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Esse artigo busca fazer uma análise crítica da forma como as ideias do psiquiatra francês Gaëtan Gatian de Clérambault foram assimiladas e transmitidas pela psicanálise, sobretudo a partir da influência lacaniana. Pa ra tanto, faz-se, primeiramente, uma apresentação sintética das principais teses do autor, com destaque para aquelas contidas em seus estudos sobre o Automatismo Mental e a Erotomania. A seguir, a recepção psicanalítica dessas teses é discutida, a partir da apresentação e análise crítica dos exemplos mais representativos de seu estilo. O trabalho de Quentin Skinner sobre os equívocos históricos que frequentemente são cometidos no campo da história das ideias é utilizado como parâmetro para realização dessa análise crítica, sobretudo sua discussão sobre as mitologias que são muitas vezes construídas pelos historiadores das ideias. Como conclusão, argumenta-se que o trabalho psiquiátrico de Clérambault reaparece no pensamento psicanalítico contemporâneo como uma forma de mitologia da doutrina.
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O artigo discute a formação de professores como produção de subjetividade, uma vez que esse conceito abarca a possibilidade de desvios e reapropriações, superando uma visão fatalista da escola. Apresenta conversas e experimentações da pesquisadora/psicóloga com os professores do Instituto Federal do Espírito Santo, Campus São Mateus, nas quais expõe as pistas dos modos de trabalho docente que emergem nessa escola e também de como fortalecer os processos formativos que valorizem as problematizações e superem os modos hegemônicos de ser professor. Defende uma política cognitiva de invenção como uma possibilidade na qual a formação como transmissão de informação e desenvolvimento de habilidades não é suficiente para pensar os modos de trabalho docente que escapam às tradições da escola. Assinala como pista a atenção aos detalhes, as problematizações e experimentações. Valoriza os modos de trabalho docente que superem a recognição em prol de outros modos de pensar, criar, sentir, agir e viver.
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Este artigo apresenta conceitualmente ferramentas metodológicas erigidas e operadas em uma dissertação agenciando ficção e Psicologia Social na pesquisa da autoajuda como estratégia de governamentalidade. Delimita operações do método da narrativa ficcional para explorar um campo próprio da Psicologia Social: visibilizar e problematizar as tecnologias de subjetivação que dão corpo aos sujeitos contemporâneos. Para investigar as operações da autoajuda como constituintes das dobras de nosso tempo, necessitamos de uma escrita sensível e inteligível que nos permita visibilizar as tecnologias de si em ação na experiência cotidiana de governo e constituição do sujeito. Para tanto, foram criados um “personagem conceitual” e uma “figura estética” a fim de problematizar as Tecnologias de Si da autoajuda. Este ensaio pretende discutir modos experimentais de se pesquisar a partir da invenção de outros regimes de visibilidade, performatibilidade e dizibilidade, onde o texto se transforma em um espaço de respiro heterotópico de Escrita de Si.
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Mais do que uma singela mostra da vida e obra de Giordano Bruno - tomada de empréstimo a autores que se debruçaram sobre o pensamento deste grande filósofo da Renascença -, este texto visa apresentar Bruno como parresiasta, ou seja, aquele que, em consequência de sua palavra livre e corajosa foi expulso das Igrejas Católica, Calvinista e Luterana e, finalmente, queimado vivo em uma fogueira no Campo De’ Fiori, no dia 17 de fevereiro de 1600, após ter sido julgado “herético impenitente pertinaz e obstinado” pelo Tribunal da Santa Inquisição Romana. Não há, assim, de nossa parte, pretensão alguma em adentrarmos por uma análise de tipo epistemológica visando decidir se as contribuições de Bruno podem ou não serem consideradas científicas. Nosso caminho é outro: o das formas “aletúrgicas”, seguindo os apontamentos de Michel Foucault nos dois últimos cursos no Collège de France: O governo de si e dos outros (1983) e A coragem da verdade (1984). Foi neste marco das “formas aletúgicas” que Foucault estudou a noção e a prática do falar-a-verdade da parresia, distinguindo-a de outras modalidades como a retórica, a profecia, a sabedoria.
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Este artigo parte de escutas e vivências de uma psicóloga junto à rede da assistência social de um munícipio do interior do Rio Grande do Sul – RS. Parte-se do desejo de tecer histórias com mulheres que vivenciam os serviços desta rede, pensando suas escritas com contornos éticos-estéticos-políticos que uma vida pede. Fazendo uso de Michel Foucault, toma-se a vida destas mulheres a partir do conceito de infame. Trata-se de vidas silenciosas ou gritantes, de mulheres que ocupam o território da invisibilidade, tornando-se por vezes aquelas de quem se fala mal, criando-se uma espécie de fama chamuscada ou di/famação, por pequenas faltas desenhadas no cotidiano dos serviços e da rua. A noção de biografema é aqui sustentada como superfície possível para que tais vidas e afetos possam se fazer presentes, no encontro entre a trabalhadora psi e as vozes/corpos destas mulheres.
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Entrevista com Cecília Maria Bouças Coimbra
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Gilles Deleuze e Félix Guattari apresentam as multiplicidades intensivas e o corpo sem órgãos como conceitos relevantes da esquizoanálise. Esse conjunto abstrato, constantemente afetado por forças em contínua variação, gera uma zona de indeterminação capaz de favorecer a invenção de sentidos e a expansão da vida. Tal entendimento aproxima produção desejante e criação – noções preciosas quando se trata de pensar a intervenção clínica em psicologia.
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O presente texto tem como objetivo expor os caminhos metodológicos abertos a partir de questões éticas que surgem das operações de escrita amparada com imagens. Desenvolve um entendimento da imagem como sendo algo que se insere em um texto de forma anômala e em desvio com a linearidade do seu caráter discursivo. Tal problematização contou com um diálogo com os trabalhos desenvolvidos por Aby Warburg e André Malraux. sendo que a compreensão espacial que esses autores dão tanto à escrita quanto à produção de imagens serviu como inspiração para o delineamento de uma proposta metodológica. Foi pensado como proceder para realizar uma exibição ou uma apresentação através da textualidade, tentando produzir um museu em escrita, uma maneira que possibilitasse a exploração formal da tensão entre dois meios.
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Este artigo objetiva apresentar o percurso metodológico de uma pesquisa em clínica do trabalho que destaca a interlocução da pesquisadora com sua própria atividade de trabalho, ou seja, a trabalhadora é a pesquisadora de sua atividade de trabalho. A partir de seu repertório profissional, coloca-se como questão de pesquisa o manejo metodológico para uma análise do trabalho no viés do transformar para conhecer, tomando a trabalhadora como protagonista no processo de análise da atividade e a pesquisa como ferramenta para este processo. Neste percurso, destacam-se inflexões nos métodos propostos pela clínica da atividade, tendo como eixo o dialogismo e a cartografia como um intercessor no processo investigativo.
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Este texto, traduzido do espanhol por Leonardo Pinto de Almeida, foi originalmente publicado no livro Esbozos III – Barthes, Lo neutro (2019) de Juan Carlos Gorlier, sob o título Hacía lo neutro.
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Pensar a formação no âmbito da universidade pressupõe enfrentar caminhos controversos e ampliar a disponibilidade para a invenção, de modo a criar desvios para a força acachapante das formatações institucionais acadêmicas vigentes. Apresentam-se aqui experiências engendradas na graduação em terapia ocupacional que se dão na tangência com as artes e reivindicam a processualidade como via principal para encontrar formas em estabilidade temporária, que articulem palavras, corpos e imagens e que sejam suficientes para potencializar os estudantes para seguirem em formatividade, na graduação, na clínica, na vida. Tais dispositivos de formação agenciam encontros entre estudantes, terapeutas ocupacionais, artistas e outros profissionais, pessoas com experiências diversas de sofrimento e/ou em situação de vulnerabilidade, projetos, instituições, textos, ideias, trajetos, danças, cantos, gestos, silêncios... engajando a experiência na fabricação de uma subjetividade mais porosa e sensível aos contatos com o mundo, e ao mesmo tempo inscrevendo-a num plano comum, na dimensão política da vida.
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A escrita diarista é feita diariamente, ou quase, para registrar algo de importância para quem escreve e também para possíveis leitores. No evento “O devir escrita da vida nos serviços de saúde”, em setembro de 2017 na Faculdade de Saúde Pública/USP, foi discutida a escrita do diário institucional que traz dimensões relativas ao funcionamento das instituições. Trata-se de um meio do pesquisador/a-analista institucional analisar suas implicações. A implicação, nesta oficina, foi analisada a partir das relações estabelecida pelos profissionais com suas práticas cotidianas, tendo em vista o atual contexto político do país, de fortes ataques às políticas sociais, especialmente ao SUS. A proposta deste texto é evidenciar a relevância do diário institucional nas práticas dos profissionais no SUS, a partir dos diários de seis participantes que se dispuseram compartilhar fragmentos de seus diários que serão apresentados, acompanhados das ressonâncias produzidas em sua leitura com aportes teórico-metodológicos da Análise Institucional.
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Processos de ensino-aprendizagem trazem inúmeros desafios, exigindo dos educadores reflexão constante sobre os modelos que os orientam. Além dos desafios técnicos, encontramos na formação em saúde a necessidade de desenvolver reflexão sobre conceitos e contextos, trabalho em equipe, escuta, sensibilidade, entre outros. Neste artigo, apresentamos os Cadernos Colaborativos enquanto dispositivo de produção e acompanhamento do processo formativo-criativo de alunos de graduação de Terapia Ocupacional na Universidade Federal de São Paulo. Tal experiência consistiu na produção dos Cadernos e na realização de narrativas pelos estudantes, no diário e ensaio fotográfico da pesquisadora. Possibilitou uma interferência neste grupo envolvendo diferentes linguagens: escrita, desenho, colagem, pintura etc., e nos levou a diferentes problematizações, entre elas: a potência deste dispositivo enquanto registro, elaboração e produção de pensamento, além dos embates provocados pela proposta colaborativa e em co-criação e questões que emergiram em relação à formação do profissional de saúde com seus desafios, potências e contradições.
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Este artigo tem como objetivo analisar o uso da escrita de cartas como intercessor em experiências de formação profissional. O trabalho desenvolvido no âmbito do Plantão Institucional – atendimento oferecido pelo Serviço de Psicologia Escolar do Instituto de Psicologia da USP a profissionais que atuam em diferentes instituições do campo da saúde, da educação e da assistência social –, que visa a agir no enfraquecimento e na estagnação dos quais os integrantes dos grupos se queixam com frequência, e a reflexão acerca da função da escrita como constitutiva de realidade junto a graduandos e pós-graduandos em Psicologia inspiraram o desenvolvimento de uma estratégia que faz uso da escrita endereçada. Entendemos que a escrita de cartas pode ser considerada uma forma de enfrentamento dos efeitos de assujeitamento e da sensação de impotência relatada pelos grupos. Com o intuito de discorrermos sobre a estratégia e seus efeitos, traremos excertos de cartas produzidas em uma oficina da qual participaram profissionais que atuam no campo da saúde pública e que estavam dispostos a se debruçar sobre impasses vividos no cotidiano institucional.
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O presente trabalho busca contextualizar o campo conceitual acerca das políticas cognitivas, apostando na construção narrativa como parte intrínseca tanto dos processos de pesquisa quanto da expressão dos resultados encontrados. Aqui, a produção de uma experiência narrativa se apresenta e se produz ao longo do trabalho em si. Assim, ao partir da análise da trajetória de formação em psicologia e do acompanhamento de um Grupo de Gestão Autônoma da Medicação (GAM), nos colocamos a pensar o que são as políticas cognitivas dentro da História da Psicologia e de sua afirmação enquanto Ciência. Com o objetivo de repensar o tema da formação, propomos a discussão acerca da metodologia de pesquisa-intervenção de perspectiva cartográfica, apontando a potência da narrativa da experiência para os estudos da subjetividade. Nesse percurso, apresentamos o conceito de enação e o modo como as definições dos modelos cognitivos impactam nos modelos de formação, especificamente na formação em saúde mental.
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Frente aos problemas de saúde apresentados na universidade pública nos dias atuais, somos forçadas a repensar a formação dos alunos de psicologia. Visando propor uma formação mais baseada na experiência compartilhada do que na transmissão de informação, criamos dois dispositivos: uma oficina de experimentação corporal e estética e um caderno coletivo. Os dispositivos foram propostos numa disciplina eletiva sobre Arte e Psicologia oferecida no curso de graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Nosso objetivo neste texto é apresentar o processo de criação destes dispositivos, analisando e acompanhando alguns de seus efeitos. Para isso realizamos uma pesquisa-intervenção baseada no método da cartografia. Concluímos que a exposição do corpo e a escrita coletiva abriram espaço para a exposição da vulnerabilidade e do sofrimento dos estudantes. Acontecimentos e temas partilhados produziram participação e a experiência do cuidado no processo de formação, fazendo surgir novos modos de habitar a universidade.
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O presente artigo se destina a apresentar um breve exame dos levantes brasileiros de junho de 2013, ocorridos no contexto de revoltas que eclodiram em diversos países, a partir de 2011, especialmente os árabes e nos Estados Unidos, todos atravessados direta ou indiretamente pela grave crise econômica mundial causada pela falência do banco Lheman Brother’s, em 2008. Procura, especificamente, colocar em análise a relação entre os processos de subjetivação conduzidos pelo conteúdo do jornal O Globo em suas reportagens, fotos, artigos e editoriais sobre os levantes e o modo como são capturados os sentidos das manifestações populares que ocorreram nas chamadas Jornadas de Junho.
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O artigo é parte de uma tese de doutoramento, cujas reflexões têm origem na história oral de vida de 16 pacientes transplantados cardíacos do Ambulatório de Transplante Cardíaco da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo. As narrativas foram obtida por meio da História Oral de Vida e analisadas conforme a perspectiva de Lev. S. Vigotski, que dá um destaque especial para a questão dos afetos. Essas histórias de vida estão armazenadas no Banco de Memórias e Histórias de Vida (BMHV). A história oral propicia o aparecimento de narrativas muitas vezes guardadas só com os pacientes; aqui elas foram resgatadas e os relatos daqueles que foram submetidos ao transplante cardíaco foram de certa forma valorizados. O transplante cardíaco, ainda que seja uma realidade para algumas poucas pessoas, é um evento coletivo que gera um código comunicativo de efeito comunitário que envolve todos os afetados. Os seres humanos são muito semelhantes entre si e o que os faz diferentes são suas histórias.
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O objetivo deste estudo foi analisar as técnicas, saberes e práticas tidas como psicológicas no Rio de Janeiro da Primeira República (1889-1930). Nesse sentido, pautou-se por uma metodologia que priorizou o levantamento de fontes bibliográficas primárias (artigos, livros e relatórios técnicos de época). Constatou-se, como resultado da pesquisa empreendida, que ocorreram aproximações e convergências entre áreas da psicologia aplicada que, posteriormente, iriam ocupar institucionalmente espaços bem separados. Assim, verificou-se que a designação de dado saber, prática ou técnica configurada como "Psicologia" não foi sempre configurada em áreas de aplicação independentes. Nessa perspectiva, segue uma linha diversa de abordagens históricas que primam por setorizar práticas psicológicas, sendo a principal contribuição do artigo para o campo da história da psicologia justamente a de mostrar que uma eventual “História da Psicologia do Trabalho”, no período investigado, não era absolutamente distinta de áreas, hoje classificadas, como as da “História da Psicologia Clínica”, ou da “História da Psicologia Escolar”.
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