A sua pesquisa
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Objetivamos apreender modos de elaboração da experiência ontológica na análise fenomenológica da autobiografia Minha infância e mocidade de Albert Schweitzer (1875-1965), buscando evidenciar especificidades da metodologia utilizada. Apreendemos que a escolha dos episódios e pensamentos descritos, e a organização do texto intentam atestar a constância do autor. Suspendendo o caráter moralizante do conteúdo comunicado, focalizamos a estrutura da vivência dos valores reconhecidos como irrenunciáveis. Emerge que a elaboração da experiência ontológica em Schweitzer liga-se à vivência do problema da verdade. Dialogando com a noção de Experiência Elementar, identificamos a exigência de verdade como aspiração radical que sustenta a curiosidade diante do mundo e se apresenta na pergunta pelo significado global da existência, contemplando o nexo pessoa-totalidade. Como conclusão, compreendemos que na autobiografia de Schweitzer a elaboração da experiência ontológica, ao coincidir com a elaboração sobre aderir ao que reconhece como verdadeiro, abre-se para horizonte totalizante em que a realidade concreta é acolhida como sinal e a vida é concebida como jornada de concretização dos valores não escolhidos, mas intuídos pela consciência. Conclui-se também que focalizar a estrutura das vivências, reconhecendo o dinamismo das exigências humanas, abre caminho para analisar a subjetividade em autobiografias sem incorrer em subjetivismo ou psicologismo.
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O objetivo do artigo é discutir as matrizes teóricas da concepção vieiriana da palavra como instrumento da medicina do ânimo. Através do método da história conceitual, são evidenciados na leitura dos sermões de Vieira, tópicos recorrentes que se referem à função terapêutica da palavra. É estabelecida a relação entre esses tópicos e o universo cultural a que Vieira se inspira, especialmente a Companhia de Jesus. Os resultados apontam pelo fato de que a função da oratória na perspectiva de Vieira inspira-se numa tradição, cujos pilares são Cícero, Sêneca e Agostinho. Estes autores foram apropriados pela Companhia de Jesus e propostos nos Colégios, desde o século XVI. Conclui-se que pela referida tradição, o cuidado do ânimo é entendido como pratica da vida regrada pelo exercício da sabedoria. Tal exercício cura desequilíbrios anímicos e enfermidades decorrentes. Esse cuidado é confiado à palavra ordenada conforme os preceitos da retórica articulados a conceitos filosóficos.
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Nosso objetivo com este artigo será o de resgatar alguns elementos da experiência clínica de Freud que levaram o médico vienense a abandonar uma aproximação exclusivamente anatomopatológica do fenômeno clínico. Tendo isso em vista, retomaremos alguns artigos fundamentais publicados pelo psicanalista durante as duas últimas décadas do século XIX e os discutiremos a partir da literatura científica a eles contemporânea, reconstruindo assim o contexto dentro do qual a psicanálise pôde emergir enquanto prática clínica. Serão privilegiadas aqui as experiências de Freud como neurologista e como hipnoterapeuta, sua tentativa de superar algumas dificuldades ligadas à démarche anatomoclínica e a introdução de uma nova materialidade que faria nascer a importante noção de realidade psíquica.
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O objetivo deste artigo é refletir sobre o letramento a partir das contribuições da Análise do Discurso de tradição francesa e da Psicanálise lacaniana. Procuramos mostrar como, ao resistir ao discurso da ciência, adultos analfabetos afirmam seu letramento pela capacidade de elaborar narrativas que lhes asseguram autoria dos seus próprios dizeres; narrativas em que o narrar é equivalente ao narrar-se, ou seja, à construção da subjetividade. De nosso ponto de vista, ao tornar possível ao sujeito que faça “um”, estabelecendo uma unidade transitória e ilusória entre a linguagem e o mundo, a narrativa permite a emergência da autoria e da singularidade do sujeito. Opõe-se ao discurso científico que tem como materialização máxima o discurso da lógica.
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Neste artigo, descrevemos o processo de construção discursiva da autoridade e do saber salesianos no âmbito da Educação e Psicologia em São João del-Rei, Minas Gerais. Investigamos um corpus composto por recortes do jornal Diário do Comércio, publicados entre 1958 e 1961, arquivados no Centro de Documentação e Pesquisa em História da Psicologia da UFSJ. A leitura cuidadosa e repetida dos recortes e o levantamento de informações sobre o contexto de produção, construção e interpretação do discurso analisado inspiram-se na proposta metodológica de Patrick Charaudeau. Identificamos a criação e funcionamento do Laboratório de Psicologia Experimental da Faculdade Dom Bosco como acontecimento discursivo que favoreceu, localmente, o enaltecimento dos salesianos como grandes educadores. Na prática, o Laboratório se transformou em espaço científico de oferta de serviços psico-pedagógicos, concretizados no Centro de Estudos Pedagógicos, no Círculo de Pais e Mestres e na formação do orientador educacional.
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Esta pesquisa qualitativa de inspiração fenomenológica buscou compreender e interpretar a experiência de universitários em relação ao atendimento psicológico disponibilizado pela instituição. Treze graduandos, entre 18 e 25 anos, de áreas do conhecimento variadas e que vivenciaram psicoterapia de tempo determinado e/ou grupo terapêutico participaram de encontros individuais de natureza dialógica. A análise, a partir da construção de narrativas sobre os encontros, num movimento fenomenológico de construção de sentido, evidenciou que os participantes: a) vivenciaram um encontro consigo mesmos e com outras pessoas, desvelando-lhes novos significados; b) perceberam o desencadeamento de um processo pessoal transformador; c) sentiram-se desafiados face a um atendimento breve, d) atribuíram a importância da atenção psicológica mais à descoberta de um novo modo de ser e relacionar-se do que ao aprofundamento de questões; e) consideraram necessária a atenção psicológica na universidade. Concluiu-se que a atenção psicológica no contexto universitário possibilita um processo de reestruturação pessoal.
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O artigo apresenta resultados de uma pesquisa que investigou a apropriação de ideias de Jean Piaget divulgadas na Revista do Ensino (1925-1940), entre 1930 e 1940. O periódico, publicado pela Inspetoria Geral da Instrução de Minas Gerais, era responsável pela divulgação dos princípios da Escola Nova no âmbito da reforma educacional mineira. A análise da revista revelou a existência de onze textos em que há citações diretas a Piaget. Esses textos podem ser divididos em dois grupos em termos de gênero: um conjunto formado por discursos, resenhas e notícias e outro representado por artigos que tratam da criança e de seu psiquismo. Desse conjunto de artigos, analisamos seis textos que trazem apropriações do conceito de egocentrismo ao lado da socialização do pensamento. Como conclusão, entendemos que, no periódico estudado, o psicólogo suíço era tomado como referência para as discussões do impacto do ambiente sobre o desenvolvimento psíquico da criança.
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In Memoriam
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Este trabalho apresenta uma reflexão sobre a relação entre o postulado da intencionalidade da consciência, proposição maior da Fenomenologia, e a experiência da meditação. Distingue a meditação, como experiência humana vivida a partir de uma consciência intencional (consciência-de) e a meditação vivida como experiência do vazio da consciência-de (consciência pura, silêncio absoluto). Identifica, na linguagem da espiritualidade mística, a primeira, como uma experiência de não-dualidade e, a segunda, como uma experiência de unidade, e aponta que o percurso para se viver uma e outra se inicia a partir da consciência mundana, que se crê dual, que separa sujeito e objeto, observador e observado, pensador e pensamento. Coteja as concepções ocidental e oriental de consciência, eu, vazio e vacuidade e registra a relação entre consciência e liberdade. Encontra, na poesia, a linguagem que melhor expressa a experiência da meditação, sobretudo a vivida como vazio da consciência-de, como consciência pura, silêncio absoluto.
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O artigo busca elucidar alguns elementos da relação entre Dilthey e Husserl concernentes ao tema da psicologia descritiva. Para ambos os autores, a investigação das formações culturais exige, para sua fundamentação, a abordagem da vida psíquica do sujeito. Em primeiro lugar, o artigo expõe alguns elementos históricos da relação entre Husserl e Dilthey. Em segundo lugar, apresenta o projeto de Dilthey em sua obra Ideias para uma psicologia descritiva e analítica. Ao final, é discutida a avaliação de Husserl frente às concepções de Dilthey, bem como as diferenças e as relações entre a concepção hermenêutica de Dilthey e a concepção da psicologia fenomenológica husserliana, entendida como ciência eidética.
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A expansão dos cursos de Psicologia e a aceitação social desta ciência e profissão no Brasil, a partir da década de 70 do século passado, possibilitaram a criação de veículos de comunicação que facilitassem a difusão de conhecimentos e de fazeres psicológicos. A revista Psicologia Atual começou a ser publicada em 1977 e perdurou até 1986, sob a responsabilidade do Grupo Editorial Spagat. A presente pesquisa teve por objetivos identificar diferentes conteúdos associados à Psicologia Humanista publicados na revista, as diferentes abordagens teóricas veiculadas por ela, os seus proponentes e depreender significados que lhe eram atribuídos. Os conteúdos identificados foram categorizados em artigos, entrevistas, publicidade e reportagem. A seguir foram identificadas abordagens teóricas às quais as inserções se referiam. Os dados foram analisados pelo método descritivo-interpretativo. Os resultados indicaram um expressivo número de publicidade, em diferentes modalidades. A maior parte delas se referia ao Psicodrama, seguido pela Gestalt-Terapia e pela Abordagem Centrada na Pessoa. Em menor número, identificaram-se artigos e reportagens que tratavam de temas contemporâneos à época. Conclui-se que a difusão da Psicologia Humanista, por vezes estava associada à práticas corporais ou não psicológicas e que representou uma possibilidade de liberdade de expressão frente ao cenário político daquele contexto histórico.
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O artigo que segue apresenta a relação entre a loucura e a sociedade no Brasil ainda colônia, seguido da análise das mudanças ocorridas neste campo com a chegada da família real, período imperial e a recém proclamada república. Destas mudanças, vê-se no ato da maioridade de Pedro II a primeira legislação que relaciona saúde mental e tratamento, necessariamente hospitalar. Estudamos aqui as legislações de caráter nacional e as alterações na formatação da assistência em saúde mental decorrentes das mesmas no período compreendido entre os anos de 1841 e 1930, com paralelo ao estudo e evolução do alienismo e da psiquiatria nascente como disciplina médica, bem como campo de conhecimento crescente.
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A pesquisa objetivou apreender fenomenologicamente a experiência de pessoas atendidas em um Centro de Atenção Psicossocial em Álcool e Drogas no contexto da prática de Acolhimento. A estratégia de análise consistiu na construção de narrativas intersubjetivas que possibilitaram descrever, compreender e interpretar elementos da experiência vivida pelos clientes. A síntese das narrativas evidenciou elementos significativos: sentimentos ambivalentes sobre o consumo de drogas; esperança de recuperação; percepção distorcida em relação a si mesmo, denotando dificuldade no contato com a realidade; importância dos relacionamentos interpessoais no desencadeamento da dependência às drogas e também no processo de recuperação; angústia como elemento desencadeador para buscar ajuda profissional. Foi constatada a relevância de se disponibilizar um encontro dialógico como facilitador para que o cliente possa resgatar o contato consigo mesmo de maneira mais realística e assim aderir ao tratamento.
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A psicanálise foi introduzida no Brasil a partir de 1920 contribuindo para o surgimento de novas práticas de atenção à saúde da criança. Assim, o presente artigo tem por objetivo discutir a articulação entre a psicanálise e as práticas voltadas à saúde mental da criança surgidas a partir de 1930 por intermédio da obra de Durval Marcondes, pioneiro na difusão e utilização na psicanálise no Brasil. Foi realizada uma pesquisa histórica a partir de levantamento da obra de Durval Marcondes e da equipe por ele liderada circunscrita no tema em epigrafe. A partir deste material identificou-se que a partir da articulação entre higiene mental, escola nova e psicanálise, desenvolveu-se um serviço pioneiro de atendimento à crianças com problemas escolares sustentado na avaliação diagnóstica e na orientação de pais e professores. Conclui-se que este trabalho introduziu a diferenciação entre criança com déficit cognitivo e problemas emocionais e lançou as bases das intervenções psicodiagnóstica e psicopedagógica.
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A interpretação das imagens fornecida pela psiquiatria tem uma longa história baseada em categorias psicopatológicas da arte. Os discursos escritos sobre as obras de arte criadas dentro de hospitais psiquiátricos brasileiros entre 1946 e 1956 promoveram formas sociais e históricas específicas de percepção. Este artigo busca discutir o problema concernente aos discursos e imagens em três hospitais brasileiros (Juquery/SP, Engenho de Dentro/RJ e Juliano Moreira/RJ), nos quais diferentes formas de perceber e interpretar as imagens são encontradas. No campo de estudos da psicologia social das imagens, tenta-se pensar como a iconologia crítica pode ajudar a compreender as “imagens do inconsciente”.
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Este estudo analisa dois importantes artigos escritos por Miguel Rolando Covian – Ciência, técnica e humanismo e Ciência e religião – onde o autor aborda a questão do conhecimento humano e os complexos aspectos constituintes da realidade. Dada a crise humanística e a hipertrofia do olhar que caracteriza a cultura moderna, Covian propõe, à luz das contribuições oferecidas por Aristóteles e José Ortega y Gasset, expandir o uso da razão humana considerando a multidimensionalidade do real e como subsequente decorrência, a complementaridade dos saberes. Deste modo, um fecundo intercâmbio dos resultados obtidos através das investigações científicas e filosóficas aparece como princípio epistemológico necessário que permite ao Homem elaborar um esboço mais adequado do mundo enquanto tal.
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Um posicionamento semelhante pode ser encontrado na psicologia da Gestalt e na teoria metapsicológica de Freud a respeito da necessidade das teorias psicológicas incluírem hipóteses especulativas sobre os processos cerebrais que subjazem aos fenômenos psíquicos. Os argumentos dessas duas teorias permitem que se extraiam certas reflexões relevantes para a situação e o contexto atual da psicologia, no qual os limites e as inter-relações entre psicologia e biologia ainda são alvo de polêmica. Nesse artigo, os modelos teóricos propostos por Freud e pela psicologia da Gestalt para explicar a relação entre o mental e o neural são retomados e discutem-se alguns de seus argumentos sobre a necessidade desses modelos incluírem conjecturas sobre a base orgânica dos processos psíquicos, feitas a partir da observação dos fenômenos de consciência. Em suma, pretende-se abordar alguns pontos de vista teóricos dessas duas teorias que são, em geral, pouco enfatizados na história da psicologia e que podem ser ainda relevantes para o contexto atual da disciplina.
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Apesar das heterogeneidades encontradas em meio à categoria espiritual preto-velho, não há ainda investigações sistemáticas sobre o assunto. Assim, objetiva-se analisar o simbolismo e os usos e alcances etnopsicológicos de uma subcategoria “desviante”: os pretos-velhos da mata. Para tanto, desenvolveu-se trabalho de campo em um terreiro de umbanda a partir da escuta participante, desdobramento do método etnográfico concebido pelo aporte da psicanálise lacaniana, e foram realizadas entrevistas semiabertas com médiuns e suas entidades. Os pretos-velhos da mata revelaram-se espíritos insubordinados que desafiam dicotomias ao fundirem num único personagem pretos-velhos e exus, oferecendo aos seus devotos instrumental simbólico para a elaboração de vivências pessoais e memórias sociais conflitivas que os constituem sujeitos no mundo e no tempo.
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