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O sofrimento físico de santo Inácio de Loyola (1491-1556), bem como seus serviços médicos são imagens de efeito edificante em seu relato biográfico. Examinar usos do mesmo lugar retórico na produção escrita de expoentes da antiga Companhia de Jesus presentes nas missões brasileiras, como José de Anchieta (1534-1597) e Antônio Vieira (1608-1696), permite compreender o significado dos males do corpo para um jesuíta no início da Idade Moderna e auxilia a repensar os desdobramentos da interdição inaciana de se ensinar medicina nas escolas da Companhia. Conclui-se que a arte médica não somente é praticada, como fornece um repertório de comparações que dão inteligibilidade e sustentação metódica para procedimentos centrais da ação missionária, desde a organização cotidiana da evangelização até a pregação entendida como medicina da alma.
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Fontes veriadas dos séculos XVI e XVII combinavam diferentes tradições de saver a fim de sistematizar modos de conservar a saúde do corpo e da alma. Pode-se destacar o Dois tratados de regime de vida para a conservação da saúde do corpo e da alma até a extrema velhice, publicado em 1613 pelo teólogo jesuíta da Universidade de Louvain Léonard Lessius, a partir do Trattato della vita sobria do veneziano Luigi Cornaro, de 1558. Conclui-se que o regime proposto por Lessius prescreve uma disposição de comportamento, adquirida por meio da vontade e do hábito, que promete o melhor desempenho das funçÕes corpóreas e anímicas necessárias, enquanto meios concretos, para que o indivíduo possa ter uma vida, ao mesmo tempo, saudável, virtuosa e satisfatória. O que estaria baseado em uma refinada convergência de saberes médicos, da filosofia da alma e da ética aristotélicas e da espiritualidade inaciana.
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As paixões da alma eram classificadas pelos médicos da tradição hipocrático-galênica na categoria das seis coisas não naturais: ar e ambiente, comida e bebida, esforço e repouso, sono e vigília, excreções e secreções e paixões da alma. Em particular, o importante médico francês Nicolas Abraham Sieur de la Framboisière (1560-1636) defende, em seu Le gouvernement necessaire a chacun pour vivre longuement en santé, publicado em Paris em 1600, a idéia de que as chamadas seis coisas não naturais são armas da natureza e seus efeitos na saúde dependem de como são empregadas. La Framboisière discute as características de algumas paixões e orienta como utilizá-las em favor da saúde e da vida longa. Em harmonia com a tradição dos regimes de vida e a psicologia aristotélico-tomista em circulação na França, ele propõe um exame minucioso das causas dos afetos para que se possa governá-los e compreender melhor nossos próprios desejos.
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Este artigo examina alguns exemplos de discursos da cultura luso-brasileira dos séculos XVI, XVII e parte do XVIII que, a partir da analogia entre medicina da alma individual e medicina do corpo social, propõem tratamentos para o pathos manifesto na esfera pública. Trata-se de parte de um estudo em história das ideias psicológicas que enfoca os males da alma na cultura luso-brasileira em diálogo com o contexto mais amplo da cultura da primeira modernidade, em especial, da renovada tradição da arte da consolação. Conclui-se que a analogia entre a medicina da alma individual e do corpo social referendava variadas práticas psicológicas numa dinâmica entre atenção ao particular e ação no social.
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A renovação da historiografia intelectual sobre a antiga Companhia de Jesus (1540-1773) tem enfocado suas subestimadas, porém complexas, relações com os saberes renascentistas. Objetiva-se, com este estudo, analisar o uso da analogia da medicina da alma em algumas obras de influentes jesuítas dos séculos XVI e XVII, atuantes no contexto europeu e nas missões portuguesas. O exame do uso desta antiga analogia permite repensar os fundamentos, as relações com outros saberes do período e a operacionalidade de um sistema de convenções que nomeava atividades em concordância com a longa tradição médica do humoralismo e com a concepção de alma aristotélico-tomista. Foi realizado um levantamento de obras em que ocorre a analogia da medicina da alma em acervos brasileiros, franceses, italianos e portugueses que incluem fontes de medicina, teologia, pedagogia e manuais de retórica dos séculos XVI e XVII. Esta pesquisa resultou na localização de regras, diretórios, manuais e tratados práticos, além de cartas e sermões de jesuítas que se utilizam do termo medicina da alma. São textos fundamentais como os do fundador da Companhia, Inácio de Loyola; de seu grande colaborador, Juan Polanco; do cardeal Roberto Bellarmino; do retórico francês, Louis Richeome; do teólogo de Louvain, Léonard Lessius; do superior da ordem, Claudio Acquaviva; do procurador geral das Índias, Estevão Castro, e de missionários no Brasil, como José de Anchieta, Manuel da Nóbrega e o célebre sermonistaAntônio Vieira. Em síntese, os diferentes empregos que estes autores fizeram da analogia da medicina da alma apresentam significações distintas que se superpõem e se complementam. O uso desta analogia evidencia, por um lado, a posição jesuítica nos debates do período acerca da natureza da alma que, sem contradizer a premissa de imaterialidade e de imortalidade de sua substância, fundamenta uma explicação coerente dos complexos processos da .. vida humana. Por outro lado, o múltiplo e complementar uso da analogia produz significações que permitem defender e legitimar práticas modificadoras de funções e movimentos atribuídos à alma. A analogia da medicina da alma confere a autoridade e a atualidade convenientes às diversificadas ações jesuíticas do período, que incluíam uma incipiente atenção à natureza e ao desejo individuais, cuidados com a alimentação, a observância da ordem nos corpos ou o eventual tratamento de enfermidades, indisposições e atribulações; abrangiam a administração de imagens persuasivas, consolatórias, pedagógicas, e, sobretudo, asseveravam o uso da palavra e de seus efeitos transformadores.
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O presente trabalho pretende examinar como Freud considera a memória humana e seu funcionamento. Para isso, faz-se uma leitura atenta de alguns estudos que são marcos do pensamento freudiano acerca do tema. Para a compreensão deste fenômeno em sua totalidade, uma vez que o autor parte do pressuposto que o conteúdo esquecido não fora eliminado e perdido, mas encontra-se no tão obscuro e desconhecido inconsciente individual, é necessário investigar desde o início de sua obra as teorias formuladas por ele que de uma maneira ou de outra envolvem a memória como um fator causal das atitudes humanas propondo uma pesquisa panorâmica e não exaustiva do funcionamento mnêmico. Enfim, faz-se uma história conceitual da memória humana na teoria freudiana.
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O objetivo deste artigo é discutir a teoria dos temperamentos, partindo de informações contidas em alguns tratados do Corpus Hippocraticum e contribuições de Galeno, bem como alguns de seus desdobramentos. Segundo essa doutrina, a condição de saúde depende do equilíbrio de humores corpóreos, sua combinação ocasiona os temperamentos e existem relações entre o caráter do homem, temperamento, aparência física e afetos. A teoria humoral tinha tanto aspectos médicos propriamente ditos como psicológicos. Alguns autores afirmam que no século XV ocorreu a decadência dessa teoria, mas ela esteve presente não apenas na Idade Média (por exemplo, em Tomás de Aquino), como em obras do início da Idade Moderna (como de autores jesuítas), e persistiu nos regimes médicos do século XVIII. Apesar de ter sido abandonada pela maioria dos médicos no século XIX, até hoje são encontrados resquícios da mesma.
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