A sua pesquisa

  • As pesquisas em imagem corporal creditam ao neurologista Paul Schilder (1886-1940) a definição do termo em 1935. A análise da composição do conceito pode contribuir para o entendimento de sua disseminação em uma comunidade de linguagem. Através de uma análise conceitual em fontes primárias buscou-se identificar a circulação do conceito na literatura de psicologia no início do século XX. Foram revisados artigos publicados em periódicos científicos de Psicologia e livros de Psicologia entre 1900 e 1935. Foram acessadas fontes nos idiomas espanhol, francês, inglês e português. Apenas dois artigos apresentaram referência explícita ao termo imagem corporal, enquanto os outros artigos tangenciaram ideias relativas à imagem do corpo. Já os textos dos livros de psicologia não apresentaram referências explícitas ao conceito, mas descreveram teorias alinhadas às pesquisas em percepção corporal pela literatura de processos psicológicos básicos. A compreensão geral de imagem corporal herdada pela literatura em psicologia foi antecedida por definições associadas ao esquema corporal, como a percepção de movimento e a propriocepção.

  • A Neuropsicologia se concentra em disciplinas oriundas da interface entre a neurociência e a psicologia cognitiva, e sua pesquisa converge da relação entre o cérebro e o comportamento. Como se tem observado em diversos centros de referência no Brasil, a difusão da Neuropsicologia vem ocorrendo de maneira vertiginosa, embora o estabelecimento de diretrizes de educação e treinamento ainda se encontrem despadronizados. O presente artigo descreve o desenvolvimento histórico da Neuropsicologia, enfocando seus fundamentos teóricos e metodológicos, sua condição regulatória atual, além de perspectivas futuras na criação de diretrizes para capacitação profissional. Pesquisas vêm demonstrando uma tendência em caracterizar a atividade do neuropsicólogo nos mais diversos locais nos quais a neuropsicologia é ensinada, praticada e difundida. No Brasil, faz-se necessária uma taxonomia acerca do ofício do profissional especialista em neuropsicologia, seja em relação à sua formação ou sua atuação profissional.

  • O presente estudo busca contribuir com a história recente da presença da psicologia na educação e mais especificamente no ensino da leitura e da escrita através da história, da memória e da escrita de um grupo de consultores internacionais da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Genebra. Desde os anos 90 esse grupo tem assessorado à formulação de propostas de ensino da escrita dos Parâmetros Curriculares Nacionais e dos Guias Curriculares de língua Portuguesa. A colaboração culminou com as formulações de proposições didáticas e metodológicas do ensino e da aprendizagem da escrita na escola básica em São Paulo. A pesquisa analisou alguns dos principais documentos e artigos dos autores genebrinos divulgados no Brasil e de pesquisadores brasileiros, cujos trabalhos se apoiaram nos modelos teóricos e didáticos desse grupo. A investigação se inspirou nas contribuições de uma metodologia histórica e se debruçou sobre a compreensão das ideias, conceptualizações e proposições da psicologia na sua interface com a educação, tomando como dado empírico, a análise dessa colaboração a partir do exame dessa construção conceitual e prática das contribuições da psicologia ao ensino. A tese em discussão é a de que se trata de uma nova fase da história da psicologia na educação, a da construção de uma psicologia do ensino cujos modos de conceitualização, de produção de saberes e de suas apropriações, precisam ser resgatados pela reconstituição histórica da interface entre psicologia e educação e suas questões atuais. O estudo procurou cartografar essa rede de colaboração, mediante o conhecimento do modo com que ela se operacionalizou, os saberes produzidos, as maneiras com que foram sistematizados, difundidos e transformados, na perspectiva dos assessores e suas apropriações por alguns autores brasileiros. Os resultados mostram não apenas a perpetuidade e grande influência da psicologia genebrina nos discursos pedagógicos, mas também suas apropriações, transformações e reorientações a partir de demandas político-pedagógicas de ensinar o professor a ensinar na escola básica, mediante a oferta de modelos e sequencias didáticas que definiram o texto como a unidade básica de ensino da escrita.

  • Situado no campo dos estudos sobre a influência e recepção, no Brasil e nos Estados Unidos da América, da psicologia produzida na Rússia, este trabalho teve como objetivo apresentar as principais ideias de Gustav Gustavovich Shpet (1879-1937) e refletir sobre o surgimento da Psicologia Étnica como abordagem significativa da psicologia produzida na Rússia, bem como acerca da ausência de sua continuidade. Buscou-se investigar: (a) quais produções intelectuais influenciaram Shpet quando o autor formulou sua proposta de construção da Psicologia Étnica; (b) como Shpet entendia o objetivo e o método da Psicologia Étnica e quais eram os conceitos principais desta área; e (c) se houve diálogo entre as teorias dos psicólogos russos posteriores a Shpet e a proposta formulada por ele. Para isso, tomando como referência os métodos de pesquisa utilizados em estudos de história da psicologia, realizou-se o seguinte procedimento: foram selecionadas obras que influenciaram a produção criativa de Shpet e elaborou-se um resumo destas obras, contendo seus principais conceitos e ideias. Em seguida, fez-se a tradução do russo para o português da obra Introdução à Psicologia Étnica, publicada em 1927 por Shpet, e, a partir dela, desenvolveu-se um resumo contendo os principais conceitos da Psicologia Étnica, seu objetivo e método de investigação. Por fim, foi efetuada uma revisão bibliográfica tanto a respeito das abordagens da Psicologia Soviética que sofreram influência da Psicologia Étnica e das abordagens da Psicologia Social brasileira que sofreram influência da Psicologia Soviética, quanto em relação aos estudos interculturais e sobre raça-etnia realizados inicialmente pela Psicologia Social brasileira. Seguindo essa metodologia, chegou-se a algumas descobertas: as ideias dos pensadores alemães Wilhelm Wundt, Moritz Lazarus e Heymann Steinthal e suas propostas para construir a Völkerpsychologie (Psicologia dos Povos) foram as principais influências intelectuais de Shpet; o objeto da Psicologia Étnica, para Shpet, é a coletividade como atitude psicológica coletiva em relação à cultura; a Psicologia Étnica é proposta como uma ciência descritiva, cujo método envolve a análise e interpretação de signos; as pesquisas interculturais e étnico-raciais foram interrompidas na Rússia por um longo período, devido a questões políticas, e, por isso, a psicologia da União Soviética não incorporou a Psicologia Étnica. Embora a concepção de Shpet não tenha tido continuação, os principais conceitos propostos pelo autor, como coletividade, tipo coletivo, interação e identificação dialogam com conceitos da Psicologia Social contemporânea, como estereótipo, interação social e identidade.

  • Este artigo teórico tem como objetivo refletir sobre a reação dos psicólogos face à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) referente à Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3481, por meio da qual foi considerada inconstitucional a restrição de comercialização dos testes psicológicos. O artigo está ancorado em três caminhos argumentativos que perpassam pela criação do Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos (Satepsi) em 2003; pela contextualização das contribuições das entidades de psicologia, em especial, da área de avaliação psicológica para o aprimoramento e defesa da área; e, por fim, pela análise temática dos comentários feitos no Instagram do Conselho Federal de Psicologia (CFP) no período de 6 até 22 de março de 2021, quando foram publicadas as primeiras notícias sobre a decisão do STF. Ao final desse caminho argumentativo, conclui-se que o interesse pelos testes psicológicos envolve o reconhecimento da qualificação desses instrumentos ao longo dos anos. Entretanto, esse reconhecimento não necessariamente foi acompanhado de uma qualificação na formação profissional em psicologia que permitisse um amadurecimento na compreensão do processo de avaliação psicológica.

  • Entre psicólogos, filósofos e historiadores não há consenso sobre o início da psicologia como ciência. Muitas vezes, parece haver nesses debates uma confusão entre o nome "psicologia" e a coisa por ele designada. Neste caso, a questão central é saber se a existência da coisa depende ou não do nome. Nosso objetivo é mostrar a insuficiência do nome "psicologia" para designar a coisa. Mais especificamente, defendemos a existência da coisa muito antes do surgimento do nome. Inicialmente, analisamos as investigações sobre a psykhé na tradição grega. Em seguida, abordamos a constituição de uma ciência da alma entre a Idade Média Tardia e o início do período moderno. Acompanhamos também o surgimento do nome "psicologia" e as distintas coisas por ele nomeadas até o estabelecimento do projeto de uma ciência psicológica em Christian Wolff e suas consequências. Finalmente, discutimos as implicações de nossa investigação para o debate sobre as origens da psicologia como ciência.

  • Wilhelm Maximilian Wundt (b. 1832―d. 1920) was a central figure in German culture between the second half of the 19th century and the first two decades of the 20th century. Coming from a medical and neurophysiological background with a PhD in medicine, Wundt shifted his interest toward psychological and philosophical questions, becoming full professor of philosophy: first, at the University of Zurich in 1874; then, at the University of Leipzig in 1875. In the early 21st century, he is known worldwide as one of the founders of scientific psychology. In Leipzig, he founded in 1879 the Psychological Laboratory, which later became the first psychological institute in the world. Moreover, he founded the first journal for experimental psychology, which he called Philosophische Studien (Philosophical Studies), later Psychologische Studien (Psychological Studies). In so doing, he created the first international training center for psychologists, attracting to Leipzig students from all over the world. Wundt had a significant impact upon the development of scientific psychology in many countries, not least in the United States, where his former students founded psychological laboratories inspired by the Leipzig model. Apart from his contributions to psychology, Wundt also developed a philosophical system that is crucial to understanding his psychological program and methodology, but which has not received due attention among psychologists. Wundt’s writings have been published in different, mostly enlarged editions throughout his career. The great majority of these volumes have not yet been translated into English, and the same holds true for much of the relevant research literature.

  • On the occasion of the centenary of Wilhelm Wundt’s death (1832–1920), we had a conversation with Saulo de Freitas Araujo on the works and influence of the German author. After a brief introduction, the conversation begins with a reflection on the aims and objectives of Araujo’s work on the history and philosophy of Wundt’s psychology. A philosophical approach to the history of science and of psychology is then described. After considering the social and intellectual context of the revival of Wundt scholarship during the 1970s, Wundt’s philosophical and psychological project is discussed. The conversation ends with general reflections on Wundt’s legacy to recent and contemporary psychology.

  • Contemporary Argentinian psychology has a unique characteristic: it is identified with psychoanalysis. Nonpsychoanalytic theories and therapies are difficult to find. In addition, there is an overt antiscientific attitude within many psychology programs. How should this be explained? In this paper, we claim that a philosophical history of psychology can shed new light on the development of Argentinian psychology by showing that early Argentinian psychoanalysts held positions in the newborn psychology programs and a distinctive stance toward scientific research in general and psychology in particular. In the absence of an explicit and articulate philosophical position, psychoanalysts developed an implicit meta-theory that helped shape the context that led to the institutionalization and professionalization of psychology in Argentina. Although we do not establish or even suggest a monocausal link between their ideas and the current state of Argentinian psychology, we do claim that their impact should be explored. Finally, we discuss some limitations of our study and suggest future complementary investigations.

  • Studies of the history of Brazilian psychology generally focus on the reception and circulation of Western psychological theories and techniques and their application in research and practice within the country. This approach must be complemented by studying the transformation and production of psychological knowledge originating in Brazilian culture, including its popular levels, and its interaction with imported ideas. There are at least four sources that participate in the formation of Brazilian culture: the native Indians’ ideas on human nature and development; the contributions of African culture to the understanding of the psychological world brought by the Africans sold into slavery and transferred to Brazil between the 16th and the 19th centuries; European views received through the teaching of philosophical psychology, introduced into Catholic educational institutions in colonial times; and scientific psychology, introduced into public medical schools and teacher training institutions from the 19th century onward. The profession of psychologist, born of the confluence of the professions of physician and educator, was regulated in 1962. The tasks of the psychologist were then defined: psychological evaluation through mental tests and the diagnosis of mental and behavioral troubles, psychological guidance, and psychotherapy. The profession was primarily designed for the intellectual and social elites. From the 1990s onward, with the increasing numbers of graduates, the participation of psychologists in public health, education, and social services institutions expanded rapidly. In consequence, psychologists began to develop intervention practices and techniques more fitted to the demands of the low-income population, immersed in the beliefs and practices of Brazilian popular culture. This dialogue contributed to the construction of innovations in psychology, making it more sensitive to the worldviews arising from the cultures that compose the Brazilian cultural landscape and producing original contributions with a profound impact on modern psychology. Today, Brazilian psychology professionals constitute one of the largest communities of psychologists in the world, with a strong presence in mental health, educational, and social services networks. The work of psychologists, strongly influenced by theoretical perspectives that emphasize the relationship between sociocultural dynamics and psychological elaboration, is at present considered relevant in the realization of human rights ideals.

  • Unidade (pluralidade) versus desunidade (pluralismo) tem sido debate conceitual frequente em torno da existência de uma ou de várias psicologias. Na literatura, os debates se intensificaram com a série Psychology: A Study of a Science, editados por Sigmund Koch, entre 1959 e 1963. No final dos seis volumes publicados, Koch concluiu que a psicologia não é uma ciência coerente, e sim uma coleção de estudos, variando entre maior ou menor rigor científico. Desde então, o tema tem sido frequente nos poucos periódicos abertos à psicologia teórica, trazendo proposições de teorias unificadoras, defesa de unificação por áreas, ou alegações de que a grandeza da disciplina está na diversidade. O presente artigo argumenta que a premente necessidade não é de teorias que sugiram modos de unidade, mas de critérios que apontem para possibilidades de se mover com proveito entre teorias, atento às surpreendentes relações implícitas entre elas.

Última atualização da base de dados: 02/09/2025 00:00 (UTC)

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