A sua pesquisa
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Neste texto lança-se a ideia de que a delinquência feminina se constituiu como problema por caminhos diferentes dos trilhados pela delinquência masculina, e que estas vias se encontraram, no contemporâneo prisional, a partir da indústria do medo. Para tanto são tratados aspectos da ética e da resistência de mulheres aprisionadas, além de apresentar um esboço genealógico remontando à figura de Rosa Virgínia Pelletier e passando pela Capela do Bom Pastor, situada na Penitenciária Feminina Madre Pelletier, em Porto Alegre, a partir de insuspeitados laços tecidos entre esta casa prisional, a Igreja Católica e a criminalidade feminina. O texto finaliza em aberturas apontadas a partir de alguns traços de resistência das mulheres aprisionadas, as pr(inc)esas.
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Este artigo propõe uma análise das práticas do UNICEF que estão articuladas com uma rede de maneiras de governo das condutas, por meio da estatização da população, da governamentalização do Estado, da descentralização das políticas públicas e sua relação com as organizações não governamentais, fundações, institutos, universidades, entidades religiosas, assessores, editoras, conselhos de direitos e profissionais, pesquisadores e grupos de pesquisa, bancos mundiais e outros órgãos do Sistema Nações Unidas. Especificamente, o Fundo das Nações Unidas para a Infância se voltou para crianças e adolescentes, classificados como em perigo e perigosos, de países em desenvolvimento. Interrogamos a gestão da vida por meio da produção da verdade e dos efeitos de poder de uma biopolítica em que empresariamento e investimento se tornaram racionalidades de proteção da infância, entrecruzando direitos com economia política.
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Este trabalho reapresenta a crítica de Hume ao argumento do desígnio para mostrar que ela não se reduz a uma espécie de querela entre teísmo e ateísmo, procurando destacar o entrelaçamento existente entre a recusa do raciocínio finalista e a crítica ao determinismo teológico e científico. Os textos revisitados são Diálogos da Religião Natural, A Investigação sobre os princípios da moral e o escrito intitulado História Natural da Religião, além de outros ensaios. O que mais justifica tal pesquisa é a possibilidade da retirada de Hume do rol dos iluministas e teólogos, bem como do rol dos filósofos da ciência experimental do seu tempo.
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O presente artigo focaliza o Movimento Nacional de Luta Antimanicomial com base na memória dos usuários dos serviços de saúde mental. As reflexões de autores como Michel Foucault, acerca da transformação das instituições de reclusão em locais específicos para loucos, Friedrich Nietzsche sobre a constituição da memória social e Boaventura de Sousa Santos, sobre a diversidade epistemológica do mundo foram fundamentais para entender como a ciência vem abordando a loucura ao longo da história e como se constituiu a memória dos usuários.
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A ampliação para a educação infantil da máxima “criança tem que estar na escola!” é efeito da luta pelo direito à educação. A partir da experiência cotidiana e de pesquisas problematizamos a intervenção do discurso legal para crianças de zero a cinco anos, a demanda por sua institucionalização e a padronização de procedimentos em nome do direito universal. Tendo como referência conceitos propostos por Foucault, discutimos os enquadramentos próprios às práticas normalizadoras, dando ênfase às tensões presentes nas múltiplas formas de exercício de poder na escola. Propomos pensar a educação infantil como uma construção e não como uma adequação, como espaço demudanças, insurreições, desnaturalizando concepções afirmadas como verdades inquestionáveis. A obrigatoriedade a esta etapa da educação escolar é um convite para deslocar-se do instituído, afirmando um olhar sensível para o entorno e os devires, como condição para uma política educacional libertária.
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A esquizoanálise da ergonomia refere-se ao cruzamento entre as aparelhagens teórico-técnicas da esquizoanálise e da ergonomia. Explora-se essa intercessão que se promove, primeiramente, pela obra “capitalismo e esquizofrenia”, de Gilles Deleuze e Félix Guattari, com a abordagem d’ “Os sistemas homens-máquinas” por Maurice de Montmollin. Discutem-se os princípios de intervenção e as interferências políticas produzidas no campo social pela ergonomia nos meios de trabalho. Trata-se assim do desenvolvimento da conceituação de sistemas em ergonomia. Por outro lado, acompanha-se o desenvolvimento da crítica ao conceito de estrutura em esquizoanálise pela emergência dos conceitos de máquina e agenciamento. Por fim, considera-se a apropriação, por Deleuze e Guattari, do conceito de sistema homens-máquinas para pensar a história do capital e do Estado, em função de uma problematização das práticas de análise do trabalho no presente.
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O presente trabalho tem por objetivo analisar a noção de causalidade biológica da doença mental através dos discursos eugênicos e higienistas presentes entre os psiquiatras da Liga Brasileira de Hygiene Mental durante as décadas de 1920 e 1930. Para tanto, selecionamos os Archivos Brasileiros de Hygiene Mental produzidos pela referida instituição. Esta revista foi produzida de 1925 a 1947 e o período selecionado para sua análise foi o de 1925 a 1935. Com tal propósito, utilizamos um referencial teórico foucaultiano, especialmente no que tange às discussões em torno do tema do biopoder. Acreditamos que uma análise histórica, necessariamente desnaturalizante, dos discursos psiquiátricos desse período no Brasil possa contribuir para a compreensão de certas peculiaridades dos discursos psiquiátricos nacionais que não vêm sendo analisadas.
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A gênese da Análise Institucional é indissociável das condições histórico-sociais que a produziram, sendo a articulação entre teoria e prática sua marca fundamental. Para melhor explicitar aspectos dessa origem, o texto apresenta, de forma breve, algumas contribuições de René Lourau, Georges Lapassade e Félix Guattari para a constituição dessa disciplina. São apresentados e discutidos também os significados da palavra intervenção, no sentido de demonstrar a especificidade da Socioanálise, que é a Análise Institucional em situação. Ressalte-se que qualquer intervenção se realiza no âmbito de um contexto mais amplo, daí a necessidade de distinguir e, ao mesmo tempo, articular campo de análise e campo de intervenção. Para tanto, os conceitos de implicação e transdução devem estar associados. A apresentação de algumas inserções da Análise Institucional na Saúde Coletiva busca apontar as possibilidades de aplicação dessa abordagem e, ao mesmo tempo, identificar algumas transformações da intervenção socioanalítica em anos recentes.
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Pretende-se, neste artigo, descrever e analisar sucintamente como o Fundo das Nações Unidas para a Infância vem governando, por meio de estratégias da economia política, os corpos de crianças e adolescentes como investimento, pela noção de desenvolvimento, de maneira a acionar tecnologias de biopoder. Uma das metas desse organismo, ligado à Organização das Nações Unidas (ONU), é objetivar desenvolvimento como ciclo de vida e progresso de uma nação, simultaneamente. Forjar um sujeito empresário de si garantiria supostamente segurança e crescimento econômico e social ao Estado e ao mundo globalizado. Através de estudos que atuam com as ferramentas de Michel Foucault, podemos interrogar tais práticas e desnaturalizá-las, em uma perspectiva histórica e inquietante, frente ao tempo presente.
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O artigo traz a estratégia autoral kierkegaardiana, relacionando-a à noção de cuidado de si nos antigos. Inicia-se com Ponto de Vista Explicativo da Minha Obra de Escritor, na qual o filósofo dinamarquês expõe seu método de comunicação indireta com o leitor através das obras estéticas, pseudonímicas, publicadas simultaneamente aos discursos edificantes, comunicação direta assinada pelo próprio Kierkegaard. A meta era levar o leitor à reflexão e ao autoreconhecimento, ao mesmo tempo em que o autor cumpria a tarefa que lhe fora designada em sua existência. Pretendia aproximar-se de modo sutil daquele que se encontrava sob a ilusão e começar por aí a desfazê-la. A leitura deveria, portanto, provocar um efeito sobre o leitor, algo muito próximo dos exercícios espirituais da Antiguidade, onde filosofia era filosofar, uma ação que interferiria concretamente na vida do sujeito. Outras obras de Kierkegaard são trazidas para apresentar essa vinculação entre a escrita, a leitura e o cuidado de si, indissociáveis tanto na Antiguidade quanto no projeto autoral kierkegaardiano. Tal vinculação será apresentada à luz das ideias de Michel Foucault, em cujas obras ganham relevância a noção antiga do cuidado de si e seus desdobramentos.
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O presente ensaio pretende ser um convite para pensarmos em novas possibilidades de construção de narrativas acerca da memória. Os protagonistas desse convite serão Fernando Pessoa e Friedrich Nietzsche. Eles nos conduzirão num passeio no universo das sensações e da potência de variação que podem ser extraídas delas, em suas obras e fora delas, pois têm a capacidade ímpar de nos atingir e desviar nosso olhar do modo tradicional de pensarmos a relação entre história e memória. A flecha que sai de seus escritos se chama diferença. Veremos que esses autores podem trazer valiosas contribuições para pesquisas relacionadas aos modos de construção e de escrita da História, estando, talvez, mais próximos de alguns trabalhos desenvolvidos na história oral.
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Em vista da multiplicação acelerada dos novos cursos de graduação em psicologia, a partir de 1995, e da conseqüente desvalorização da profissão no mercado de trabalho, o presente estudo crítico visou 1) contextualizar brevemente a reforma universitária no âmbito da reforma do Estado, que presidiu essa multiplicação; 2) analisar o texto das Diretrizes Curriculares Nacionais para as graduações em Psicologia para mostrar que enquanto projeta um perfil profissional flexível e polivalente, aberto ao mercado, pretende contornar o risco de dispersão da profissão reforçando as bases epistemológicas e a investigação científica “naturalística” em psicologia – admitindo-se assim uma via que, além de não especificar a psicologia diante de outras profissões, talvez também iniba, nos estudantes, aquilo que nela o senso-comum mais valoriza: a psicologia como uma ciência humana e enquanto prática principalmente clínica.
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O presente artigo tem por objetivo apontar algumas reflexões acerca do recente dispositivo de segurança pública que tem sido implantado em algumas comunidades da cidade do Rio de Janeiro – as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Mais especificamente, busca-se observar este modo de intervenção policial a partir do conceito de policiamento comunitário, noção sugerida nos EUA, nos anos 60, como forma de aproximação entre a polícia e a comunidade. Tal investigação tem como base dois importantes conceitos cunhados por Michel Foucault – biopolítica e governamentalidade – e as noções de comunidade apresentadas por Jean-Luc Nancy e Maurice Blanchot. Partindo desses pilares, propõe-se a seguinte discussão: que(ais) noção(ões) de comunidade pode(m) ser sugerida(s) a partir desse modo de atuação policial?
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Nesse estudo analisamos, a partir das configurações da sociedade contemporânea e das modulações do capitalismo, os recursos que as práticas clínicas possuem para trabalhar a subjetividade. Nesse contexto, destacamos as questões éticas, estéticas e políticas, assim como o fim da dicotomia entre sujeito e social, objetividade e subjetividade, teoria e prática, clínica e política. A crítica a essas fragmentações aponta para a necessidade de uma prática transdisciplinar que promova intercessões com outros saberes, corpos, territórios e práticas. Para tal nos fundamentamos no conceito de rizoma proposto por Gilles Deleuze e Félix Guattari, efetuando um diálogo entre seus princípios e as práticas multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar. Nessa produção enfatizamos também a emergência de uma clínica rizomática que caminhe a favor da vida, da política, da resistência e da diferenciação.
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Este trabalho pôde ser desenvolvido na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a partir de duas experiências clínicas de alunos de psicologia, no hospital. Discutem-se as divergências entre psicanálise e medicina, principalmente no que tange à concepção de sujeito para ambas: no momento em que a medicina biologizante está cada vez mais próxima de um discurso cientificista – até mesmo na mídia –, ela corre o risco de foracluir o sujeito, enquanto que a psicologia no hospital sempre pode reintroduzir a importância da subjetividade, à imagem do que tentou fazer Georges Canguilhem na medicina e do que faz a psicanálise quando insiste na função do sintoma como presentificação do sujeito. A abordagem do diagnóstico e a da direção do tratamento diferentes conforme o discurso da medicina biologizante e o discurso da psicanálise têm, necessariamente, consequências na relação com o paciente. Tais consequências são discutidas especialmente quanto à noção de saber e não saber na clínica.
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Habitar um presente que se faz a cada instante, tangenciar o infinito das origens contemporâneas ao devir, estar à altura de transformar o seu tempo – aqui está a inspiração de Foucault que nos instiga pensar a respeito de trabalho, subjetividade, ética e contemporaneidade. Afinal, como traçar uma política de enfrentamento em um mundo capitalista onde o trabalho se insere em uma lógica de produção de mundos, em que o trabalho, mais do que bens e serviços, produz subjetividades que alimentam o próprio capitalismo? O que nos tornamos nesse processo? Como vem se dando a captura das potencialidades de criação capazes de inventar outros mundos possíveis? Como resistir no presente, pelo trabalho, a tais investidas contra o poder de agir individual e coletivo? Como fazer da própria atividade de trabalho um meio para transformar as instituições que o atravessam? Como criar vias para uma crítica relativa aos modos como o trabalho pode se tornar lastro para fixações identitárias, ligando subjetividade e verdade e, ao mesmo tempo, como pode ele se tornar caminho para as indagações: o que estamos fazemos de nós mesmos?; que trabalho estamos operando sobre nós mesmos? Nesta direção, afirmamos uma linha de pesquisa-intervenção que toma como eixo ético-político a afirmação de uma relação inventiva com o trabalho.
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