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Procura-se, aqui, saber por que a Psicologia, mesmo almejando-se científica, possui uma multiplicidade de orientações, sem que nenhuma saia vencedora, ou, ao menos, perdedora. Sem se ater à qualquer juízo epistemológico sobre a cientificidade da Psicologia, o que se busca aqui é a constituição de modelos que dêem conta deste estado de coisas. Inicialmente postula-se um modelo sincrônico e descritivo deste quadro da Psicologia, batizado de máquina de múltiplas capturas. Sugere-se aqui que as diferentes Psicologias representam diversos modos em que práticas sociais são acopladas a conceitos científicos que, com este poder de ser ciência, retornam às práticas sociais, produzindo subjetividades. Para explicar o funcionamento destas máquinas, é constituído um modelo diacrônico que visa buscar as condições históricas destas múltiplas capturas na modernidade, onde são inventadas diversas cisões como as existentes entre: homem X natureza; indivíduo autônomo X controlado; sujeito empírico X transcendental, passíveis de várias combinações.
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Este trabalho é uma tentativa de compreensão dos processos de subjetivação (e seus efeitos políticos) envolvidos nos modos de conhecimento dos saberes psi. Para tal, será levantado um conjunto de definições quanto à subjetividade e a seus modos de produção. Em seguida, serão analisadas as contribuições sobre o tema por parte da teoria ator-rede. Mais adiante, serão tomadas dessa teoria algumas diretrizes para possíveis estudos sobre modos de subjetivação engendrados pelos saberes e práticas psi. De modo mais específico, serão trabalhadas as formas com que as pesquisas psi engendram mundos e sujeitos por meio de políticas ontológicas específicas, gerando formas extorsivas ou recalcitrantes de articulação. É nesse aspecto que será feita a discussão dos modos políticos dessas formas de subjetivação.
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O saber psicológico seria produto de sutis mutações de uma experiência originária, ou seria produto de múltiplas combinações históricas casuais e inesperadas? É um consenso entre os historiadores da psicologia o estabelecimento do século XIX como marco institucional do surgimento científico deste saber. Mas um bom número de autores aponta para uma origem remota, como se a psicologia pudesse encontrar, nesta fundação científica, ecos de um saber ancestral. Contudo, é possível pensar de outra forma, apontando para o surgimento da psicologia a partir de condições bem peculiares, surgidas a partir do século XVI, como a de individualização, de uma interioridade, da loucura como doença mental, da infância como estágio de desenvolvimento e da separação mente-corpo. No entanto, resta saber como se dá a cientifização destas experiências, demarcando uma ciência psicológica. Para tanto, serão seguidas as pistas de Michel Foucault (As Palavras e as Coisas, 1966), para o qual esta cientifização só se realizou no século XIX graças a um novo modo de conhecimento em que o Homem foi alçado ao mesmo tempo à condição de objeto empírico por uma série de ciências, e a sujeito fundamentante por uma série de filosofias antropológicas. Seria do cruzamento destas ciências empíricas do homem com as filosofias antropológicas que nasceriam as ciências humanas, como a psicologia. Este duplo aspecto empírico-transcendental da psicologia permitiria que esta não apenas se configurasse como uma ciência empírica “digna de crédito”, mas também como um saber último sobre o homem, acoplando-se às demandas das diversas experiências sociais de base, ao fornecer uma suposta revelação sobre o que há de oculto em nossa interioridade consciente, os determinantes de nossa individualidade, as marcas da alienação em nossa sanidade mental, os traços da infância em nossa vida adulta e os enlaces do corpo em nossa mente.
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O objetivo deste texto é mostrar a importância do trabalho de Gustav Fechner à luz da problemática do sujeito do conhecimento introduzida pela filosofia moderna. Questão do conhecimento iniciada em Descartes, buscando no Sujeito o ponto de partida de toda verdade demonstrável, e que gerará como contraparte o estudo dos riscos das ilusões a serem produzidas neste Sujeito. Esta tarefa caberá a psicologia, que desde o século XVIII tentará se estabelecer como parceira desta tarefa gnosiológica. Tarefa que será condenada pelos próprios filósofos como Imannuel Kant, decretando a a-cientificidade deste saber. Aqui será vista a importância do trabalho de Fechner: como através de seu trabalho empírico e de sua famosa equação, ele dará subsídio para uma psicologia verdadeiramente científica a ser constituída no final do século XIX.
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A meta deste trabalho é a utilização de alguns conceitos do antropólogo das ciências Bruno Latour visando pensar de modo positivo o conjunto das psicologias em sua dispersão. Não se buscará o julgamento das psicologias em termos da sua cientificidade, mas o entendimento das condições que conduzem a essa dispersão. Para tal, serão expostos alguns conceitos de Latour como o de Sistema Circulatório da Ciência (especificando as condições ou os circuitos internos e externos que tornam a ciência possível) e o de Constituição Moderna (fundada na tentativa de separação entre entes naturais e humanos). Esses conceitos ajudariam a pensar não apenas a especificidade do saber psicológico, como também as suas condições de possibilidade históricas, e efeitos de subjetivação contemporâneos.
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Este trabalho busca caracterizar o surgimento da psicologia e da psicanálise segundo a malha conceitual apresentada na última fase do pensamento foucaultiano, condizente às práticas pelas quais os sujeitos tornam-se sujeitos de si mesmos. Trata-se das tecnologias ou técnicas de si, que são divisíveis em elementos como substância, askesis, práticas de si, e teleologia. A partir destes elementos, são distintos alguns sistemas éticos específicos, como uma ética pagã clássica; uma pagã tardia; uma cristã; e uma moderna. Para o surgimento dos saberes psi, Foucault avalia como crucial a ética cristã, a partir da invenção de uma nova substância ética, os nossos desejos, e de uma nova askesis, a hermenêutica de si. A meta deste pensador é mostrar que esta hermenêutica de si nada possui de universal ou necessário. Esta atitude de estranhamento de si será denominada ontologia histórica de nós mesmos, opondo-se à hermenêutica de si presente nos saberes psi.
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Apesar da enorme variação conceitual ao longo das grandes fases do trabalho de Michel Foucault (arqueológica, genealógica e ética), permanece um tema crítico à psicologia: ela é uma invenção datada, oriunda de práticas específicas. O que varia ao longo dos textos foucaultianos é a determinação destes dispositivos históricos. No caso do período genealógico (anos setenta) podemos encontrar três hipóteses referentes ao surgimento da psicologia, correspondendo às três grandes variações desta fase, cada qual ligada a uma determinada concepção do poder subjacente aos saberes: formas jurídicas; microfísica das relações de força; ou formas de governo. Quanto à psicanálise, sua problematização nesse período é feita em duas etapas: primeiro ao vê-la como uma empreitada de despsiquiatrização parcial do aparato asilar, mas mantendo todos os poderes médicos; e principalmente ao concebê-la como um mero desdobramento do dispositivo da sexualidade e produto do biopoder.
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Este texto opera como una bitácora de distintos relatos intermediados por diversos conceptos sobre formas de gubernamentalidad, contraconductas, movimientos sociales y de insurrección, ensamblando actores humanos (movimientos insurgentes, movimientos fachos, enfermos, carabineros, milicos, gobernantes) y no humanos (perros, coronavírus, ñandús, medicamentos) entre Brasil y Chile en una espiral de historias turbulentas que comprende un corto período de menos de un año. El intento es destacar, en estos países, colectivos con elementos extremamente semejantes, formando caleidoscopios con sentidos absolutamente diversos y que presentan en un espacio de 10 meses cambios intensos y casi diarios de una configuración que podría ser descrita, en términos foucaultianos, como de guerra civil. La pretensión de este texto no tiene como fin abordar todos los aspectos de estas configuraciones bélicas, sino, aquellos elementos que resultan singulares de estos colectivos transhumanos. El texto presenta su propuesta en forma de bitácora o de diario de guerra considerando los acontecimientos desde el estallido social en octubre de 2019 en Chile, pasando por la entrada en escena de la pandemia de coronavirus y cerrando con lo ocurrido hasta agosto de 2020 para percibir la manera cómo todo ese conjunto produce en Brasil y Chile la configuración de colectivos con elementos muy semejantes, pero con sentidos singulares en las respectivas batallas.
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