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Este artigo é resultado de pesquisa realizada com adolescentes do sexo masculino internados em uma unidade do Departamento Geral de Ações Socioeducativas - DEGASE. O objetivo é saber como os participantes percebem a possibilidade da visita íntima, em decorrência da lei 12.594 /2012. Um dos princípios que a sustenta é a convivência familiar e a continuidade do vínculo entre o casal. Nossa questão inicial é a de que a visita íntima, enquanto dispositivo, possa colocar em evidência questões relacionadas à sexualidade e ao corpo do adolescente que, historicamente, foram instituídos a partir de certa subjetividade, a do “menor” infrator. Apesar de o Estatuto da Criança e do Adolescente trazer o principio da Proteção Integral, ainda prevalecem discursos e práticas fundadas na Situação Irregular do Código de Menores. A metodologia é a pesquisa-intervenção, dentro do arcabouço da Análise Institucional. O Diário de Campo auxiliou na discussão sobre os efeitos da institucionalização nas subjetividades dos adolescentes privados de liberdade.
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Este artigo tem como objetivo cartografar a noção de corpo encarcerado na obra de Antonin Artaud, para discutir os processos de captura, bem como o permanente estado de encarceramento do corpo. Realizamos uma cartografia bibliográfica em toda a obra do autor, publicada em espanhol e português. Verificamos que, para Artaud, existem três estratos propulsores do processo de encarceramento do corpo: um primeiro que abarca a ideia de uma consciência/razão sobrepondo-se ao corpo, um segundo que menciona a existência de uma alma/espírito condenando as potencialidades do corpo, e um terceiro que trata da luta corpo x organismo. Concluímos que, para Artaud, o corpo encarcerado é aquele que abriu mão das forças intensivas para ligar-se aos discursos que contornam o dualismo cartesiano e metafísico/religioso.
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Desenvolvido entre o final do século XIX e as duas primeiras décadas do século XX, o projeto de psicologia de Titchener é ainda hoje mal interpretado. Apesar de suas contribuições ao desenvolvimento da psicologia experimental nos EUA, suas ideias foram gradativamente abandonadas após sua morte e seu sistema tornou-se vítima de interpretações parciais, que ignoram aspectos importantes de sua trajetória intelectual. Duas questões centrais sobressaem neste cenário: a relação entre as concepções de Titchener e o empiriocriticismo, e as mudanças em seu projeto psicológico. Partindo da hipótese de que a psicologia de Titchener refletiu as transformações em sua perspectiva filosófica, o presente estudo procurou oferecer, com base em fontes primárias inéditas, uma interpretação abrangente do percurso intelectual do autor, elucidando aspectos até aqui não esclarecidos e que permanecem mal compreendidos na literatura secundária. Para tanto, o trabalho foi dividido em 4 capítulos. Após apresentação do problema e dos procedimentos adotados na pesquisa, que ocupam a introdução, o capítulo 1 trata do contexto formativo de Titchener em Oxford e em Leipzig, com especial atenção para o cenário institucional e intelectual britânico, que exerceu significativa influência sobre o autor. O capítulo 2 apresenta as características da concepção inicial de psicologia de Titchener, identificando a influência de suas convicções originais sobre questões centrais de sua proposta. O capítulo 3 discute a consolidação de seu projeto de psicologia, apresentando o reposicionamento de Titchener em relação à filosofia e seus novos pressupostos. O capítulo 4 trata do desenvolvimento tardio de sua obra e das reinterpretações apresentadas pelo autor em seu projeto. Na conclusão, é retomada a trajetória do projeto de psicologia de Titchener face às questões centrais do estudo e algumas considerações gerais sobre a natureza do seu trabalho são apresentadas.
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A questão da causalidade permeia os fundamentos das ciências. Em particular, a questão da causalidade psíquica subjaz os fundamentos das diversas abordagens da psicologia atual, ainda que não seja explicitada ou mesmo reconhecida. Recorrer a essa temática pode ajudar a esclarecer questões de cunho epistemológico que delineiam a psicologia científica. Nesse sentido, o objetivo do trabalho é apresentar a concepção de causalidade psíquica presente na obra de Edith Stein (1891-1942), Causalidade Psíquica (2010). Foi utilizado o método de investigação histórica. A autora apresentara críticas à psicologia experimental emergente, que se submetia ao reducionismo psicologista e naturalista ao separar-se da filosofia. Edith Stein defendeu a possibilidade de uma psicologia científica sustentada pela definição (fenomenológica) de pessoa humana. Sua compreensão acerca da causalidade psíquica enquadra a distinção entre as vivências imanentes e as vivências intencionais do fluxo de consciência. Stein diferencia o âmbito dos acontecimentos causais determinísticos daqueles âmbitos das relações de motivação que não são submetidas a conexões deterministas. Conclui-se que somente uma elaboração filosófica rigorosa dos diversos tipos de legalidade às quais o fenômeno psíquico está submetido pode fornecer à Psicologia uma fundamentação válida e autonomia no diálogo com as demais ciências naturais ou culturais.
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O artigo apresenta um conjunto de discussões sobre as relações entre educação para a paz e psicologia elaboradas, ao final da década de 1920, por pesquisadores ligados ao Instituto Jean-Jacques Rousseau/Suíça. A partir do método descritivo-analítico, destacamos as teorias e técnicas levantadas ao longo da conferência A paz pela escola realizada em 1927 pelo Bureau Internacional de Educação, órgão ligado ao Instituto. Demonstramos como os conferencistas desse encontro conceberam a Psicologia como uma ciência central nas propostas de pedagogia pacificadora. Destacamos as concepções de Pierre Bovet sobre os instintos combativos e sociais, teoria psicológica que pretendia orientar o trabalho dos educadores que visavam a um ideal pacifista. Concebemos esse movimento como um projeto civilizatório, fundamentado, sobretudo, no conhecimento científico do ser humano. Para Pierre Bovet, a educação moral, social e religiosa deveria ser os três pilares da pedagogia pacificadora, contrapondo-se a outros cientistas da época, como Jean Piaget.
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William James é uma figura central na história da psicologia e da filosofia. Entretanto, a interpretação de sua obra ainda está repleta de lacunas e mal-entendidos. Por exemplo, a extensão e o sentido do seu projeto psicológico permanecem mal compreendidos. Para muitos autores, James teria abandonado a psicologia após The Principles of Psychology (1890), ao passo que outros entendem o The Varieties of Religious Experience (1902) como obra psicológica. O objetivo deste artigo é explorar a questão da evolução do projeto psicológico de James, acompanhando diversos momentos de sua manifestação ao longo de sua carreira. Ao final, vamos defender aquilo que chamamos de tese da pervasividade, segundo a qual a psicologia está presente em toda a obra de James.
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Este trabalho tem por objetivo apresentar as Clínicas de Orientação infanto-juvenis existentes na cidade do Rio de Janeiro no período situado entre as décadas de 1940 e 1960, a saber: a) COJ/DNCr; b) COI/SNDM; c) COI/IPUB. Por meio de pesquisa documental e entrevistas, constatamos a importância das clínicas de orientação no processo de constituição da Psicologia como um campo autônomo no Brasil, a partir de sua articulação com ideais preventivistas dirigidos à infância, influenciados pelo higienismo. Por fim, destacamos o protagonismo da atuação feminina neste período de gênese da profissão de psicólogo no Brasil.
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O Instituto Pestalozzi foi fundado em Belo Horizonte, MG, em 1935, como uma escola para crianças com deficiência intelectual. Esta pesquisa teve como objetivo investigar como era realizado o atendimento à criança excepcional nessa instituição durante a década de 1940. Utilizando como referencial a historiografia da psicologia, foram analisados 33 prontuários de crianças atendidas no Instituto no período em questão. Esses documentos revelaram que as crianças passavam por uma avaliação médica, psicológica e educacional. A avaliação psicológica incluía a aplicação de testes de inteligência e, geralmente, identificava um QI abaixo da média. Os prontuários indicam também as recomendações de tratamento que eram feitas aos pacientes, bem como sua evolução escolar. Observa-se que o Instituto Pestalozzi exerceu importante papel na educação da criança excepcional em um período histórico em que era comum seu alijamento do sistema público de ensino.
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A inclusão de pessoas com deficiência nas escolas regulares tem sido constantemente tematizada em eventos internacionais e também na legislação brasileira desde a década de 1990. Para que essa inclusão se dê de forma satisfatória, é imprescindível a participação ativa e bem informada dos professores. Uma série de estudos desenvolvidos nos últimos anos coloca em evidência como os professores têm pensado e agido com relação à educação especial, na perspectiva da educação inclusiva. Este artigo apresenta o relato de uma experiência na capacitação de professoras para a educação inclusiva e para a educação especial, enfocando as estratégias adotadas por essas profissionais para ensinar, nas classes regulares, alunos com deficiências. Foram identificadas três grandes categorias nas quais essas estratégias podem ser localizadas: busca de informações em fontes diversas, como internet, livros e cursos; busca de apoio nos serviços de Atendimento Educacional Especializados, oferecidos pelas prefeituras municipais; e apresentação de um olhar diferenciado para o aluno com deficiência, na tentativa de entender suas potencialidades e limitações. Nesta última categoria, ressaltou-se como esse olhar está sujeito ao atravessamento dos laudos, que nomeiam a(s) causa(s) da(s) dificuldades apresentadas por esses alunos. Além dessas categorias, percebeu-se que as professoras estão constantemente avaliando sua própria atuação e enfatizam as dificuldades encontradas na educação dos alunos com deficiências, atribuindo-as, sobretudo, à falta de preparação para atuar na educação inclusiva e na educação especial.
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The mind-brain problem (MBP) is a persistent challenge in philosophy and science, having marked implications for psychiatry. In this paper, we claim that physicalism, a kind of theoretical monism, is usually taken by many psychiatrists as the only possible solution to the MBP, and argue that this may have negative consequences for the field. Not only does it restrict the psychiatric training, thereby preventing professionals from considering and reflecting upon different perspectives on the MBP, but it also leads clinical psychiatrists to ignore alternatives in their research agendas and clinical care. We suggest, therefore, that, as long as the MBP remains open and disputed by divergent views, theoretical monism should give place to theoretical pluralism in psychiatry.
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O presente artigo decorre de pesquisa cuja temática foi a história do curso de Psicologia de Lorena, no Estado de São Paulo. A narrativa histórica do curso foi construída por meio de fontes documentais e iconográficas, com destaque para as fotografias, recortes de revistas, jornais da época, documentos oficiais e não oficiais, além de entrevistas narrativas com pessoas que fizeram parte da constituição desse curso. O objeto deste artigo é o Laboratório de Psicologia Experimental, visando demonstrar sua importância, em um primeiro momento, para a formação de educadores salesianos e, na década seguinte, para a criação do curso de Psicologia na Faculdade Salesiana. Apresentamos, inicialmente, a história dos salesianos, detendo-nos mais em sua chegada a Lorena, com a fundação do Colégio São Joaquim, e, mais especialmente, do Laboratório de Psicologia Experimental. Conclui-se que os salesianos, em busca de uma formação mais qualificada para seus padres docentes, encontraram, na psicologia experimental e na psicometria, uma forma de garantir a base científica para sua prática pedagógica. Alguns desses padres se interessaram pela psicologia e dedicaram suas vidas a essa ciência, fazendo pesquisas, ensinando, debatendo, formando novos profissionais e prestando serviços à região.Palavras-chave: Psicologia científica. Sistema salesiano de educação. Formação dos profissionais da educação.
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O presente texto tem o objetivo apresentar as relações entre a personagem literária e o acontecimento. A partir de estudos inspirados em pensadores, como Nietzsche, Blanchot, Deleuze e Barthes, traçamos reflexões sobre três personagens distintas: a personagem conceitual, a personagem histórica e a personagem original ou literária. A personagem histórica foi associada à figura autoral em sua relação com a captura da experiência e a organização do discurso. A personagem conceitual está atrelada à trama dos conceitos na constituição da obra filosófica. Já a personagem original ou literária foi aproximada ao conceito de acontecimento para entendermos seu papel na experiência literária.
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O objetivo deste artigo é traçar uma linha através de alguns textos de Blanchot, recolhendo num todo coerente os variados temas relacionando literatura e revolução. Deparamo-nos em seus textos com passagens nas quais faz menção ao Terror, auge da Revolução Francesa, referindo-se a ela, em concordância com a interpretação hegeliana, como um obrar da morte, custo da liberdade absoluta. A relação entre literatura e revolução pode ser dividida em três momentos: em relação ao imaginário e a negatividade; em relação ao valor e a palavra inútil; em relação ao caráter fragmentário da literatura. O imaginário é a passagem, sem as mediações do tempo, do nada ao tudo, assim como a revolução inverte o regime político vigente. Para Blanchot, a literatura é um valor que não se avalia, o que exige uma forma de afirmação que supere a noção de valor, indo ao encontro do surrealismo como estética revolucionária.
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Há 60 anos, aos 60 anos, em 3 de novembro de 1957, parou de bater o coração de um homem que amei profundamente, embora eu tenha nascido 6 anos após a sua morte...
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O objetivo deste artigo é a análise da dinâmica retórica e dos conteúdos propostos num sermão proferido por Padre Antônio Vieira aos escravos de um engenho da região da Plataforma do Recôncavo Baiano pertencentes à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, em 1633, sendo o primeiro sermão pregado pelo jesuíta. Para isso, a História dos Saberes Psicológicos é utilizada como referencial teórico para interpretação após o processo de escolha das imagens a serem analisadas. O sermão discute a questão do bem-comum para os escravos, utilizando-se de elementos clássicos da retórica como a composição de imagens, visando a construção de argumentos persuasivos. A análise aprofunda o uso das imagens no que diz respeito ao seu efeito mobilizador do dinamismo psíquico dos ouvintes e a decorrente força persuasiva no que diz respeito aos argumentos propostos.
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Ao modo de ensaio científico-mito-poético, que deve ser lido literalmente, narra-se a emergência, em um tempo não cronológico, da visão de um filósofo, por meio de uma bio-bibliografia de seu próprio aprendizado, utilizando-se de fragmentos de uma memória intensiva, sub-representativa, ígnea. Para tanto, inspira-se no próprio estilo dos autores citados, que se tornam, por sua vez, personagens conceituais e figuras estéticas que escrevem uma constelação de ideias que prima por diferentes maneiras de se orientar no pensamento. Ao final, tais direções e linhas diferenciais convergem na própria intuição filosófica do vidente-narrador, ao modo de uma memória e profecia impessoal e singular.
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Como podemos pensar a relação entre noções do domínio da subjetividade, que se apresentam como irrefutavelmente constituídas cientificamente, e suas versões em um outro campo, de constituição diversa, que chamamos de “literário”? Tendo este questionamento como princípio norteador dos meus trabalhos nos últimos anos, este texto procura desenvolver a noção de “estranhamento emocional circunstancial”, criada por mim para matizar as limitadoras classificações nosológicas e cientificistas. Para tal, utilizo a correspondência entre Mario de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa procurando evidenciar como estas narrativas expressam esta noção evidenciando a forma pela qual o campo literário se apresenta como cenário de lutas íntimas, travadas em torno das emoções, fundamentais para a Psicologia, e que ganham forma e estatuto diverso no campo da ciência, em particular no da Psiquiatria. A correspondência trocada entre Mario de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa ganha sentido ao desvelar esta dupla relação, pois evidencia o paradoxo das emoções numa época em que expor-se, mesmo intimamente, não era parte das pretensões destes autores, mas que tornou-se uma tendência na atualidade. Este campo tem profundo interesse para a Psicologia, especialmente àquele vinculado ao Existencialismo de Jean-Paul Sartre, pensamento com o qual tenho grandes afinidades em minhas reflexões. O texto também coloca em cena as noções de saudade e melancolia, pois nelas encontramos também indícios que auxiliam a compor o que chamei de estranhamento emocional circunstancial.
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