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  • Na perspectiva de um autêntico espírito universitário, é não somente legítimo, mas, na verdade, pertinente celebrar a memória dessa grande dama do pensamento que foi Maria Inácia D’Ávila Neto. E isso de um triplo ponto de vista, considerando sua pessoa, sua cultura e sua obra. É preciso sublinhar sua grande qualidade pessoal, que era ter uma rara abertura de espírito, fora das habituais agressividades acadêmicas. Com efeito, é preciso que se lembre de que um dos maiores pecados do debate intelectual é, de acordo com a expressão consagrada, o que era na origem a rabies theologica, essa raiva que não permite o debate sereno que deveria ser o coração que pulsa da marcha universitária, da disputatio, quer dizer, da discussão que permite avançar, para além das vinditas pessoais, o pensamento comum. Inácia devia, justamente, essa tolerância fundamental a uma vasta cultura, que é a especificidade mesma do autêntico debate. É preciso destacar que, ao se fundar a Universitas, acontecia, justamente, um encaminhamento transversal que, para além das clivagens de especialistas, permitia uma visão aberta sobre o mundo em sua totalidade. É o que o professor Gilbert Durant, fundador de uma verdadeira reflexão sobre o imaginário, chamava de recusa da “bocalisation”, do fechamento das ideias. Essa perspectiva holística levou Inácia D’Ávila Neto, nos passos de Serge Moscovici, a desenvolver sua obra sobre a psicologia social. Foi ela, na verdade, que permitiu a publicação desses tão belos livros de nosso saudoso amigo. Em Crônicas dos anos errantes, percebe-se a influência de toda sua obra. Com “Natureza para pensar a ecologia” ganhou o prêmio CERVI de Ambiente, na Itália, em 2000. Sou testemunha da importância dessas obras nas quais nossa colega tinha compreendido toda a atualidade. É suficiente que se lembre de que, com o que primeiro foi elaborado por Simmel e seguido por Moscovici, nossa colega Inácia soube fazer sua a dimensão holística de toda a vida social. Lembrarei, ao terminar, o que essas representações sociais, na sua integridade, devem ao “realismo de São Tomás de Aquino: ‘não há nada no intelecto que não tenha primeiro passado pelos sentidos’”. Atitude holística que resume bem a obra, digna desse nome, que nossa colega Inácia elaborou ao longo de toda a sua carreira.

Última atualização da base de dados: 26/11/2024 07:58 (UTC)

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