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O uso do termo encantado e das suas variantes é muito comum nos cultos afro-brasileiros. No intuito de averiguar se do seu emprego é possível inferir uma categoria etnopsicológica, procedeu-se a um levantamento do que tem sido dito a seu respeito na literatura acadêmica. Embora os encantados apareçam sempre envoltos em mistério e indeterminação, é possível perceber que alguns traços se repetem. Mostram-se em diferentes formas, podem ser espíritos e terem corpos, não terem nascido ou nunca terem morrido, classificam-se em famílias, podem reportar-se a cenários naturais, reminiscências históricas, referências literárias. Aparentemente, do ponto de vista etnopsicológico, os encantados sublinham o desconhecido e ressaltam a plasticidade da vivência religiosa, possibilitando enunciar e expressar, com grande liberdade, a experiência subjetiva.
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Os caboclos são entidades espirituais largamente encontradas no panteão umbandista. O objetivo deste estudo foi revelar, no recurso ritual a caboclos na umbanda, os seus sentidos e alcance psicológicos. Para tanto foi realizada uma escuta participante, atenção flutuante aos significantes que se repetiram, para ouvir em profundidade a enunciação na rede de interlocuçãoem questão. Entreesses significantes, repetiram-se alguns termos como terra, luz, água, raiz, amadurecimento, liberdade e ideal, que podem assumir mais de um nível de significância, por meio de uma ‘escrita por imagens’. Percebeu-se que as pessoas em contato com os caboclos estão diante de uma elaboração de suas raízes (pais, ancestrais) que, bem cuidadas e iluminadas (conhecidas e elaboradas), em terra fértil, resultam em plantas (pessoas) fortes e bonitas, que desenvolvem seu potencial, amadurecem. E este amadurecimento inclui o desprendimento em relação às figuras paternas ou autoridades, o que remete à liberdade.
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Historicamente estudiosos têm se empenhado em investigar os mecanismos e as razões pelas quais personagens retirados da experiência histórica e da memória coletiva firmaram-se no imaginário religioso brasileiro. Nesse ínterim, o preto-velho emerge como entidade espiritual proeminente, recorrente presença nas obras de autores interessados em apreender a cultura afro-brasileira a partir de suas manifestações consubstanciadas no quadro da religiosidade popular, sobretudo da umbanda. Assim, tendo em vista compreender os movimentos que marcaram o desenvolvimento dos saberes sobre o preto-velho, apresenta-se uma revisão e discussão crítica das diversas perspectivas a partir das quais ele tem sido pensado e caracterizado. De forma geral, evidencia-se que o estudo sobre o preto-velho oscilou de uma produção fundamentalmente enquadrante e contextualizadora, tomando-o como contingente à lógica sistêmica da religiosidade umbandista, para uma produção focalizada e extensiva, voltada para o seu entendimento como fenômeno dinâmico passível de múltiplos desdobramentos.
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Apesar das heterogeneidades encontradas em meio à categoria espiritual preto-velho, não há ainda investigações sistemáticas sobre o assunto. Assim, objetiva-se analisar o simbolismo e os usos e alcances etnopsicológicos de uma subcategoria “desviante”: os pretos-velhos da mata. Para tanto, desenvolveu-se trabalho de campo em um terreiro de umbanda a partir da escuta participante, desdobramento do método etnográfico concebido pelo aporte da psicanálise lacaniana, e foram realizadas entrevistas semiabertas com médiuns e suas entidades. Os pretos-velhos da mata revelaram-se espíritos insubordinados que desafiam dicotomias ao fundirem num único personagem pretos-velhos e exus, oferecendo aos seus devotos instrumental simbólico para a elaboração de vivências pessoais e memórias sociais conflitivas que os constituem sujeitos no mundo e no tempo.