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Este ensaio problematiza as políticas de enclausuramento e docilização que orientam as comunidades terapêuticas voltadas ao pretenso tratamento de pessoas que usam substâncias psicoativas consideradas drogas pelo Estado. Adota como analisador o modelo terapêutico utilizado pela maior rede de comunidades terapêuticas do Brasil, a Fazenda da Esperança. As reflexões são tecidas em uma conversa com aportes teóricos antimanicomiais e da análise institucional. Argumenta-se pela importância de terapêuticas que potencializam, em contraposição às práticas de confinamento e docilização, as quais cada vez mais se fortalecem como modelos norteadores das políticas sobre drogas, no Brasil.
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Este artigo é fruto de uma investigação empírica acerca das modulações biopolíticas da amizade. A partir do estudo de alguns conceitos, como o de enunciado, sociedade de controle, biopoder, vida como obra de arte, episteme moderna e capitalismo como produtor de subjetividade, Michel Foucault, Gilles Deleuze e outros autores conduziram a uma busca metodológica pelo socius atenta a discursos pretensamente verdadeiros, que estabelecem vínculos específicos entre amizade, saúde e capital. “O que as amizades fazem do presente e o que o presente faz das amizades?” foi a pergunta que norteou o processo de escrita. Buscou-se problematizar os enunciados dirigidos à mesma, engendrados na sutileza do capitalismo contemporâneo que, reprodutores de certas relações entre saber e poder, concretizam e espraiam determinados modos de existência, em detrimento de outros possíveis. O artigo caminha, pois, na direção de uma aposta ética no posicionamento inventivo pela criação de amizades e de mundos.
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O presente artigo tem por objetivo contribuir com discussões contemporâneas sobre os assombros cotidianos ligados, sobretudo, às práticas golpistas em curso no cenário brasileiro, culminando, até o momento, fevereiro de 2018, na criação de um Decreto federal que trata da intervenção militar na segurança pública no RJ e que comporta muitos perigos. Para tanto, servindo-se de conceitos nietzschianos como niilismo, genealogia, meio dia, dentre outros, buscará aproximar esses conceitos do modo de subjetivação em curso e da herança, em nós e na sociedade, de práticas silenciadoras da potência de diferir, bem como percorrerá os movimentos que apontam para a possibilidade de sua reversão.
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Este artigo apresenta um estudo das relações de poder que, historicamente, têm destituído a vida na rua de sua força de existir, produzindo-a como algo da ordem do indigno. Atentamos assim para transformações radicais de práticas políticas e econômicas que se instalaram nas sociedades ocidentais por volta do século XV, favorecendo a emergência de uma população forjada sob o signo do pauperismo e que passará, de forma majoritária, a fazer das ruas espaço de moradia e de sustento. Na caracterização desta passagem, partimos de Marx e das práticas de acumulação primitiva a fim de pensar a noção de pauperismo que irá se generalizar pela Europa Ocidental até o século XVIII, fazendo aparecer as ruas como atreladas a uma população miserável que se deve administrar. Neste ponto, veremos com Foucault como conjuntos de técnicas e procedimentos destinados a governar essa população começam a assumir contornos e a despontar no horizonte.
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O objetivo deste artigo é passar em revista os principais argumentos do ensaio Ideias sobre uma psicologia descritiva e analítica (1894) de W. Dilthey. Isso para, em seguida, tecer alguns comentários sobre o porquê de o programa diltheyano não ter, na prática, feito ecos na história da psicologia moderna. Na contramão do que chamou de modelo explicativo e construtivo da psicologia, Dilthey tentou fundamentar detalhadamente, no ensaio em questão, todo um programa epistemológico e metodológico alternativo para a emergente psicologia científica. Programa esse cujo princípio fundamental era o mesmo do da sua Introdução às ciências humanas (1883): demonstrar a improficuidade, o grande erro de ponto de partida, que seria tentar importar para as ciências humanas nascentes - sem toda uma acurada reformulação no modo de olhar para o seu objeto – o mesmo modelo praticado pelas ciências da natureza. Porque, se esse fosse aplicado sem crítica ao estudo do fenômeno humano, desvivificaria o seu objeto. Dilthey concluiu que o estudo da psicologia, para não reduzir o seu objeto e ao mesmo tempo não perder a objetividade, deveria ser descritivo e analítico e proceder segundo o método histórico (e não segundo uma míope psicofisiologia proveniente das ciências da natureza). Este programa – cuja sistematicidade bem acabada teoricamente justificaria a formação de uma escola – parece não ter prosperado no âmbito das formações do psicólogo ao redor do mundo contemporâneo porque seu método levou a psicologia para longe do âmbito da técnica e da aplicação. Isso talvez deflagre o quão, para impor-se e “sobreviver” no social, a difusa e sem unidade ciência psicológica tenha sempre dependido, mais do que de teorias bem acabadas que enfeixem luz em alguma coisa, das suas modalidades de intervenção. Enquanto as Ideias diltheyanas restaram “esquecidas” (ou restritas às faculdades de filosofia), foram as psicologias “destinadas a fornecer um conhecimento útil para a previsão e controle dos eventos psíquicos e comportamentais” aquelas que efetivamente colonizaram os sistemas teóricos e, sobretudo, as práticas das psicologias europeias e norte-americanas da primeira metade do século XX.
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Este trabalho acompanha os questionamentos iniciais de uma pesquisa de mestrado que buscou analisar a produção de autonomia dos usuários da saúde mental a partir da participação política no Movimento da Luta Antimanicomial. Contudo, as diferentes visibilidades do conceito de autonomia trouxeram complexidades aos caminhos da pesquisa, tornando necessária a criação de um mapa conceitual capaz de guiar de modo ético as investigações realizadas. A discussão Ética produzida por Spinoza permitiu a criação de um mapa conceitual, ainda que provisório, capaz de guiar as subsequentes investigações em torno da participação política e os desdobramentos na vida de sujeitos afastados desses espaços por preconceitos e estereótipos acerca do enlouquecimento.
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Este artigo aborda alguns conceitos do materialismo filosófico de Lucrécio, tais como o de “caos laminar”, “caos nuvem” e “clinâmen”, assim como apresentados por Michel Serres, buscando ressaltar as potências não-determinísticas, inventivas ou ficcionais presentes no primeiro materialismo e que foram sobrepujadas no materialismo-dialético por um idealismo tomado de empréstimo do cientificismo do século XIX. Esse resgate de uma visão vitalista do materialismo busca extrair apontamentos éticos, políticos e metodológicos para reverter a sobredeterminação epistêmica dos modos da racionalidade econômica hegemônica calcada na previsão, no controle e na conservação da matéria. Um materialismo, tal qual o de Lucrécio, que não precisa corresponder a leis transcendentes e que é capaz de acolher o incerto e o imprevisível, enseja para o campo da ciência ontologias poiéticas; para o campo da filosofia, epistemologias não representativas e para o campo da política, revoluções do sensível. Em outras palavras, num materialismo que propomos chamar de “ficcional”, ciência, filosofia e política se distinguem, mas não se separam.
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O presente texto tem o objetivo apresentar as relações entre a personagem literária e o acontecimento. A partir de estudos inspirados em pensadores, como Nietzsche, Blanchot, Deleuze e Barthes, traçamos reflexões sobre três personagens distintas: a personagem conceitual, a personagem histórica e a personagem original ou literária. A personagem histórica foi associada à figura autoral em sua relação com a captura da experiência e a organização do discurso. A personagem conceitual está atrelada à trama dos conceitos na constituição da obra filosófica. Já a personagem original ou literária foi aproximada ao conceito de acontecimento para entendermos seu papel na experiência literária.
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O objetivo deste artigo é traçar uma linha através de alguns textos de Blanchot, recolhendo num todo coerente os variados temas relacionando literatura e revolução. Deparamo-nos em seus textos com passagens nas quais faz menção ao Terror, auge da Revolução Francesa, referindo-se a ela, em concordância com a interpretação hegeliana, como um obrar da morte, custo da liberdade absoluta. A relação entre literatura e revolução pode ser dividida em três momentos: em relação ao imaginário e a negatividade; em relação ao valor e a palavra inútil; em relação ao caráter fragmentário da literatura. O imaginário é a passagem, sem as mediações do tempo, do nada ao tudo, assim como a revolução inverte o regime político vigente. Para Blanchot, a literatura é um valor que não se avalia, o que exige uma forma de afirmação que supere a noção de valor, indo ao encontro do surrealismo como estética revolucionária.
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Há 60 anos, aos 60 anos, em 3 de novembro de 1957, parou de bater o coração de um homem que amei profundamente, embora eu tenha nascido 6 anos após a sua morte...
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O objetivo deste artigo é a análise da dinâmica retórica e dos conteúdos propostos num sermão proferido por Padre Antônio Vieira aos escravos de um engenho da região da Plataforma do Recôncavo Baiano pertencentes à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, em 1633, sendo o primeiro sermão pregado pelo jesuíta. Para isso, a História dos Saberes Psicológicos é utilizada como referencial teórico para interpretação após o processo de escolha das imagens a serem analisadas. O sermão discute a questão do bem-comum para os escravos, utilizando-se de elementos clássicos da retórica como a composição de imagens, visando a construção de argumentos persuasivos. A análise aprofunda o uso das imagens no que diz respeito ao seu efeito mobilizador do dinamismo psíquico dos ouvintes e a decorrente força persuasiva no que diz respeito aos argumentos propostos.
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Ao modo de ensaio científico-mito-poético, que deve ser lido literalmente, narra-se a emergência, em um tempo não cronológico, da visão de um filósofo, por meio de uma bio-bibliografia de seu próprio aprendizado, utilizando-se de fragmentos de uma memória intensiva, sub-representativa, ígnea. Para tanto, inspira-se no próprio estilo dos autores citados, que se tornam, por sua vez, personagens conceituais e figuras estéticas que escrevem uma constelação de ideias que prima por diferentes maneiras de se orientar no pensamento. Ao final, tais direções e linhas diferenciais convergem na própria intuição filosófica do vidente-narrador, ao modo de uma memória e profecia impessoal e singular.
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Como podemos pensar a relação entre noções do domínio da subjetividade, que se apresentam como irrefutavelmente constituídas cientificamente, e suas versões em um outro campo, de constituição diversa, que chamamos de “literário”? Tendo este questionamento como princípio norteador dos meus trabalhos nos últimos anos, este texto procura desenvolver a noção de “estranhamento emocional circunstancial”, criada por mim para matizar as limitadoras classificações nosológicas e cientificistas. Para tal, utilizo a correspondência entre Mario de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa procurando evidenciar como estas narrativas expressam esta noção evidenciando a forma pela qual o campo literário se apresenta como cenário de lutas íntimas, travadas em torno das emoções, fundamentais para a Psicologia, e que ganham forma e estatuto diverso no campo da ciência, em particular no da Psiquiatria. A correspondência trocada entre Mario de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa ganha sentido ao desvelar esta dupla relação, pois evidencia o paradoxo das emoções numa época em que expor-se, mesmo intimamente, não era parte das pretensões destes autores, mas que tornou-se uma tendência na atualidade. Este campo tem profundo interesse para a Psicologia, especialmente àquele vinculado ao Existencialismo de Jean-Paul Sartre, pensamento com o qual tenho grandes afinidades em minhas reflexões. O texto também coloca em cena as noções de saudade e melancolia, pois nelas encontramos também indícios que auxiliam a compor o que chamei de estranhamento emocional circunstancial.
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O artigo se propõe a analisar as interpretações da obra de Georges Bataille promovidas por Michel Foucault e Jacques Derrida, as quais proporcionam um entendimento da linguagem como experiência transgressiva. A partir delas torna-se possível a apreensão de um modelo de linguagem que, ao não se restringir às categorias de estrutura e representação, permite que se incluam nele experiências subjetivas que excedem e transgridem o modo de subjetivação dominante nas sociedades moderna e contemporânea.
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Procuraremos neste artigo desenvolver uma análise dos paradoxos lógicos formais que apareceram na construção da matemática e na lógica, no início do século XX e, através destes, analisarmos algumas das bases conceituais da psicanálise. A decisão que se impõe, como veremos, é aquela entre incompletude, por um lado, e inconsistência, por outro. Tal decisão implica na possibilidade de ler a psicanálise como uma teoria para a qual a elaboração do conceito de contradição seria fundamental, colocando-a em relação direta com a dialética hegeliana. Em nosso percurso, buscaremos também analisar algumas das proposições de Badiou acerca da totalidade ou do Um, de forma à relacioná-las à psicanálise.
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Tradução de Ruptures subjectives et investissements politiques: juin 2013 au Brésil et questions de continuité, de Maurizio Lazzarato e Tatiana Roque. Tradutora : Heliana de Barros Conde Rodrigues
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Não se constitui tarefa das mais simples a aproximação temática em questão entre duas dimensões de natureza tão díspares como a arte e a psicologia, em sua dimensão clínica. Enquanto a primeira consagra a eminência do fluir e de uma pertença dialogicamente miscível no aqui e agora, a segunda, pautada por uma pragmática do fazer técnico de proveniência da metafísica do controle e da previsão, tem como pathos fundamental o sucesso e a certeza, artífices do pensamento da tradição. Neste sentido, o texto procura elucidar a íntima relação entre a arte e o pensamento fenomenológico, filosofia esta explicitamente crítica a uma tradição metafísica que se hegemoniza no pensar moderno e contemporâneo, tendo no filósofo alemão Martin Heidegger seu principal interlocutor.
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O objetivo é apresentar a história e os elementos de uma experiência de formação em psicologia social do trabalho que tem sido desenvolvida em uma universidade pública com estudantes de graduação em psicologia que cursam disciplinas que incluem atividades práticas e estágios voltados às questões do mundo do trabalho e das organizações. Essas atividades são oferecidas pelo Centro de Psicologia Aplicada ao Trabalho em articulação com projetos de pesquisa e de extensão. Parte-se de reflexões da psicologia social e de outras áreas das ciências humanas para a compreensão e interpretação dos diversos temas abordados e das perspectivas teórico-metodológicas adotadas no campo. Desemprego, “mercado informal”, políticas públicas de trabalho, geração de renda, saúde do trabalhador, organização do trabalho, reestruturação produtiva, autogestão, economia solidária, cooperativismo, inserção de pessoas com deficiência no mundo do trabalho, histórias de trabalho, memória e trabalho, cotidiano e trabalho são alguns dos temas interrogados por alunos e supervisores.
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As substâncias psicoativas se tornaram elemento importante na sociabilidade contemporânea. Uma grande partilha social constituiu nos últimos 100 anos uma distinção entre as experiências de psicotropia legais e ilegais. Aos sujeitos no segundo polo são dados o tratamento policialesco e a violência. No presente artigo, debatem-se os efeitos dessa constituição histórica nas dimensões emocional, ética e técnica em torno do uso de drogas na contemporaneidade. Há uma aposta clara no desmonte das imagens cristalizadas que naturalizam as sustâncias psicoativas ilegais como um mal em si. Para tal intento, o texto se constitui por dois movimentos. Inicialmente, é uma produção alegorista, uma vez que esse método se apresenta como potente instrumento de entrada nas urdiduras afetivas formadas em torno da “questão das drogas”; na segunda parte, compõe com pesquisas de cunho genealógico sobre a temática, trazendo densidade ético-política para a discussão.
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