A sua pesquisa

  • Este estudo objetivou analisar a institucionalização da modalidade licenciatura na legislação que regulamentou a formação e a profissão de psicólogo no Brasil em 1962. O trabalho, de cunho historiográfico, teve como procedimento metodológico a análise documental de fontes primárias localizadas no site da Câmara Federal dos Deputados, a saber, o dossiê do PL 3825/58. Outras fontes utilizadas foram as revistas Boletim de Psicologia, Arquivos Brasileiros de Psicotécnica e Revista Psicologia Normal e Patológica. A partir da análise dos dados, identificamos que nos primeiros anteprojetos que tratavam da formação e regulamentação da profissão em 1953 não havia a proposta da licenciatura para a formação de professores de psicologia para atuação no ensino secundário. A licenciatura como modalidade de formação para os psicólogos, com uma proposta curricular coerente com a legislação então vigente para a formação de professores, apareceu apenas em 1961, e foi mantida na lei 4119, aprovada em 1962.

  • A psiquiatria infantil é um ramo de especialidade médica bastante recente desenvolvida entre o final do século XIX e o início do século XX. No Brasil esta disciplina desenvolveu-se a partir de meados do século XX inicialmente vinculada a pediatria e a psicanálise. Assim este artigo tem por finalidade demonstrar a constituição da psiquiatria infantil, a partir de um vértice histórico, e seus reflexos no Brasil. Para tal foram analisados os marcos que delimitaram descobertas e ampliações conceituais constitutivos da psiquiatria infantil durante os séculos XIX e XX. Na sequência, apresenta-se os acontecimentos mais relevantes que delimitam o surgimento da psiquiatria infantil no Brasil, para finalmente destacar que esta disciplina sofreu direta influência da educação, da pediatria e da psicanálise durante seu processo de constituição no país, influência que perdurou até o início da década de 1980.

  • A figura de Òṣàlá ou Oxalá é muito presente na cultura religiosa brasileira, principalmente por conta do sincretismo religioso. A forma orgânica como se desenvolveram as religiões de matriz africana no Brasil estabeleceu hoje um quadro complexo, mas infelizmente folclorizado e muitas vezes reduzido a uma simplicidade, fruto de estigmas e de uma trajetória racista em essência. O Candomblé e a Umbanda estão presentes na vida do brasileiro, tal como seus cultos. Mesmo para aqueles não iniciados, Òṣàlá está no imaginário social justamente por essa popularidade. É no intuito de sintetizar essas muitas ideias que esse artigo se dedicou a organizar as percepções existentes sobre Òṣàlá e Oxalá, traçando-as sob as perspectivas do Candomblé de nação Ketu e da Umbanda. Perpassando por problemáticas históricas, ritos de culto, questões raciais e reflexões epistemológicas e etimológicas, apresenta-se um material reflexivo e crítico sobre a presença de Òṣàlá em solo brasileiro.

  • Este artigo aborda o processo de desinstitucionalização no contexto da reforma psiquiátrica ocorrido em Ímola a partir da narrativa de brasileiros e brasileiras que participaram de seu cotidiano ao longo dos anos noventa. A pesquisa que sustenta o artigo procurou delinear as conexões entre Brasil e Itália no que concerne às contribuições no conjunto de ações que resultaram no fechamento dos manicômios e na constituição dos serviços territoriais (centros de saúde mental, centros diurnos) e de associações e cooperativas que sustentaram projetos de inclusão social. A metodologia utilizada nesta pesquisa qualitativa apoiou-se na realização de entrevistas semiestruturadas com integrantes dos serviços de Ímola de ambas as nacionalidades. Assim, foram identificadas práticas relevantes que denotam uma participação efetiva de brasileiros e brasileiras, como educadores profissionais e assistentes de base, que não apenas impactaram o cotidiano assistencial como também colaboraram para a construção de cultura e relações inclusivas, inventivas, reflexivas e propositivas.

  • Neste artigo, busca-se resgatar percepções centrais das obras do psiquiatra e psicólogo holandês Jan Hendrik Van den Berg; a forma como compreende o inconsciente, a releitura que faz acerca das neuroses, propondo sua substituição terminológica para socioses e ampliando o sentido contido no termo, permitindo reflexões valiosas e interlocuções profundas com a psicologia da religião. Se na época freudiana a inconscientização da sexualidade e da agressividade provocavam quadros sindrômicos bem específicos, a sociose enfrentada pelo sujeito hodierno é o esquecimento da espiritualidade. O psiquiatra advoga que a espiritualidade como dimensão humana, enquanto for negligenciada pela sociedade, continuará a produzir pessoas esvaziadas, medíocres, que não reconhecem seu lugar no mundo e tampouco conseguem desenvolver boas relações sociais. Endossa-se muito da percepção de Van Den Berg ao apontar o atual momento histórico de resgate da espiritualidade já que, como dimensão humana, assim como a sexualidade, deveria ser reintegrada à existência.

  • O estudo sobre o desenvolvimento humano, por parte da Psicologia, se revela a partir de um panorama complexo e, por vezes, anárquico que contempla amplo leque de perspectivas. O que marca a alteridade desse campo do saber? O objetivo do presente artigo é compreender de que maneira surge a Psicologia do Desenvolvimento, demarcando condições de seu advento por meio de uma revisão não sistemática de literatura. Não há distinções significativas, do ponto de vista histórico e até mesmo gerencial, em Programas de Pós-Graduação no Brasil, entre Psicologia e Psicologia do Desenvolvimento. Por outro lado, Psicologia do Desenvolvimento e Psicologia Educacional são historicamente entrelaçadas. Encontram-se, também mais recentemente, esforços de destacar a Psicologia do Desenvolvimento do campo da Psicologia através da delimitação de objetos e métodos próprios, inserindo-se numa perspectiva não disciplinar como Ciência do Desenvolvimento.

  • Esta pesquisa em História Social da Psicologia produz uma narrativa histórica sobre o curso de graduação em Psicologia das Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso (FUCMT). Ela assume que as memórias pessoais e documentais são construtos socioculturais e, assim, utiliza fontes textuais e orais para produzir tal narrativa. Os resultados apontaram que o curso atendeu a uma demanda de “modernização” da cidade de Campo Grande por meio do desenvolvimento do ensino superior. Além disso, atendia a demandas sociais, políticas e econômicas da expansão do Oeste, capitaneadas pelo governo militar brasileiro à época. Isso ocorreu a partir de um currículo operacionalizado de forma particular se comparado aos indicativos legais, com uma tônica no campo da educação. Este artigo contribui para a preservação das memórias da Psicologia em um dos primeiros cursos de graduação do estado, ampliando saberes sobre a história da Psicologia no país.

  • Este artigo tem por objetivo apresentar vivências e significados de tatuagens a partir de narrativas de sujeitos adultos e idosos, com base em uma abordagem interdisciplinar. Questionamos: do culto ao corpo jovem, da exigência do labor do corpo adulto e da hipervigilância do corpo envelhecido, qual a significação do corpo tatuado em idades tão díspares? Realizamos uma descrição das narrativas de adultos e idosos com corpos tatuados a partir de um desenho de pesquisa qualitativa. Participaram da pesquisa 15 adultos com idades entre 22 e 67 anos em duas capitais brasileiras, Salvador e São Paulo. Entre as ideias conclusivas estão, de um lado, a tatuagem como metamorfose, liberdade e afirmação de si e, de outro, significações que ressaltam a tatuagem como desejo de memória em completude, uma forma de fazer do corpo lugar de arquivo ou o próprio corpo como arquivo de memória completa.

  • Este trabalho é um estudo teórico que objetiva abordar aspectos centrais da Antropologia Filosófica presentes em dois autores existencialistas: Søren Kierkegaard e Viktor Frankl. A partir do estudo do que é o homem, apresentamos algumas importantes questões existenciais que, embora desenvolvidas pelos autores supracitados nos séculos XIX e XX, respectivamente, permanecem atuais: o desespero e a busca pelo sentido, liberdade, responsabilidade, possibilidade e necessidade, angústia e vazio existencial. Partimos da pesquisa qualitativa, por meio de uma revisão de literatura, buscando atender ao objetivo proposto. Compreendemos que a dimensão do espírito diferencia o homem dos outros seres. Ambos os autores destacam a esfera espiritual e compreendem o humano em sua integralidade. Conclui-se que Kierkegaard e Frankl, em seus pressupostos, oferecem possibilidade de conhecimento do homem e de questões existenciais relevantes para nossa sociedade permeada pelo desespero e pelo vazio existencial. Assim, as proposições dos autores contribuem especialmente para as ciências humanas.

  • (Tradução do segundo capítulo (L’accumulation primitive continuée) de Guerres et Capital. Paris: Éditions Amsterdam, 2016. Traduzido por Carolina Sarzeda e Danichi Hausen Mizoguchi.)

  • Apresenta os caminhos percorridos para a construção de pesquisa de mestrado, que versa sobre a formação e o trabalho de professores(as), realizada no Instituto Federal do Espírito Santo, Campus São Mateus. Descreve como se estabeleceram os primeiros contatos com os(as) docentes a fim de construir um território de confiança, o que se desenvolvia em cada encontro, e traz algumas das análises produzidas pelo grupo. O método se delineia no encontro entre campo, participantes e pesquisadoras, no âmbito de uma pesquisa-intervenção, registrada em diário de campo. Assim, outros modos de pesquisar foram tecidos com o grupo de professores(as), a partir da emersão de deslocamentos, desnaturalizações, compartilhamentos e construções no decorrer da investigação. Desse modo, destaca os pequenos grupos, a atenção aos detalhes, as conversas e experienciações como ferramentas para fissurar as tradições escolares e as formas de existência que aprisionam a vida.

  • Este artigo busca sistematizar estudos realizados durante vários anos sobre a Roda dos Expostos, alguns deles já publicados, ampliando seu escopo para abarcar o inquietante movimento de reinvenção deste mecanismo em países da Europa e América do Norte a partir dos anos 2000. Rebatizada com os nomes de caixa de correio, caixas de bebê, dentre outros similares, este mecanismo tem sido severamente criticado pelo Comitê das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, que considera que não funciona no melhor interesse da criança ou da mãe. Para melhor contextualizar a questão no Brasil, o artigo situa a instalação das Casas da Roda ou Casas dos Expostos a partir da importação do modelo português da antiga caridade, adentrando os Relatórios Ministeriais do Império e República para evidenciar a passagem para o Estado de funções até então deixadas a cargo da Igreja Católica e das Irmandades leigas. É nesta passagem que a Roda dos Expostos perde a sua importância como mecanismo de proteção da infância. Para finalizar, apresenta uma amostra do noticiário internacional onde se evidencia o ressurgimento da Roda, ainda que rebatizada, apresentando também o Projeto de Lei 2747-A, de 2008, do deputado Eduardo Valverde, proposto com o objetivo de legalização do parto anônimo no Brasil, tendo sido arquivado por receber parecer negativo dos relatores da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania e da Comissão de Seguridade Social e Família, da Câmara dos Deputados, em 2011.

  • O presente artigo discute as formas de encaminhamento de mulheres ao Hospital Psiquiátrico Adauto Botelho (Goiânia – GO). A pesquisa foi realizada a partir de oito prontuários psiquiátricos, produzidos entre as décadas de 1970 e 1990, e a análise ocorreu mediante a perspectiva histórico-genealógica de Michel Foucault. São os fragmentos de histórias que emergiram nesses documentos que tecem a escrita deste trabalho. E, por meio deles, evidenciamos que o Hospital Psiquiátrico Adauto Botelho funcionou como um espaço de confinamento, silenciamento e moralização de mulheres que apresentavam comportamentos incompatíveis com os padrões socialmente impostos na época - elas não eram boas filhas, esposas, mães e donas de casa. Dado o valor atribuído à conduta moral das mulheres na construção de seus diagnósticos psiquiátricos, conclui-se que mais do que uma instituição de tratamento, o hospital psiquiátrico era um instrumento de normalização e controle da sociedade goiana.

  • O presente trabalho apresenta pesquisa que explorou como o Marxismo foi apropriado por historiadoras e historiadores da Psicologia por meio de uma análise de artigos publicados na revista Mnemosine entre 2004 e 2016. O estudo buscou: (a) identificar que vertentes do Marxismo e autores foram utilizados em trabalhos que se apropriaram da tradição marxista; (b) classificar a forma pela qual o Marxismo é utilizado pelos historiadores da Psicologia. Foram analisados 42 artigos encontrados por meio das palavras-chave “Marx”, “marxismo”, “marxista” e “materialismo”. A análise ocorreu em duas etapas e concluiu-se que o marxismo aparece em trabalhos que: (a) criticaram a concepção marxista de história; (b) identificaram o marxismo como fundamento de autores, publicações, escolas e tradições teóricas; (c) realizaram análises críticas de processos psicossociais no capitalismo. Não foram encontrados estudos que utilizam a concepção marxista de história para guiar modos de se fazer e pensar a História da Psicologia. Financiamento: CNPq.

  • O presente artigo é uma problematização da memória a partir do romance Amuleto de Roberto Bolaño, escritor chileno contemporâneo, e da concepção de história materialista em Walter Benjamin, em conexão com uma abordagem política da memória e da subjetividade em psicologia social. O propósito do artigo é defender uma concepção de memória que se relaciona com o tempo histórico decorrido, na articulação de um rastro que merece a atenção do presente. A personagem que ocupa o lugar de narradora no romance de Bolaño enfrenta dificuldades para estabelecer uma narrativa coerente e linear sobre a vivência traumática que experimentou na invasão militar de 1968 na Universidade Nacional Autônoma do México. No entanto, as dificuldades não são impeditivas para o empreendimento de um testemunho, que se subsidia na memória do passado e dos tempos vindouros, expressão do estatuto resistente e sobrevivente da recordação e da tarefa ética da literatura.

  • O presente artigo constitui uma das linhas de análise de um projeto de pesquisa desenvolvido junto ao Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) como desdobramento de um trabalho de doutoramento em Psicologia. Trata-se de colocar em debate a produção social da chamada “Síndrome da Alienação Parental” (SAP). Participaram da pesquisa 12 sujeitos, 10 homens e 2 mulheres que romperam o laço conjugal há, no mínimo, 1 ano e, no máximo, 10 anos, e que fazem parte de comunidades virtuais que abordam o tema alienação parental na rede social conhecida como Facebook. Tendo como inspiração a perspectiva foucaultiana, questionam-se as estratégias judicializantes que, atreladas às relações de poder, dispersam a compreensão sobre o contexto em que se deflagra a suposta síndrome. Como resultado, foi observado que o litígio se mascara nas narrativas de vivência da alienação parental e no discurso denuncista que convoca a necessidade de criminalização.

  • O presente texto apresenta e discute ações de ocupação corpo-cidade, desenvolvidas no Rio de Janeiro entre 2015 e 2018, pelas integrantes e colaboradoras do Núcleo de Pesquisa, Estudos e Encontros em Dança – onucleo – DAC/UFRJ. Denominamos as referidas ações de práticas de estarcom, evidenciando a dimensão cartográfica, afetiva e conectiva do encontro entre corpo e território. As práticas de estarcom são fazeres de dança que não visam a exibição de movimentos coreográficos, mas atentam-se ao gesto, aos pré-movimentos, ao campo de forças e à abertura para a dimensão somática da presença. O estarcom configura-se como um gesto de cuidado coletivo e horizontal pensado a partir de perspectivas decoloniais ligadas a aproximação com a cosmovisão dos povos originários. Através das práticas de estarcom afirmamos o cuidado como ação coletiva que possibilita a partilha de experiências da ordem da alegria, do bem viver e da convivência com a diferença.

  • Propõe-se uma abordagem genealógica do problema das ambiguidades sexuais, atentando para as relações de poder/saber que vão, ao longo dos séculos XVIII e XIX, conectando a imagem do monstro ao corpo sexualmente ambíguo. Também recorremos ao conceito de abjeto, indicando sua funcionalidade na formação do sujeito e na instalação da diferença sexual enquanto norma. Ao mesmo tempo, seguimos por pequenas ondulações, tensões e desorientações na composição do sistema sexo/gênero, notadamente aquelas sugeridas no manuscrito “Minhas Memórias”, de Herculine Barbin – uma pessoa intersexual que viveu e escreveu no contexto do século XIX europeu. Com Herculine, avançamos por zonas inóspitas, nas quais nos esbarramos com as potências do monstruoso e do abjeto para desnaturalizar a noção de verdadeiro sexo e, também, a própria concepção ontológica do humano.

  • Neste estudo investigamos a recepção do filósofo francês Michel Foucault (1926-1984) na Psicologia Social brasileira a partir da análise dos usos do autor nas publicações da Revista Psicologia & Sociedade (1986-2017), da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO). O corpo documental desta pesquisa histórica foi composto de 90 artigos que citaram nominalmente o autor. Caracterizou-se a produção levantada quanto ao ano de publicação, distribuição geográfica, vinculações institucionais das autorias, temas e delineamentos dos estudos. Foram encontradas citações do filósofo durante todo o recorte temporal estabelecido, sendo a primeira em 1986, e o ano com maior frequência, 2012. Os trabalhos ligam-se majoritariamente a Instituições de Ensino Superior Públicas brasileiras, especialmente das regiões Sudeste e Sul (74,4%). Dos 90 estudos, 54 foram teóricos, e 36, empíricos. Versaram sobre Reflexões conceituais e epistemológicas, Políticas Públicas, Reflexões sobre a Psicologia, Subjetivação, Gênero/Sexualidade/Feminismo, Infância/Adolescência/Juventude, Arte-Política e Outros.

  • O texto procura recuperar a experiência vivida na oficina expressiva “Loucura em Cena: O Teatro do Oprimido como ferramenta na saúde mental para encontrar-se com o estranho que habita dentro de nós”, aplicada por graduandos do curso de Psicologia da UERJ, que procurou compreender os diversos afetos envolvidos na vivência dentro da Universidade. O evento “Políticas/Poéticas do Contágio: ensaios de viver entre muitxs”, realizado no dia 31 de outubro de 2019, foi o cenário para o trabalho da oficina terapêutica, através das técnicas do Teatro do Oprimido, desenvolvido por Augusto Boal. Em cena, a arte pode ser percebida como ferramenta para trabalhar afetos e proporcionar uma melhoria na saúde mental.

Última atualização da base de dados: 09/06/2025 10:24 (UTC)

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