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Ao longo das últimas décadas ocorreram mudanças em como entendemos a saúde em nossa sociedade. Desde a expansão do conceito de saúde para além da ausência de doenças, tornando-se uma relação equilibrada entre os aspectos biológicos, psicológicos, sociais, de trabalho e renda, entre outros, até a forma como o cuidado com a saúde foi passando da simples assistência aos doentes para uma noção de que a saúde deve ser promovida e as doenças prevenidas, não apenas tratadas. Essas mudanças ocorreram na esteira do surgimento do conceito de Integralidade, que defende que o ser humano deve ser atendido em sua totalidade, respeitando suas características e necessidades, de forma ampla. Com isso surgiram Políticas Nacionais de Saúde com foco integral para algumas populações específicas, entre elas as caracterizadas por gêneros. Mas saúde tem gênero? E que gêneros são esses? Quem está contemplado nesses documentos? Nessa linha de problematização, no presente trabalho busca-se investigar e cartografar, mediante técnicas de pesquisa bibliográfica, documental e de conteúdo, as três Políticas de Atenção Integral à Saúde hoje em vigor no Brasil que delimitam seu público por gênero (Mulheres, Homens e LGBTIs). Para tanto, utilizo embasamento em estudos de gênero e da teoria queer. O intuito é analisar se há uma diversidade de gêneros preconizada nos documentos e, consequentemente, se isso tem garantido a integralidade da saúde de seu público. As Políticas demonstram basear a Saúde em gêneros binários, cis e heterossexuais, para fins reprodutivos, quando se fala de Mulheres e Homens, principalmente. As pessoas que não se enquadram nesse binário são empurradas para uma ‘condição’ LGBTI, os ‘outros’ do binário Homem-Mulher.
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O artigo parte do problema apontado por Michel Foucault na primeira aula do curso A Hermenêutica do sujeito, datada de 6/01/1982, a saber: o que se passa com o ser do sujeito em sua relação com a verdade? Para desenvolver tal indagação, o filósofo analisa, entre outros aspectos, saberes e práticas característicos da espiritualidade no período de ouro do cuidado de si (séculos I e II). Além de acompanhá-lo em parte desse percurso, pretendemos, com nosso texto, pôr em cena as inflexões que ele implica tanto para o campo da psicologia como para o da formação de professores. Em ambos, é comum que emerjam polêmicas quanto às teorias a adotar como base para uma intervenção mais eficaz ou, preferencialmente, mais crítica. A diferenciação clássica entre ciências naturais e ciências humanas jamais se ausenta desse debate. O presente artigo adota caminho distinto, pois buscamos um modo de arrancar de nossas entranhas o momento cartesiano, arriscando-nos a adotar posturas antipsicologistas e eventualmente antiepistemológicas. Melhor dizendo, indagamos: como, na psicologia e na educação, a constituição de si por si mesmo pode se transformar em uma ética metodológica (ou metodologia ética) de trabalho?
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Numa narrativa sobre Mário, formas de conhecer o louco e a loucura vêm à tona desde um não-lugar judiciário. Códigos jurídicos, intervenções policialescas, acolhimentos institucionais, afetos interinstitucionais (família, abrigo, escola, Centro de Atenção Psicossocial - CAPS): tudo isso será posto em (re)visão na busca de olhar mediante linhas que constroem breves emaranhados (subjetividades, quiçá). Algo como um nó parece conduzir a narrativa: a construção de um louco a partir das intervenções do judiciário, saúde, assistência social e educação. Como torcer tais figuras de modo a conseguir refletir sobre a loucura e as políticas públicas na contemporaneidade? Uma pista parece vir com a história sendo contada a partir de Mário, um (in)fluxo de forças e saberes será ali agenciado. Crítica à sociedade atual, ao adoecimento produzido pela sobrecodificação das vidas, subjetividades assujeitadas de modo mais cru e encarnado: (re)conhecer problemas há muito tempo instalados, fazer gaguejar instituições que conhecem a loucura, buscar linhas de fuga e não nos centrar em nós, isso parece ser algum potencial resultado do rastreio que aqui se empreende.
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Este ensaio tem o objetivo de problematizar os efeitos e movimentos produzidos pelas ações de educação em saúde quando massificadas, em especial, no contexto da pandemia de covid-19. Para tanto, incialmente, ele retoma o histórico do desenvolvimento das atividades de educação em saúde no Brasil, buscando entender os diferentes formatos que ela assumiu, e assume ainda hoje, nas políticas e nos serviços públicos de saúde. A educação popular em saúde, que tem como base teórica os trabalhos de Paulo Freire aparece, então, como um importante desdobramento destas atividades em nosso país, a partir dos anos de 1980. As análises que se seguem utilizam os trabalhos de Michel Foucault notadamente os conceitos de biopolítica e governamentalidade para pensar criticamente, este processo, aprofundando o debate sobre o tema no contexto atual, imerso na pandemia da covid-19. Mesmo diagnosticando o lugar paradoxal que ocupa a educação em saúde no interior da saúde pública e da governamentalidade neoliberal, procura-se estabelecer um diálogo a partir dela, no intuito de facultar a invenção de novos sentidos, a produção de novas realidades.
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O artigo caracteriza dois momentos na história da Análise Institucional (AI) no Brasil, com ênfase no panorama da cidade do Rio de Janeiro: o do início do século XXI, quando a AI poderia ser considerada como um “paradigma sem passado”; e o dos últimos seis anos, aproximadamente, quando se “rouba o nome aos bois”, tecendo uma rede entre a AI e outros discursos e práticas, como as lutas ligadas a concepções não jurídicas de direitos humanos, as racializadas e/ou generificadas, as decoloniais-anticoloniais etc., que repotencializam o paradigma. Em paralelo, essa abordagem se volta para a caracterização das diferentes gerações de institucionalistas brasileiros, principalmente a partir de experiências em universidades públicas. O intuito do texto é efetuar um diagnóstico do presente, e esta primeira experimentação, decerto parcial, está voltada principalmente à construção de uma genealogia ético-política da AI em nosso país, em articulação com os percursos da psicologia como saber e profissão.
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A cidade de Cariacica-ES foi sede do primeiro hospital psiquiátrico público do estado - local que produziu marcas na memória de uma cidade, que se acostumou a manter a loucura à distância, trancafiada nos muros do manicômio. Com as lutas provenientes da Reforma Psiquiátrica, os manicômios tiveram seus muros abalados e a proposta de um cuidado territorial começou a ser posta em prática: a loucura passou a habitar outros espaços da cidade. O presente artigo foi construído a partir de uma experiência investigativa que teve como objetivo conhecer os modos como a loucura foi acolhida em Cariacica-ES para além do espaço manicomial, a partir dos Serviços Residenciais Terapêuticos, após a abertura dos muros físicos do antigo Hospital Adauto Botelho.