A sua pesquisa
Resultados 7 recursos
-
O artigo traz contribuições da História Oral para a entrevista psicológica, esta última como espaço privilegiado para o retorno da narrativa no contemporâneo. Iniciando com as histórias contadas em um ambulatório público de psicologia, propondo outra escuta e outro olhar para as falas, silêncios e gestos que se colocaram em cena, apresenta as contribuições de Walter Benjamin sobre a narrativa. Destaca, a seguir, as contribuições da História Oral, em especial, as de Alessandro Portelli, cujas proposições para o encontro entre entrevistador e entrevistado em uma procura histórica se aproximam do que acontece em uma entrevista psicológica. Elas permitem afastar, sem medo, as preocupações com uma impossível neutralidade, com análises e interpretações teóricas e deixam os ouvidos livres para aquilo que lhes é dito, as histórias narradas por pessoas de “carne e osso” e escutadas por psicólogos também “encarnados”, que compartilham do mesmo mundo enquanto contexto de significações sempre em jogo.
-
O artigo traz a estratégia autoral kierkegaardiana, relacionando-a à noção de cuidado de si nos antigos. Inicia-se com Ponto de Vista Explicativo da Minha Obra de Escritor, na qual o filósofo dinamarquês expõe seu método de comunicação indireta com o leitor através das obras estéticas, pseudonímicas, publicadas simultaneamente aos discursos edificantes, comunicação direta assinada pelo próprio Kierkegaard. A meta era levar o leitor à reflexão e ao autoreconhecimento, ao mesmo tempo em que o autor cumpria a tarefa que lhe fora designada em sua existência. Pretendia aproximar-se de modo sutil daquele que se encontrava sob a ilusão e começar por aí a desfazê-la. A leitura deveria, portanto, provocar um efeito sobre o leitor, algo muito próximo dos exercícios espirituais da Antiguidade, onde filosofia era filosofar, uma ação que interferiria concretamente na vida do sujeito. Outras obras de Kierkegaard são trazidas para apresentar essa vinculação entre a escrita, a leitura e o cuidado de si, indissociáveis tanto na Antiguidade quanto no projeto autoral kierkegaardiano. Tal vinculação será apresentada à luz das ideias de Michel Foucault, em cujas obras ganham relevância a noção antiga do cuidado de si e seus desdobramentos.
-
O presente artigo parte do dilema apontado na conferência de Canguilhem Que é a Psicologia? de 1956, a fim de mostrar sua atualidade e também que é possível acrescentar-lhe as problematizações contemporâneas que tratam da psicologização e da neurocientifização dos atuais processos de subjetivação. O que temos feito de nossas vidas e de nossas práticas e como agir livremente perante a ameaça crescente de robotização e de cerebralização dos modos de subjetivação? A fim de não ficarmos paralisados frente a tais impasses, sugerimos caminhos possíveis a partir do encontro com Kierkegaard e Foucault, filósofos que se inscrevem, para usar a expressão foucaultiana, em uma via de experimentação não metafísica, caminho esse que já foi bastante privilegiado se voltarmos o olhar para a Filosofia antiga dos exercícios espirituais, porém, que foi sendo esquecido aos poucos pela tradição filosófica ocidental. Uma psicologia experimentante é, por fim, sugerida como caminho possível, na tentativa de reconhecer e/ou de evitar os perigos inicialmente apontados. Sabendo-se que não se pode eliminá-los do cotidiano das práticas psi, pode-se ao menos estar mais atento aos mesmos, sendo esse o objetivo do presente texto.
-
O artigo pretende destacar algumas temáticas explicitadas na parresía dos Cínicos e apontar seus possíveis efeitos, no presente, sobre as práticas psicológicas. Debatido por Foucault no curso A Coragem da Verdade, o heroísmo filosófico do cínico estava em levar as determinações filosóficas às últimas consequências, mostrando-as na própria pele. A exigência de uma vida outra para um outro mundo, a experiência histórico-crítica da vida e a militância cínica são aqui trazidas em suas possíveis relações com as práticas da psicologia social que se proponham genealógicas e éticas, em contraponto com as que confiscam e/ou anulam o problema da verdadeira vida.
-
A presente tese inicia-se por uma encruzilhada e um segredo: na encruzilhada está a psicologia, entre os apelos instrumentais, antropológicos e neurocientíficos; já o segredo refere-se à quase desconhecida leitura de Kierkegaard por Foucault. Os dois filósofos se inscrevem na esteira da experimentação filosófica, caminho oposto ao da metafísica. Experimentação, aqui, não diz respeito a qualquer empirismo; inspira-se nos exercícios espirituais da Antiguidade grega e romana, e nas práticas da ironia, do cuidado de si e da parresía filosófica. As aproximações possíveis entre o pensamento de Kierkegaard e o de Foucault por esse viés da filosofia antiga, visam a contribuir para uma compreensão da psicologia e de suas práticas que permita o enfrentamento dos dilemas acima referidos, ou seja, os instrumentais, antropológicos e neurocientíficos. O percurso do trabalho tem como ponto de partida as suspeitas direcionadas à psicologia, desde o questionamento colocado por Canguilhem há mais de cinqüenta anos acerca das intenções pouco claras da disciplina, passando pelas críticas aos processos de subjetivação psicologizantes, até chegar ao grave enquadramento contemporâneo que busca convencer os sujeitos de que são, em última análise, nada mais do que cérebros. Os processos de subjetivação engendrados pelas práticas psi se vêem, pois, colocados hoje frente a impasses de difícil solução. Tantas são as suspeitas e temores quanto aos efeitos psi, que os próprios profissionais da área têm, em muitos casos, assumido a posição de que a psicologia se tornou inviável e deve desaparecer. As referências objetivantes ou antropológicas, quando priorizadas pela psicologia, de fato não deixam saídas, tornando urgente o encontro com outros referenciais que possibilitem respirar novos ares. O pensamento de Kierkegaard e o de Foucault surgem como intercessores em face desse horizonte sombrio. Os dois filósofos se dedicaram a tornar o homem atento a si e ao mundo, priorizando saídas singulares e criativas em lugar da reprodução dos modos de ser hegemônicos que ameaçam igualar tudo e todos. Desnaturalizadores do presente e avessos às grandes especulações teóricas sobre a vida, escreveram obras que é preciso experienciar, mais do que simplesmente ler, a fim de captar-lhes a atmosfera e com elas operar. A partir dessa atitude, a psicologia experimental ou interpretativa pode dar lugar a uma psicologia experimentante, que acompanha o cotidiano ao invés de se colocar como uma curiosidade sem paixão. Tal psicologia segue de maneira interessada os movimentos da existência e a apropriação pessoal da verdade, que deixa de ser transcendente, metafísica ou sonhada, e aparece encarnada nas lutas, receios, enganos, ações e tensões do dia-a-dia dos sujeitos de carne, osso e espírito. É na tensão constituinte-constituído que o sujeito se forja, seja ele lançado por Deus, como pensa Kierkegaard, seja, como propõe Foucault, mergulhado nos esquemas e objetivações que toma como naturais: a tarefa do sujeito é tornar-se si mesmo, participando de forma mais livre da própria constituição, exercendo de maneira refletida e ética a liberdade e transparecendo a si mesmo, ao invés de tomar como suas as determinações que lhe são oferecidas. A presente tese visa, portanto, a estabelecer o diálogo entre Foucault e Kierkegaard, pelo viés da filosofia antiga, buscando inspiração para promover, no tempo presente, processos de subjetivação outros que os modos desesperados de ser, e práticas psicológicas mais experimentantes e menos disciplinadoras.
Explorar
Tipo de recurso
- Artigo de periódico (4)
- Seção de livro (2)
- Tese (1)
Ano de publicação
-
Entre 2000 e 2024
(7)
-
Entre 2000 e 2009
(1)
- 2008 (1)
- Entre 2010 e 2019 (5)
-
Entre 2020 e 2024
(1)
- 2020 (1)
-
Entre 2000 e 2009
(1)