A sua pesquisa
Resultados 60 recursos
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O objetivo central do presente estudo é o de deslindar o processo de seleção dos imigrantes proposto pela Liga Brasileira de Hygiene Mental no período entre-guerras. Seleção necessária, considerando que enquanto alguns imigrantes eram vistos pelos higienistas como seres "imprestáveis", "indesejáveis" e "desajustados", outros poderiam cumprir um importante papel no processo produtivo. Para além da seleção dos imigrantes como mão de obra qualificada e barata, também a Liga Brasileira de Hygiene Mental estava preocupada em preservar a ordem dominante, diante da qual os imigrantes "desajustados" resultavam em forte ameaça. Neste sentido, as propostas de aplicação dos testes psicológicos tiveram uma significativa utilidade no marco do ideário higienista.
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O objetivo deste texto é investigar a concepção e as propostas de atendimento escolar destinado aos deficientes mentais segundo o ideário higienista e eugenista difundido pela Liga Brasileira de Higiene Mental (LBHM). Para tanto, utilizamos como fonte primária de estudo os Arquivos Brasileiros de Higiene Mental (ABHM), periódico publicado entre 1925 e 1947. Verificamos que a LBHM expressa diferentes opiniões quanto à concepção e às medidas de intervenção propostas para os deficientes mentais. De um lado, propõe a higienização da população, a ser alcançada com a formação de hábitos sadios através da educação escolar e especificamente da educação higiênica, com a possível adaptação do deficiente ao meio social. De outro, defende uma posição eugênica radical, que apregoa a purificação da raça, a esterilização e exclusão dos ditos degenerados (leprosos, loucos, idiotas, epilépticos, cancerosos, nefrolíticos, tuberculosos, prostitutas, vagabundos e deficientes mentais).
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O presente artigo é uma análise histórica e teórica do projeto de naturalização da fenomenologia. Inicialmente, são retomados conceitos definidores da fenomenologia continental husserliana, como intencionalidade e redução, para demarcar o trajeto da filosofia fenomenológica à investigação empírica. A seguir, são contrastados dois movimentos em prol da naturalização da fenomenologia: a heterofenomenologia e a mente incorporada. A terceira e última parte confronta a neurofenomenologia, recente frente do projeto de naturalização, com críticas correntes acerca do rompimento com o estatuto da fenomenologia husserliana. Os autores concluem que a neurofenomenologia, mesmo se distanciando em alguns aspectos da fenomenologia filosófica, apresenta-se como um instigante campo de exploração e de diálogo entre auto-relatos (dados de primeira pessoa) e observação (dados de terceira pessoa) nas pesquisas em neurocognição.
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A recordação de eventos pessoais marcantes é acompanhada de julgamentos relativos ao evento recuperado (reflexivos) e ao ato de lembrar em si (heurísticos). O presente estudo teve por objetivo explorar relações e distinções entre esses tipos de julgamentos na atribuição de importância pessoal a eventos autobiográficos. Para tanto, solicitou-se a 208 estudantes universitários (170 mulheres) que recordassem um evento marcante de vida e respondessem a um Questionário de Memória Autobiográfica, composto de 16 escalas. Em uma análise de componentes principais, o primeiro agrupou 10 variáveis referentes a qualidades fenomenais e a modalidades de imaginação. Um segundo componente agrupou seis variáveis referentes a julgamentos reflexivos. A importância atribuída ao evento encontrou-se mais relacionada a julgamentos reflexivos por meio dos quais o indivíduo atribui características ao evento de forma retroativa do que a qualidades fenomenais da experiência imediata de lembrar.
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Investigações sobre diferenças de sexo na atribuição de qualidades fenomenais à recordação de eventos pessoais têm apresentado resultados controversos. Enquanto alguns estudos enfatizam que mulheres experimentam maior intensidade emocional e ensaiam memórias mais freqüentemente (reminiscência), outros não encontraram diferenças significativas. Este estudo investigou efeitos de sexo sobre a intensidade emocional de memórias autobiográficas, tanto como qualidade fenomenal da experiência presente de recordação, quanto como propriedade atribuída retrospectivamente ao evento original. Participaram do estudo 66 estudantes de graduação, pareados por sexo e idade, que responderam a 16 itens do Questionário de Memória Autobiográfica (QMA) para diversos tipos de eventos autobiográficos. Mulheres tiveram escores mais altos em todas exceto uma escala (evento incomum). Imaginação visual e ensaio manifesto foram as únicas variáveis cujas diferenças foram estatisticamente significativas (p < 0,05). Os resultados concordam com a literatura que tem encontrado diferenças de sexo pequenas, não-significativas, na atribuição que qualidades fenomenais a memórias autobiográficas. Defende-se uma abordagem que integre evidências de qualidades fenomenais e reminiscência.
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Trata-se de levantamento de artigos publicados em Psicologia Organizacional e do Trabalho (POT), de 2001 a 2005, nas revistas brasileiras: Estudos de Psicologia, Psicologia e Sociedade, Psicologia em Estudo, Psicologia: Reflexão e Crítica, Psicologia: Teoria e Pesquisa, Psicologia USP, e Psicologia: Organizações e Trabalho. A análise considerou número de artigos, temas, metodologia, referências, formação profissional e área de atuação dos autores. De 1105 textos publicados, 178 (16%) foram em POT. Os artigos foram classificados em nove categorias temáticas. Do total de artigos analisados, 30% eram teóricos e 70% empíricos. A maioria dos autores é de psicólogos e está vinculada às universidades. Dentre os principais resultados, destacam-se a diversidade temática e metodológica da produção científica em POT, bem como a preocupação em contemplar as mudanças sociais, econômicas, políticas e tecnológicas. A produção de conhecimento está voltada tanto para subsidiar intervenções como para impulsionar o desenvolvimento teórico da área.
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Investigações recentes sobre memória humana têm retomado a relevância dos dados fenomenais da experiência consciente de recordar. Essa tendência tem encontrado aceitação sobretudo no estudo da memória autobiográfica. Neste trabalho são revisadas soluções metodológicas adotadas no estudo de correlatos neurais desses processos. São apresentados dois modelos explicativos dos fenômenos da memória autobiográfica: o modelo de monitoramento de fonte e o modelo de processos componentes. No monitoramento de fonte, qualidades do estado de recordação determinam os julgamentos concernentes ao evento e à lembrança. Em contraste, o modelo de processos componentes não requer uma ordem serial para esse processamento, a percepção das qualidades e os julgamentos podendo ocorrer paralelamente. Argumenta-se que os dois modelos convergem por enfatizar os processos conscientes característicos da recordação. No contexto desses estudos constitui-se uma fenomenologia experimental, definida como o estudo empírico e sistemático de dados da experiência fenomenal, tomados como correlatos de processos cognitivos subjacentes.
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Resumo: Nos últimos trinta anos, pesquisas internacionais têm se dirigido para o desenvolvimento e uso de instrumentos para avaliar o ambiente de aprendizagem da sala de aula a partir da perspectiva do aluno. Segundo Dorman (2002), a maioria das pesquisas tem sido conduzida nos Estados Unidos e na Austrália. Para Fraser (2002), as modalidades de pesquisa mais comuns são: associações entre os resultados dos alunos e o ambiente; avaliação de inovações educacionais; diferenças entre as percepções dos alunos e do professor de uma mesma sala de aula; determinantes do ambiente da sala de aula; uso de métodos de pesquisa qualitativos; e estudos transculturais. Essa revisão da literatura demonstra a riqueza de um campo de pesquisa que continua em evolução.
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Pretende-se evidenciar, numa perspectiva multidisciplinar e histórica, o processo que transformou o destinatário da persuasão - de sujeito ativo e crítico em consumidor passivo do produto. Na história da cultura ocidental, opõem-se duas concepções diversas do processo da persuasão: de um lado, entende-se que esta deva proporcionar uma experiência ao sujeito concebido como receptor ativo e intencional dos estímulos advindos do mundo externo, corpo vivente e espiritual (dotado de capacidade de juízo e decisão); do outro, vê-se a persuasão como indução de experiência num sujeito considerado como mero receptor passivo dos estímulos externos, corpo determinado pelo mecanismo das reações.
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O artigo visa entender as relações entre a potência psíquica do "engenho", algumas qualidades temperamentais específicas e as funções a serem exercidas pelo indivíduo possuidor destas características delineadas nos Catálogos da Companhia de Jesus ao longo dos séculos XVII e XVIII. Evidencia a presença destas associações como lugar-comum na literatura jesuítica da época, a importância do engenho como qualidade exigida para exercer ministérios relevantes na Ordem, e necessidade do indivíduo possuir uma complexão física adequada a estas exigências.
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O objetivo desta pesquisa é analisar o papel da coreografia e sua função mobilizadora do dinamismo psíquico de atores e espectadores, em dois relatos de festividade ocorrida em Salvador no século XVIII. Partimos da hipótese de que o caráter aglutinador e integrador da festa pode ser melhor compreendido se levarmos em conta a concepção corporativa da sociabilidade e dos relacionamentos sociais próprios da época. Para tal análise, o objeto escolhido foram dois documentos que descrevem a festa realizada no Brasil, na Bahia, mais especificadamente, em comemoração pelo casamento de Dom Pedro. O primeiro documento foi encontrado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e elaborado pelo Padre Manoel Cerqueira Torres em 1760, na Bahia, tendo o título de Narração panegírica das festividades com que a cidade da Bahia solenizou os felicíssimos desposórios da Princesa Nossa Senhora com o Sereníssimo Infante Dom Pedro.
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O karate é uma técnica de combate sem armas que, sustentada por uma antiga tradição, tem como seu principal objetivo a formação do caráter do praticante. A compreensão da visão de mundo na qual o karate nasceu e se desenvolveu é debitária de uma dinâmica espiritual e psicológica singular cujo conhecimento é imprescindível para apreendê-la. O objetivo desta pesquisa é analisar o karate por meio de sua espiritualidade, já que, junto aos textos fundamentais de sua tradição recente, ela é tida como a essência presente em todas as dimensões da expressão da arte. Para tanto, vale-se de uma metodologia historiográfica de perspectiva fenomenológica. Karate-do veicula a espiritualidade do esvaziamento como norte de sua filosofia corporal. Temas com linhas fronteiriças tênues entre si são analisados pela perspectiva de tal espiritualidade. A abrangência desta dinâmica corresponde a um combate subtrativo visando uma apreensão fluida e intutitiva da realidade.
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Neste artigo, o cotejo entre os pensamentos de William James e Friedrich Nietzsche será visto em temas como a recusa à tese de representação, a relação da verdade com a vida, a relação do pragmático com o genealógico, a verdade como artifício, a vontade de crer e o pluralismo. Também será vista a repercussão destes temas em alguns pensamentos atuais.
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O trabalho tem por base três relatos, intitulados O homem das tartarugas, O beijo de Lacan e Por que matei minha mulher, colhidos durante uma pesquisa sobre a História da Análise Institucional no Brasil, que facultam uma experimentação relativa aos jogos de verdade presentes em investigações que recorrem ao paradigma da História Oral. Com tal intuito, lança-se mão da genealogia foucaultiana e da micro-história, articulando-as às contribuições do movimento crítico em História Oral, ligado às ferramentas analíticas propiciadas por autores como Alessandro Portelli e Alistair Thomson. Considerações sobre fidedignidade, forma narrativa, relação entrevistador-entrevistado, posição do narrador, usos da biografia, memória, modos de subjetivação e dialogismo compõem o campo de análise forjado para apreciar os efeitos de verdade-poder que se fazem presentes quando a oralidade é incorporada a estudos históricos sobre as práticas psicológicas.
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Em "Resposta a uma questão", artigo-réplica a perguntas encaminhadas a Michel Foucault pela revista Esprit, um parágrafo concernente às relações entre a constituição da medicina clínica e a Revolução Francesa nos parece, ainda hoje, paradigmático do modo de pensar foucaultiano. O presente ensaio dele parte, no intuito de distinguir a perspectiva foucaultiana daquelas ligadas à História das Mentalidades e à Sociologia do Conhecimento. Em seguida, usa-o como ferramenta analítica de uma recente polêmica, relativa a uma investigação que se propõe a mapear o cérebro de "adolescentes infratores". Avalia-se que o parágrafo mencionado faculta entender de modo singular o repúdio de uma parcela da intelectualidade e da militância ao projeto de pesquisa em pauta. Com isso, a "Resposta a uma questão" se amplia a uma resposta a muitas questões, especialmente ao que se pode entender por defesa dos Direitos Humanos no campo dos saberes e regimes de verdade.