A sua pesquisa
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Este artigo é uma reflexão sobre uma investigação que toma em foco os eventos subjacentes à escrita de uma narrativa focalizando a história da vinda de uma família israelita, em 1904, da Rússia à Colônia Philippson localizada no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, dentro do programa de colonização denominado Jewish Colonization Association para trabalhar na terra. A primeira autora descende desta família. Considerações sobre história, tempo, acontecimento e identidade do pesquisador conduzem à noção de que a passagem pelos limites temporais é uma busca em direção à própria identidade. Este processo é ilustrado por quatro acontecimentos em que o tempo passado se torna presente no caminho para a realização do estudo. O texto finaliza reconhecendo a metáfora da peregrinação como forma expressiva da experiência de narrativa autobiográfica e biográfica da história familiar, colocando este percurso em um terreno cultural mais amplo e de possível alcance universal.
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O presente artigo objetiva analisar os fenômenos de massa em seus aspectos psicológicos a partir das contribuições de E. Stein, considerando o impacto e potenciais consequências destrutivas desses fenômenos como apontados por H. Arendt ao estudar governos totalitários. Após contextualizar o debate acerca do tema, ocorrido nas últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX, o trabalho pretende reconstruir os passos da análise fenomenológica conduzida por Stein no ensaio sobre o contágio psíquico que é parte da obra Contribuições para uma fundamentação filosófica da Psicologia e das Ciências do Espirito, publicada em 1922. Nessa análise, a autora descreve em detalhe o dinamismo através do qual o fenômeno do contágio psíquico se inicia e se alastra na vivência pessoal e de grupo. O estudo conduzido comprova a originalidade, atualidade e utilidade acerca dessa contribuição da filósofa alemã, inclusive para a psicologia e psiquiatria contemporâneas.
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As mutações da sociedade atual e a aceleração do tempo histórico levam a um impulso de coesão com e no passado, de arraigo às origens, buscando pistas de identidade contidas nesse passado coletivo. Os fenômenos da globalização parecem conduzir a uma necessidade de enraizamento e de continuidade; necessidades preenchidas pela memória. Esta, na perspectiva de Maurice Halbwachs, possui ao mesmo tempo um caráter individual e um coletivo, sendo, em parte, modelada pela família e pelos grupos sociais. Revela tanto aspectos da identidade pessoal como social e aponta qual lugar os indivíduos e os grupos ocupam na sociedade. A tradição judaica é a tradição da memória por excelência e a história do povo judeu ilustra os mecanismos da memória e da lembrança. Nesta tradição os rituais e os relatos são canais que transmitem a memória através dos tempos. O objetivo desta pesquisa foi estudar como membros e familiares de uma comunidade judaica vivem a memória coletiva e o que isso significa em suas vidas cotidianas, visando apreender o processo de construção da identidade individual. Entrevistamos 13 pessoas, de cinco famílias diferentes, descendentes de judeus que imigraram para o Brasil. O contato foi proporcionado pela Sociedade Israelita de Ribeirão Preto. Para entrevistar, utilizamos o método da história oral, uma narrativa linear e individual do que os participantes consideram significativo. Neste método, a memória é uma forma de evidência histórica e deve ser analisada como tal. Considerando que na memória as pessoas constroem um sentido do passado, a reflexão ocupa um lugar fundamental para a ressignificação deste passado recordado. As entrevistas, gravadas e transcritas, são apresentadas na íntegra. Os participantes são categorizados em grupos, por família e grau de parentesco. Família 1: Maria (filha), Fernando (neto) e Calebe (neto); Família 2: Patrícia (filha) e Iracy (neta); Família 3 : Antônio (filho), Josy (neta) e Alex (neto); Família 4: Vânia (filha) e Talita (neta); Família 5: Zélia (filha), Daniel (neto) e Raquel (neta). Os nomes são fictícios visando preservar sua identidade. Nas entrevistas notamos uma riqueza pela diversidade e semelhança: são pessoas da mesma família ou de famílias diferentes, que percebem e elaboram a experiência de suas famílias de modos distintos, particulares, complementares e às vezes parecidos, que enriquece a análise e favorece a reflexão, servindo de modelo para alguns aspectos da vida. Também percebemos um processo de construção da identidade: necessidade de contar ou silenciar; como enfrentam eventos traumáticos; como preservam ou não a religião e as tradições; as mudanças ao longo das gerações; a relação com o trabalho e o meio em que vivem; os valores herdados e transmitidos para as próximas gerações, entre outros aspectos que surgiram nas narrativas. O conceito de memória coletiva iluminou a maneira de olharmos para os participantes e seus relatos. Possibilitou que notássemos o que ficou do passado no grupo estudado e o que o grupo fez com o passado. Mais do que conclusões ou pressupostos, alertamos que as entrevistas possuem infindáveis conteúdos para serem explorados e apenas alguns destes aspectos foram abordados neste estudo.
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Criação de arquivo epistolar do neurofisiologista Miguel Rolando Covian: Um registro histórico-contextual. 2013. Dissertação (Mestrado) Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo, 2013. Eneida Nogueira Damasceno - Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo - USP - SP Marina Massimi (orientadora) - Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo - USP - SP Miguel Rolando Covian (1913-1992) foi um neurofisiologista argentino, discípulo de Bernardo Houssay, que chegou ao Brasil em 1955 para dirigir o Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. À frente deste Departamento, projetou-o como um dos mais renomados centros de investigação científica da América Latina, elevou-o a um reconhecimento de nível internacional, um centro de excelência em pesquisa no Brasil e no mundo. O objetivo deste trabalho é organizar e catalogar a correspondência epistolar e institucional do Professor Doutor Miguel Rolando Covian. Essa correspondência, contendo um total de 1.546 cartas, foi encontrada na sala de Covian depois de sua morte e guardada. A realização desta pesquisa levou-nos à descoberta de um testamento, deixado por Covian revelando sua vontade de que o material pertencesse à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto após sua morte. Este trabalho consiste em: 1) classificar e organizar por assunto tal correspondência, de modo a assegurar sua conservação e preservação enquanto documentos históricos ainda protegidos pela Legislação Federal, cuja acessibilidade estará a cargo da instituição que a guarda. 2) Evidenciar a variedade de assuntos contidos nestas missivas, concernentes a diversas áreas do conhecimento humano, principalmente as relativas à História das Ciências, com destaque para a História da Psicologia, da Medicina e da Educação. Isso nos leva a contribuir para a pesquisa disponibilizando fontes primárias devidamente classificadas, catalogadas e preservadas. Trata-se de uma pesquisa documental, na qual se utilizou o método descritivo, sendo a narrativa o estilo da escrita. A escolha do modo narrativo é justificada pelo fato de permitir uma amplitude de informações que não seria possível em uma descrição pontual. Essa opção nos levou a um cuidado com a fidelidade da narração, de forma que a transposição da linguagem não alterasse significativamente a forma original do diálogo contido nas cartas. No decorrer do trabalho observou-se a necessidade de oferecer uma síntese do contexto histórico do período no qual se deu essa correspondência (1955-1985), para este fim procedeu-se a uma pesquisa com a utilização do método histórico, que resultou em capítulos contendo sínteses contextuais relevantes para o entendimento do conteúdo das missivas, assim como uma breve biografia de Covian e outra de seu mestre Bernardo Houssay, a pessoa com quem ele mais se correspondia. Considerando que a correspondência de Miguel Rolando Covian está sendo entregue higienizada, organizada e catalogada, como base para sua preservação; que a descrição em forma de narrativa dos assuntos contidos sinaliza particularidades de acontecimentos relatados, bem como sentimentos e emoções demonstradas nos textos originais; que as apresentações biográficas e a contextualização apresentam o universo relatado nas correspondências e que este material encontra-se agora passível de ser arquivado, preservado e disponibilizado de acordo com as regras estipuladas pela Legislação vigente e pela instituição que o guarda, concluímos que nossos objetivos foram alcançados.
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Encontrando nas leituras do Sermão da Sexagésima de Antonio Vieira (1608-1697) princípios propostos para a arte da oratória que também são reconhecidos nos escritos de Constantin Stanislavski (1863-1938) para a arte da interpretação de atores, parte-se nesse trabalho para a verificação de onde estariam as bases que fundamentam tais princípios em Antonio Vieira e se tais bases estariam, de alguma forma, relacionadas aos trabalhos em teatro de Constantin Stanislavski. Utilizando o que se denomina método comparativo direto entre princípios que constituem as artes da palavra, no caso a oratória religiosa e a representação teatral, chegou-se até os escritos dos Exercícios Espirituais de Inácio de Loyola que em suas propostas estabelecem recursos que eram usados como instrumento no desenvolvimento da arte da oratória jesuítica. Com o apoio da tese de Mario Iannaccone, chegou-se ao importante texto do cineasta Sergei Einseinstein, Teoria geral da Montagem, que nos ajudou a compreender como tais princípios dos Exercícios Espirituais de Inácio de Loyola também se encontram presentes na arte do teatrólogo russo do século XX. Reconhecendo a importância da elaboração da palavra nestas artes, da oratória e da interpretação teatral, e percebendo que tal palavra se propõe em ambos os casos a uma transformação psíquica de seus ouvintes, respectivamente a conversão nos sermões e a catarse no teatro, verificou-se como tal palavra deve ser elaborada a partir dos princípios que esses autores propõem. Para tanto, foin estudado em Marina Massimi as concepções dos dinamismos psíquicos que fundamentam os autores jesuítas em suas propostas de construção da palavra para suas pregações. Inspirados em Margarida Vieira Mendes, especialista em Antonio Vieira, foram recortados alguns itens que ela indica como constitutivos do Sermão da Sexagésima e foi estabelecido um breve roteiro que ajudou a compreender de forma direta as semelhanças que serão verificadas quanto às artes da oratória nos pregadores dos séculos XVI e XVII e do teatro em Constantin Stanislavski. Por fim, analisando os dados obtidos, chegou-se a algumas conclusões destas semelhanças quanto a paralelos de raízes filosóficas e quanto à compreensão dos dinamismos psíquicos humanos, percebendo o porquê de tais práticas conseguirem atingir e transformar o psiquismo de suas audiências.
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Tradicionalmente, o senso comum considera que creches e pré-escolas têm, como função principal, abrigar crianças enquanto seus pais trabalham. No entanto, a maneira com que as crianças são tratadas em tais instituições tem recebido maior atenção recentemente, uma vez que há reconhecimento cada vez maior de que creches e pré-escolas influenciam de maneira crítica o desenvolvimento das crianças pequenas. Nesse sentido, creches e pré-escolas, isto é a Educação Infantil, constitui parte integrante do Ensino Básico de acordo com a legislação brasileira, que obriga o poder público a oferecer vagas a todas as famílias interessadas. No contexto da valorização crescente da Educação Infantil, é importante que se conheça sua história, de modo a compreendermos melhor por quê a Educação Infantil ainda recebe menor preocupação do que as demais etapas de ensino por parte do poder público e da sociedade. A presente pesquisa foi dedicada a essa história, com foco na cidade de Ribeirão Preto - SP. Para tanto, utilizamos a abordagem metodológica da história oral, reconhecida como história viva no tempo presente, e centralizada em entrevistas com áudio gravado e transcrito na íntegra. Os alvos das entrevistas foram professores e funcionários veteranos e/ou aposentados de creches e Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEIs), antigamente denominadas Parques Infantis (PIs). O período das décadas de 1950-60 foi nosso principal escopo, o que determinou a escolha das sete instituições mais antigas da cidade. Ao abarcarmos tal período, procuramos obter informações a respeito da transformação de PIs em EMEIs, que implicou em importantes mudanças na rotina escolar e na estrutura física das escolas. Dada certa dificuldade de encontrar entrevistados dispostos a contribuir para a pesquisa, a investigação foi complementada pela entrevista a pessoas de outras instituições, como associações de professores aposentados. Além disso, sempre que possível foram copiados documentos e fotografias coletadas nas próprias escolas. De modo geral, houve dificuldade para encontrar documentos nos arquivos das instituições, especialmente os correspondentes às décadas de 1950-60. Além disso, constatou-se que as escolas não têm estrutura adequada, tampouco sistematizada, para arquivamento de documentos. Aliás, fomos informados de que arquivos antigos são recolhidos pela Secretaria Municipal de Educação a cada cinco anos para incineração. É alarmante a falta de cuidado na preservação de documentos históricos, que pode prejudicar esforços pela reconstrução de nosso passado similares ao presente trabalho. Nesse contexto, os resultados de nossas entrevistas destacam o quanto a história oral pode contribuir na reconstrução da história mal documentada, uma vez que tal metodologia dá voz a pessoas que geralmente não são ouvidas na construção da história oficial. O conteúdo das entrevistas permitiu uma comparação da época em que as EMEIs ainda eram PIs com o momento atual. Foram discutidos temas como alimentação, rotinas escolares ao longo do tempo, as consequências da mudança de atendimento de tempo integral para meio período, as adaptações de espaços físicos, dentre outros. Os relatos dos funcionários e professoras participantes permitiram a elaboração de um retrato da educação oferecida nas EMEIs de Ribeirão Preto, que apresentamos no presente estudo.
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A cultura ocidental concebeu a interioridade do ser humano de vários modos segundo o clima cultural e o período histórico. No período colonial, a oratória religiosa oferece uma rica matriz para o estudo de saberes psicológicos veiculados na época. A cultura do século XVII, rotulada como barroco é uma cultura de persuasão, sendo a pregação religiosa o meio de comunicação de massa privilegiado. O objetivo desta dissertação é geral realizar uma reconstrução histórica dos saberes psicológicos contidos nos sermões do jesuíta Antônio Vieira (1608-1697). Procuramos descrever e analisar os conceitos de imaginação e memória e outros conceitos a eles relacionados. Utilizamos como fonte primária a obra de sermões publicada pelo jesuíta em edição moderna. A partir de elementos teóricos retirados seja da História Cultura, seja da História da psicologia, buscamos identificar o contexto de produção e as apropriações feitas pelos sujeitos dos conceitos evidenciados. A leitura dos sermões foi feita a partir da hipótese da unidade teológico-retórico-política de sua matriz sacramental proposta por Alcir Pécora. Os sermões estão embebidos em uma matriz epistêmica de orientação aristotélico-tomista. Trata-se de uma psicologia filosófica que remonta ao mundo helênico, porém no século XVII é perpassada pelo humanismo e cristianismo. Nesta concepção há tanto uma visão de homem (uma antropologia filosófica cristã), como um modelo de funcionamento do que poderíamos chamar de psiquismo, identificado com o termo alma. Segundo o pressuposto da época, potências internas e externas, paixões, apetites, vontade, intelecto e espírito são os elementos que compõem a alma. Imaginação e memória tem influência preponderante nesta dinâmica e no processo persuasivo.
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A linha de estudos em história da psicologia no Brasil é o campo de pesquisa em que se insere essa investigação sobre o processo de construção histórica do modelo de relação de ajuda do Centro de Valorização da Vida (CVV), durante a segunda metade do século XX. Partindo da análise de 321 boletins informativos, produzidos por essa instituição entre os anos de 1966 e 2000, procurou-se entender como os modelos de relação de ajuda da psicologia da época influenciaram o tipo de apoio psicológico que era oferecido por ela à população. Nesse sentido, tratou-se de compreender como essa organização não governamental - que trabalha com a prevenção de suicídio, por meio de atendimentos por telefone, pessoalmente e por carta - recorreu à ciência psicológica para formar e aperfeiçoar as capacidades de ajuda de seus voluntários. O CVV foi criado em fevereiro de 1962, na cidade de São Paulo, como parte da Campanha de Valorização da Vida e, em 1965, adquiriu personalidade jurídica, tomando-se Centro. Expandiu seu serviço para diversas cidades brasileiras e da América Latina, sendo que, atualmente, conta com cerca de 60 postos de atendimento. Para realização dessa pesquisa, utilizou-se uma metodologia historiográfica de cunho qualitativo, que seguiu estas etapas: 1)leitura dos boletins; 2)elaboração de quadros das atividades do CVV na sociedade brasileira; 3)delimitação das características da relação de ajuda; 4)leitura de fontes secundárias; 5)análise do processo de construçãohistórica do modelo de relação de ajuda; 6)reflexões sobre as influências dos modelos de relação de ajuda da psicologia no CVV; 7)escrita da dissertação. Nesse percurso, descobriu-se que, durante os quinze primeiros anos de existência, o CVV realizava uma atividade diretiva de ajuda, caracterizada por: 1)serviço de prevenção de suicídio por meio da valorização da vida, através da doação de amizade; 2)recurso a estudos e pesquisas científicas sobre ... suicídio para entender as pessoas que usavam seu serviço; 3)focalização dos problemas do indivíduo ajudado e não sua pessoa. Identificou- se também que, durante os anos de 1976 e 2000, o CVV passou a adotar um modelo não-diretivo de relação de ajuda (que perdura até hoje), influenciado pelas teorias da Abordagem Centrada na Pessoa, desenvolvida por Carl Rogers (1902-1987). A partir desse momento, a doação de amizade oferecida por seus voluntários deixou de focar os problemas dos indivíduos que procuravam seu serviço, e passou a levar em consideração a pessoa inteira deles. Por pessoa entendia-se o indivíduo nos seus aspectos mentais, emocionais e comportamentais, embora, na relação de ajuda, enfatizasse a importância de trabalhar os sentimentos. Mais especificamente, tratava-se do voluntário ser disponível para ouvir a pessoa que o procurava, adotando atitudes de autenticidade, compreensão empática e aceitação incondicional, confiando na natureza construtiva do ser humano erespeitando a liberdade do indivíduo fazer suas escolhas. Dessa forma, acreditava-se que o indivíduo poderia sair de suas máscaras, entrando no processo de vida plena e tomando-se a pessoa que é. Concluiu-se que o CVV recorreu principalmente à psicologia rogeriana como-um fundamento para seu trabalho, construí do na prática. Logo, seus voluntários se "apropriaram" de teorias dessa corrente psicológica, adequando-as ao seu contexto específico.
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O objetivo deste trabalho consiste em compreender as concepções presentes na obra de Machado de Assis que dizem respeito à relação entre psique e comportamento. Para isso, selecionamos alguns contos, romances ou fragmentos de sua obra que se referem ao tema. Consideramos três diferentes níveis em que as idéias se encontram presentes na obra: nas descrições de estados subjetivos das personagens; nas exposições feitas pelos narradores e personagens acerca de motivos psicológicos; na estrutura da trama. As análises foram realizadas com base em alguns temas que se mostraram de grande importância na obra de Machado: em primeiro lugar, na relação entre consciente e inconsciente; em segundo, na noção de caráter; em terceiro lugar, na relação dinâmica homem-mundo, interior-exterior, consciência-circunstância. Buscamos ainda confrontar as idéias presentes na obra de Machado com a de outros pensadores, sobretudo psiquiatras e filósofos do século dezenove, a fim de contextualizar sua obra no âmbito cultural e intelectual de seu tempo. Ao se traçar tais relações, podemos contribuir para uma visão mais rica e complexa dos saberes psicológicos no Brasil no fim do séc. XIX e levantar algumas hipóteses sobre o posicionamento de Machado frente às idéias de seu tempo. Como resultado, destacamos o modo como o escritor desenvolve e articula em sua ficção a noção de inconsciente. Além disso, sua obra mostra-se um terreno privilegiado para uma representação mais complexa eunitária do ser humano, não apenas como ser psicológico, mas também como ser social, histórico, político, moral, biológico, em suma: o homem vivente. A ficção, justamente por mostrar as personagens no tempo e no espaço, revela como a consciência e os comportamentos se dão na dinâmica entre homem e mundo, e entre o homem e os outros homens. Além disso, Machado de Assis refletiu em sua obra a relação entre linguagem e a consciência. E foi mais longe ao explorar os limites da linguagem para se descrever a interioridade humana.
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O objetivo do artigo é comparar duas narrativas acerca de um evento histórico à luz da história dos saberes psicológicos: o movimento de Canudos liderado por Antônio Conselheiro. As narrativas comparadas são: a interpretação dada por Euclides da Cunha acerca das características psicológicas dos participantes desse movimento, em Os Sertões; e os relatos acerca das experiências subjetivas vivenciadas em narrativas orais de sobreviventes de Canudos, colhidas por Odorico Tavares. As duas fontes, produzidas em diferentes gêneros literários (literatura e memória oral) focam as vivências dos participantes de Canudos, divergindo na forma como foram colhidas: a primeira por um observador externo e escritor interprete da visão cultural da intelectualidade brasileira da época; a segunda, expressão narrativa dos atores do movimento entrevistados. Os lugares-comuns evidenciados em ambas as narrativas foram analisados à luz dos respectivos universos histórico-culturais. As divergências emergentes são relacionadas a teorias e saberes psicológicos inerentes a esses universos.
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O artigo aborda o conceito de vaidade como paixão da alma no livro de Matias Aires Ramos da Silva de Eça (1705-1763), Reflexões sobre a vaidade dos homens (1752), à luz da perspectiva metodológica da história dos saberes psicológicos. Da análise do texto resulta que a visão de homem de Aires é influenciada ao mesmo tempo pelo pensamento jesuítico e pelas ideias iluministas francesas. A concepção de vaidade como paixão da alma se insere na tradição filosófica aristotélica tomista e também dialoga com teorias filosóficas contemporâneas como as de Espinosa, Descartes, Hobbes. É muito interessante a discussão da relação entre vaidade e temporalidade, pois nela podem-se observar mudanças de concepção entre Aires e autores do período histórico anterior.
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After a brief presentation of the research program on the “history of psychological knowledge in the ambit of cultural history,” this article addresses 2 issues that we consider particularly important from the methodological point of view: the notion of multiple temporalities (regimes of historicity) and of complexity as characteristics of the contexture of Brazilian culture. It will be shown how both require specific attention from the researcher, because the process of incorporation of psychology in Brazil over time is complex and articulated according to various regimes of historicity that intersect and interpenetrate each other, without being exclusive. Our approach will be exemplified by the concept of memory, showing how this can be grasped in its constitution in Brazilian culture, which is composed of several sedimented layers according to different temporalities. (PsycInfo Database Record (c) 2020 APA, all rights reserved)
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- Artigo de periódico (205)
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- Entre 1900 e 1999 (65)
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