A sua pesquisa
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Propõe-se uma abordagem genealógica do problema das ambiguidades sexuais, atentando para as relações de poder/saber que vão, ao longo dos séculos XVIII e XIX, conectando a imagem do monstro ao corpo sexualmente ambíguo. Também recorremos ao conceito de abjeto, indicando sua funcionalidade na formação do sujeito e na instalação da diferença sexual enquanto norma. Ao mesmo tempo, seguimos por pequenas ondulações, tensões e desorientações na composição do sistema sexo/gênero, notadamente aquelas sugeridas no manuscrito “Minhas Memórias”, de Herculine Barbin – uma pessoa intersexual que viveu e escreveu no contexto do século XIX europeu. Com Herculine, avançamos por zonas inóspitas, nas quais nos esbarramos com as potências do monstruoso e do abjeto para desnaturalizar a noção de verdadeiro sexo e, também, a própria concepção ontológica do humano.
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Neste estudo investigamos a recepção do filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) na Psicologia Social brasileira a partir da análise dos usos do autor nas publicações da Revista Psicologia & Sociedade (1986-2017), da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO). O corpo documental desta pesquisa histórica foi composto de 90 artigos que citaram nominalmente o autor. Caracterizou-se a produção levantada quanto ao ano de publicação, distribuição geográfica, vinculações institucionais das autorias, temas e delineamentos dos estudos. Foram encontradas citações do filósofo durante todo o recorte temporal estabelecido, sendo a primeira em 1986, e o ano com maior frequência, 2012. Os trabalhos ligam-se majoritariamente a Instituições de Ensino Superior Públicas brasileiras, especialmente das regiões Sudeste e Sul (74,4%). Dos 90 estudos, 54 foram teóricos, e 36, empíricos. Versaram sobre Reflexões conceituais e epistemológicas, Políticas Públicas, Reflexões sobre a Psicologia, Subjetivação, Gênero/Sexualidade/Feminismo, Infância/Adolescência/Juventude, Arte-Política e Outros.
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O texto procura recuperar a experiência vivida na oficina expressiva “Loucura em Cena: O Teatro do Oprimido como ferramenta na saúde mental para encontrar-se com o estranho que habita dentro de nós”, aplicada por graduandos do curso de Psicologia da UERJ, que procurou compreender os diversos afetos envolvidos na vivência dentro da Universidade. O evento “Políticas/Poéticas do Contágio: ensaios de viver entre muitxs”, realizado no dia 31 de outubro de 2019, foi o cenário para o trabalho da oficina terapêutica, através das técnicas do Teatro do Oprimido, desenvolvido por Augusto Boal. Em cena, a arte pode ser percebida como ferramenta para trabalhar afetos e proporcionar uma melhoria na saúde mental.
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Esse artigo tem como base o memorial descritivo escrito por uma estagiária de Psicologia e sua supervisora, ao narrar a experiência de construção de uma produção audiovisual junto a usuários e trabalhadores de um CAPS, com o objetivo de tornar visíveis as forças de resistência que operam contra a exclusão da loucura. O trabalho parte das inquietações frente às inúmeras formas pelas quais a loucura foi e ainda é invisibilizada, mostrando que, apesar de tantas conquistas a partir da Reforma Psiquiátrica, ainda persistem formas de enclausuramento. Utilizamos como método de pesquisa a cartografia. A produção audiovisual é tomada como dispositivo estético, com a função de tornar visíveis e dizíveis as forças de resistência neste CAPS. Diferente de uma Psicologia construída na distância e servindo ao ideal de excluir o louco, buscamos um fazer com os sujeitos, superando fronteiras e manicômios mentais.
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O artigo apresenta desdobramentos da pesquisa de doutorado, na qual foram estudados os encontros entre psicólogos, assistentes sociais e defensores públicos na Defensoria Pública do estado de São Paulo. Utilizando-se da pesquisa-intervenção como estratégia metodológica, acompanharam-se diferentes arranjos organizacionais que possibilitaram se deparar com modalidades diversas de interprofissionalidade. Em diálogo com o pensamento foucaultiano e com a filosofia da diferença, serão apresentadas experiências que sinalizam a emergência das dimensões “entre” e coletivas das práticas na Defensoria Pública paulista. Evidenciou-se que é justamente no front desterritorializado desse inédito combate – dessas outras modulações de encontro – que ganham relevo as forças mais que as formas e fôrmas, a intensidade, ao invés da identidade. Os itinerários de formação acompanhados na pesquisa abriram caminhos para problematizar a noção de campo psi-jurídico como unidade fechada e identitária e para pensar nas interferências que supõem o permanente exercício do entre posições e possibilitam o jogo da diferenciação.
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O presente trabalho intenta apontar um movimento de intercessão entre o pensamento de Friedrich Nietzsche e a atividade clínica. Tal aproximação e troca se justifica tanto em função da singular interpretação do filósofo a respeito do sofrimento e do adoecimento ao longo de sua obra, quanto de sua aproximação da atividade clínica quando este busca diagnosticar e transformar diversos aspectos considerados doentes na modernidade. Apresentou-se uma crítica genealógica da emergência dos valores do modelo clínico da modernidade, buscando identificar expressões da “vontade de verdade” em tal modelo em contraposição ao pensamento de Nietzsche. Propôs-se, então, pesquisar na obra de Nietzsche e de comentadores alguns conceitos, tais como grande razão, grande saúde, eterno retorno, transvaloração de todos os valores e autogenealogia, que corroborassem com a produção de um modelo clínico distante de preconceitos morais. Conclui-se relevante e possível indicar um movimento de intercessão entre o pensamento de Nietzsche e a atividade clínica.
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O presente artigo enfatiza as ligações entre campos aqui considerados distintos e inseparáveis: a estética e a política. Interessa-nos problematizar os múltiplos jogos entre a governamentalidade e alguns modos pictóricos que aparecem entre os séculos XVI e XX. Sabe-se que o regime de poder moderno se faz sob jogos de visibilidade que observam a vida em toda sua minúcia vã. Este gesto político terá como correlato estético a natureza-morta barroca. Mas os encontros entre a política e a arte se dão sob variadas modulações, as quais se fazem também como resistência ao poder na experiência da pintura moderna nos séculos XIX e XX. Parece-nos ser justamente nesta interface estético-política – notadamente quando ela se faz força de criação artística e subjetiva – que é preciso pensar para que não caiamos na imobilidade ética a que o regime de condução das existências no presente pode nos levar.
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Este artigo origina-se de Pesquisa Intervenção realizada em um município do interior paulista cujo objetivo centrou-se em analisar a transição do modelo de atendimento ambulatorial em saúde mental para o dispositivo de Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil (CAPSij). Utilizou-se a Socioanálise enquanto referencial teórico-metodológico. As demais ferramentas de pesquisa envolveram observação participante; entrevista semiestruturada individual; questionário eletrônico e leitura de livro-ata. Os registros das intervenções socioanalíticas foram construídos em diário de pesquisa. A utilização deste referencial teórico-metodológico, bem como as ferramentas de pesquisa, possibilitaram o reconhecimento dos desafios enfrentados pelos trabalhadores no cotidiano do serviço; analisar as dinâmicas relacionais entre os trabalhadores e as instituições que os inscrevem; identificar as potências de uma equipe que busca resistir à precarização do trabalho; e apontar, para a macrogestão, estratégias que intentem contribuir com esta transição a partir dos princípios da universalidade e da integralidade no cuidado.
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Este artigo apresenta um estudo das relações de poder que, historicamente, têm depauperado os modos de vida de todo um grupo populacional. Para tal, partimos da generalização do pauperismo que ocorreu na Europa Ocidental até o final do século XVIII, constituindo de maneira inédita uma população atrelada à vida nas ruas, a qual se buscará administrar por meio de novos mecanismos de governo. Os métodos para gerir a acumulação dos homens permitiram uma decolagem política em relação a formas de poder tradicionais que, interpeladas pelo liberalismo, cederam lugar para o utilitarismo como tecnologia de governo em meio às políticas sociais.
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A partir de tremores consequentes de encontros cotidianos, o presente artigo ensaia uma político-ética da narratividade interessada nas miudezas e delicadezas dos restos, dos rastros de vida ordinária a contradizer memórias e narrativas oficiais. Em agenciamento com a dimensão artística intrínseca a toda forma de produção e atividade humana, inventamos, pela pesquisa e pela escrita, “contidianos”. Nesse texto, desdobramento de pesquisa de mestrado, trazemos um desses contos que tem como mote o costume condenável do uso de drogas, tracejando a história de uma personagem que atualiza a experiência de muitos. A aposta: o cotidiano como território de germinação e afirmação da vida e, assim, de produção de saúde. Entendendo que não há outro mundo, mas outros modos de existir, o caminho foi o de produzir sentidos provisórios e precários, narrar-se para transmutar.
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Este trabalho faz uma análise de uma atividade-intervenção proposta pelo grupo de pesquisa CorpoSSutis, suscitada ao encontrar um cenário de retaliação governamental ao ensino nas universidades públicas. Diante desse contexto, e a partir do engajamento da UFF com outras universidades, nossa proposta surgiu em conjunto com uma série de atividades abertas à comunidade. Um grupo de pesquisa que estuda a formação de um corpo-clínico sensível foi sensibilizado pelo fato de boa parte das pesquisas acadêmicas permanecerem enrijecidas quanto ao diálogo com o fora, entre a população e a produção científica e tecnológica universitária. Ao instaurar a pergunta disparadora “Como Sensibilizar os Corpos para Luta?”, a atividade-intervenção em foco pode despertar conversas sobre possíveis relações entre sensibilidade, luta e coletividade.
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O presente texto recolhe fragmentos de um percurso de pesquisa de pós-doutorado que toma a errância como dispositivo de abertura do corpo à experiência, ensejando ativar regimes sensíveis e práticas de si-mundo capazes de reencantar o corpo e a vida. A arte de Rosana Paulino e Lygia Clark sopra e ressoa as políticas/poéticas de encantamento e rasga a fina membrana colonial, deflagrando estados de corpo transfigurados pelas intensidades que o interpelam, numa expansão de si que ultrapassa a forma individual e conecta humanos e não-humanos numa única teia viva, como ensinam os indígenas.
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Este artigo apresenta um recorte das questões debatidas na dissertação de mestrado “Práticas de militância nômade: experimentações rebeldes e novas estéticas de luta no contemporâneo”. Utilizando-se da experiência de um dos autores no processo de luta pela terra dos povos indígenas Tupinikim-Guarani no Estado do Espírito Santo (2005-2010), o texto objetiva analisar a constituição de formas de resistência problematizadoras das relações de poder instituídas na atualidade. O ato de retomada da terra empreendido por essas etnias e os efeitos que se seguiram na produção e articulação de ações rebeldes são debatidos em meio às fissuras que provocaram nos modos de funcionamento político que tecem a máquina administrativa do Estado, bem como dos próprios movimentos sociais. A emergência de dinâmicas e estéticas de luta dissidentes se expressa nos afrontamentos entre redes de insurgência e contra-insurgência, servindo como analisadores de uma sociedade mundial de controle espraiada por todo o tecido social.
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O estudo parte dos trâmites parlamentares ocorridos entre 2009 e 2013, quando se discutiu a possibilidade de psicólogos intervirem na orientação sexual de sujeitos homossexuais. O trabalho discute atravessamentos morais religiosos no campo da psicologia e na esfera da política republicana, propondo uma narrativa histórica das intervenções médicas e psicológicas sobre a homossexualidade no Brasil, com recorte no período 1930-1940. Argumenta-se que essa disputa no campo psi evidencia dispositivos de controle sobre os modos de existência contra-hegemônicos, que reatualizam lógicas de funcionamento dos saberes psiquiátrico e criminológico do início do século XX. Conclui-se que as tentativas de captura da psicologia, enquanto saber-poder posto a serviço da repatologização da homossexualidade explicitam um projeto de poder mais abrangente, cujas tecnologias estão relacionadas ao exercício do poder pastoral.
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O artigo trata do evento “Políticas e Poéticas do Contágio: ensaios de viver entre muitxs”, assim como de suas reverberações. Organizado pelas professoras Adriana Rosa (UFF), Alice De Marchi (UERJ) e xs integrantes do estágio “Psicologia e Direitos Humanos: transversalizando práticas” – supervisionado por esta última –, foi realizado entre outubro e novembro de 2019. O encontro foi uma aposta na encruzilhada entre Psicologia, Arte, Política e Subjetividade como dispositivo para nos aproximarmos da multiplicidade como modo de vida. Através de oficinas e rodas de conversa, tematizou a arte de criar e sustentar formas de viver outras e a política como exercício a partir da diferença. Compreendemos o encontro e o contágio como meios de invenção de si e de mundos, para juntxs ensaiarmos modos de viver entre muitxs. Aqui, narramos, através de cartas trocadas, como foi experienciar esses dois dias de evento, bem como de que forma este ainda ressoa em nós.
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Este trabalho tem por finalidade relatar e analisar a atividade desenvolvida na forma de oficina durante o evento de extensão universitária “Políticas/poéticas de contágio: ensaio de viver entre muitxs”, organizado pelo Instituto de Psicologia da UERJ. A Oficina Poética do Corpo teve o intuito de abrir caminhos para o desenvolvimento da consciência de si e do outro, potencializando o ato de criação na forma de vivências práticas, funcionando como uma poética do encontro. Dessa forma, serão relatados os passos para a execução do projeto que culminou em uma rica experiência transdisciplinar na forma de oficina livre, com caráter essencialmente prático, utilizando conceitos relacionados a experiência, corpo, jogo e afeto que foram explanados na forma de ações sensíveis e lúdicas a partir da investigação de narrativas corpóreas, desvelando afetos com alunos de diferentes áreas de conhecimento e de diferentes instituições de ensino.
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A expressão psicologia francófona designa uma série de saberes e práticas psicológicas que foram desenvolvidas em países cujo idioma principal é o francês, ou por autores que desenvolveram suas ideias neste idioma. Sua conceituação, apesar de bastante ampla, agrupa muitos atores que foram relevantes para a constituição da psicologia no Brasil, através de diversos meios. Contata-se, contudo, que poucos materiais em português foram publicados no Brasil após os anos 1950 sobre vários dos atores da psicologia francófona, de modo que permanecem, em diferentes graus, desconhecidos dos profissionais da psicologia e, muitas vezes, até mesmo dos historiadores. Este trabalho pretende auxiliar no preenchimento desta lacuna ao elaborar biografias de cinco autores francófonos do final do século XIX, importantes para a compreensão da psicologia brasileira: Paul Janet, Théodule Ribot, Henri Beaunis, Alfred Binet e Pierre Janet. Conclui-se que o conceito geral é bastante plural, de modo que as recepções e apropriações destes atores no Brasil ainda estão por ser melhor analisados.
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Este artigo discute a noção de experiência nas publicações sobre a estratégia da Gestão Autônoma da Medicação no Brasil, no período de 2009 a 2018. É fruto de uma análise documental de dados secundários, em que foram material prioritário de análise os artigos publicados no período. São interlocutores destas análises Walter Benjamin, Giorgio Agamben e Jorge Larrosa. Apresentamos os diferentes empregos que a noção de experiência ganha nos textos, com ênfase para a diferença entre dois campos semânticos: o primeiro, onde ela vai significar aquilo que o sujeito vive ou experimenta; e o segundo, o qual entendemos mais forte e relevante para o campo da saúde mental, onde ela vai significar aquilo que resta da travessia de um perigo. Nosso mergulho nessas publicações nos permitiu afirmar que a GAM tem se constituído como uma experiência nesse segundo sentido para seus participantes, sejam eles usuários, familiares, trabalhadores ou pesquisadores.
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O tempo histórico manifesta o trabalho de elaboração dos grupos humanos na construção de diferentes objetos sociais que constituem a vida social. A partir do objetivo de se refletir sobre as representações sociais de ciganos entre não-ciganos, participaram do estudo 319 sujeitos, com idades entre 17 e 54 anos. A coleta dos dados foi realizada por meio da aplicação de questionários e o tratamento dos dados foi conduzido por intermédio da análise fatorial de correspondência, análise de cluster, análise de conteúdo categorial-temática e teste qui-quadrado. Nos resultados, foram identificadas três diferentes representações sociais sobre os ciganos a partir da imagem da cigana vidente, de uma cultura de liberdade e como indesejáveis, associadas a justificativas centradas na experiência do sujeito, em explicações endógenas ao grupo e comparativas entre ciganos e não-ciganos. Essa configuração orientou o debate sobre a produção de significados de densidade social a partir da ancoragem histórica.
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