A sua pesquisa
Resultados 24 recursos
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Esta pesquisa teve como objetivo sistematizar os dados sobre o processo de construção do projeto, montagem e apresentações da peça teatral Morte e Vida Severina (1965), que inaugura o TUCA, Teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
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A prática psicológica no âmbito judiciário é o tema por excelência deste trabalho. São descritas, inicialmente, algumas situações problemáticas que se transformaram em questões judiciais no âmbito da vara da infância. Observou-se que houve, por parte da instituição, uma expectativa de previsibilidade dirigida ao trabalho do psicólogo, ou seja, a demanda de que a avaliação psicológica pudesse confirmar ou refutar a ocorrência de determinadas situações reais como, por exemplo, o abuso contra crianças , bem como desvelar ocorrências futuras do comportamento das partes envolvidas nos processos. Partindo de considerações teóricas a respeito de ciência, verdade e poder, procuramos cartografar medos, anseios e expectativas dos psicólogos do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro. Essa construção cartográfica se estabeleceu através dos relatos de cinco profissionais, chamados de interlocutores-heterônimos, entrevistados com base nas proposições da História Oral, bem como na perspectiva da pesquisa-intervenção, nas quais o pesquisador se coloca como parte do trabalho prospectivo. Os relatos deram ensejo a reflexões de caráter teórico, nas quais foram utilizadas como referências conceituais a genealogia foucaultiana, a Análise Institucional, a Teoria do Ator-Rede e a Teoria do Abolicionismo Penal, entre outras. A instituição judiciária foi analisada com base em sua dimensão histórica e em suas articulações com o poder, que forjam um espaço profundamente hierarquizado e vertical em seu contexto e relações internas. Dessa análise, emerge a figura do magistrado, detentor de um poder quase ilimitado, a quem se deve reverenciar e temer. A pesquisa empreendida teve como objetivo explicitar a dimensão coletiva de uma experiência que costuma ser vivida (e sofrida) de forma particular e isolada, como se somente coubesse aos sujeitos envolvidos a custo de muito sofrimento, tensão e eventualmente descontrole e adoecimento a submissão obediente a imperativos de ordem institucional.
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Esta pesquisa tem dois movimentos: no PRIMEIRO PIVÔ, propõe-se uma genealogia histórica do problema da infância no pensamento francês contemporâneo, a partir da obra conjunta do filósofo e professor da Université Paris VIII (Vincennes/Saint Denis) René Schérer (1922 ) com o ativista e escritor Guy Hocquenghem (1946 1988). Ensaiando a escuta de um debate atualmente silenciado a problematização da infância como experiência exterior, transbordante e perturbadora da ordem civilizada, materializada tanto no combate aos quadros explicativos dos saberes psi quanto na crítica à pedagogização sistemática das relações sociais, sexuais, econômicas e políticas no que concerne às crianças , esta meteorologia da moral acompanha as variações do clima em que estas ideias ganharam consistência na França entre as décadas de 1960 e 1980, seja por meio de obras históricas, filosóficas, sociológicas, literárias, cinematográficas, fotográficas etc., seja através da ação política em torno da liberdade sexual e de suas reverberações na expressão do desejo infantil. Pela indisponibilidade da maioria destas obras em português e no intuito de favorecer o acesso a pelo menos uma delas, o SEGUNDO PIVÔ consiste na tradução de um dos principais trabalhos de Schérer e Hocquenghem: o livro Co-ire: album systématique de l enfance ( Coir: álbum sistemático da infância), publicado em 1976, sob o número 22 de Recherches, revista do Centre d Études, de Recherches et de Formation Institutionnelles (CERFI), editada por Félix Guattari (1930 1992). O Co-ire apresenta uma constelação (histórica, literária, filosófica, pictural etc.) de imagens antifamiliares da infância, na qual a criança deixa de ser tomada da perspectiva de um objeto ou categoria de análise para ser pensada na multiplicidade de seus agenciamentos com o mundo. Segundo esta perspectiva, são as potências imprevisíveis da criança (e não seu suposto inacabamento ) que nos interpelam a pensar a infância. Trata-se de uma obra que não se ocupa de totalizar o que mostra, explorando a força que as imagens, sendo consteladas, passam a contrair e ressoar não por se exibirem à plena luz da racionalidade moderna, mas, ao contrário, por se colocarem à propícia penumbra , algo que se insinua sem se entregar. Schérer e Hocquenghem montam esta constelação da infância como um chamamento e um desafio que ultrapassa as páginas do livro em questão: como mostrar e situar estas outras constelações da infância sem ameaçar sua existência frágil? Como preservar seu brilho próprio e sua distância em relação aos saberes e poderes de hoje? E, nesta mesma direção, o que significaria pensar a criança segundo uma imagem propriamente contemporânea ? A partir da história deste livro e para além da contribuição resultante da sua tradução para os leitores e pesquisadores de língua portuguesa , este trabalho se orienta por uma perspectiva que considera a infância antes de tudo como campo problemático em movimento. Razão pela qual esta pesquisa é tão somente uma tentativa de renovar a aliança intensiva com a infância constelada por Schérer e Hocquenghem, cuja força e beleza são celebradas no Co-ire, numa cumplicidade estética com os movimentos passionais que fazem da própria infância potência perturbadora do mundo.
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Numa experiência de militância no campo da esquerda e dos direitos humanos , algumas posturas e práticas se fazem questão. Cobranças e culpabilizações, o imperativo de dar conta de tudo , a exigência de uma suposta legitimidade para lutar, discursos de ódio, desqualificação do outro para se auto-afirmar, mínimas ações que insistem em sua negatividade ao denunciarem medo, ressentimento, controle e surpreendentes apaixonamentos pelo poder: vemo-nos, por não poucas vezes, do lugar de militantes de esquerda , reproduzindo aquilo mesmo que queremos combater. Pensando junto a Michel Foucault e seu provocador prefácio à edição estadunidense de O Anti-Édipo (obra de autoria de Gilles Deleuze e Félix Guattari), pergunta-se sobre como resistir a esses microfascismos e paixões tristes que se alojam em nossos corpos e se manifestam em nossos discursos e práticas. O que está intrincado nas frases desse pensador e que ecoou em vozes de outros intelectuais-militantes contemporâneos seus quando escreve que não é preciso ser triste para ser militante, e que a ligação entre desejo e realidade possui uma força revolucionária? E na recomendação análoga, de liberar-nos das velhas categorias do Negativo? De que forma esse recado é tão atual? Como intensificar e/ou criar práticas militantes mais perpassadas por uma alegria enquanto potência de agir, sem com isso cair em ingenuidades e esvaziamentos? Munida com a leitura de autores como os já citados Foucault, Deleuze, Guattari, e também Baruch de Espinosa e Friedrich Nietzsche, pretendeu-se lançar o olhar sobre esses atravessamentos nos processos de subjetivação militantes, colocando em análise suas implicações. Nessa ontologia histórica de nós mesmos reside uma pergunta e um trabalho éticos: como lidar com essas linhas que compõem o que temos feito de nós mesmos? Para que não reproduzamos pura e simplesmente as forças que são modulações do poder sobre a vida, como dobrá-las , na relação consigo e com o mundo? Tomando o plano macro e micropolítico da experiência como território de pesquisa, uma militante-psicóloga-pesquisadora escreve cartas, em busca de encontros para uma composição que só seria possível se povoada. Numa escrita de si, diluem-se autoria e endereçamento, produz-se pensamento e engendra-se uma estética da existência que problematiza além de militâncias e esquerdas, modos de fazer pesquisa e a própria psicologia. A aposta ético-política é na potência de práticas militantes e de um viver não fascistas. Nada está garantido: não se chega a um suposto modelo que seria superior aos demais nem a uma fórmula para tanto. Trata-se, isso sim, de afirmar um exercício de cuidado de si árduo, cotidiano e parresiástico, que transforma e inventa a própria vida, a posição gauche e o mundo. Tomar a liberdade não como ponto de chegada, e sim como prática incessante de desprendimento de si mesmo e do poder. Quem sabe assim, e justo em meio aos afetos terríveis produzidos num presente abominável, se possam afirmar modos de pesquisar e modulações militantes mais libertárias, que sejam de uma alegria algo áspera e potente.