A sua pesquisa
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Nesse artigo, pretendemos trazer à cena um dos mais originais intérpretes do Brasil – Manoel Bomfim. Como voz dissonante no cenário intelectual do início do século XX, o autor foi original ao afirmar que nossas mazelas teriam sido construídas historicamente nas relações vigentes desde a colonização do continente latino-americano em contraposição aos argumentos que valorizavam o determinismo biológico ou geográfico.
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Este artigo pretende analisar as interfaces da produção científica feminina no início do século XX com a constituição do espaço psi no Brasil, utilizando para tanto um artigo do periódico católico "A Ordem" e uma tese da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Para sermos mais precisos, nosso recorte temporal situa-se nos primeiros 40 anos do século XX, uma vez que datam desse período os primeiros trabalhos de caráter psicológico escritos por mulheres encontrados por nós, dentre as teses de Medicina e as edições da revista "A Ordem" consultadas. As produções da Medicina e da Igreja Católica foram eleitas como fontes privilegiadas a partir de constatações de uma pesquisa mais ampla, que demonstrou a grande importância que esses discursos – o médico e o religioso – tiveram na construção do campo da psicologia no Brasil.
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Este artigo traduz o resultado de um estudo cujo objetivo foi investigar a presença ou não de influências do ideário da eugenia e higiene mental nas políticas públicas dirigidas à infância. Para alcançar este objetivo, tomamos, como fonte principal, parte da legislação federal que institui a forma de atendimento à infância no Brasil, a saber: o Código de Menores de 1927, primeira legislação que trata exclusivamente da infância, e o Código de Menores de 1979. Consultamos também periódicos e documentos da época, reveladores das contradições do período e a forma de enfrentamento das mesmas. A leitura atenta e rigorosa do material consultado indica pontos de convergência parcial entre o caminho proposto pelas legislações em tela e o ideário supracitado, com ênfase no uso de práticas de exclusão, individualização e personalização de problemas de caráter social.
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Esta dissertação tem como objetivo investigar, mediante uma perspectiva epistemológica, a noção de organismo no fieri teórico de Carl Rogers. Por fieri entende-se o devir ou o fato que faz uma ciência não ficar estagnada em suas concepções. Para realizar esta investigação foram: identificadas as fases do fieri teórico de Rogers; pesquisado o fato de como Rogers concebeu a noção de organismo; examinados os principiais teóricos e influências que Rogers reconheceu a este respeito; verificadas as linhas epistemológicas gerais da noção de organismo em Rogers. Neste trabalho adotou-se uma abordagem epistemológica de pesquisa, inspirada no uso que Jean Piaget fez do método histórico que, segundo ele, consiste em determinar como procedeu à invenção de um conceito ou teoria, reconhecendo as ideias que a tornaram possível. O método utiliza-se de um sistema dedutivo do que foi levado a imaginar a criação da ideia de organismo em Rogers. Foram utilizados como fontes de pesquisa os textos escritos de Rogers e de suas influências. A seleção destes seguiu o critério de conter aspectos relativos à concepção organísmica de Rogers. Como resultado, ficou evidente que Rogers foi um pensador ligado às questões de sua época. Ele assimilou e elaborou, com suporte em sua experiência com essas influências, uma concepção organísmica que integrou as dimensões da personalidade (eu), sociedade (inter-elações) e natureza (cosmos). Em cada fase do seu pensamento, Rogers indicou as seguintes influências para essa concepção: (1) no aconselhamento não-diretivo o funcionalismo-pragmatismo dos Estados Unidos e a psicanálise neofreudidana de Rank, Horney e Sullivan; (2) na terapia centrada no cliente repetem-se as influências anteriores acrescidas do cientificismo estadunidense e sua Psicologia aplicada, a Psicologia da Gestalt, Kurt Lewin, a filosofia educacional, social e política estadunidense e os teóricos da personalidade; (3) na transição entre terapia centrada no cliente e abordagem centrada na pessoa - o impacto do conceito de experienciação de Gendlin, as experiências com grupos, a atuação no campo da educação, as reflexões de perspectivas alternativas às ciências do comportamento e os estudos sobre organismo e auto-realização de Goldstein, Maslow, Angyal e alusões a Whyte; (4) na abordagem centrada na pessoa – se acresce aos estudos de organismo e auto-realização, as pesquisas de Szent-Gyoergy, e a emergência do paradigma sistêmico e holístico de Capra, Prigogine e Maruyama. Considera-se que é possível traçar uma nova inelegibilidade de Rogers com base em noção de organismo. Por esta é possível pensar no avanço de uma abordagem cosmológica da pessoa que não se restringe somente à personalidade. Percebe-se que Rogers deu pistas de como desenvolver um solo científico para a abordagem centrada na pessoa, com arrisco paradigma emergente de ciência contemporânea.
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Os méritos de Psicologia: Ciência e Profissão (PCP) foram reconhecidos por Campos e Bernardes (2005) em seu registro histórico da revista nos seus primeiros 25 anos. Para as autoras, a revista constituiuse num espaço de excelência para a divulgação de estudos psicológicos brasileiros, e tem contribuído significativamente para o desenvolvimento da Psicologia no Brasil. O presente estudo estendeu a análise histórica de PCP a um período mais recente, estabelecendo uma breve comparação com duas revistas congêneres de outras regiões: American Psychologist e European Psychologist. O artigo conclui que, em períodos recentes, PCP aproxima-se cada vez mais das equivalentes estrangeiras em termos de agenda e das funções potenciais de periódico científico, como uma plataforma para a divulgação internacional dos avanços científicos e profissionais conquistados pelos psicólogos brasileiros.
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Production of meaning in the dialogical self emerges from the movement and combination of I-positions. In that sense, psychotherapy is a preferential setting for such processes to occur. Dialogical Valence (DiaV) is suggested as a novel measure of the promptness of I-positions to combine in the dialogical self. Derived from the Personal Position Repertoire, DiaV is intended to reflect the dynamics of the dialogical self. The study compared people under psychological treatment with controls on DiaV and neuroticism. Neuroticism did not yield significant differences, whereas DiaV was lower in the psychotherapy group. Findings are discussed in terms of the potential movements of the dialogical self in psychotherapy. The DiaV measure allows for data summarizing, between-subjects comparisons and assessment of psychotherapeutic process otherwise impracticable with standard dialogical self approaches.
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Para o historiador, o método fenomenológico é recurso instrumental próprio à elaboração da difícil arte de narrar uma ação que efetivamente ocorreu. Para o psicólogo humanista, a fenomenologia é ferramenta para recuperar a riqueza vivencial enquanto fenomenalidades dadas à compreensão e à elucidação. Em nenhum dos casos a fenomenologia apresenta-se como perspectiva ou argumento, mas como recurso à exploração objetiva da subjetividade em busca de pistas intuitivas, mediadas pela lógica qualitativa. Primeiro, o artigo discorre sobre as discussões metodológicas em busca da conciliação entre a estética da narrativa e a necessidade de evidências, ocorridas nas origens da fenomenologia de Husserl. Segundo, toma a história da psicologia humanista para análise e para exemplo da dificuldade fenomenológica em discernir fato e valor, a chamada ambiguidade da experiência consciente. A ambiguidade é implícita ao discurso que se apresenta como a retórica de atribuir valor social à consciência da experiência. Conclui definindo historiadores e fenomenólogos como humanistas cuja tarefa é elaborar narrativas, mediadas por uma retórica ética, na qual a ambiguidade entre fatos e valores favoreça a evidência documental, tomando como regra de interpretação o tempo histórico e o espaço social.
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Phenomenal qualities of recollection and reflexive properties of freely recalled momentous personal events were investigated in 2 experiments. Brazilian undergraduates recalled and rated specific autobiographical episodes through the Autobiographical Memory Questionnaire. In Experiment 1, momentous events were compared to childhood and adolescence scenes. Experiment 2 used an eventcuing paradigm to form 3 pairs of cuing and respective cued events: momentous, earliest recollection, and an event from the subject's birthday last year. No significant differences were found within clusters, but all variables differed between momentous and earliest clusters, whereas only vivid event variables (importance, emotion, rehearsal, unusualness, and consequences) distinguished momentous events from last birthday. Momentous events were characterized in terms of reflexively attributed vivid memory properties, rather than of phenomenal qualities of recollection. Results are discussed in their implications for the relationship between phenomenal qualities of recollection and judgments of autobiographical events and patterns of association in event clusters.
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Instituições de Ensino Superior foram concebidas no Brasil no século XIX como centros de formação profissional, oferecendo cursos de graduação com pouca atenção à pesquisa. A formação em pesquisa começa a se desenvolver com a fundação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação (CAPES) em 1951 e, especialmente, após sua reestruturação em 1964. Os programas de pós-graduação em psicologia implantados entre 1965 e 1980 enfrentaram dificuldades de inserção em suas instituições e de assumir um perfil coerente com a formação de pesquisadores e de docentes para o ensino superior. Mesmo assim contribuíram para na formação de doutores e para o desenvolvimento da pesquisa no Brasil. As características atuais foram se delineando na década de 1980, sendo incorporadas pelos novos programas, dentre eles, o Programa de Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Este artigo reúne anotações sobre as condições fundadoras e os fundamentos que estão associadas à trajetória bem sucedida do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFRGS, descrevendo a história de sua implantação, seus fundamentos, seus princípios básicos e sua forma de funcionamento.
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Este texto objetiva construir uma narrativa histórica sobre os laboratórios de Análise do Comportamento da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na década de 1970. A caixa de Skinner foi o principal objeto estudado, por sua centralidade para os referidos laboratórios. A década de 1970 foi escolhida, uma vez que os laboratórios de Análise do Comportamento foram instalados na UFMG, nessa época. A Historiografia foi o método de trabalho, especificamente o campo da História da Psicologia. As fontes utilizadas foram documentos escritos e orais. O principal resultado foi que o laboratório de Análise do Comportamento, a partir de seu uso didático, funcionou como um centralizador de agentes em prol de uma psicologia científica no recém-criado curso de Psicologia da UFMG.
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O artigo aborda o tema da memória como proposto num sermão de Vieira (1654), buscando reconstruir as matrizes conceituais (a concepção de memória de Agostinho e de Bernardo) e práticas (a tradição da ortopraxis desenvolvida nas comunidades monásticas na Idade Média). Para ambos, a memória é concebida como processo ativo e abrangente, intimamente associada à emoção e à imaginação: não apenas rememora, mas organiza experiências e conceitos segundo um esquema norteado por lugares e percursos, tornando-os disponíveis para a invenção e a construção cognitiva.
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O artigo descreve os procedimentos metodológicos utilizados na área dos estudos históricos em psicologia, apontando para suas derivações dos métodos da historiografia geral e da história das ciências, por um lado, e para as interações entre ciências humanas, psicologia e historiografia, de outro. Aponta como a história da psicologia, nas duas vertentes de história dos saberes psicológicos e de história da psicologia científica, nasce neste terreno. Nesse âmbito, discute: as relações entre o trabalho histórico e a preservação e a memória; a existência de diversas abordagens metodológicas dependentes da diversidade dos objetos escolhidos; a importância das fontes e de seus gêneros como ferramentas básicas da pesquisa. Por fim, discute as modalidades de escrita da história da psicologia.
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Vários estudos têm destacado algumas ideias equivocadas que perpassam o tema das altas habilidades / superdotação, influenciando diretamente na educação dos indivíduos talentosos. Assim, o objetivo geral deste estudo é realizar uma investigação a respeito dos mitos que ainda perpassam o tema das altas habilidades / superdotação na atualidade, estabelecendo um paralelo com a evolução das leis e políticas públicas voltadas para o atendimento aos superdotados no Brasil. As pesquisas analisadas indicam que somente as leis não são suficientes para determinar uma educação efetiva aos alunos superdotados se não houver uma divulgação esclarecedora do tema. A análise crítica dos estudos abordados poderá favorecer a realização de novas pesquisas sobre a forma como a superdotação tem sido entendida pela sociedade. Além disso, os questionamentos suscitados poderão auxiliar a elaboração e aprimoramento de programas voltados para os indivíduos superdotados e para o meio no qual estão inseridos.
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Este artigo tem por objetivo problematizar um dispositivo importante no processo de reforma psiquiátrica brasileira que é a reabilitação psicossocial. Os autores observam que novas modalidades de tratamento em saúde mental não determinam que os doentes mentais possam efetivamente assumir a condição de cidadão, pois princípios manicomiais podem estar presentes, embasando serviços e práticas. O que se observou é que a reabilitação psicossocial tem uma grande importância na vida dos ditos doentes mentais, mas apresenta o risco de promover a manutenção da condição de psiquiatrizado. Para se pensar sobre essa questão, recorre-se à genealogia de Michel Foucault que consiste na problematização das práticas de poder subjacentes aos discursos psiquiátricos contemporâneos no Brasil.
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O artigo aborda a emergência do movimento contemporâneo da História Oral, ligado a Allan Nevins e ao Oral History Research Office da Universidade de Columbia. A despeito do reconhecimento de experiências anteriores nas ciências sociais do século XX e da busca de precursores, como Heródoto, na Antiguidade, analistas da História Oral preferem situar os começos do movimento no pós-guerra norte-americano. Nesta linha, esforços têm sido feitos para identificar os motivos de tal datação e localização – contexto no qual igualmente se insere a presente discussão, que recorre a ferramentas foucaultianas para circunscrever o modo de produção de uma história oral posteriormente designada como “modelo Columbia”. Levando em conta que a tentativa de introduzir a disciplina no Brasil, em 1975, esteve sob a égide de tal modelo, põe-se em análise a hipótese de que nossa história oral tenha emergido na forma de uma história das elites.