A sua pesquisa
Resultados 72 recursos
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Por ocasião de uma exposição fotográfica realizada na comunidade rural de Morro Vermelho (Caeté-MG / Brasil), retratando momentos das festas mais tradicionais e do cotidiano de seus moradores, coletamos depoimentos sobre as impressões destes ao observarem as fotos. Selecionamos trechos referentes ao processo de memória coletiva e os submetemos à análise fenomenológica. Enfocamos o trabalho da memória como sendo, essencialmente, de elaboração da experiência. Pudemos acompanhar a dinâmica do trabalho da memória e explicitar um campo de possibilidades de significados elaborados pelos sujeitos naquele contexto cultural específico. Pudemos apreender as estruturas da experiência juntamente ao significado afirmado a partir da identificação das seguintes modalidades de elaboração da experiência: a) apreciações, b) elaboração da experiência com referência coletiva, c) elaboração da experiência com referência pessoal.
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Nosso objetivo geral é apreender como a experiência de contar histórias pode ser enraizadora. Examinamos as vivências do “Grupo de Contadores de Estórias Miguilim” de Cordisburgo-MG, que contam histórias do escritor João Guimarães Rosa. A partir da fenomenologia, apresentamos entrevistas ordenadas em três eixos de análise: quais relações que os contadores fazem entre as histórias contadas e suas vidas; como a singularidade aparece em sua experiência e a ressonância da presença do ouvinte na prática do contador. Os resultados revelam que no contexto de Cordisburgo a arte de contar histórias representa uma experiência enraizadora por levar em consideração as características da cultura de seu povo ao mesmo tempo em que proporciona abertura para a troca com outras culturas. Concluímos que esta arte possui características de manutenção de ancestralidade, preocupação com as gerações futuras e com a singularidade, que permitem a inserção da pessoa em sua comunidade e na história humana.
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O artigo relata a pesquisa sobre a experiência de produção de duas imagens – a bandeira e o altar biográfico – em Morro Vermelho, uma comunidade rural e tradicional brasileira. Foram colhidos depoimentos de sujeitos envolvidos no processo de criação das imagens. Analisou-se fenomenologicamente os dados, com atenção à centralidade da pessoa nos processos sociais e culturais. Utilizou-se os conceitos de hilética, noética, dinamismo psíquico na visão aristolético-tomista e memória coletiva, para compreender os sentidos que emergiram entre pessoa, imagem e cultura. Foi possível identificar uma relação dinâmica entre os dados sensoriais (hyle), como cores e figuras, e a expressão de significados próprios da comunidade. A produção das imagens pelos moradores se torna significativa dentro da comunidade, por se encontrar profundamente enraizada nas suas tradições mantidas pela memória coletiva. A força de significado dessa memória na experiência da pessoa permite que a produção da imagem se torne verdadeiramente produção de cultura.
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Evidenciam-se contribuições dos fenomenólogos Stein e Wojtyla quanto à constituição da pessoa em ação. Analisando vivências, Stein sistematiza dinâmica da motivação: a pessoa volta-se intencionalmente para objeto apreendendo conteúdo de sentido para agir com liberdade a partir da correspondência entre provocações razoáveis indicadas pelo objeto e exigências constitutivas de si. Wojtyla analisa dinamismo da ação que revela e realiza a pessoa. Toda realização contém auto-realização por mobilizar a pessoa inteira a partir do seu centro, constituindo-se dever moral porque toca na verdade de si. Delineia-se percurso da experiência da ação pela apreensão da estrutura pessoal realizada em ato (Stein) e pela ação auto-realizadora reveladora dessa estrutura (Wojtyla). A novidade deste percurso consiste em: valorizar análise vivencial como caminho descritivo da subjetividade; evidenciar ação enquanto reveladora e constituinte da pessoa; reconhecer que o ser pessoa emerge de elaboração coincidente com o núcleo pessoal, capaz de formá-lo em sua unidade e totalidade.
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Tomando a vivência do outro como fenômeno a ser pesquisado neste trabalho, esta pesquisa tem como objetivo explicitar a abertura para a vivência do outro incluída na experiência da pessoa, através das indicações da fenomenologia husserliana. Realizamos uma pesquisa teórica de cunho fenomenológico, a partir da obra Meditações Cartesianas. Reconhecendo a especificidade da visão husserliana, problematizamos questões teóricas fundamentais à compreensão do tema do outro, refletindo a respeito das objeções feitas à vivência do outro em Husserl. Concluímos que a exigência do método fenomenológico para o conhecimento da alteridade nos revela um caminho que aponta tanto para a irredutibilidade entre o eu e o outro, quanto para a possibilidade de encontro com um sentido existencial na vivência do outro pela pessoa. Na vivência desse sentido emerge a percepção do valor do outro para o eu, mobilizando o sujeito a assumir um posicionamento livre e interessado na convivência com o outro enquanto alteridade.
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Dada a atualidade da discussão da significação do voluntariado em determinado contexto religioso, objetivamos investigar a inter-relação entre voluntariado e experiência religiosa vivida e revelada pelos sujeitos da experiência. Para tanto, selecionamos uma instituição espírita como ocasião de apreensão dessa inter-relação pois, além de compreender que o Espiritismo propõe o voluntariado de modo próprio, percebemos como a religiosidade daquelas pessoas se apresenta enquanto elas se dedicam ao trabalho voluntário. Os dados foram coletados em entrevistas semi-estruturadas e analisados fenomenologicamente. A análise indica que (1) ação voluntária é vivida como abertura à experiência religiosa: doando-se ao outro em gestos, a pessoa reconhece sua ação sustentada por presenças transcendentes e direcionada à afirmação de horizonte absoluto; (2) vivência da religiosidade ordena a compreensão da realidade, fundamentando e direcionando a ação reconhecida como dever correspondente a si. Conclui-se que realização de si é fator estruturante da mútua-constituição entre voluntariado e experiência religiosa.
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Objetivamos apreender modos de elaboração da experiência ontológica na análise fenomenológica da autobiografia Minha infância e mocidade de Albert Schweitzer (1875-1965), buscando evidenciar especificidades da metodologia utilizada. Apreendemos que a escolha dos episódios e pensamentos descritos, e a organização do texto intentam atestar a constância do autor. Suspendendo o caráter moralizante do conteúdo comunicado, focalizamos a estrutura da vivência dos valores reconhecidos como irrenunciáveis. Emerge que a elaboração da experiência ontológica em Schweitzer liga-se à vivência do problema da verdade. Dialogando com a noção de Experiência Elementar, identificamos a exigência de verdade como aspiração radical que sustenta a curiosidade diante do mundo e se apresenta na pergunta pelo significado global da existência, contemplando o nexo pessoa-totalidade. Como conclusão, compreendemos que na autobiografia de Schweitzer a elaboração da experiência ontológica, ao coincidir com a elaboração sobre aderir ao que reconhece como verdadeiro, abre-se para horizonte totalizante em que a realidade concreta é acolhida como sinal e a vida é concebida como jornada de concretização dos valores não escolhidos, mas intuídos pela consciência. Conclui-se também que focalizar a estrutura das vivências, reconhecendo o dinamismo das exigências humanas, abre caminho para analisar a subjetividade em autobiografias sem incorrer em subjetivismo ou psicologismo.
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Na comunidade de Morro Vermelho (MG), encontramos uma grande devoção a Nossa Senhora de Nazareth, padroeira do distrito. A ela, dedica-se a festa da Cavalhada, iniciada há 310 anos pelos moradores do lugar. Na década de 80 do século XX, nasce também ali uma nova tradição: a Cavalhada Mirim, encenada por crianças. Entrevistamos três responsáveis pela Cavalhada Mirim de gerações diferentes, no intuito de compreender como eles vivenciam a responsabilidade em criar a festa, mantê-la e transmiti-la a outras pessoas que possam assegurar sua existência. Como resultado, observamos uma legitimação da presença das crianças nas festas tradicionais de Morro Vermelho e um relacionamento pessoal com a figura de Nossa Senhora. Notamos ainda que cada sujeito incorpora um momento dessa trajetória de vida em Morro Vermelho: da iniciação na devoção e nas tradições, até a resposta como responsabilidade, culminando na preocupação pela transmissão às gerações seguintes.
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Tivemos como objetivo investigar como os coveiros lidam com aspectos míticos e numinosos referentes ao fenômeno da morte no mundo da vida cotidiana e ao espaço do cemitério. Realizamos entrevistas semiestruturadas com coveiros atuantes no Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Foram utilizadas entrevistas de três sujeitos, e para a análise fenomenológica seguimos as diretrizes metodológicas de van der Leeuw. Foram encontrados quatro núcleos de sentido de experiências de coveiros diante do numinoso: a) o aspecto assombroso do cemitério; b) atravessamento da fronteira de “lá” para “cá”; c) a passagem do aquém para o além; e d) a manifestação da fronteira entre o além e o aquém. Concluímos que, ao lidarem com a fronteira porosa e flexível que separa o familiar do estranho, cada coveiro estabelece a distância e a relação com essa fronteira e com os aspectos míticos referentes ao fenômeno da morte.
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Este é um conjunto de quinze textos em que o pensamento de Edith Stein dialoga com diferentes formas de pensar e com os leitores de hoje. Centrando-se no diálogo com a Filosofia, a Psicologia e a Educação, os textos resultam do III Simpósio Internacional Edith Stein, momento ímpar de partilha de experiências e pesquisas, e versam sobre o confronto steiniano com o pensamento de Heidegger e com teóricos da Psicologia; a correspondência de Edith Stein com Roman Ingarden; algumas reflexões sobre a empatia; o debate entre idealismo e realismo; a aplicação de dados fenomenológicos à prática terapêutica; a pessoa, a comunidade, a comunhão e a formação; a essência da motivação; as semelhanças e diferenças entre Edith Stein, Simone Weil, Pavel Florenskij, Romano Guardini, Hedwig Conrad-Martius e Pierpaolo Donati.
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Analisando fenomenologicamente relatos de história de vida de velhos negros, moradores de Ouro Preto, São João del Rei e Serro, em Minas Gerais, Brasil, investigamos o significado atribuído a irmandades de negros por filiados de longa data e suas conseqüências para a elaboração de identidade. Constatamos que a irmandade, para um típico filiado, consiste em via singular para aquisição de prestígio social, relacionamento criativo/ativo com o sagrado e elaboração de identidade; decidindo pelo convívio com a Irmandade – que os acolhe em vida, e lhes indica criativa maneira de lidar com a morte – lida com a realidade como campo de ação para a busca de consolidação de identidade pessoal e coletiva.
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Discutem-se as contribuições de Edith Stein para compreensão da relação pessoa-comunidade. Adotando o método fenomenológico, a estrutura da pessoa humana – nas suas dimensões corpórea, psíquica e espiritual – é explicitada de forma orgânica e interdependente por Stein, reconhecendo a relação propriamente comunitária como elemento essencial no processo de formação pessoal. Comunidade vem considerada não apenas como agrupamento humano, mas estruturalmente como um tipo de relação interpessoal, marcada pelo posicionamento da pessoa a partir do uso da razão e liberdade. A comunidade é considerada em analogia à pessoa humana, sendo essencial para sua definição e para a apreensão de seus aspectos originais, o reconhecimento e o posicionamento das pessoas. A relação pessoa-comunidade é essencialmente uma relação de interdependência constitutiva, onde os aspectos ativo e passivo da pessoa e da comunidade são necessários no processo de tornarem-se si mesmas, o que só pode acontecer a partir de uma abertura recíproca.
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Apresentamos a pesquisa que tem como objetivo relacionar a virtude na elaboração de sentido no luto. Fundamentado na fenomenologia husserliana e na antropologia filosófica de Stein que descreve a estrutura da pessoa humana na unidade de suas dimensões - do corpo, da psique e do espírito -, e contempla o sujeito nas interações afetivas, sociais e espirituais na comunidade. A partir da dinâmica da potência-ato, ressaltamos o conceito de força, pertinente à dimensão do espírito, como o núcleo central que nos possibilita estabelecer a relação com o habitus ou virtude, considerada como potência atualizada, como ato. Reconhecemos a presença da virtude como disposição constitutiva da pessoa que depende do contexto bio-psico-espiritual-social para se atualizar. Esta reflexão visa contribuir com a atuação do psicólogo diante do luto e destacar o sentido do valor e do cuidado com o humano na psicologia e em nossa cultura.
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Tipo de recurso
- Artigo de periódico (54)
- Livro (6)
- Seção de livro (12)
Ano de publicação
- Entre 1900 e 1999 (7)
- Entre 2000 e 2024 (65)