A sua pesquisa
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René Descartes é nome bem conhecido em qualquer manual de história da ciência e, mais especificamente, da psicologia. Seu nome, contudo, costuma ser associado ao malogro enfrentado por algumas ciências a partir do advento da modernidade, no que tange ao seu bem conhecido dualismo mente-corpo. Mediante o emprego de alguns conceitos historiográficos, adotados pelo pesquisador estadunidense E. G. Boring, este trabalho busca compreender certos aspectos que podem ter conduzido a uma imagem depreciativa de seu legado. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica dos principais trabalhos de Boring e de Descartes, auxiliada por outras fontes e autores que versam direta ou indiretamente sobre o tema. A tradição historiográfica representada por Boring permite vislumbrar o pensamento cartesiano à luz de um clima intelectual que marca uma transição de épocas. Sob esta perspectiva, a imagem que se obtém do filósofo seiscentista vai além daquela que parece ter-se cristalizado sob a forma de um “epônimo”.
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O artigo analisa os registros disciplinares em relação aos povos indígenas, conforme descritos no Relatório Figueiredo, considerando o controle étnico-social exercido durante o período da ditadura militar no Brasil. Nesse sentido, sua possibilidade decorre do trabalho do eixo indígena da Comissão Nacional da Verdade que identificou um conjunto de documentos, dados como desaparecidos desde a década de sessenta. Tais documentos, denominados Relatório Figueiredo, tratam da apuração realizada por uma Comissão de Inquérito sobre as denúncias dos crimes praticados pelo próprio Serviço de Proteção aos Índios contra a população indígena. A opção teórico-metodológica tem como base a genealogia de Foucault, assim como seus postulados acerca de práticas disciplinares. Utilizando-se do Relatório como fonte documental, o artigo identifica as práticas disciplinares utilizadas contra os índios no período da ditadura de 1964 a 1985, evidenciando como o corpo do índio foi atingido pelo poder, enquanto estratégia de controle.
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Tendo como palco de análises um conselho tutelar do estado do Rio de Janeiro, problematizamos neste artigo alguns efeitos e produções de escuta de atores que habitam esse estabelecimento. Tomamos como referencial teórico as contribuições de Foucault, Deleuze, Guattari e Derrida no que se refere, prioritariamente, às práticas discursivas e às relações de poder. O corpus da pesquisa foram diários de campo de estagiárias de psicologia escolhidos e disponibilizados pelas autoras. A partir do encontro com o material cedido, o grupo de pesquisa foi se afetando com as narrativas ali relatadas e construindo histórias aqui apresentadas como situações analisadoras. Histórias e discursos que, norteados pela escuta surda ou pela escuta experimentação, produzem acolhimento, exclusão, normatização, sujeitos essencializados ou não.
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Tradução de BROSSAT, A. Boîte à outils ou supermarché d’idées ?. In: BERT, J.-F. & LAMY, J. Michel Foucault: un héritage critique. Paris: CNRS, 2014, p. 263-267. Tradutor: Alessandro Francisco.
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Trata-se de um ensaio crítico que, forma geral, propõe reflexões acerca das relações entre ideologia, marketing, desejo e subjetivação em contextos de reestruturação produtiva do capital. Defende-se a relevância acadêmica e social do debate permanente sobre mudanças nas formas de organização da economia e gestão do trabalho e de como essas transformações geram sofrimento psíquico para os trabalhadores e impacto nas formas de embate entre capital e trabalho. Argumenta-se da premência de se pôr em pauta, no cerne dos debates em psicologia crítica, as relações entre as categorias trabalho e subjetividade. Evidencia-se a dialética do processo de alienação e analisa-se o processo de produção de consciência alienada que se dá por intermédio dos meios de comunicação. Expõe-se, além de operações de subjetivação explícitas na propaganda de produtos e serviços, algumas armadilhas semânticas exploradas pelo marketing que se embute e se dissimula no jornalismo, sobretudo o televisivo, em tempos de impeachment.
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Este texto é um biografema – biografia inventada e fragmentária –, sem compromisso com dados e fatos comprováveis pelos grandes arquivos. É inspirado na vida de Ângelo, apenado do Presídio Central de Porto Alegre, que escreve cartas a amigos e familiares. “O açougueiro” cria uma insólita realidade em que a escrita é performatizada como ato de testemunhar, dando luz a um passado que não está nos arquivos, mas no ato de retirar de sua poeira esquecida o que insiste.
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O artigo aborda a discussão ocorrida em instituições educacionais da Companhia de Jesus sobre a função da psicologia no currículo de estudos, nas primeiras décadas do século XX na Europa. O estudo baseia-se num levantamento histórico de fontes inéditas no arquivo geral da Companhia de Jesus em Roma. A análise dos dados levantados evidencia que um dos temas mais debatidos é aquele das relações entre psicologia experimental e psicologia racional. Os resultados apontam que esta discussão é perpassada pela tensão entre tradição e inovação, que caracteriza a posição intelectual da Companhia como um todo; e pelo critério jesuíta da acomodação (acomodatio), ou seja, a necessidade da adequação ao contexto espaço-temporal de atuação. Mostram também que foi grande o interesse pela psicologia experimental no âmbito da Companhia naquele período histórico.
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Este ensaio problematiza as políticas de enclausuramento e docilização que orientam as comunidades terapêuticas voltadas ao pretenso tratamento de pessoas que usam substâncias psicoativas consideradas drogas pelo Estado. Adota como analisador o modelo terapêutico utilizado pela maior rede de comunidades terapêuticas do Brasil, a Fazenda da Esperança. As reflexões são tecidas em uma conversa com aportes teóricos antimanicomiais e da análise institucional. Argumenta-se pela importância de terapêuticas que potencializam, em contraposição às práticas de confinamento e docilização, as quais cada vez mais se fortalecem como modelos norteadores das políticas sobre drogas, no Brasil.
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Este artigo é fruto de uma investigação empírica acerca das modulações biopolíticas da amizade. A partir do estudo de alguns conceitos, como o de enunciado, sociedade de controle, biopoder, vida como obra de arte, episteme moderna e capitalismo como produtor de subjetividade, Michel Foucault, Gilles Deleuze e outros autores conduziram a uma busca metodológica pelo socius atenta a discursos pretensamente verdadeiros, que estabelecem vínculos específicos entre amizade, saúde e capital. “O que as amizades fazem do presente e o que o presente faz das amizades?” foi a pergunta que norteou o processo de escrita. Buscou-se problematizar os enunciados dirigidos à mesma, engendrados na sutileza do capitalismo contemporâneo que, reprodutores de certas relações entre saber e poder, concretizam e espraiam determinados modos de existência, em detrimento de outros possíveis. O artigo caminha, pois, na direção de uma aposta ética no posicionamento inventivo pela criação de amizades e de mundos.
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O presente artigo tem por objetivo contribuir com discussões contemporâneas sobre os assombros cotidianos ligados, sobretudo, às práticas golpistas em curso no cenário brasileiro, culminando, até o momento, fevereiro de 2018, na criação de um Decreto federal que trata da intervenção militar na segurança pública no RJ e que comporta muitos perigos. Para tanto, servindo-se de conceitos nietzschianos como niilismo, genealogia, meio dia, dentre outros, buscará aproximar esses conceitos do modo de subjetivação em curso e da herança, em nós e na sociedade, de práticas silenciadoras da potência de diferir, bem como percorrerá os movimentos que apontam para a possibilidade de sua reversão.
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Este artigo apresenta um estudo das relações de poder que, historicamente, têm destituído a vida na rua de sua força de existir, produzindo-a como algo da ordem do indigno. Atentamos assim para transformações radicais de práticas políticas e econômicas que se instalaram nas sociedades ocidentais por volta do século XV, favorecendo a emergência de uma população forjada sob o signo do pauperismo e que passará, de forma majoritária, a fazer das ruas espaço de moradia e de sustento. Na caracterização desta passagem, partimos de Marx e das práticas de acumulação primitiva a fim de pensar a noção de pauperismo que irá se generalizar pela Europa Ocidental até o século XVIII, fazendo aparecer as ruas como atreladas a uma população miserável que se deve administrar. Neste ponto, veremos com Foucault como conjuntos de técnicas e procedimentos destinados a governar essa população começam a assumir contornos e a despontar no horizonte.
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Tradução de RATCLIFF, Marc J. Raccourci analogique et reconstruction microhistorique. Les origines du laboratoire de psychologie expérimentale de Genève en 1892. Em: CHAMBOST, Anne-Sophie. Revue d’histoire des sciences humaines, n.29, 2016. Tradutor: André Elias Morelli Ribeiro, Universidade Federal do Amapá.
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O objetivo deste artigo é passar em revista os principais argumentos do ensaio Ideias sobre uma psicologia descritiva e analítica (1894) de W. Dilthey. Isso para, em seguida, tecer alguns comentários sobre o porquê de o programa diltheyano não ter, na prática, feito ecos na história da psicologia moderna. Na contramão do que chamou de modelo explicativo e construtivo da psicologia, Dilthey tentou fundamentar detalhadamente, no ensaio em questão, todo um programa epistemológico e metodológico alternativo para a emergente psicologia científica. Programa esse cujo princípio fundamental era o mesmo do da sua Introdução às ciências humanas (1883): demonstrar a improficuidade, o grande erro de ponto de partida, que seria tentar importar para as ciências humanas nascentes - sem toda uma acurada reformulação no modo de olhar para o seu objeto – o mesmo modelo praticado pelas ciências da natureza. Porque, se esse fosse aplicado sem crítica ao estudo do fenômeno humano, desvivificaria o seu objeto. Dilthey concluiu que o estudo da psicologia, para não reduzir o seu objeto e ao mesmo tempo não perder a objetividade, deveria ser descritivo e analítico e proceder segundo o método histórico (e não segundo uma míope psicofisiologia proveniente das ciências da natureza). Este programa – cuja sistematicidade bem acabada teoricamente justificaria a formação de uma escola – parece não ter prosperado no âmbito das formações do psicólogo ao redor do mundo contemporâneo porque seu método levou a psicologia para longe do âmbito da técnica e da aplicação. Isso talvez deflagre o quão, para impor-se e “sobreviver” no social, a difusa e sem unidade ciência psicológica tenha sempre dependido, mais do que de teorias bem acabadas que enfeixem luz em alguma coisa, das suas modalidades de intervenção. Enquanto as Ideias diltheyanas restaram “esquecidas” (ou restritas às faculdades de filosofia), foram as psicologias “destinadas a fornecer um conhecimento útil para a previsão e controle dos eventos psíquicos e comportamentais” aquelas que efetivamente colonizaram os sistemas teóricos e, sobretudo, as práticas das psicologias europeias e norte-americanas da primeira metade do século XX.
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Este trabalho acompanha os questionamentos iniciais de uma pesquisa de mestrado que buscou analisar a produção de autonomia dos usuários da saúde mental a partir da participação política no Movimento da Luta Antimanicomial. Contudo, as diferentes visibilidades do conceito de autonomia trouxeram complexidades aos caminhos da pesquisa, tornando necessária a criação de um mapa conceitual capaz de guiar de modo ético as investigações realizadas. A discussão Ética produzida por Spinoza permitiu a criação de um mapa conceitual, ainda que provisório, capaz de guiar as subsequentes investigações em torno da participação política e os desdobramentos na vida de sujeitos afastados desses espaços por preconceitos e estereótipos acerca do enlouquecimento.
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Este artigo aborda alguns conceitos do materialismo filosófico de Lucrécio, tais como o de “caos laminar”, “caos nuvem” e “clinâmen”, assim como apresentados por Michel Serres, buscando ressaltar as potências não-determinísticas, inventivas ou ficcionais presentes no primeiro materialismo e que foram sobrepujadas no materialismo-dialético por um idealismo tomado de empréstimo do cientificismo do século XIX. Esse resgate de uma visão vitalista do materialismo busca extrair apontamentos éticos, políticos e metodológicos para reverter a sobredeterminação epistêmica dos modos da racionalidade econômica hegemônica calcada na previsão, no controle e na conservação da matéria. Um materialismo, tal qual o de Lucrécio, que não precisa corresponder a leis transcendentes e que é capaz de acolher o incerto e o imprevisível, enseja para o campo da ciência ontologias poiéticas; para o campo da filosofia, epistemologias não representativas e para o campo da política, revoluções do sensível. Em outras palavras, num materialismo que propomos chamar de “ficcional”, ciência, filosofia e política se distinguem, mas não se separam.
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O artigo parte de um projeto de formação inventiva de professores apoiado nos trabalhos de Gilles Deleuze. Tal característica permite distanciar esse projeto de abordagens outras, recognitivas e capacitadoras, aproximando-o, outrossim, do tema da invenção. Para fortalecer esse modo de pensamento e ação, Proust e os signos, livro de Deleuze, é trazido centralmente à cena, dando ênfase à correlação entre encontro, signo e pensamento. Narrativas e trechos dos diários de campo de alguns participantes do projeto são apresentados, no intuito de ligar o acaso do encontro (que força a pensar) e a necessidade do pensamento (que só ocorre se a tanto forçado). A efetiva vinculação entre universidade e escola básica é também enfatizada, com vistas à construção de perspectivas problematizadoras da formação de professores, indispensáveis no presente, um tempo de ‘escola sem...’.
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Apesar de pouco enfatizado na historiografia da psicologia, o século XVIII apresenta uma imensa riqueza de discussões fundamentais para a psicologia. Esse é o caso da obra principal de Tetens, Philosophische versuche über die menschliche natur und ihre entwickelung (1777). O objetivo do presente artigo é descrever as principais características do objeto e do método de investigação psicológica nessa obra. Em nossa análise, verificamos que, embora seja uma disciplina filosófica, a psicologia é um campo específico de conhecimento que se baseia no auto-sentimento. Além disso, apontamos algumas evidências textuais para sustentar a tese de que a psicologia empírica é, segundo Tetens, propedêutica à metafísica.
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A educação escolar se estabeleceu como uma importante porta de entrada da psicologia científica no Brasil. Marcada pelo intuito de atribuir caráter científico ao processo ensino-aprendizagem, os testes de inteligência ocuparam um lugar central neste processo. Nosso objetivo foi analisar o processo de recepção/circulação dos testes de inteligência no Brasil, a partir da experiência da Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais. Desta forma, analisamos as alterações/adaptações a que foram submetidos os testes estrangeiros quando do início de sua utilização nas escolas mineiras, tomando como referência dois testes: o Teste de Dearborn e o Teste de Vocabulário e Inteligência do Dr. Simon. Produzidos, respectivamente, nos Estados Unidos e na França, foram adaptados às necessidades locais de utilização dos instrumentos. Buscamos mostrar como o contexto político-social local influenciou nas alterações de formato e modos de aplicação dos testes. Pudemos concluir que não se tratou, portanto, de um processo de mera tradução e adaptação às crianças da cidade e do estado. Foi possível demonstrar que o trabalho de apropriação dos dois testes analisados influenciou a elaboração de novos instrumentos que atendessem as necessidades locais.
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El artículo describe el estado actual de la formación en historia de la psicología en Chile, focalizando el análisis en dieciocho programas de cursos de historia de la psicología y otros equivalentes dictados en el país. Los resultados indican que el campo se ha ampliado y fortalecido institucionalmente, siguiendo la tendencia observada en otros países como Argentina y Brasil. Con relación a los cursos de historia de la psicología, en Chile estos siguen teniendo presencia en la mayoría de las mallas curriculares de pregrado, representando una oportunidad para el desarrollo del pensamiento crítico de psicólogo/as que deben enfrentarse a contextos de creciente complejidad. Sin embargo, se observa que en la enseñanza de la historia de la psicología persisten los enfoques historiográficos tradicionales. El artículo concluye argumentando que la modificación de esta tendencia es determinante para el futuro de una historia de la psicología que no renuncie a ampliar su audiencia e impacto en el interior de la disciplina.
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Este artigo versa sobre o ensino de arte na Fazenda do Rosário, em Ibirité, Minas Gerais, Brasil, entre 1940 e 1960, desenvolvido por meio de ações decorrentes da rede de colaboração estabelecida entre o artista e educador pernambucano Augusto Rodrigues e a psicóloga e educadora russa, Helena Antipoff. Consideraram-se as perspectivas da historiografia sobre a sociabilidade e o contexto dos envolvidos para análise das variadas fontes originais consultadas. Os resultados demonstraram que o movimento de integração entre a arte e a educação articulado por Rodrigues e Antipoff deu-se por meio de uma rede de intelectuais, educadores e artistas envolvidos no movimento modernista de educar pela arte, em que se conjugavam conhecimentos na interface da psicologia, da livre expressão, da valorização da cultura popular e da formação integral dos educandos.
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Ano de publicação
- Entre 1900 e 1999 (118)
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Entre 2000 e 2025
(1.725)
- Entre 2000 e 2009 (509)
- Entre 2010 e 2019 (830)
- Entre 2020 e 2025 (386)