A sua pesquisa
Resultados 391 recursos
-
A presente tese inicia-se por uma encruzilhada e um segredo: na encruzilhada está a psicologia, entre os apelos instrumentais, antropológicos e neurocientíficos; já o segredo refere-se à quase desconhecida leitura de Kierkegaard por Foucault. Os dois filósofos se inscrevem na esteira da experimentação filosófica, caminho oposto ao da metafísica. Experimentação, aqui, não diz respeito a qualquer empirismo; inspira-se nos exercícios espirituais da Antiguidade grega e romana, e nas práticas da ironia, do cuidado de si e da parresía filosófica. As aproximações possíveis entre o pensamento de Kierkegaard e o de Foucault por esse viés da filosofia antiga, visam a contribuir para uma compreensão da psicologia e de suas práticas que permita o enfrentamento dos dilemas acima referidos, ou seja, os instrumentais, antropológicos e neurocientíficos. O percurso do trabalho tem como ponto de partida as suspeitas direcionadas à psicologia, desde o questionamento colocado por Canguilhem há mais de cinqüenta anos acerca das intenções pouco claras da disciplina, passando pelas críticas aos processos de subjetivação psicologizantes, até chegar ao grave enquadramento contemporâneo que busca convencer os sujeitos de que são, em última análise, nada mais do que cérebros. Os processos de subjetivação engendrados pelas práticas psi se vêem, pois, colocados hoje frente a impasses de difícil solução. Tantas são as suspeitas e temores quanto aos efeitos psi, que os próprios profissionais da área têm, em muitos casos, assumido a posição de que a psicologia se tornou inviável e deve desaparecer. As referências objetivantes ou antropológicas, quando priorizadas pela psicologia, de fato não deixam saídas, tornando urgente o encontro com outros referenciais que possibilitem respirar novos ares. O pensamento de Kierkegaard e o de Foucault surgem como intercessores em face desse horizonte sombrio. Os dois filósofos se dedicaram a tornar o homem atento a si e ao mundo, priorizando saídas singulares e criativas em lugar da reprodução dos modos de ser hegemônicos que ameaçam igualar tudo e todos. Desnaturalizadores do presente e avessos às grandes especulações teóricas sobre a vida, escreveram obras que é preciso experienciar, mais do que simplesmente ler, a fim de captar-lhes a atmosfera e com elas operar. A partir dessa atitude, a psicologia experimental ou interpretativa pode dar lugar a uma psicologia experimentante, que acompanha o cotidiano ao invés de se colocar como uma curiosidade sem paixão. Tal psicologia segue de maneira interessada os movimentos da existência e a apropriação pessoal da verdade, que deixa de ser transcendente, metafísica ou sonhada, e aparece encarnada nas lutas, receios, enganos, ações e tensões do dia-a-dia dos sujeitos de carne, osso e espírito. É na tensão constituinte-constituído que o sujeito se forja, seja ele lançado por Deus, como pensa Kierkegaard, seja, como propõe Foucault, mergulhado nos esquemas e objetivações que toma como naturais: a tarefa do sujeito é tornar-se si mesmo, participando de forma mais livre da própria constituição, exercendo de maneira refletida e ética a liberdade e transparecendo a si mesmo, ao invés de tomar como suas as determinações que lhe são oferecidas. A presente tese visa, portanto, a estabelecer o diálogo entre Foucault e Kierkegaard, pelo viés da filosofia antiga, buscando inspiração para promover, no tempo presente, processos de subjetivação outros que os modos desesperados de ser, e práticas psicológicas mais experimentantes e menos disciplinadoras.
-
Este trabalho é efeito de pesquisas de mestrado e doutorado desenvolvidas na Universidade Federal Fluminense desde 2004, somadas à atual investigação-ação, que visa a problematizar que sentido de política a supervisão clínico-institucional implica quando age como um agenciador de forças, e não de identidades. Para tanto, tomamos em análise a rede de atenção psicossocial de uma área do município do Rio de Janeiro-RJ, partindo da apreciação do dispositivo-supervisão do território. Tal dispositivo visa a ampliar o sentido de política a partir de uma aliança intensiva ativadora de conectividade e de produção de coletivos. Palavras-chave: subjetividade; supervisão; política de aliança intensiva; rede de atenção psicossocial.
-
O presente trabalho, que é parte da investigação Michel Foucault no Brasil: presença, efeitos e ressonâncias, dedica-se a explorar, mediante a bibliografia existente (especialmente a biográfica), outras fontes escritas e entrevistas sob o paradigma da História Oral, as circunstâncias da visita do filósofo a Belo Horizonte, entre 29 e 31 de maio de 1973. Seu principal objetivo é estabelecer uma audiografia de Foucault entre nós, ou seja, tanto a ordem discursiva a que sua palavra se viu submetida quanto à desordem que, naquela, eventualmente imprimiu. Em acréscimo, leva-se em conta que Foucault sempre enfatizou que a verdade, em lugar de estar à espera de nossa visada, possui geografia e cronologia próprias. São focalizadas as falas informais do filósofo na Aliança Francesa e a aula ministrada na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FAFICH-UFMG), bem como as conferências proferidas na Clínica André Luís e na Casa de Saúde Santa Clara. Destaque especial é concedido às relações com a imprensa: a presença de Foucault se dá em tempos de ditadura militar e, à época, ele desenvolve uma análise crítica dessa atividade – seja da imprensa burguesa seja da alegadamente de esquerda –, ao mesmo tempo que vê na filosofia uma forma de jornalismo radical. Cumpre acrescentar que o recurso à oralidade – entrevistas realizadas com alguns daqueles que conviveram com o filósofo em 1973 – tem por intuito explorar lembranças acerca do personagem-Foucault e de suas idéias, em busca tanto de instituídos (memoráveis e comemoráveis) quanto de narrativas intempestivas que aportem novas linhas de investigação.
-
A dissertação procurou debruçar-se sobre as condições de vida dos jovens, no contexto das relações de sexualidade, de gênero e de exclusão, face às aceleradas transformações sociais, educacionais, econômicas e políticas em Cabo Verde. A abordagem busca, a partir das informações disponíveis em estudos, das histórias ficcionadas em literatura, em memórias e experiências coletivizáveis, assim como nas efetuações e afetações inscritas na nossa trajetória individual/coletiva, dar visibilidade aos diferentes operadores categóricos que servem à preparação de um "futuro melhor para todos", procurando elucidar os regimes de poder que definem as formas a partir das quais vários problemas são reafirmados. São problemas cujas reconfigurações, hoje, são transcritas numa lista de comportamentos inadequados - muitos dos quais tidos por gravosos - que se transformam em formas comuns de se referir aos jovens. Pretendeu-se assim, na linha de pensadores como Michel Foucault, Felix Guattari e Gilles Deleuze, criar condições para desvencilhar-se das amarras que impedem que se comece a pensar sobre as condições que possibilitam aos jovens serem efetivamente protagonistas de si, protagonistas dos processos que conduzem à procura de soluções para os desafiantes problemas que pesam sobre eles.
-
Mediante narrativas de casos de aparição de fantasmas em um complexo de águas termais localizado no Barreiro de Araxá, em Minas Gerais, que mudou sua imagem de lugar de cura e saúde para ambiente de lazer e beleza, este trabalho buscou seguir pistas sobre: a ascensão, queda e renascimento do termalismo no Brasil; o problema da contaminação das águas minerais do Barreiro; as incongruências nas ações das Políticas Públicas. Tais aspectos produziram efeitos múltiplos nos trabalhadores das Termas e na população local, tais como: fantasmas, medos, silêncios, disputas e adoecimentos. A pesquisa toma como inspiração metodológica os trabalhos de Alessandro Portelli com a História Oral, para obter e acompanhar as narrativas; a genealogia de Michel Foucault, para apresentar as mudanças no conceito de saúde e de terapêutica no tempo; a Teoria do ator-rede de Bruno Latour, para seguir os actantes, humanos e não-humanos. Chama atenção para o cuidado de si como forma ética de estar no mundo, tendente a tornar a vida potente, criativa, abrindo uma possibilidade de alguém se tornar médico de si mesmo. Entende, nesse sentido, que podem ser viáveis, desde que em ruptura com meras práticas de renovado controle da vida das populações, as novas terapêuticas implantadas no SUS ? Terapias Alternativas e Complementares, dentre elas, em particular, o Termalismo Social.
-
Esta pesquisa tem dois movimentos: no PRIMEIRO PIVÔ, propõe-se uma genealogia histórica do problema da infância no pensamento francês contemporâneo, a partir da obra conjunta do filósofo e professor da Université Paris VIII (Vincennes/Saint Denis) René Schérer (1922 ) com o ativista e escritor Guy Hocquenghem (1946 1988). Ensaiando a escuta de um debate atualmente silenciado a problematização da infância como experiência exterior, transbordante e perturbadora da ordem civilizada, materializada tanto no combate aos quadros explicativos dos saberes psi quanto na crítica à pedagogização sistemática das relações sociais, sexuais, econômicas e políticas no que concerne às crianças , esta meteorologia da moral acompanha as variações do clima em que estas ideias ganharam consistência na França entre as décadas de 1960 e 1980, seja por meio de obras históricas, filosóficas, sociológicas, literárias, cinematográficas, fotográficas etc., seja através da ação política em torno da liberdade sexual e de suas reverberações na expressão do desejo infantil. Pela indisponibilidade da maioria destas obras em português e no intuito de favorecer o acesso a pelo menos uma delas, o SEGUNDO PIVÔ consiste na tradução de um dos principais trabalhos de Schérer e Hocquenghem: o livro Co-ire: album systématique de l enfance ( Coir: álbum sistemático da infância), publicado em 1976, sob o número 22 de Recherches, revista do Centre d Études, de Recherches et de Formation Institutionnelles (CERFI), editada por Félix Guattari (1930 1992). O Co-ire apresenta uma constelação (histórica, literária, filosófica, pictural etc.) de imagens antifamiliares da infância, na qual a criança deixa de ser tomada da perspectiva de um objeto ou categoria de análise para ser pensada na multiplicidade de seus agenciamentos com o mundo. Segundo esta perspectiva, são as potências imprevisíveis da criança (e não seu suposto inacabamento ) que nos interpelam a pensar a infância. Trata-se de uma obra que não se ocupa de totalizar o que mostra, explorando a força que as imagens, sendo consteladas, passam a contrair e ressoar não por se exibirem à plena luz da racionalidade moderna, mas, ao contrário, por se colocarem à propícia penumbra , algo que se insinua sem se entregar. Schérer e Hocquenghem montam esta constelação da infância como um chamamento e um desafio que ultrapassa as páginas do livro em questão: como mostrar e situar estas outras constelações da infância sem ameaçar sua existência frágil? Como preservar seu brilho próprio e sua distância em relação aos saberes e poderes de hoje? E, nesta mesma direção, o que significaria pensar a criança segundo uma imagem propriamente contemporânea ? A partir da história deste livro e para além da contribuição resultante da sua tradução para os leitores e pesquisadores de língua portuguesa , este trabalho se orienta por uma perspectiva que considera a infância antes de tudo como campo problemático em movimento. Razão pela qual esta pesquisa é tão somente uma tentativa de renovar a aliança intensiva com a infância constelada por Schérer e Hocquenghem, cuja força e beleza são celebradas no Co-ire, numa cumplicidade estética com os movimentos passionais que fazem da própria infância potência perturbadora do mundo.
-
Esta tese se propõe a explorar as relações entre arte, loucura e polis a partir da aposta de que a vida possa ser permanentemente criada como obra de arte aberta às variações e diferenciações inerentes ao viver. Tal procedimento estético demanda a constituição de espaços-tempo heterotópicos, capazes de simultaneamente engendrar e abrigar contraposicionamentos às políticas de sujeição e controle contemporâneos. Para tanto, problematizamos as instituições arte, loucura e polis, extraindo, dessas formas estratificadas, virtualidades que possibilitem a emergência de modos menores, fazendo-as variar. Partimos da polis, dimensão imaterial e coletiva das cidades, ao mesmo tempo máquina abstrata de engendramento das formas que a habitam, a deslocam, a produzem e forma que a vida assume nesses territórios, para visibilizar como se engendram loucuras e artes de viver. Partimos de fragmentos históricos, literários e biográficos para pensar outros modos de habitar e tecer trajetórias na cidade, instando a tessitura de relações de criação de si e do mundo, por meio da invenção de espaços outros entre a loucura e a arte. Da loucura pensada por Foucault como positividade domesticada pelo saber médico, instauramos séries da experiência trágica ao fora e, deste, ao fluxo esquizo, proposto por Deleuze e Guattari para finalmente chegar a uma loucura menor, loucura que é antes dissolução das formas identitárias e estabilizadas e que materializa o delírio como dispositivo estético de criação de mundos. Finalmente, chegamos à arte, deslocando-a da dimensão de criação de objetos estéticos, para pensá-la como dimensão imanente ao próprio viver. Neste ponto nos valemos de Nietzsche, Deleuze e Foucault para pensar a vida como experimentação que resiste às armadilhas que a aprisionam em modelos préestabelecidos, vida que se cria a cada instante como obra de arte. Ativando, portanto, uma arte menor, arte de viver, damos corpo à proposição foucaultiana de uma estética da existência, procedimento por meio do qual se cria a si mesmo ao criar-se outro nas relações com o mundo. Procedimento, portanto, estético, ético e político. Instabilizadas e problematizadas as formas iniciais polis, loucura e arte , tomamos os casos Bispo do Rosário e Moacir para investigar, em suas trajetórias, como é possível do entrelaçamento entre elas, se constituírem estilizações da existência, de forma a fazer derivar o real e ficcionar modos de viver. Por fim, recorremos à poesia, delírio das palavras¸ para ensaiar possibilidades de criação de espaços-tempo singulares, heterotopias menores, espécies de utopias efetivamente realizadas, como afirma Foucault, que nos permitam fazer da vida obra de arte.
-
Este estudo focaliza a prática de leitura de livros de auto-ajuda com o objetivo de analisar, numa perspectiva genealógica, seu surgimento, condições de produção e modos de funcionamento em sua implicação com um estilo liberal de existência. À luz da analítica foucaultiana, postula-se que a literatura de auto-ajuda, entendida como formação discursiva, está intrinsecamente ligada a racionalidades e tecnologias do poder voltadas para a afirmação de um indivíduo que se auto-empresaria como capital humano. Tomando em referência o conceito de governamentalidade, tem-se que tal literatura associa-se a microprocessos de governo de condutas atinentes a uma razão governamental que visa alcançar pelo mínimo governo a máxima eficácia. O trajeto investigativo deu-se em diferentes planos, intimamente interligados, que incluíram detalhada pesquisa de campo, leitura e análise de livros do gênero e entrevistas com leitores. O relato parte de uma discussão sobre a contínua e sistemática circulação de ensinamentos que, a um nível infinitesimal, se afirmam na atualidade como condutores de nossas condutas, para, em seguida, introduzir uma discussão sobre a concepção foucaultiana de prática central à análise e guia da reflexão que a partir de então se faz - com o intuito de desvelar, nas práticas de leitura de auto-ajuda, possíveis interconexões entre produção de verdades, técnicas de si e governo dos outros.
Explorar
Tipo de recurso
- Artigo de periódico (113)
- Livro (31)
- Seção de livro (202)
- Tese (45)
Ano de publicação
-
Entre 1900 e 1999
(54)
- Entre 1970 e 1979 (2)
- Entre 1980 e 1989 (3)
- Entre 1990 e 1999 (49)
-
Entre 2000 e 2024
(336)
- Entre 2000 e 2009 (173)
- Entre 2010 e 2019 (113)
- Entre 2020 e 2024 (50)
- Desconhecido (1)