A sua pesquisa
Resultados 391 recursos
-
A presente pesquisa investiga a produção de subjetividade em seminários católicos. Por meio de diversos teóricos, girando em torno do eixo conceitual da Análise Institucional (em sua vertente socioanalítica e, principalmente, esquizoanalítica), pesquisou-se um importante seminário católico diocesano na região Sudeste, um dos primeiros fundados no Brasil. Um seminário é a instituição de internato em que muitos homens vivem, estudam e trabalham, durante oito anos em média, para se tornarem padres. Nossa pesquisa de campo utilizou-se da observação participante, oriunda da antropologia e sociologia, em diversas visitas ao estabelecimento, durante as quais fomos autorizados a participar de todas as atividades dos 110 seminaristas internos. Em seguida, alguns seminaristas, de todas as etapas da formação, e todos os 5 padres formadores foram entrevistados. Recorremos a entrevistas abertas de história de vida, segundo os procedimentos da História Oral italiana. Guiados pela distinção da filosofia de Spinoza de três gêneros de conhecimento, buscamos dramatizar a formação clerical em três níveis de compreensão: os Signos ou afectos, as Noções ou conceitos, as Essências ou perceptos. Por meio dessa trajetória, constatamos o predomínio da dimensão do instituído e de uma modelização homogeneizadora de tipo romana, resultando em que os clérigos ali formados se fechem em uma identidade sacerdotal claramente identificável e encapsulada na obediência aos centros de poder eclesiais: a Cúria romana, a Mitra diocesana e a Paróquia. Busca-se, na formação, reproduzir a subjetividade serializada segundo um Modelo sacerdotal institucionalizado, no qual as dimensões litúrgica e disciplinar são ressaltadas, em detrimento das dimensões místico-políticas sendo a perseguição à Teologia da Libertação um importante analisador dessa característica. A constante vigilância da pureza doutrinal, litúrgica, organizacional e teológica indicou-nos a pressão em reprimir a dimensão místico-profética, que range, querendo se expressar. Em vista disso, bem como de inúmeros outros analisadores, conceitos e personagens produzidos ao longo da pesquisa, pudemos constatar que o desejo clerical, modulado na formação seminarística, oscila entre dois pólos: um pólo sacerdotal-romano-paranóico e um pólo profético-libertador-esquizo. No primeiro, há redução à identidade hegemônica nascida nos centros de poder eclesiais, fechando-se à diferença, na busca de um projeto de imortalidade frente às intempéries da vida e transformações da História, produzindo práticas hierárquicas a partir de um pensamento de caráter transcendente, representativo. No segundo pólo, há busca de singularização, nascida do seguimento a Jesus, o conseqüente compromisso com os menores e excluídos dentro e fora da Igreja e o processo inerente a esta produção de sentido, criando-se, em conseqüência, uma radical imanentização da vida cristã e de seus pólos e transcendências: material/espiritual, fé/vida, Igreja/Mundo, mística/política. O seminário pesquisado, indicador das transformações micropolíticas da Igreja contemporânea, produz hegemonicamente um desejo sacerdotal-romano-paranóico, forjando funcionários do poder da Igreja, burocratas do aparelho de Estado romano, aplicadores de suas rubricas litúrgicas e normas doutrinais e morais, e não profetas do Reino de Deus, máquinas de guerra libertadoras quanto a tudo o que oprime a potência da vida e suas inauditas expressões singulares.
-
Talvez seja possível imaginar uma vida que não seja definida por sua relação com a Empresa esse conjunto de práticas do ser-cliente e do ser-empreendedor; essa maquinaria de produção de competência e conveniência, de gestão das temporalidades e das diversidades. Acredito que seja possível, pelo menos, outras relações com a Empresa e, portanto, outras subjetividades. Por isso realizo esta analise dentro de uma perspectiva diferencialista inspirada por Foucault, Deleuze e Guattari, pela Analise Institucional, pelo poder criador da ficção. O dispositivo é montado: acompanhamos as subjetivações empresariais em ação por meio da formação, do consumo, do trabalho, do cotidiano, das atitudes, amizades e sonhos de um personagem, descrevendo o funcionamento da Empresa o jogo de suas práticas e as regras que nele se produzem e o orientam. Ao fim, não é possível ou desejável que eu te diga o que sentir, pensar ou fazer com as conclusões, mas posso te dar o diagrama da Empresa o que ela é e o que ela faz e pedi-lo que você escolha uma vida empresarial, ou não.
-
Este estudo busca compreender como são efetivadas as políticas de saúde mental e de assistência social para os usuários de álcool e drogas assistidos no município de Resende/RJ. Para tanto, foi realizada uma revisão conceitual, tanto da própria concepção de direitos como das políticas de saúde mental e de assistência social, correlacionando-as com a temática do uso de álcool e outras drogas e situando-as, singularmente, no território pesquisado. A pesquisa teve por objetivo geral analisar os efeitos das políticas públicas de saúde e de assistência social na garantia de direitos dos usuários de álcool e outras drogas e, por objetivos específicos: (1) estudar a percepção dos usuários quanto às atribuições das políticas de saúde e de assistência social; (2) identificar as relações existentes entre as políticas setoriais; (3) apreender a concepção dos profissionais acerca das políticas de garantia de direitos no município; (4) entender de que forma os usuários acessam as políticas de saúde e de assistência social e, por fim, (5) identificar as formas de cuidado ofertadas pelos executores das políticas. Metodologicamente, dadas às condições político-sanitárias do período de realização da pesquisa – uma epidemia de covid-19 tratada de forma necropolítica pelo governo federal –, empreendemos um percurso metodológico exploratório, tendo por referencial de base a análise institucional. Os principais instrumentos utilizados foram a observação participante realizada nos dispositivos/serviços da rede e as entrevistas, levadas a cabo tanto com os usuários como com os profissionais lotados nas políticas de saúde mental e de assistência social. Como resultado preliminar percebeu-se, entre outros destaques, que os usuários se sentem gratos e acolhidos pela política a que estão vinculados e que os profissionais percebem que suas ações produzem cuidado e garantem o acesso da população aos serviços. Porém, foi identificado um desconforto relacionado ao processo formativo e à atuação dos assistentes sociais como técnicos de saúde mental. Esses achados reforçam a importância do trabalho desenvolvido, mas apontam para a necessidade de dar prosseguimento a estudos sobre o tema proposto.
-
Tentamos responder a uma única questão, que se coloca duplamente, problema a nosso ver central para a Psicologia: qual o estatuto ontológico do pensamento? Assim, igualmente: qual o estatuto ontológico do psiquismo? Se a subjetividade ou o espírito, seja como psiquismo (afetos, devires, alma) ou pensamento (ideias, representações, mente) é algo, e sabemos não se confundir com o corpo presente ou o cérebro (imagens atuais), o que é ela então? Construindo um recorte perceptivo onde possa emergir a intuição que nos permita responder a essa colocação de problema, buscamos na primeira dissertação da tese, tendo por eixo uma análise de fato, desenhar a gênese da subjetivação coletiva em nosso presente. O psiquismo no capitalismo globalizado deslizaria rumo à esquizofrenização, que nada mais é que o crescente despertar intuitivo da subjetividade em virtude de um aumento de potência dos coletivos humanos (virtualização) que tende a uma mudança de forma, a encarnação de uma nova visão de si e do mundo: a superação da transcendência (divisão entre os modos de ser ou indivíduos por representações fixas, simétrica à sensação de separação entre o indivíduo e seu meio), ou seja, um mergulho na imanência ou reconexão com o Todo coletivo e comum, Virtual. Na segunda dissertação, avançaremos a problematização em direção a uma análise de direito, partindo da ontologia spinozista (ser da Natureza) e da metafísica bergsoniana (colocar os problemas em termos temporais, processuais, e não espaciais, fixos), ao interrogar-se sobre a natureza desse comum, o Virtual ou atributo Pensamento, no qual o atributo Extensão ou Atual seria apenas um recorte para uma consciência qualquer dessa duração indivisível comum (seleção que constitui seu interesse ou resolução do problema da vida). Nesta relação que constrói ao mesmo tempo a subjetividade (visão de mundo, Espírito) e a objetividade (Mundo ou a visão de uma subjetividade), demonstra-se que o que tomamos como matéria é apenas uma abstração de forma espacial-geométrica, quantitativa, desse fluxo vital que, no Tempo (Acontecimento, Ato Puro, Verbo), é um todo, um bloco de forma temporal-afetiva, qualitativa. Assim, nossa tese ou hipótese: (1) toda psicologia é de direito (gênese, virtualidade) e de fato (prática, atualidade) uma psicologia social, seu tecido comum é o Pensamento, construído concretamente e permanentemente em redes vivas de comunicação diferencial, criativas, pois tendem por sua própria natureza temporal ao aumento de potência (alegria) segundo sua duração singular imanente − interdito à Moral como forma transcendente, que pela sua assimetria é sempre um problema mal colocado; e (2) que a visão do Virtual não apenas evidencia um novo ponto de vista da psicologia, mas coloca em questão o paradigma científico-político-noético hegemônico, voltado para o presente e o corpo, a vida como signo ou representação (análise e julgamentos, crítica), para dar visibilidade a um saber do sentido da vida, voltado para o Espírito, a imanência presente do passado (Memória) e do futuro (Criação); um saber que não nega ou negligencia o corpo, mas, ao contrário, o eleva à enésima potência de vida como pensamento e ação, reconectando todo corpo individual e presente ao corpo comum coletivo e histórico do qual jamais pode ser separado.
-
O artigo caracteriza dois momentos na história da Análise Institucional (AI) no Brasil, com ênfase no panorama da cidade do Rio de Janeiro: o do início do século XXI, quando a AI poderia ser considerada como um “paradigma sem passado”; e o dos últimos seis anos, aproximadamente, quando se “rouba o nome aos bois”, tecendo uma rede entre a AI e outros discursos e práticas, como as lutas ligadas a concepções não jurídicas de direitos humanos, as racializadas e/ou generificadas, as decoloniais-anticoloniais etc., que repotencializam o paradigma. Em paralelo, essa abordagem se volta para a caracterização das diferentes gerações de institucionalistas brasileiros, principalmente a partir de experiências em universidades públicas. O intuito do texto é efetuar um diagnóstico do presente, e esta primeira experimentação, decerto parcial, está voltada principalmente à construção de uma genealogia ético-política da AI em nosso país, em articulação com os percursos da psicologia como saber e profissão.
-
Numa experiência de militância no campo da esquerda e dos direitos humanos , algumas posturas e práticas se fazem questão. Cobranças e culpabilizações, o imperativo de dar conta de tudo , a exigência de uma suposta legitimidade para lutar, discursos de ódio, desqualificação do outro para se auto-afirmar, mínimas ações que insistem em sua negatividade ao denunciarem medo, ressentimento, controle e surpreendentes apaixonamentos pelo poder: vemo-nos, por não poucas vezes, do lugar de militantes de esquerda , reproduzindo aquilo mesmo que queremos combater. Pensando junto a Michel Foucault e seu provocador prefácio à edição estadunidense de O Anti-Édipo (obra de autoria de Gilles Deleuze e Félix Guattari), pergunta-se sobre como resistir a esses microfascismos e paixões tristes que se alojam em nossos corpos e se manifestam em nossos discursos e práticas. O que está intrincado nas frases desse pensador e que ecoou em vozes de outros intelectuais-militantes contemporâneos seus quando escreve que não é preciso ser triste para ser militante, e que a ligação entre desejo e realidade possui uma força revolucionária? E na recomendação análoga, de liberar-nos das velhas categorias do Negativo? De que forma esse recado é tão atual? Como intensificar e/ou criar práticas militantes mais perpassadas por uma alegria enquanto potência de agir, sem com isso cair em ingenuidades e esvaziamentos? Munida com a leitura de autores como os já citados Foucault, Deleuze, Guattari, e também Baruch de Espinosa e Friedrich Nietzsche, pretendeu-se lançar o olhar sobre esses atravessamentos nos processos de subjetivação militantes, colocando em análise suas implicações. Nessa ontologia histórica de nós mesmos reside uma pergunta e um trabalho éticos: como lidar com essas linhas que compõem o que temos feito de nós mesmos? Para que não reproduzamos pura e simplesmente as forças que são modulações do poder sobre a vida, como dobrá-las , na relação consigo e com o mundo? Tomando o plano macro e micropolítico da experiência como território de pesquisa, uma militante-psicóloga-pesquisadora escreve cartas, em busca de encontros para uma composição que só seria possível se povoada. Numa escrita de si, diluem-se autoria e endereçamento, produz-se pensamento e engendra-se uma estética da existência que problematiza além de militâncias e esquerdas, modos de fazer pesquisa e a própria psicologia. A aposta ético-política é na potência de práticas militantes e de um viver não fascistas. Nada está garantido: não se chega a um suposto modelo que seria superior aos demais nem a uma fórmula para tanto. Trata-se, isso sim, de afirmar um exercício de cuidado de si árduo, cotidiano e parresiástico, que transforma e inventa a própria vida, a posição gauche e o mundo. Tomar a liberdade não como ponto de chegada, e sim como prática incessante de desprendimento de si mesmo e do poder. Quem sabe assim, e justo em meio aos afetos terríveis produzidos num presente abominável, se possam afirmar modos de pesquisar e modulações militantes mais libertárias, que sejam de uma alegria algo áspera e potente.
-
Tradução de Ruptures subjectives et investissements politiques: juin 2013 au Brésil et questions de continuité, de Maurizio Lazzarato e Tatiana Roque. Tradutora : Heliana de Barros Conde Rodrigues
-
Entre os anos de 2015 e 2016, os estudantes secundaristas realizaram um dos movimentos políticos mais insurgentes dos últimos tempos no Brasil: as ocupações das escolas públicas. Motivadas por diversas razões, elas foram marcadas principalmente pelo ineditismo da autogestão dos alunos e pelo desafio imposto às autoridades públicas. Como reverberação, a experiência dos estudantes também provocou o debate sobre a relação com o poder, o fluxo e o tempo. Este artigo analisa o movimento em diálogo com essas três categorias utilizando como suporte o registro das ocupações no audiovisual e no teatro. O movimento sinalizou para essa juventude a possibilidade de outras práticas com o mundo e indicou que ações semelhantes podem estar apenas à espera de um momento oportuno para acontecer de novo.
-
O presente estudo consiste em uma crítica à historiografia tradicional sobre a tortura a partir da perspectiva genealógica de Michel Foucault. Baseados neste autor, consideramos que para traçar a história das práticas de tortura é preciso traçar a história política das transformações dos métodos punitivos em correlação com uma tecnologia política do corpo. Por esse caminho entendemos que a emergência da tortura está sempre vinculada às relações de poder/modos de governo (de si e dos outros), que se apresentam de diferentes formas ao longo da história. Para alcançar essas diferenças efetuamos um mapeamento das descontinuidades em torno da prática da tortura no período que vai do século XII ao XXI. Nossas análises foram distribuídas a partir dos três modos de governo apontados por Foucault: poder soberano, poder disciplinar e biopoder. O campo de problematização engendrado por esse olhar genealógico facultou pensar a tortura de três modos principais e nem sempre mutuamente exclusivos: a tortura legitimada pelo poder real; a tortura supostamente abolida e efetivamente redistribuída nas sociedades disciplinares; a tortura utilizada como uma tecnologia biopolítica de governo das condutas - dos regimes ditatoriais aos democráticos -, em que fazer viver e deixar morrer são duas faces de uma mesma moeda. Apontamos variados segmentos populacionais que têm sido alvo do governo das condutas mediante a prática da tortura, mas demos destaque especial ao segmento da infância, em função de ele aparecer de forma intensa e recorrente em nossa história.
-
Esta tese versa sobre a história da implantação de uma reforma de ensino implementada durante dois governos petistas no município de Chapecó, Santa Catarina. No desenvolvimento do texto busco, a partir das falas coletadas em entrevistas realizadas com professoras, analisar os efeitos produzidos no cotidiano docente a partir da referida reforma. Inicio o trabalho apresentando diversos momentos da história política e educacional brasileiros nos quais diferentes reformas de ensino foram realizadas, apontando as inter-relações existentes entre as políticas governamentais e as políticas de educação. Em seguida, apresento o cenário específico Chapecó no qual ocorreu a reforma estudada. Neste ponto procuro apresentar a constituição política do município e discutir a novidade que um governo, considerado progressista, pode trazer para o campo da educação. Ao final analiso as entrevistas apontando e discutindo os efeitos que a reforma do ensino provocou, a partir das considerações feitas pelas professoras. Partindo de uma perspectiva transdisciplinar busco, auxiliada por referências das ciências humanas e sociais (política, história, sociologia, economia, psicologia) e da filosofia da diferença, compor um dispositivo metodológico que abarque a complexidade da temática proposta. Concluo o trabalho considerando que os efeitos produzidos pela citada reforma de ensino foram variados e só devem ser considerados em sua provisoriedade.
-
A cidade de Cariacica-ES foi sede do primeiro hospital psiquiátrico público do estado - local que produziu marcas na memória de uma cidade, que se acostumou a manter a loucura à distância, trancafiada nos muros do manicômio. Com as lutas provenientes da Reforma Psiquiátrica, os manicômios tiveram seus muros abalados e a proposta de um cuidado territorial começou a ser posta em prática: a loucura passou a habitar outros espaços da cidade. O presente artigo foi construído a partir de uma experiência investigativa que teve como objetivo conhecer os modos como a loucura foi acolhida em Cariacica-ES para além do espaço manicomial, a partir dos Serviços Residenciais Terapêuticos, após a abertura dos muros físicos do antigo Hospital Adauto Botelho.
Explorar
Tipo de recurso
- Artigo de periódico (113)
- Livro (31)
- Seção de livro (202)
- Tese (45)
Ano de publicação
-
Entre 1900 e 1999
(54)
- Entre 1970 e 1979 (2)
- Entre 1980 e 1989 (3)
- Entre 1990 e 1999 (49)
-
Entre 2000 e 2024
(336)
- Entre 2000 e 2009 (173)
- Entre 2010 e 2019 (113)
- Entre 2020 e 2024 (50)
- Desconhecido (1)