o oculto e sua psicologia deve ser considerado; que a investigação dos fenômenos chamados paranormais que envolvam aspectos de exceção da vida mental pode representar um caminho legítimo para a compreensão da natureza humana em sua expressão mais abrangente.
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O presente artigo consiste em uma crítica à historiografia tradicional sobre a tortura a partir da perspectiva genealógica de Michel Foucault. Baseados neste autor, consideramos que para traçar a história das práticas de tortura é preciso traçar a história política das transformações dos métodos punitivos em correlação com uma tecnologia política do corpo. Por esse caminho, entendemos que a emergência da tortura está sempre vinculada às relações de poder/modos de governo (de si e dos outros), que se apresentam de diferentes formas ao longo da história. Para alcançar essas diferenças efetuamos um mapeamento das descontinuidades em torno da prática da tortura no período que vai do século XII ao XXI. O campo de problematização engendrado por esse olhar genealógico facultou pensar a tortura de três modos principais e nem sempre mutuamente exclusivos: a tortura legitimada pelo poder real; a tortura supostamente abolida e efetivamente redistribuída nas sociedades disciplinares; a tortura utilizada como tecnologia biopolítica de governo das condutas - dos regimes ditatoriais aos democráticos -, em que fazer viver e deixar morrer são duas faces de uma mesma moeda.
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Este trabalho procura contextualizar, a partir de uma revisão de literatura, a formação psi em nosso momento histórico, buscando um (re)posicionamento frente a um processo de formação que parece, por vezes, estar iluminado por discursos e práticas ainda atrelados a um tipo de especialismo advindo da filiação dos saberes “psi” às formações disciplinares. Ao longo do enredo, procura apresentar o modo como a Psicologia parece ainda, em alguns aspectos, formar profissionais como meros reprodutores de conceitos e técnicas destituídos de uma reflexão ética, de uma contextualização histórica e de uma atenção aos processos de singularização e subjetivação. Este estudo pretende, assim, contribuir para a busca de uma reflexão sobre a formação do psicólogo que, na atualidade, precisa estar comprometida socialmente com os sujeitos em seus modos singulares de ser, de pensar e de existir.
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O objetivo deste trabalho é examinar as tecnologias de si produzidas por práticas psi, mais especificamente pela introspecção experimental e seus modos de treinamento nos laboratórios do final do século XIX. Para tal objetivo, tomaremos como base o conceito de tecnologias de si desenvolvido por Michel Foucault nos últimos anos de sua vida, na década de 1980. Estas tecnologias são analisáveis em categorias tais como substância, akesis (ou exercícios), práticas de si e telelología, assim como demandam a distinção entre filosofia e espiritualidade. Estas ferramentas conceituais serão utilizadas a fim de detectar técnicas de si nas práticas de laboratório do final do século XIX, especialmente em autores como Helmholtz, Wundt e Titchener. Rumo à conclusão, utilizaremos a Epistemologia Política de Vinciane Despret, para quem essas obras não só apontam para técnicas de si especiais, como servem para problematizar nossos modos de pesquisa atuais.
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Neste artigo colocamos em análise o que denominamos um modo de gestão manicomial da vida. Procedimentos psicológicos e psiquiátricos alongados no social, que vêm operando um pesado e minucioso maquinismo conectando a mídia, o ensino, o lazer, o corpo humano, a indústria da saúde, o Estado. Tidos como naturais e evidentes, tais maquinismos se expandem cada vez mais através de novas instituições e na vida mais comum. O que temos feito com a diferença, o que temos feito com aqueles comportamentos que não se enquadram em contornos normalizantes? Trata-se aqui de abrir alguns destes maquinismos, tidos como tão naturais e evidentes que se expandem cada vez mais em novas instituições e na vida mais comum, problematizando a produção proliferante de seleções, triagens, especialismos e instituições de cuidados.
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Este artigo tem como objetivo conhecer as concepções desenvolvidas sobre o poder na obra do filósofo Gilles Deleuze, para discutir suas perspectivas, com quais enunciados opera e se cria um modelo sobre o poder. Realizamos uma revisão bibliográfica em toda a sua obra, que denominamos cartografia bibliográfica. Constatamos que, para Deleuze, há uma “trindade do poder” em Nietzsche, Espinosa e Foucault. Nietzsche traz um modelo dinâmico entre forças ativas e reativas. Espinosa fornece a discussão da potência articulada aos afetos. Foucault traz uma concepção original sobre o poder como prática, relação e estratégia, e propõe um terceiro vetor, chamado de poder de resistir. Concluímos que é possível extrair um dualismo sobre o poder na obra de Deleuze, numa divisão entre poder e potência.
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Pesquisas empíricas que abordam os videogames utilizam-se, em maior parte, de questionários que estabelecem uma relação direta entre as respostas fornecidas e as condutas gerais do pesquisado. Acreditamos que este tipo de metodologia apresenta um déficit importante no que se refere ao acompanhamento da operatividade dos jogos, por causa de sua especificidade interativa. Neste artigo, propomos que a pesquisa-intervenção com a realização de encontros no formato de oficinas constitui uma metodologia interessante para estudar videogames por permitir observar aspectos processuais. A partir de uma pesquisa que buscou estudar a aprendizagem de sistemas complexos envolvendo os videogames, procuramos acompanhar duas formas de coordenações de ações processuais necessárias à manipulação da tecnologia que ocorriam durante a experiência de jogo e que traduzimos aqui como aprendizagens envolvendo a noção de corpo.
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De acordo com Nietzsche, a música seria um caminho privilegiado para a unificação dos impulsos dionisíacos e apolíneos, pois habita a troca incessante das aparências. Ela nasceu do coro ditirâmbico dionisíaco, tal é a faculdade de unificar os contrários mantendo seus paradoxos. Sendo assim, o presente artigo discute a possibilidade de a música ser um dispositivo a inaugurar novos espaços que harmonizem as relações entre o dentro e o fora, o eu e o mundo, produzindo devires que escapam às capturas dominantes.
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A saudade é um sentimento complexo e de grande interesse para a Psicologia, já que delineia modelos de subjetividade muito particulares. A saudadeimplica um modo de experimentar a vida associado a uma série de padrões de conduta, de maneiras de perceber a realidade e de interpretar os acontecimentos vitais que pode ser analisado a partir de perspectivas muito diversas. Este trabalho parte de uma análise da poesia luso-brasileira comprendida entre 1825 e 1925, com o objetivo de delimitar una redefinição da saudade entendida como categoria psicológica. Para tanto, se abordará a saudadea partir de diversos enfoques.Uma aproximação etimológica, outra de caráter fenomenológico e uma visada histórico-cultural serão alguns dos sulcos abertos através da exploração histórica do próprio conceito de saudade. Deste modo, delineia-se uma observação do sentimento saudosoa partir de uma dimensão ontogenética e filogenética do fenômeno em questão, aprofundando-se nas causas, na origen e nos mecanismos que põem em funcionamento o sentimento saudoso. Paralelamente, serão expostos os traços idiossincráticos e particulares da saudadeem contraste com outros sentimentos afins. Com este estudo pretende-se desmentir algumas teorias que, a partir da Psicologia, sublinham a universalidade, o inatismo ou o determinismo dos sentimentos humanos e, ao mesmo tempo, alcança-se uma explicação da saudade de tipo integrador e coerente con as linhas clássicas da Estética Psicológica de fins do século XIX e começos do XX. O trabalho compõe, além disso, uma forma alternativa de refletir sobre a natureza epistemológica da investigação sobre a História de nossa disciplina.
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O dossiê se compõe da tradução de um texto publicado em outubro/novembro de 1972 na revista La Nef, cuja autoria é atribuída a Foucault e aos membros do G.I.S. (Grupo Informação Saúde), seguida da tradução do manifesto de criação do G.I.S. em 14/05/1972. Os organizadores/tradutores apresentam esses escritos destacando a pouco conhecida participação de Foucault, no início da década de 1970, nas lutas estratégicas no campo da saúde, bem como a singularidade do texto de La Nef, intitulado “Medicina e luta de classes”, quanto a modo de escritura e autoria. Tal apresentação inclui ainda breves considerações analíticas sobre a prática da tradução.Palavras-chave: Foucault, Grupo Informação Saúde, medicina, biopolítica, tradução. RESUMÉ:Le dossier présenté est composé de la traduction d’un article publié en octobre/novembre de 1972 dans La Nef, dont l’auteur est à la fois Michel Foucault et les membres du G.I.S. (Groupe Information Santé), suivie de la traduction du Tract du même groupe. Les traducteurs et résponsables du dossier offrent un petit texte de présentation du dossier en soulignant une activité de Michel Foucault peu connue, sa participation aux luttes stratégiques dans le champ de la santé au début des années 1970, aussi bien que la particularité du texte de La Nef, dont le titre est “Médecine et lutte de classes”, en ce qui concerne son écriture et son(ses) auteur(s). On y trouve encore des brèves remarques analitiques sur l’exercice de la traduction.Mot-clés: Foucault, Groupe Information Santé, médecine, biopolitique, traduction.
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