A sua pesquisa
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A relevância adquirida pelo pensamento de Michel Foucault no Brasil contemporâneo é circunstância bem conhecida. A despeito disso, poucos têm se dedicado a investigar suas cinco visitas a nosso país, datadas de 1965, 1973, 1974, 1975 e 1976. Sendo assim, a autora desenvolveu a pesquisa “Michel Foucault no Brasil: presença, efeitos e ressonâncias”, cujos objetivos incluem o estabelecimento de uma “audiografia” da presença do Foucault-corpo no Brasil – análise do modo como ele aqui ocupou os espaços de fala –, bem como de uma “geo-epistemologia” – busca das condições geopolíticas de produção do saber – e de uma “cronobibliografia” das ideias de Foucault entre nós – exame analítico-crítico das temporalidades associadas à primazia conferida a determinados procedimentos, categorias, problemáticas e conceitos pelos intelectuais e militantes brasileiros. Para tanto, foram utilizados documentos escritos e fonográficos relativos às visitas, artigos, coletâneas e livros brasileiros voltados à discussão das perspectivas de Foucault, e narrativas orais tanto dos que com ele conviveram nas passagens por São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Belém como daqueles que, atualmente, exibem efeitos e ressonâncias de seu pensamento nos âmbitos acadêmico, profissional e político. Os ensaios que compõem este livro já haviam sido publicados aqui e ali, e foram apenas ligeiramente modificados – evitando repetições excessivas, mas mantendo alguma reiteração, para que possam ser apreciados em qualquer ordem, ou mesmo selecionados conforme os interesses específicos dos leitores.
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O dossiê se compõe da tradução de um texto publicado em outubro/novembro de 1972 na revista La Nef, cuja autoria é atribuída a Foucault e aos membros do G.I.S. (Grupo Informação Saúde), seguida da tradução do manifesto de criação do G.I.S. em 14/05/1972. Os organizadores/tradutores apresentam esses escritos destacando a pouco conhecida participação de Foucault, no início da década de 1970, nas lutas estratégicas no campo da saúde, bem como a singularidade do texto de La Nef, intitulado “Medicina e luta de classes”, quanto a modo de escritura e autoria. Tal apresentação inclui ainda breves considerações analíticas sobre a prática da tradução.Palavras-chave: Foucault, Grupo Informação Saúde, medicina, biopolítica, tradução. RESUMÉ:Le dossier présenté est composé de la traduction d’un article publié en octobre/novembre de 1972 dans La Nef, dont l’auteur est à la fois Michel Foucault et les membres du G.I.S. (Groupe Information Santé), suivie de la traduction du Tract du même groupe. Les traducteurs et résponsables du dossier offrent un petit texte de présentation du dossier en soulignant une activité de Michel Foucault peu connue, sa participation aux luttes stratégiques dans le champ de la santé au début des années 1970, aussi bien que la particularité du texte de La Nef, dont le titre est “Médecine et lutte de classes”, en ce qui concerne son écriture et son(ses) auteur(s). On y trouve encore des brèves remarques analitiques sur l’exercice de la traduction.Mot-clés: Foucault, Groupe Information Santé, médecine, biopolitique, traduction.
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Esta pesquisa tem dois movimentos: no PRIMEIRO PIVÔ, propõe-se uma genealogia histórica do problema da infância no pensamento francês contemporâneo, a partir da obra conjunta do filósofo e professor da Université Paris VIII (Vincennes/Saint Denis) René Schérer (1922 ) com o ativista e escritor Guy Hocquenghem (1946 1988). Ensaiando a escuta de um debate atualmente silenciado a problematização da infância como experiência exterior, transbordante e perturbadora da ordem civilizada, materializada tanto no combate aos quadros explicativos dos saberes psi quanto na crítica à pedagogização sistemática das relações sociais, sexuais, econômicas e políticas no que concerne às crianças , esta meteorologia da moral acompanha as variações do clima em que estas ideias ganharam consistência na França entre as décadas de 1960 e 1980, seja por meio de obras históricas, filosóficas, sociológicas, literárias, cinematográficas, fotográficas etc., seja através da ação política em torno da liberdade sexual e de suas reverberações na expressão do desejo infantil. Pela indisponibilidade da maioria destas obras em português e no intuito de favorecer o acesso a pelo menos uma delas, o SEGUNDO PIVÔ consiste na tradução de um dos principais trabalhos de Schérer e Hocquenghem: o livro Co-ire: album systématique de l enfance ( Coir: álbum sistemático da infância), publicado em 1976, sob o número 22 de Recherches, revista do Centre d Études, de Recherches et de Formation Institutionnelles (CERFI), editada por Félix Guattari (1930 1992). O Co-ire apresenta uma constelação (histórica, literária, filosófica, pictural etc.) de imagens antifamiliares da infância, na qual a criança deixa de ser tomada da perspectiva de um objeto ou categoria de análise para ser pensada na multiplicidade de seus agenciamentos com o mundo. Segundo esta perspectiva, são as potências imprevisíveis da criança (e não seu suposto inacabamento ) que nos interpelam a pensar a infância. Trata-se de uma obra que não se ocupa de totalizar o que mostra, explorando a força que as imagens, sendo consteladas, passam a contrair e ressoar não por se exibirem à plena luz da racionalidade moderna, mas, ao contrário, por se colocarem à propícia penumbra , algo que se insinua sem se entregar. Schérer e Hocquenghem montam esta constelação da infância como um chamamento e um desafio que ultrapassa as páginas do livro em questão: como mostrar e situar estas outras constelações da infância sem ameaçar sua existência frágil? Como preservar seu brilho próprio e sua distância em relação aos saberes e poderes de hoje? E, nesta mesma direção, o que significaria pensar a criança segundo uma imagem propriamente contemporânea ? A partir da história deste livro e para além da contribuição resultante da sua tradução para os leitores e pesquisadores de língua portuguesa , este trabalho se orienta por uma perspectiva que considera a infância antes de tudo como campo problemático em movimento. Razão pela qual esta pesquisa é tão somente uma tentativa de renovar a aliança intensiva com a infância constelada por Schérer e Hocquenghem, cuja força e beleza são celebradas no Co-ire, numa cumplicidade estética com os movimentos passionais que fazem da própria infância potência perturbadora do mundo.
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Numa experiência de militância no campo da esquerda e dos direitos humanos , algumas posturas e práticas se fazem questão. Cobranças e culpabilizações, o imperativo de dar conta de tudo , a exigência de uma suposta legitimidade para lutar, discursos de ódio, desqualificação do outro para se auto-afirmar, mínimas ações que insistem em sua negatividade ao denunciarem medo, ressentimento, controle e surpreendentes apaixonamentos pelo poder: vemo-nos, por não poucas vezes, do lugar de militantes de esquerda , reproduzindo aquilo mesmo que queremos combater. Pensando junto a Michel Foucault e seu provocador prefácio à edição estadunidense de O Anti-Édipo (obra de autoria de Gilles Deleuze e Félix Guattari), pergunta-se sobre como resistir a esses microfascismos e paixões tristes que se alojam em nossos corpos e se manifestam em nossos discursos e práticas. O que está intrincado nas frases desse pensador e que ecoou em vozes de outros intelectuais-militantes contemporâneos seus quando escreve que não é preciso ser triste para ser militante, e que a ligação entre desejo e realidade possui uma força revolucionária? E na recomendação análoga, de liberar-nos das velhas categorias do Negativo? De que forma esse recado é tão atual? Como intensificar e/ou criar práticas militantes mais perpassadas por uma alegria enquanto potência de agir, sem com isso cair em ingenuidades e esvaziamentos? Munida com a leitura de autores como os já citados Foucault, Deleuze, Guattari, e também Baruch de Espinosa e Friedrich Nietzsche, pretendeu-se lançar o olhar sobre esses atravessamentos nos processos de subjetivação militantes, colocando em análise suas implicações. Nessa ontologia histórica de nós mesmos reside uma pergunta e um trabalho éticos: como lidar com essas linhas que compõem o que temos feito de nós mesmos? Para que não reproduzamos pura e simplesmente as forças que são modulações do poder sobre a vida, como dobrá-las , na relação consigo e com o mundo? Tomando o plano macro e micropolítico da experiência como território de pesquisa, uma militante-psicóloga-pesquisadora escreve cartas, em busca de encontros para uma composição que só seria possível se povoada. Numa escrita de si, diluem-se autoria e endereçamento, produz-se pensamento e engendra-se uma estética da existência que problematiza além de militâncias e esquerdas, modos de fazer pesquisa e a própria psicologia. A aposta ético-política é na potência de práticas militantes e de um viver não fascistas. Nada está garantido: não se chega a um suposto modelo que seria superior aos demais nem a uma fórmula para tanto. Trata-se, isso sim, de afirmar um exercício de cuidado de si árduo, cotidiano e parresiástico, que transforma e inventa a própria vida, a posição gauche e o mundo. Tomar a liberdade não como ponto de chegada, e sim como prática incessante de desprendimento de si mesmo e do poder. Quem sabe assim, e justo em meio aos afetos terríveis produzidos num presente abominável, se possam afirmar modos de pesquisar e modulações militantes mais libertárias, que sejam de uma alegria algo áspera e potente.
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O presente estudo consiste em uma crítica à historiografia tradicional sobre a tortura a partir da perspectiva genealógica de Michel Foucault. Baseados neste autor, consideramos que para traçar a história das práticas de tortura é preciso traçar a história política das transformações dos métodos punitivos em correlação com uma tecnologia política do corpo. Por esse caminho entendemos que a emergência da tortura está sempre vinculada às relações de poder/modos de governo (de si e dos outros), que se apresentam de diferentes formas ao longo da história. Para alcançar essas diferenças efetuamos um mapeamento das descontinuidades em torno da prática da tortura no período que vai do século XII ao XXI. Nossas análises foram distribuídas a partir dos três modos de governo apontados por Foucault: poder soberano, poder disciplinar e biopoder. O campo de problematização engendrado por esse olhar genealógico facultou pensar a tortura de três modos principais e nem sempre mutuamente exclusivos: a tortura legitimada pelo poder real; a tortura supostamente abolida e efetivamente redistribuída nas sociedades disciplinares; a tortura utilizada como uma tecnologia biopolítica de governo das condutas - dos regimes ditatoriais aos democráticos -, em que fazer viver e deixar morrer são duas faces de uma mesma moeda. Apontamos variados segmentos populacionais que têm sido alvo do governo das condutas mediante a prática da tortura, mas demos destaque especial ao segmento da infância, em função de ele aparecer de forma intensa e recorrente em nossa história.
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