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Instigar o debate sobre a interpretação do homem e suas relações sociais a partir de pressupostos organobiológicos é o objetivo deste texto. A título de ilustração, recuperamos alguns pontos do ideário da higiene mental – destacado discurso científico nas primeiras décadas do século XX, no Brasil. Este ideário, construído e sustentado pela ciência de raiz natural, teve um significativo lugar no cenário político da época e viabilizou encaminhamentos em diferentes segmentos da sociedade como solução para os graves problemas de ordem social existentes nesse período. O tempo não validou tais idéias e ações e comprova que as análises das relações sociais advindas de mecanicismos de qualquer ordem obscurecem as contradições sociais e favorecem a geração de uma legião de desviantes da norma social estabelecida.
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Este artigo busca evidenciar, em alguns trabalhos de Michel Foucault, assim como em outras fontes historiográficas, o surgimento do que ele denominou disciplinas nas ordens monásticas e religiosas da Igreja Católica. Para tanto, analisam-se as características do que Foucault intitulou Poder Pastoral, comparando-o com o poder disciplinar, na modernidade. O poder pastoral tem por escopo conduzir um grupo de homens para a sua salvação, na medida em que se interioriza um certo modelo por meio de técnicas precisas. Estas são as disciplinas, das quais a principal será o exame, que se manifesta, no poder pastoral, como confissão e direção espiritual (hermenêutica de si). O poder pastoral seria, assim, criador de subjetividades, almas, identidades assujeitadas e disciplinadas, ancorado nas quais o poder disciplinar moderno, inclusive na atualidade, busca normalizar e gerenciar. Neste artigo também se apresentam as maneiras como as disciplinas monásticas se espalharam no todo social e se problematiza, por fim, o modelo de sujeito em que elas repousam.
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Procuro neste artigo oferecer uma historização do campo da psicanálise de adolescentes, estudando dois autores: Sigmund Freud e Anna Freud, que apresentam uma perspectiva no que faz ao fenômeno adolescente, tratando de indicar quais são os fatores que os mesmos tomam em conta nas suas investigações.
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O trabalho estuda a utilização da “acomodação” - recurso retórico que implica o conhecimento psicológico do outro como base para o estabelecimento de novas relações sociais – como descrita nos relatos acerca das pregações jesuíticas destinadas à população indígena no Brasil do século XVI. Os relatos - cartas e documentos informativos contendo narrativas de pregadores e visitadores - mostram a função e o uso desse recurso para uma comunicação eficaz diante de uma população culturalmente diferente. Mostra-se que a partir da concepção de uso da palavra com função doutrinária e persuasiva ensinada e praticada pelos jesuítas, a pregação era considerada como meio de transmissão de doutrinas, valores e práticas, mediada pela diversidade cultural dos destinatários. Tal mediação permitiria estabelecer uma comunicação persuasiva e o menos coercitiva possível, a coerção não condizendo com a afirmação da liberdade pessoal, doutrina básica da teologia católica reafirmada na Modernidade diante dos abusos em nome de ideologias religiosas praticados pelas políticas coloniais. Nessa perspectiva, a norma retórica da acomodação proposta por Cícero no De Oratore foi utilizada pelos jesuítas como propiciadora da mediação: exemplo histórico da busca de métodos mais humanos de interação em contextos conflituais, baseados na adaptação e atenção à psicologia do outro.
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O presente artigo tem como objeto de estudo parte da vasta biblioteca de Nise da Silveira, constituída por livros, de correntes teóricas variadas, sobre o estudo da expressão plástica, musical e literária. Esses livros versam, principalmente, sobre a produção de pessoas em tratamento psiquiátrico e vêm acompanhados por um fichário, denominado Benedito, que pode ser utilizado também como guia de estudos. O Benedito nos oferece informações sobre o método de trabalho desenvolvido por Nise da Silveira e a dificuldade encontrada para implementar tal método, cumprindo duas funções: delinear a escrita de Nise da Silveira e estabelecer um roteiro para futuros leitores.
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Em sua Segunda Consideração Intempestiva, Friedrich Nietzsche critica o sentido histórico que diversos autores deram à História. Fazendo da crítica à noção de processo histórico uma crítica da modernidade, demonstra como o excesso de conhecimento que originou diversas ciências, inclusive a História, pôde levar o ser humano àquilo que ele chama “febre histórica”. É neste contexto que Nietzsche formula suas críticas à modernidade e destaca que devemos ter um esquecimento produtivo como forma de escapar a esta doença histórica e vivermos com felicidade. Para tanto, propõe um rompimento com a história como única forma de almejarmos a felicidade. Neste artigo, pretende-se avaliar as considerações sobre o modo a-histórico de Nietzsche e entender como ele se articula com a história efetiva trazida com o texto de Michel Foucault Nietzsche, a genealogia e a história.
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Este artigo tem como objetivo analisar o papel exercido pelos saberes psicológicos nas práticas jurídicas e assistenciais dirigidas ao chamado “menor”, organizadas a partir das primeiras décadas do século XX no Brasil. A infância torna-se objeto privilegiado de estudo por parte de diversos saberes e de intervenção de instituições filantrópicas e oficiais. Instrumentos de avaliação médico-psicológica são desenvolvidos, inspirados na produção de autores nacionais e estrangeiros, e aplicados a crianças e adolescentes recolhidos pela justiça especializada, instalada no país em 1924, com a criação do Juízo de Menores do Rio de Janeiro. Os exames davam aos laudos, nos quais se atribuía ao individuo uma personalidade normal ou patológica, um caráter de cientificidade que justificava práticas discriminatórias e excludentes, como o recolhimento a instituições de reforma.
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O artigo aborda a construção da Psicologia no Rio Grande do Sul no período da repressão política vivido no Brasil, de 1964 a 1985. Examina-se um conjunto de conceitos muito pertinentes à Psicologia Social, ilustrados por narrativas que referem saberes, práticas e preocupações de fundo sócio-político. Ao refletir sobre os processos de instituição desses saberes e práticas e situá-los historicamente, pretende-se dar visibilidade a lutas recentes protagonizadas por minorias ativas que tiveram sua voz silenciada ou exilada mediante a força bruta imposta pelo regime militar. Se durante as décadas supracitadas o “psicologismo” serviu para fortalecer estruturas opressivas, desviando a atenção para aspectos individuais e descontextualizados, as práticas psicológicas também articularam espaços emancipatórios e críticos através da resistência e problematização de grupos organizados no interior do sistema hegemônico. Tais movimentos articularam uma práxis construída socialmente, tramada no cotidiano, imbricada na complexidade das redes de relações sociais que se estabeleceram no contexto vivido. Reforçar o vínculo da área à vertente social é considerar as relações da Psicologia com os problemas coletivos que afetam as maiorias populares.
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Tendo em vista o ‘apelo à responsabilidade’ de atores e instâncias sociais no cenário contemporâneo da Reforma Psiquiátrica Brasileira, este texto procura problematizar a noção de responsabilidade no campo da saúde mental. A ‘tomada de responsabilidade do serviço pelo território’, o ‘aumento da responsabilidade do profissional pelo processo de trabalho’ e ‘a possibilidade de o sujeito advir como responsável por sua própria condição’ são discursos veiculados por diferentes disciplinas e teorias – como a psicanálise, a saúde pública e a análise institucional – em campos de atuação afins, como o da saúde mental e da saúde coletiva. A família e a comunidade são convocadas a dividir responsabilidades pelo cuidado, mas do que se trata? Engajamento ou obrigação?
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Contrariando o modo como se costumava pensar na psicologia clássica, veremos que o afeto não é apenas um colorido que se acrescenta ao agente cognitivo, mas o próprio formador do sujeito, enquanto afecção de si por si. Em suas pesquisas sobre a consciência, Francisco Varela se depara com um domínio pré-pessoal, coexistente aos fluxos de consciência enquanto tal. Esse domínio, que é o das tonalidades afetivas, se cola à própria subjetividade. O afeto como nível pré-reflexivo faz parte de uma dinâmica, denominada por Varela e Natalie Depraz ‘dinâmica da dobra’. Essa dinâmica opera uma transição do nível pré-reflexivo ao reflexivo, do pré-atento ao atento, do pré-egológico ao egológico. Essa dobra possui um duplo eixo, um que se baseia na emergência da reflexão nela mesma e que conduz ao conteúdo cognitivo; outro que se baseia na auto-afecção e que conduz a predisposições básicas e a uma gama específica de emoções. A auto-afecção será atravessada pela alteridade, sendo, a valência afetiva, a manifestação mais imediata dessa alteridade, e que dará nascimento a disposições básicas. Desse modo, é o afeto que funda a cada momento a emergência da consciência. Há nesse ponto de vista uma avaliação primordial constitutiva da experiência e não uma neutralidade primária.
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Este trabalho surgiu de um convite feito por um professor de Educação Física da rede municipal de ensino, durante muitos anos voltado para o trabalho com sujeitos portadores de necessidades educativas especiais (SPNEE), para ministrar uma palestra sobre "Relações Familiares" para professores de Educação Física do Programa Esporte Para Pessoas Portadoras de Deficiências, o PEPPD, um projeto desenvolvido pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, através da Secretaria de Esportes e Lazer e Fundação Rio Esportes, em parceria com o Comando Militar do Leste e a Fundação de Apoio ao Instituto Benjamin Constant, em setembro de 2002. Em maio de 2003, indicada para atuar no mesmo, já como profissional "psi" prestadora de serviços ao referido Programa, pude me valer das conexões existentes entre a Disciplina Pedagogia Terapêutica, com a qual trabalhei, por cinco anos seguidos, no Curso de Psicologia de um Centro Universitário privado, e a de Conhecimentos Didático-Pedagógicos da Educação Especial, para a qual fui solicitada a lecionar, no Curso Normal de um colégio estadual, a partir de 2003. Pretendendo contribuir para o debate contemporâneo sobre "Corpo: psicologia e história", o texto visa a apresentar o processo de discussão que vem ocorrendo no locus da formação de professores de uma escola pública. Objetivando desconstruir certas práticas político-pedagógicas, vem apontar para as necessárias transformações conceituais, bem como institucionais, contribuindo para o fortalecimento dos movimentos sociais no tocante às imagens/formas de visibilidade do corpo dos S.P.N.E.E., em seus diferenciados matizes.
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O aumento da ocorrência da gravidez, a incidência de doenças sexualmente transmissíveis e o aumento da contaminação pelo vírus HIV entre adolescentes e jovens têm mbilizado esforços na área da educação, que através dos Parâmetros Curriculares Nacionais estipula como tema transversal a Orientação Sexual. A atenção ao adolescente e ao jovem tem sido alvo de fervorosos debates; no entanto, verifica-se uma quase total ausência de políticas que disponham sobre este ciclo da vida, o que gera como conseqüência uma falta de incentivo à implantação e implementação de estratégias e ações em diversos setores, como é o caso da educação. Ao mesmo tempo, os discursos e as ações dirigidas a este estrato populacional utilizam uma lógica que, via de regra, remete à sua patologização. Na ausência de uma perspectiva histórica que aponte para a produção da adolescência enquanto um grupo social com estilo de vida e características específicas, impõe-se uma naturalização desta etapa, acompanhada por uma patologização de suas formas de expressão. Neste contexto, o corpo do adolescente é alvo privilegiado de várias prescrições e proscrições dirigidas, prioritariamente, à sua sexualidade, que passa a ser analisada a partir da categoria “comportamentos de risco”. Este trabalho é uma tentativa de fazer face a este quadro. Para tal, consideramos de extrema importância um melhor conhecimento da forma como as categorias gênero, sexualidade e saúde reprodutiva são trabalhadas no contexto escolar. Tal fato implica que devemos considerar tanto as estratégias curriculares instituídas como os pontos de vista dos adolescentes e jovens, entendidos como protagonistas das ações, discursos e políticas das quais são objeto. Propomo-nos a investigar (além das referidas estratégias curriculares) estas concepções, assim como as concepções de outros atores da comunidade escolar, com vistas a oferecer subsídios para a elaboração de projetos que sejam considerados relevantes e que se baseiem nos princípios do protagonismo/ participação juvenil.
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No presente trabalho, partindo das considerações de Foucault a respeito das noções de autor e obra, e sua articulação com a de discurso, além de restos de lembrança pessoal e vasto material obtido via internet, pretende-se traçar um retorno aos processos de construção de Nicolas Bourbaki e Jérôme Jabin, de modo a abordar os efeitos envolvidos na escrita, tanto no que diz respeito às condições para sua consecução, como ao que dela decorre; os aspectos relacionados a seu registro e legitimação; a efetivação daquele que executa o ato de escrever como autor; e os desdobramentos que se efetuam sobre outros escritos.
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Este artigo tem como objetivo apresentar uma visão institucional da clínica, propondo, como elemento fundamental para dimensionar a prática da mesma, a construção de determinada noção de ética. A análise institucional é utilizada como ferramenta para um entendimento histórico-social do sujeito e, portanto, das práticas clínicas a ele voltadas. Procurando desfazer a falsa dicotomia entre clínica e política, opomo-nos a uma suposta neutralidade, na medida em que concebemos toda e qualquer prática como implicando um posicionamento político imanente. A perspectiva ética mencionada contrapõe-se a uma subordinação acrítica a um corpo teórico hermeticamente fechado, propondo uma relação de diálogo entre teoria e prática, privilegiando uma prática clínica voltada para a produção do novo e da diferença, ou seja, de processos de singularização, em detrimento de mecanismos de reprodução de modos dominantes de subjetivação. No que diz respeito à loucura, além de viabilizar a construção de modos de vida novos e autônomos, trata-se de conferir legitimidade e consistência aos territórios já construídos, quase sempre política e culturalmente esvaziados. Por fim, é discutida a experiência de estágio no Espaço Aberto ao Tempo, serviço de atenção diária em Saúde Mental, cuja prática assistencial – em permanente construção – vem se consolidando como experiência clínica singular.
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Baseada em etnografia realizada em um hospital público brasileiro especializado em assistência a doentes com câncer considerados sem possibilidades de cura, aliada à observação de congressos sobre Cuidados Paliativos e de pesquisa bibliográfica sobre o tema, apresento a trajetória do paciente a partir do diagnóstico de “fora de possibilidades terapêuticas”. O hospital observado, na cidade do Rio de Janeiro, se insere no modelo denominado internacionalmente de Cuidados Paliativos, implantado na Inglaterra e Estados Unidos no final da década de 1960. Segundo seus fundadores, esta proposta opõe-se a uma prática médica eminentemente tecnologizada, produtora de uma morte solitária e “desumana”. Os Cuidados Paliativos voltam-se à “humanização” do morrer e sua equipe multiprofissional busca prestar assistência à “totalidade bio-psico-social-espiritual” dos pacientes e de seus familiares, na qual a meta seria a produção de uma “boa morte”. Para a equipe observada, há um modelo “ideal” a ser percorrido pelo doente até a morte: incorporação da nova identidade – “FPT”, aceitação desta condição, resolução das pendências da vida, despedida das pessoas próximas e, sobretudo, despedida do próprio corpo e da vida. A ambigüidade da posição deste novo sujeito – não mais um doente qualquer, mas um “FPT”, ainda com vida, vivenciando seu período final, tomando decisões sobre o tempo que ainda lhe resta – é analisada e comparada com a produção estrangeira que reflete sobre a assistência paliativa. Discuto especificamente algumas situações observadas, nas quais surgiram tensões e conflitos entre profissionais, doentes e familiares – relativas a distintas concepções de corpo, expressão de sentimentos, despedida e, sobretudo, indivíduo e pessoa. Por fim, são abordadas as diferentes construções históricas e sociais em torno da morte, do luto e do lugar ocupado pelo doente.
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O presente trabalho é fruto de uma pesquisa de mesmo nome, iniciada em 2003 e vinculada ao Programa de Intervenção Voltado às Engrenagens e Territórios de Exclusão Social (PIVETES/UFF). Seu principal objetivo é colocar em análise as práticas que os psicólogos vêm produzindo no Judiciário, a saber, em Juizados da Infância e Juventude e em Varas de família no Estado do Rio de Janeiro. Para pensar o cotidiano desses profissionais e problematizar as instituições que vêm se afirmando nesse espaço, foram tomadas como ferramentas as noções de implicação, análise de implicações e sobreimplicação propostas por René Lourau. Através das entrevistas realizadas com os psicólogos, percebemos que o acúmulo de tarefas e a urgência em realizá-las, muitas vezes, possibilitam a constituição de um campo sobreimplicado, dificultando a análise das relações institucionais presentes nas práticas. Em contrapartida, encontramos também psicólogos que, fugindo de uma intervenção no campo do individual, onde a subjetividade é tomada como interioridade a ser diagnosticada ou interpretada, apostam na construção de uma prática que contextualiza sócio-historicamente o indivíduo como sujeito de direitos.
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Entre 2000 e 2025
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- Entre 2000 e 2009 (501)
- Entre 2010 e 2019 (827)
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