A sua pesquisa
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Se já nos parece estranho atribuir o sucesso ou insucesso do indivíduo unicamente às suas características pessoais ou biológicas (cor da pele, gênero etc.), estranheza maior causa a constatação de que esses discursos são recorrentes há, no mínimo, um século. Pensar essa questão recuperando o eixo naturalista dos movimentos higienistas e eugenistas oficialmente presentes nas primeiras décadas do século XX, na sociedade brasileira, é o conteúdo deste artigo. Atualmente, com o benefício do tempo transcorrido, observa-se que muitas orientações e encaminhamentos oferecidos pelos higienistas para os problemas, geralmente de caráter social, foram justificados pelas dificuldades de adaptação do indivíduo na luta pela vida, advindas da sua origem intelectual, natural e hereditária. E nesse percurso, diga-se de passagem, o instrumental da psicologia foi de grande valia na descrição e classificação dos indivíduos. É claro que a naturalização dos problemas de ordem social não era um discurso hegemômico. Existiam vozes divergentes, como costuma acontecer. Sem entrar no mérito dessa questão, aqui estamos tentando chamar a atenção para os discursos que se perpetuam sob a égide da ciência. E a medicalização de questões de ordem pedagógica e psicológica é um exemplo disso, observado em nossos dias.
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O livro Tests de Medeiros e Albuquerque é um importante precursor da avaliação psicológica no Brasil. A primeira edição parece ter sido em 1924. O sucesso imediato levou a publicação de várias outras edições. A manutenção do termo inglês tests denota a novidade do tema. A palavra já existia em português desde o século XVIII. Certamente, a reconhecimento de Medeiros e Albuquerque, como respeitado jornalista e político, facilitou a aceitação do livro, influenciando fortemente as políticas educacionais da época. O presente artigo está dividido em três partes. A primeira trata da passagem da psicologia experimental de processos simples (Laboratório de Wundt - Leipzig) para as medidas de processos psicológicos superiores (Laboratório de Binet – Paris). A segunda descreve o caminho da avaliação psicológica da Europa para o Brasil. A terceira analisa as principais contribuições do livro Tests, entre elas a informação de que a pesquisa sobre avaliação psicológica estava sendo realizada não mais pelos franceses, mas pelos norte-americanos. A obra é apresentada como uma acurada revisão de literatura da nova ciência psicológica, introduzindo a avaliação psicológica de modo crítico, mas de um ponto de vista favorável.
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O presente artigo é o resultado de uma pesquisa realizada numa ex-colônia de imigrantes italianos situada em Cascalho, município de Cordeirópolis, estado de São Paulo. A vida religiosa dessa colônia organizou-se em torno do padre Luis Stefanello (1878-1964), que foi o formador e orientador de várias gerações de fiéis. A fama de exorcista espalhou-se por todo o interior do Estado de São Paulo, transformando Cascalho em lugar de romarias. A pesquisa revela o que sobrevive da imagem do padre Stefanello na memória dos mais velhos da comunidade e a ação de um homem ”cheio de poder” por meio de suas bênçãos e exorcismos, mostrando as ressonâncias dela no comportamento populacional. Por outro lado, o artigo examina as relações entre a história e memória do grupo social, evidenciando que a experiência do relacionamento entre o padre e o povo de Cascalho foi geradora de um elo que perdura até o presente.
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Com base nas problematizações desenvolvidas na linha de pesquisa da autora a história oral como ferramenta para a construção da história da Análise Institucional no Brasil , o artigo explora conceituações da memória compatíveis com a crítica dos psicologismos e sociologismos dominantes. Recorre primordialmente à idéia de memória-composição do historiador oral Alistair Thomson, exibindo seus nexos com a noção de modos de subjetivação, conforme proposta por Foucault, Deleuze e Guattari. Esta interferência permite hipotetizar a existência de relações entre a prática da história oral, as formas de coleta de lembranças e o engendramento, no presente, de futuros alternativos tanto para as subjetivações quanto para os paradigmas teóricos e/ou historiográficos.
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Os cognitivistas têm assumido que as críticas de Chomsky ao Verbal Behavior refutaram definitivamente a proposta skinneriana. No entanto, mesmo com mais de dez anos de atraso, as réplicas behavioristas à resenha de Chomsky começaram a aparecer. O presente trabalho faz uma revisão desse debate tendo como foco o possível caráter definitivo das críticas de Chomsky. A partir deste ponto de vista, conclui-se que nenhuma das críticas de Chomsky ao tratamento skinneriano do comportamento verbal é definitiva. Porém, algumas observações de Chomsky ainda podem oferecer desafios, como a questão da tautologia na lei do condicionamento operante e a crítica ao abandono do conceito de referência.
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In memoriam Carolina Martusceli Bori (1924-2004)
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In Memoriam Josef Brožek (1913-2004)
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O texto analisa, a partir da experiência da autora na Universidade Federal Fluminense, a formação nos cursos de Psicologia, mostrando como algumas práticas dessa formação estão naturalizadas, sendo reproduzidas sem questionamento. Através do contato com autores como Deleuze, Guattari e Foucault e com a Análise Institucional, a autora reflete sobre a formação marcada por um discurso especialista hierarquizado e pelo clássico modelo clínico dual, e constata também a presença de algumas práticas instituintes que visam romper com o dizer/fazer instituído, lutando por uma formação e supervisão mais críticas em nossos cursos, a fim de formar um profissional mais implicado com as suas práticas cotidianas e seu lugar no contexto social.
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O artigo ancora-se numa reflexão sobre quatro cursos de Psicologia Social ministrados no Brasil na primeira metade do século XX. O legado documental de seus proponentes traz à cena vestígios das práticas educativas, informando o teor temático e metodológico assim como as influências teóricas. Aberta às contribuições de vários campos de conhecimento, a Psicologia Social é revelada em seu momento de imprecisão, fragilidade e construção como campo científico.
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O artigo ancora-se nas investigações sobre as condições de surgimento e a relevância de um laboratório de psicologia da década de 1950 em uma instituição confessional situada no interior do Estado de Minas Gerais. Trata-se da antiga Faculdade Dom Bosco de Filosofia, Ciências e Letras de São João del-Rei que, em 1955, adquiriu, da Itália, modernos equipamentos nos moldes dos existentes na Europa pretendendo introduzir melhorias no ensino ministrado nos cursos. Desdobrando suas atividades, o laboratório tornou-se o instrumento utilizado pelos salesianos para a geração de um Instituto de Psicologia e Pedagogia, de um curso de Orientação Educacional e de um ativo serviço de orientação educacional e profissional.
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O texto visa apresentar a história dos estudos médicos no Brasil por se entender, em consonância com vários historiados da psicologia, a relevência do saber médico para a constituição da psicologia no Brasil. Neste sentido, acompanha-se o exercício da profissão médica desde a colônia, a criação das primeiras Faculdades de Medicina e sua produção de teses médicas. Observe-se que estas representam parte relevante das primeiras produções teóricas brasileiras e têm sido pesquisadas por investigadores de origens diversas objetivando a construção da história de suas disciplinas, entre elas a psicologia. Daí decorre a importância da orientação do ensino médico, principalmente no tocante à psiquiatria e à medicina social, conforme se apresenta nessas teses. Dá-se especial relevo às teorias psicológicas mais utilizadas então porque estas serão fundamentais para a constituição do saber psicológico.
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Este ensaio procura reconhecer e avaliar as idéias psicológicas que circularam no Brasil no final do século XIX, em sua representação na obra machadiana, tomada como documento histórico e como veículo transmissor de idéias. Para isso, foram examinadas as ocorrências do conceito de inconsciente na obra de Machado de Assis em três diferentes âmbitos. Primeiro, na terminologia empregada pelo autor. Segundo, nos discursos expositivos dos narradores machadianos. Terceiro, na descrição dos estados subjetivos das personagens. Depois de feitas as análises, as idéias e noções encontradas foram confrontadas com algumas das principais formulações acerca do conceito de inconsciente em outros autores de sua época.
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O estudo parte de fontes apócrifas, canônicas, visuais e devocionais a respeito da trajetória histórica da iconografia e do culto ao Arcanjo Miguel e às Almas do Purgatório. Retoma a contribuição bibliográfica de Flávio Gonçalves, Emile Mâle, Michel e Gaby Vovelle, dentre outros estudiosos. Particular ênfase é dada ao barroco luso-brasileiro, especialmente ao acervo produzido pelas irmandades leigas nas Minas Gerais. A representação do Arcanjo evolui de formas integradas ao Juízo Final até a sua individualização em soldado vistoso e delicado no Barroco e Rococó, assumindo, então, forma de escultura autônoma nos altares. O culto às almas atinge o espaço público através da portada em pedra sabão na Capela de São Miguel e Almas de Ouro Preto. Finalmente, o estudo enfoca a racionalização em curso no oitocentos, que levaria a simplificação escatológica dessa invocação.