A sua pesquisa
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O objetivo deste trabalho é examinar as tecnologias de si produzidas por práticas psi, mais especificamente pela introspecção experimental e seus modos de treinamento nos laboratórios do final do século XIX. Para tal objetivo, tomaremos como base o conceito de tecnologias de si desenvolvido por Michel Foucault nos últimos anos de sua vida, na década de 1980. Estas tecnologias são analisáveis em categorias tais como substância, akesis (ou exercícios), práticas de si e telelología, assim como demandam a distinção entre filosofia e espiritualidade. Estas ferramentas conceituais serão utilizadas a fim de detectar técnicas de si nas práticas de laboratório do final do século XIX, especialmente em autores como Helmholtz, Wundt e Titchener. Rumo à conclusão, utilizaremos a Epistemologia Política de Vinciane Despret, para quem essas obras não só apontam para técnicas de si especiais, como servem para problematizar nossos modos de pesquisa atuais.
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A partir do trabalho genealógico de Foucault sobre as práticas de governo, entendidas como formas de condução da conduta alheia, abre-se um campo possível para o estudo do surgimento e das transformações dos saberes psicológicos e psiquiátricos. Aqui teríamos dois marcos: 1) no século XVI, surgem técnicas de governo baseadas no disciplinamento, o “Estado de polícia”; e 2) no século XVIII, novas tecnologias de governo em referências liberais. Neste último marco, a psicologia passa a ter especial importância no século XX, atuando especificamente em sociedades democráticas, não somente através da disciplinarização dos indivíduos, mas principalmente através da liberdade e da atividade destes. Nosso objetivo é avaliar as práticas e conceitos de cidadania e liberdade no contexto de alguns processos de Reforma Psiquiátrica, especialmente a italiana e a brasileira. Para tal, sustentamos a hipótese de que co-existem neste campo não apenas os antigos dispositivos disciplinares e a resistência a estes, mas modos liberais de gestão.
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Um dos campos possíveis para o estudo do surgimento dos saberes psicológicos é o das práticas de governo, ou governamentalidade, que se definem como as formas como se estrutura a condução da conduta alheia desde as formas pastorais do cristianismo primitivo até os modos atuais do Estado contemporâneo. Nas novas formas de governo presentes nas sociedades democráticas contemporâneas, o discurso psicanalítico, assim como as diversas práticas psi têm especial importância enquanto modo de gestão tecnocrática. Partimos da idéia de que a psicanálise é uma prática que se perpetua para além do consultório e de uma práxis individual, tendo um papel diretivo nas políticas sociais. O objetivo deste trabalho é estudar como o discurso psicanalítico produz formas de gestão de si e dos outros, pensando sua atuação dentro das instituições, no governo de coletivos, assim como de equipes no interior da reforma psiquiátrica.
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O artigo analisa as transições conceituais no projeto da psicologia enquanto ciência da experiência, estudando o progressivo abandono do conceito de sensação. Este conceito, para a chamada psicologia clássica, representava uma espécie de unidade básica – objetiva e matematizável – da experiência, superando as críticas kantianas. A primeira perturbação neste paradigma sensorial foram as Gestaltqualitat postuladas por Eherenfels, uma experiência não redutível às sensações. Posteriormente, a Escola de Berlim se destacou perante as demais escolas gestaltistas (Graz e Leipzig), ao afirmar a autonomia das Formas com base em conceitos físicos como Campo e Equilíbrio, provocando o esgotamento e a ruptura com o modelo sensorial.
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No presente artigo pretendemos apresentar as críticas de Michel Foucault aos modos de articulação entre psiquiatria e poder a partir das análises que se estendem do período de 1973 até 1976, incluindo, principalmente, a obra História da sexualidade: a vontade de saber (1976) e os cursos O poder psiquiátrico (1973-74), Os anormais (1974-75) e Em defesa da sociedade (1975-76). Pesquisando sobre o modo pelo qual a psiquiatria do século XIX e do início do século XX relacionou instinto e hereditariedade a partir da teoria da degenerescência, Foucault pôde conceber essa forma de saber como uma tecnologia biopolítica inserida nas relações de poder próprias do racismo de Estado.
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Este artigo tem como objetivo chamar a atenção para a efemeridade do conceito de “Biopolítica” nos escritos de Foucault. Valendo-nos do procedimento detetivesco da historiadora Mary Henle, investigamos a emergência, a ascensão, as transformações, o declínio e o desaparecimento deste conceito, principalmente nos cursos Em Defesa da Sociedade (1975-76), Segurança, Território, População (1977-78) e Nascimento da Biopolítica (1978-79). Constatamos que, apesar de sua grande repercussão atual, tal conceito tem vida curta, tendo sua primeira aparição em 1974, sua primeira formulação mais elaborada em 1976 e seu desaparecimento parcial a partir de 1978 e quase total a partir de 1979. Entretanto, longe de desprezar tal conceito por sua curta duração cronológica, o comparamos com o personagem brasileiro Heleno de Freitas - apelidado Gilda - que deixou uma marca intensa na história, apesar de sua breve vida. A partir dessa comparação, concluímos tecendo considerações acerca do estatuto dos conceitos foucaultianos, atentando, principalmente, para seu caráter trágico, estratégico e bélico.
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Apresentação do Boletim do Portal História da Psicologia 2
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A meta deste trabalho é a utilização de alguns conceitos do antropólogo das ciências Bruno Latour visando pensar de modo positivo o conjunto das psicologias em sua dispersão. Não se buscará o julgamento das psicologias em termos da sua cientificidade, mas o entendimento das condições que conduzem a essa dispersão. Para tal, serão expostos alguns conceitos de Latour como o de Sistema Circulatório da Ciência (especificando as condições ou os circuitos internos e externos que tornam a ciência possível) e o de Constituição Moderna (fundada na tentativa de separação entre entes naturais e humanos). Esses conceitos ajudariam a pensar não apenas a especificidade do saber psicológico, como também as suas condições de possibilidade históricas, e efeitos de subjetivação contemporâneos.
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O objetivo deste texto é mostrar a importância do trabalho de Gustav Fechner à luz da problemática do sujeito do conhecimento introduzida pela filosofia moderna. Questão do conhecimento iniciada em Descartes, buscando no Sujeito o ponto de partida de toda verdade demonstrável, e que gerará como contraparte o estudo dos riscos das ilusões a serem produzidas neste Sujeito. Esta tarefa caberá a psicologia, que desde o século XVIII tentará se estabelecer como parceira desta tarefa gnosiológica. Tarefa que será condenada pelos próprios filósofos como Imannuel Kant, decretando a a-cientificidade deste saber. Aqui será vista a importância do trabalho de Fechner: como através de seu trabalho empírico e de sua famosa equação, ele dará subsídio para uma psicologia verdadeiramente científica a ser constituída no final do século XIX.
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A noção de indivíduo é historicamente constituída. O objetivo deste estudo é mostrar quais foram as condições históricas que possibilitaram o surgimento do indivíduo e sua tomada como valor mais precioso na sociedade moderna, e como a invenção do indivíduo ocupa um lugar relevante na história do surgimento da psicologia. Atravessaremos a Antigüidade, a constituição dos Estados Modernos e a proliferação das técnicas disciplinares para construir uma história da noção de indivíduo. A experiência de individualização a que chegamos marca toda a prática psicológica, a qual oscila entre a busca de autonomia e de controle dos seus sujeitos. Sem essa dicotomia moderna – indivíduo autônomo x controlado – talvez nem houvesse psicologia, pois uma vez que o indivíduo fosse pensado unicamente como autônomo não poderíamos tomá-lo como objeto de estudo; ao passo que se houvesse apenas determinações, cairíamos no fatalismo e não seria necessária nenhuma intervenção psicológica.
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Nossa pesquisa procura descrever como surgiu o domínio da subjetividade, crucial para o surgimento da Psicologia. Recorremos ao trabalho de Michel Foucault, em sua História da Sexualidade, no que diz respeito ao surgimento do domínio da subjetividade, e ao de Fernando Vidal para entender o surgimento da Psicologia no século XVIII. Uma forma de compreender o que estamos definindo por subjetividade pode ser tomada a partir de uma das variantes do que Foucault chamou de cuidado de si em seus trabalhos dos anos 80. O cuidado de si diz respeito aos atos do indivíduo que o constituem como sujeito ético perante os códigos morais. Buscamos alguns indícios que poderiam nos levar ao cuidado de si próprio da Modernidade. O surgimento do domínio da subjetividade está vinculado à proliferação do discurso sobre a sexualidade a partir do século XVI, concomitante à intensificação da prática da confissão. As práticas de poder/saber originadas na confissão se transmutam numa scientia sexualis, difundindo seus efeitos na Medicina, na Pedagogia, na Demografia, nas práticas jurídicas, na polícia administrativa. Os rituais de confissão passam a funcionar nos esquemas da regularidade científica A sexualidade passa a ser um domínio penetrável por processos patológicos, solicitando intervenções terapêuticas e de normalização. Concomitantemente ao aparecimento da sexualidade como verdade do sujeito, no século XVIII também surge uma Psicologia que vincula outras formas de saberes de si com a noção de verdade no indivíduo, conforme nos mostra Fernando Vidal. No século XVIII, ocorre uma profusão de discursos sobre o sujeito, a Psicologia, a alma e outros aspectos filosóficos, teológicos e científicos não necessariamente vinculados à sexualidade. Todos esses discursos têm a proposta de examinar o sujeito, produzindo um novo campo discursivo a ser explorado. A verdade, então, passa pela Psicologia e por um conhecimento dos pormenores da alma humana. Aproxima-se, dessa forma, da idéia defendida por Foucault sobre a existência de uma verdade interiorizada no indivíduo. O que nos interessa, de fato, é mostrar como já no século XVIII havia a produção de saberes que buscavam examinar, desvendar e dissecar a interioridade do sujeito, a partir da noção de verdade, além de fomentar o campo da subjetividade, do qual surgiu a Psicologia.
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O saber psicológico seria produto de sutis mutações de uma experiência originária, ou seria produto de múltiplas combinações históricas casuais e inesperadas? É um consenso entre os historiadores da psicologia o estabelecimento do século XIX como marco institucional do surgimento científico deste saber. Mas um bom número de autores aponta para uma origem remota, como se a psicologia pudesse encontrar, nesta fundação científica, ecos de um saber ancestral. Contudo, é possível pensar de outra forma, apontando para o surgimento da psicologia a partir de condições bem peculiares, surgidas a partir do século XVI, como a de individualização, de uma interioridade, da loucura como doença mental, da infância como estágio de desenvolvimento e da separação mente-corpo. No entanto, resta saber como se dá a cientifização destas experiências, demarcando uma ciência psicológica. Para tanto, serão seguidas as pistas de Michel Foucault (As Palavras e as Coisas, 1966), para o qual esta cientifização só se realizou no século XIX graças a um novo modo de conhecimento em que o Homem foi alçado ao mesmo tempo à condição de objeto empírico por uma série de ciências, e a sujeito fundamentante por uma série de filosofias antropológicas. Seria do cruzamento destas ciências empíricas do homem com as filosofias antropológicas que nasceriam as ciências humanas, como a psicologia. Este duplo aspecto empírico-transcendental da psicologia permitiria que esta não apenas se configurasse como uma ciência empírica “digna de crédito”, mas também como um saber último sobre o homem, acoplando-se às demandas das diversas experiências sociais de base, ao fornecer uma suposta revelação sobre o que há de oculto em nossa interioridade consciente, os determinantes de nossa individualidade, as marcas da alienação em nossa sanidade mental, os traços da infância em nossa vida adulta e os enlaces do corpo em nossa mente.
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O presente trabalho explora diferentes retratos de Febrônio Índio do Brasil, primeiro réu no Brasil a ser avaliado como inimputável judicialmente, visto ser considerado portador de uma psychopatia constitucional. Para tal, serão discutidas as diferentes historiografias dos dispositivos psiquiátricos, assim como a possibilidade de uma história-construção, na reunião de elementos heterogêneos na composição de um personagem. Desta forma, o artigo explora diferentes documentos redigidos a respeito de Febrônio; tais como seu laudo psiquiátrico, seu processo criminal, seu evangelho As Revelações do Príncipe de Fogo e o escrito do poeta suíço Blaise Cendrars sobre Febrônio. O intuito dessa análise documental é compreender como crime, loucura, raça e sexualidade são articulados na construção de versões sobre o personagem, que variam do louco monstruoso ao profeta. Ao final do texto, esboçamos a noção de dramaturgia criminal enquanto um constructo teórico que aproxima essas narrativas sobre Febrônio do desenvolvimento de personagens no drama.
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Este trabalho é uma tentativa de compreensão dos processos de subjetivação (e seus efeitos políticos) envolvidos nos modos de conhecimento dos saberes psi. Para tal, será levantado um conjunto de definições quanto à subjetividade e a seus modos de produção. Em seguida, serão analisadas as contribuições sobre o tema por parte da teoria ator-rede. Mais adiante, serão tomadas dessa teoria algumas diretrizes para possíveis estudos sobre modos de subjetivação engendrados pelos saberes e práticas psi. De modo mais específico, serão trabalhadas as formas com que as pesquisas psi engendram mundos e sujeitos por meio de políticas ontológicas específicas, gerando formas extorsivas ou recalcitrantes de articulação. É nesse aspecto que será feita a discussão dos modos políticos dessas formas de subjetivação.
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Este artigo pretende considerar a maneira como é habitualmente apresentada a ruptura do gestaltismo com a Psicologia que o precede e encontrar no trabalho antropológico de Max Wertheimer, especificamente no texto Über das Denken der Naturvölker, elementos que possam enriquecer esta narrativa e nos permitam olhá-la de maneira um pouco diferente. Para tanto, consideraremos como Wertheimer descreve as maneiras ditas primitivas de compreensão da quantidade e como ele encontra nelas propriedades específicas de todo. Essas propriedades de todo mostram claramente que ele já estava preocupado com problemas que seriam mais explicitamente apresentados depois, nos bem conhecidos trabalhos da Escola de Berlim em Psicologia da percepção.
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En este trabajo se valora críticamente el discurso que arropa las últimas reformas educativas de la enseñanza superior europea y española. Se lo presenta como un discurso que intenta justificar tecnocientíficamente una de las más importantes prácticas de subjetivación actuales -la educativa- recurriendo a una determinada definición de la psicología que deja en un segundo plano el hecho de la pluralidad irreductible de las prácticas y saberes psicológicos. Se hace, así, una valoración crítica conjugada de, por un lado, el uso retórico de los saberes psicopedagógicos como respaldo científico -indiscutible- de las reformas, y por otro lado, de la asunción de que existe uma disciplia bien definida -la psicología- unificada, asentada científicamente y en la cual cabe buscar ese respaldo. La crítica toma en consideración, además, el escenario sociocultural actual de la globalización y el neoliberalismo como contexto en que cobra sentido, dentro de la ideología del emprendedorismo, dicho uso de la psicología como garante científico de la reforma de la enseñanza. Se hace especial hincapié en el fomento de la subjetividad ligado a esa ideología, que exige individuos dotados de flexibilidad, capacidad de autorregulación y responsabilidad total sobre su destino.
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Tipo de recurso
- Artigo de periódico (107)
- Livro (5)
- Seção de livro (92)
- Tese (2)
Ano de publicação
- Entre 1900 e 1999 (3)
- Entre 2000 e 2025 (203)