A sua pesquisa
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O artigo “L’expérience russe – L’éducation sociale des enfants” (Antipoff, 1924), reproduzido a seguir, foi escrito pela psicóloga e educadora russo-brasileira Helena Antipoff (1892-1974) e publicado na revista La Semaine Littéraire , em Genebra, em 1924. Trata-se de documento expressivo, original, uma espécie de documento-monumento, no sentido proposto por Zumthor (1960), peça histórica única, testemunho de uma época e de ações humanas empreendidas em um determinado contexto com sentido propositivo, destinado a se tornar um clássico para a posteridade. A narrativa é constituída por um relato de primeira mão sobre o projeto de educação social formulado na Rússia pelos bolcheviques nos primeiros anos após a revolução comunista de 1917 e seus desdobramentos, observados na aplicação prática dos princípios idealizados. Resulta de observação da autora como participante direta de instituições encarregadas de colocar em operação propostas educativas decorrentes das políticas implantadas no território russo naquele período conturbado, de grande instabilidade social. Período marcado também pelas tentativas nem sempre bem sucedidas de realizar os ideais revolucionários inspirados na crítica ao capitalismo formulada por Karl Marx e interpretada pela primeira geração de líderes bolcheviques.
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A proposta inovadora de uma nova área de pesquisa denominada Escolologia – a ciência da escola - iniciada pela psicóloga e educadora Helena Antipoff na Escola de Aperfeiçoamento de Professores de Belo Horizonte, nos anos de 1930, é examinada através de investigação documental. A Escolologia apoiava-se em conceitos da Psicologia da Criança e da Pedagogia Experimental, de Édouard Claparède, e no método de Experimentação Natural, de Alexander Lazursky, visando obter uma síntese objetiva das relações entre o desenvolvimento físico, mental e social dos escolares, suas origens sociais e as práticas culturais de suas famílias, os procedimentos pedagógicos adotados e o funcionamento institucional das escolas. Os estudos escolológicos permitiram identificar os fatores que influenciavam no aproveitamento escolar dos alunos, tais como: o alto índice de retenção no primeiro ano de escolarização, as condições de higiene e nutrição das crianças, o método pedagógico, a organização escolar e as condições socioeconômicas e culturais das famílias.
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Este artigo contextualiza a participação da psicóloga e educadora russo-brasileira Helena Antipoff no Movimento da Educação através da Arte no Brasil, que se configurou pela apropriação das ideias do inglês Herbert Read, influenciadas pelos princípios da Escola Nova e das vertentes artísticas modernistas que circularam internacionalmente desde fins do século XIX. Os resultados da análise de conteúdo em fontes primárias indicaram que a proposta de educação artística de Antipoff fundamentava-se na psicologia, no interesse dos alunos e na valorização do trabalho manual. Destaca-se o protagonismo de Antipoff em integrar a arte na educação com objetivo de conciliar o desenvolvimento psíquico, social e cultural dos alunos, com o apoio de uma rede de colaboradores, entre eles o artista Augusto Rodrigues, criador da Escolinha de Arte do Brasil (1948). Conclui-se que a concepção de Antipoff relaciona-se com a teoria histórico-cultural de Vigotski, que propunha ser tarefa básica da educação estética aproximar arte e vida.
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O método de ensino do desenho para crianças da arte-educadora Louise Artus-Perrelet foi sistematizado no livro Le Dessin au Service de l’Éducation, traduzido e publicado no Brasil em 1930, quando a autora visitou o país para conferências. O trabalho de Artus-Perrelet é analisado como proposta de educação estética na formação de professores primários, relacionando-o aos princípios modernistas na arte e ao movimento da Escola Nova. Artus-Perrelet dialoga com processos pedagógicos e de criação de Paul Klee e Wassily Kandinsky, professores na Escola Bauhaus, e com a pedagogia ativa genebrina. Seu método foi apropriado no contexto brasileiro por meio de relatos da poeta Cecília Meireles publicados no Rio de Janeiro, e no trabalho de seu aluno Jean-Pierre Chabloz, artista plástico e educador.
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As diretrizes que regulam a ética na pesquisa com seres humanos no Brasil, em especial no que se refere às áreas das ciências humanas e sociais e às ciências da educação, são analisadas em suas relações com a bioética e as ciências da vida. As dificuldades levantadas por pesquisadores da área de humanas no diálogo com os comitês de ética interdisciplinares são consideradas, inclusive a possibilidade de desvincular a autorização da pesquisa nessas áreas do sistema CEPs-CONEP, sistema nacional de Comitês de Ética na Pesquisa gerido pelo Conselho Nacional de Saúde. Argumenta-se, contudo, que o foco principal do sistema da ética na pesquisa é a proteção da saúde física e mental dos participantes, o que configura uma questão afeita à bioética e à área da saúde, de maneira ampla, como processo biopsicossocial. Observa-se também que as técnicas de coleta de dados desenvolvidas pelas ciências humanas e sociais (entrevistas, questionários, observações participantes ou não) são também utilizadas pelas ciências da vida. Essas considerações indicam que o diálogo entre as áreas, propiciado pela composição de Comitês de Ética interdisciplinares, é salutar e necessário ao bom funcionamento do sistema, em que pese a possibilidade, admitida na legislação, da existência de comitês específicos para o julgamento da ética na pesquisa em ciências humanas e sociais. Propõe-se que novas pesquisas sejam feitas para o acompanhamento do funcionamento dos comitês de ética em universidades e instituições de pesquisa visando ao aprimoramento do sistema de regulação.
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Aspectos da circulação e apropriação de ideias e propostas escolanovistas no Brasil são apresentados, por meio do trabalho realizado pela psicóloga e educadora russo-brasileira Helena Antipoff nos cursos de formação para professores do Complexo Educacional da Fazenda do Rosário, em Ibirité, Minas Gerais, no período de 1948 a 1974. Foram coletados depoimentos de ex-alunas encontrados em cadernos de diários arquivados na Fundação Helena Antipoff, em Ibirité/MG, e realizadas entrevistas com ex-participantes dos cursos. Verificou-se que o processo de circulação e recepção de conhecimentos científicos em educação nessa instituição estava sustentado em princípios da Escola Nova e métodos da Escola Ativa, enfatizando a relação teoria-prática, a tomada de decisões com base na observação dos educandos e da situação de ensino, o trabalho em grupo e o self-government. Esses conhecimentos provinham de experiências vivenciadas na Europa pela educadora, e inspiraram a elaboração de propostas educativas originais e adaptadas à realidade encontrada no Brasil.
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Helena Antipoff was one of the pioneers in the constitution of the fields of knowledge of educational psychology and special education in Brazil. Born in Russia, Antipoff received her education in Paris and Geneva. Researches in the history of education and of psychology have revealed the innovative character of Antipoff’s work as a researcher, as a professor and as a founder of different educational institutions in Brazil, with a focus on educational and psychological care for children with disabilities or at social risk. Her career is characterized by a sound scientific approach combined with a deep commitment to the right of children and youth to education and care. These directions can be associated with her scientific training in the sciences of education in a time of social turbulence and school reform, when many women became professionals in the field of education, trying to combine family, work and militant activity.
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Com base em documentos do Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff, apresenta-se estudo de caso do “2º Curso de Férias de Ensino Emendativo para professores de classes especiais e estabelecimentos de crianças excepcionais” realizado em 1962, no Instituto Superior de Educação Rural (ISER), na Fazenda do Rosário, em Ibirité, Minas Gerais, por iniciativa da Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais, e coordenado pela educadora Helena Antipoff (1892-1974), com a participação de seus colaboradores locais e convidados de São Paulo e do Rio de Janeiro. A metodologia histórica descritiva foi utilizada para análise das fontes, focalizando os objetivos do Curso, sua organização e as perspectivas teóricas e técnicas que o orientaram, no contexto da história da Educação Especial. Os resultados evidenciam que o Curso, com duração de um mês (26 disciplinas e 215 horas-aula), foi frequentado por 76 normalistas, de nove estados brasileiros. Helena Antipoff e seus colaboradores, inspirando-se nos princípios da Escola Ativa de Genebra, enfatizavam que o conhecimento e a compreensão do educando pelo professor eram pré-requisitos para o sucesso da educação. A observação sistemática era o caminho seguro para conhecer as necessidades e os interesses do estudante e construir instrumentos pedagógicos adequados para cada um. A relação entre teoria e prática era priorizada, as alunas/professoras tinham a oportunidade de aprender vivenciando as técnicas que iriam utilizar com seus futuros alunos. Combinando assim a observação e o know how adquirido, apostava-se na possibilidade de os educadores construírem estratégias e caminhos alternativos para a resolução dos problemas de aprendizagem dos alunos.
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O Brasil tem avançado muito em relação às políticas públicas relacionadas à educação inclusiva. Várias leis, decretos e portarias dos últimos anos buscaram garantir o acesso dos alunos com deficiências às escolas comuns. A partir da análise documental em fontes primárias e secundárias, foi construída a premissa de que, em Minas Gerais, seria possível localizar três fases do processo de consolidação da educação inclusiva. Essas fases não seriam estáticas, elas coexistiriam, se sobrepondo e permitindo visualizar a identidade de cada época. Os resultados demonstram que, na primeira fase (1930-1950), crianças com deficiência, que até então estavam afastadas das escolas, passam a frequentá-las, nas chamadas classes especiais. As classes especiais mineiras foram concebidas com o objetivo de receber crianças com deficiência em um modelo baseado nos ideais da Escola Nova. Na segunda fase (1950-1990), as escolas especiais multiplicam-se, fortalecendo esse modelo de escolarização. Uma das consequências do aumento das escolas especiais foi a migração dos alunos com deficiência para essas instituições, enquanto as classes especiais acabaram se tornando local para os chamados alunos com problemas de aprendizagem. Em uma terceira fase (1990 -), a educação inclusiva consolida-se como Lei de Estado, obrigando as escolas especiais e as escolas comuns a reinventarem seu papel. Nessa fase, as classes especiais são extintas e a Educação Especial provoca novos questionamentos. Dentre eles, o desafio de efetuar a educação para todos sem deixar de lado as especificidades de um público tão diverso.
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O artigo relata atividades de pesquisa desenvolvidas a partir do acervo documental do Centro de Documentação e Pesquisa Helena Antipoff, instituição criada em 1980 com a finalidade de preservar a memória e de divulgar a obra da psicóloga e educadora russo-brasileira Helena Antipoff (1892-1974). A riqueza e a diversidade do acervo, que documenta capítulos importantes da construção e circulação das ciências da educação no século 20, no âmbito das relações entre a Europa e o Brasil, favorecem a realização de pesquisas sobre o desenvolvimento teórico-prático da psicologia e das ciências da educação, assim como sobre os trabalhos realizados nas inúmeras instituições criadas e orientadas por Antipoff no Brasil. São referenciados trabalhos de pesquisa conceitual, sobre a história de modelos de trabalho em psicologia desenvolvidos em instituições educacionais criadas sob a liderança de Antipoff e trabalhos sobre formação de educadores na tradição antipoffiana. Conclui-se que a realização desses estudos contribui para o melhor conhecimento da história da psicologia e das ciências da educação e de sua circulação internacional, fornecendo modelos relevantes para se pensar o desenvolvimento contemporâneo dessas áreas científicas.
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In 1927, the Minas Gerais state government, in Brazil, published new Primary Education Regulations proposing that elementary school’s classrooms be homogenized according to the intellectual level of students. In the following years, special classes were established, and initiatives for the education of abnormal children were performed at the Pestalozzi Society in Belo Horizonte, the capital of the State. The purpose of this paper is to explore the innovative character of these initiatives, using primary sources and publications of the time, including reports on the examination of children to be treated and educated. The research showed that Russian-Brazilian psychologist and educator Helena Antipoff (1892-1974) played an important role in developing an innovative model for special education in these institutions, based on her experience as a student and as a researcher at the Institute Jean Jacques Rousseau, in Geneva, and in Russia, during the troubled years of the Communist Revolution. At Pestalozzi Institute, a school for exceptional children, she established in Belo Horizonte during the 1930s, with the help of a group of teachers, physicians and philanthropists, and Antipoff used her rich multicultural background to design a specific methodology for the special classes, based on the ideals of the New School as well as on respect for children’s rights.
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L’organisation des classes homogènes selon le niveau de développement mental des élèves et celle des classes spéciales pour les enfants en retard scolaire eut lieu dans les écoles élémentaires de Belo Horizonte, au Brésil, pendant les années de 1930, dans le cadre d’une réforme du système d’éducation, à laquelle participèrent des spécialistes étrangers, et en spécial la psychologue russe Helena Antipoff (1892–1974). Le projet des classes spéciales alors établies et leurs transformations dans le contexte brésilien sont étudiés à partir de données documentaires publiées entre 1930 et 1940. Née en Russie, Antipoff a fait des études supérieures en France (1910–1911), comme stagiaire dans le laboratoire Binet-Simon, et à Genève (1912–1914), à l’Institut Jean-Jacques Rousseau, où elle exerça ultérieurement les fonctions d’assistante d’Édouard Claparède (1926–1929). Notre hypothèse est que les classes spéciales créées à Belo Horizonte le furent sur le modèle genevois, et constituèrent un important exemple de circulation et diffusion de connaissances au niveau international, ainsi que de construction de repères dans le domaine de l’éducation spéciale au Brésil. Ainsi, la division des classes par niveau intellectuel mesuré par des tests d’intelligence, l’idée de “l’école sur mesure” proposée par Claparède, le dialogue avec les méthodes suggérées par Alice Descouedres démontrent les relations avec le modèle genevois. En même temps, l’interprétation des résultats des tests comme manifestation d’une forme d’ “intelligence civilisée” et les adaptations des exercices d’orthopédie mentale pour développer cette intelligence demandée par l’école montrent les transformations du modèle dans le contexte brésilien.
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O artigo analisa a recepção da obra de Alfred Binet e a introdução dos testes de inteligência no Brasil, nas primeiras décadas do século XX. São focalizados autores que, no diálogo com a obra do psicólogo francês, produziram críticas à interpretação das medidas da inteligência no sistema educacional, ou enfrentaram resistências para o uso dos testes nas escolas. Destacam-se três autores: Manoel Bomfim, diretor do Pedagogium/RJ, responsável pela introdução da obra de Binet no Brasil; Maria Lacerda de Moura, líder anarquista e professora da Escola Normal de Barbacena; e Helena Antipoff, psicóloga russa que propôs o conceito de ‘inteligência civilizada’ para descrever o efeito da cultura nos resultados dos testes realizados com crianças de escolas mineiras nos anos de 1930.
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Este texto apresenta um estudo realizado em duas escolas de ensino fundamental de Belo Horizonte. Em cada escola participaram do estudo uma turma do 5º ano, considerada mais agitada, e uma de suas professoras. O estudo consistiu na implementação de uma intervenção de carácter dialógico e filosófico em sessões inspiradas no programa Filosofia para Crianças, que notadamente melhora o pensamento, habilidades de comunicação e competência social. Pretendeu-se observar se a intervenção tinha algum impacto na atitude agitada dos alunos. Foram recolhidos dados por meio de observações e questionários antes e depois da intervenção. Os resultados foram comparados e analisados sob quatro ângulos: disciplina, autoestima, criatividade e opinião sobre aprender a pensar bem. Apenas a avaliação da criatividade mostrou mudança negativa. Considerando o debate uma ferramenta pedagógica poderosa, cogita-se sobre o aumento da sua utilização em sala de aula e seu impacto na socialização e comunicação e possíveis consequências para o rendimento escolar.
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Cet article analyse à partir de la revue Infância Excepcional (« Enfance Exceptionnelle »), publiée entre 1930 et 1940, complétée par des documents inédits, les activités de la « Maison du Petit Marchand de Journaux » de Belo Horizonte (Brésil). Cette institution d’accueil pour enfants et adolescents des rues fut fondée en 1934 d’après les recommandations d’Helena Antipoff (1892-1974), psychologue russe invitée au Brésil, à partir de 1929, pour enseigner la psychologie et promouvoir l’Éducation Nouvelle dans les écoles de la région. Le parcours singulier de cette éducatrice qui débuta sa carrière au sein d’institutions russes destinées aux enfants et adolescents en risque social durant la période post-révolutionnaire (1917-1924) est à appréhender au regard de sa filiation intellectuelle avec le psychologue Édouard Claparède (1926-1929) dont elle fut l’assistante à l’Institut Jean-Jacques Rousseau de Genève. L’article revient sur l’engagement transfrontalier d’Helena Antipoff en faveur de ces enfants et de ces adolescents en risque social au sein d’institutions inspirées des « Républiques d’enfants » dont les principes rejoignent, pour certains d’entre eux, ceux de l’école active.