A sua pesquisa

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  • Esta tese versa sobre a história da implantação de uma reforma de ensino implementada durante dois governos petistas no município de Chapecó, Santa Catarina. No desenvolvimento do texto busco, a partir das falas coletadas em entrevistas realizadas com professoras, analisar os efeitos produzidos no cotidiano docente a partir da referida reforma. Inicio o trabalho apresentando diversos momentos da história política e educacional brasileiros nos quais diferentes reformas de ensino foram realizadas, apontando as inter-relações existentes entre as políticas governamentais e as políticas de educação. Em seguida, apresento o cenário específico Chapecó no qual ocorreu a reforma estudada. Neste ponto procuro apresentar a constituição política do município e discutir a novidade que um governo, considerado progressista, pode trazer para o campo da educação. Ao final analiso as entrevistas apontando e discutindo os efeitos que a reforma do ensino provocou, a partir das considerações feitas pelas professoras. Partindo de uma perspectiva transdisciplinar busco, auxiliada por referências das ciências humanas e sociais (política, história, sociologia, economia, psicologia) e da filosofia da diferença, compor um dispositivo metodológico que abarque a complexidade da temática proposta. Concluo o trabalho considerando que os efeitos produzidos pela citada reforma de ensino foram variados e só devem ser considerados em sua provisoriedade.

  • A presente tese inicia-se por uma encruzilhada e um segredo: na encruzilhada está a psicologia, entre os apelos instrumentais, antropológicos e neurocientíficos; já o segredo refere-se à quase desconhecida leitura de Kierkegaard por Foucault. Os dois filósofos se inscrevem na esteira da experimentação filosófica, caminho oposto ao da metafísica. Experimentação, aqui, não diz respeito a qualquer empirismo; inspira-se nos exercícios espirituais da Antiguidade grega e romana, e nas práticas da ironia, do cuidado de si e da parresía filosófica. As aproximações possíveis entre o pensamento de Kierkegaard e o de Foucault por esse viés da filosofia antiga, visam a contribuir para uma compreensão da psicologia e de suas práticas que permita o enfrentamento dos dilemas acima referidos, ou seja, os instrumentais, antropológicos e neurocientíficos. O percurso do trabalho tem como ponto de partida as suspeitas direcionadas à psicologia, desde o questionamento colocado por Canguilhem há mais de cinqüenta anos acerca das intenções pouco claras da disciplina, passando pelas críticas aos processos de subjetivação psicologizantes, até chegar ao grave enquadramento contemporâneo que busca convencer os sujeitos de que são, em última análise, nada mais do que cérebros. Os processos de subjetivação engendrados pelas práticas psi se vêem, pois, colocados hoje frente a impasses de difícil solução. Tantas são as suspeitas e temores quanto aos efeitos psi, que os próprios profissionais da área têm, em muitos casos, assumido a posição de que a psicologia se tornou inviável e deve desaparecer. As referências objetivantes ou antropológicas, quando priorizadas pela psicologia, de fato não deixam saídas, tornando urgente o encontro com outros referenciais que possibilitem respirar novos ares. O pensamento de Kierkegaard e o de Foucault surgem como intercessores em face desse horizonte sombrio. Os dois filósofos se dedicaram a tornar o homem atento a si e ao mundo, priorizando saídas singulares e criativas em lugar da reprodução dos modos de ser hegemônicos que ameaçam igualar tudo e todos. Desnaturalizadores do presente e avessos às grandes especulações teóricas sobre a vida, escreveram obras que é preciso experienciar, mais do que simplesmente ler, a fim de captar-lhes a atmosfera e com elas operar. A partir dessa atitude, a psicologia experimental ou interpretativa pode dar lugar a uma psicologia experimentante, que acompanha o cotidiano ao invés de se colocar como uma curiosidade sem paixão. Tal psicologia segue de maneira interessada os movimentos da existência e a apropriação pessoal da verdade, que deixa de ser transcendente, metafísica ou sonhada, e aparece encarnada nas lutas, receios, enganos, ações e tensões do dia-a-dia dos sujeitos de carne, osso e espírito. É na tensão constituinte-constituído que o sujeito se forja, seja ele lançado por Deus, como pensa Kierkegaard, seja, como propõe Foucault, mergulhado nos esquemas e objetivações que toma como naturais: a tarefa do sujeito é tornar-se si mesmo, participando de forma mais livre da própria constituição, exercendo de maneira refletida e ética a liberdade e transparecendo a si mesmo, ao invés de tomar como suas as determinações que lhe são oferecidas. A presente tese visa, portanto, a estabelecer o diálogo entre Foucault e Kierkegaard, pelo viés da filosofia antiga, buscando inspiração para promover, no tempo presente, processos de subjetivação outros que os modos desesperados de ser, e práticas psicológicas mais experimentantes e menos disciplinadoras.

  • Esta tese relata o meu encontro com um grupo de idosos em um projeto denominado Conversas & Memórias, e a experiência comunitária ali produzida. O objetivo central foi analisar de que forma os dispositivos utilizados na intervenção ajudaram na construção dessa experiência. Partindo de um campo de problematização que coloca em questão as possibilidades de vivermos juntos, busquei responder às seguintes perguntas: de que forma a vida coletiva nos contagia e nos constitui? que apostas podemos arriscar que nos permitam afirmar a possibilidade de construirmos experiências comunitárias no mundo de hoje? quais práticas de cuidado de si e de cuidado do outro podemos encontrar (ou inventar) em nossa cultura? como essas práticas podem produzir, como efeito, experiências de vida comunitária? como podemos viver juntos? Foi em torno dessas questões que desenvolvi o trabalho em dois campos distintos, visando à construção, por um lado, de um solo teórico-conceitual, e, por outro, de um plano prático-experimental. Na primeira parte desta tese, apresento os conceitos e intercessores que fundamentam as ideias aqui defendidas. Começo discutindo o processo de subjetivação, em um diálogo com o pensamento de Gilles Deleuze, Gilbert Simondon e Baruch Espinosa, e termino apresentando as apostas de Gilles Deleuze e Felix Guattari, Antonio Negri e Michael Hardt, Maurice Blanchot, Giorgio Agamben e Jean-Luc Nancy em uma comunidade por vir. Em seguida, apresento minhas próprias apostas, fundamentadas no diálogo de Michel Foucault com a filosofia antiga sobre as práticas de si e a construção de um novo ethos, desenhado por uma estética da existência. Descrevo, em outro capítulo, o método da pesquisa, partindo de uma discussão sobre a cartografia e as possibilidades que ela ofereceu para que eu pudesse acompanhar processos e habitar o território da pesquisa; discuto, ainda, o conceito de dispositivo e os efeitos que são produzidos ao desembaraçarem-se suas linhas; por fim, descrevo o material que utilizei nas análises da experiência do projeto. Na segunda parte da tese, arrisco-me em um campo prático-experimental, dando movimento aos conceitos discutidos anteriormente e incorporando-os à discussão dos quatro dispositivos que examino aqui. No primeiro, a Roda de Conversação e os efeitos, como o exercício ético e político, que essa prática anuncia. No segundo dispositivo, os Agenciamentos, apresento as poesias, músicas, crônicas, passeios que foram utilizados como disparadores das conversas, analisando os diálogos e as virtualidades produzidos por eles. No dispositivo três, a Experiência Narrativa, descrevo o processo de publicação de um livro com as histórias de alguns participantes do projeto. No quarto dispositivo, a Imagem Revelada, descrevo os efeitos provocados pelas imagens publicadas em um livro de fotografias. O último capítulo retoma a pergunta inicial - como viver junto? -, e oferece algumas pistas sobre as possibilidades de construirmos uma outra forma de sociabilidade nos dias de hoje.

  • Este estudo focaliza a prática de leitura de livros de auto-ajuda com o objetivo de analisar, numa perspectiva genealógica, seu surgimento, condições de produção e modos de funcionamento em sua implicação com um estilo liberal de existência. À luz da analítica foucaultiana, postula-se que a literatura de auto-ajuda, entendida como formação discursiva, está intrinsecamente ligada a racionalidades e tecnologias do poder voltadas para a afirmação de um indivíduo que se auto-empresaria como capital humano. Tomando em referência o conceito de governamentalidade, tem-se que tal literatura associa-se a microprocessos de governo de condutas atinentes a uma razão governamental que visa alcançar pelo mínimo governo a máxima eficácia. O trajeto investigativo deu-se em diferentes planos, intimamente interligados, que incluíram detalhada pesquisa de campo, leitura e análise de livros do gênero e entrevistas com leitores. O relato parte de uma discussão sobre a contínua e sistemática circulação de ensinamentos que, a um nível infinitesimal, se afirmam na atualidade como condutores de nossas condutas, para, em seguida, introduzir uma discussão sobre a concepção foucaultiana de prática central à análise e guia da reflexão que a partir de então se faz - com o intuito de desvelar, nas práticas de leitura de auto-ajuda, possíveis interconexões entre produção de verdades, técnicas de si e governo dos outros.

  • Tentamos responder a uma única questão, que se coloca duplamente, problema a nosso ver central para a Psicologia: qual o estatuto ontológico do pensamento? Assim, igualmente: qual o estatuto ontológico do psiquismo? Se a subjetividade ou o espírito, seja como psiquismo (afetos, devires, alma) ou pensamento (ideias, representações, mente) é algo, e sabemos não se confundir com o corpo presente ou o cérebro (imagens atuais), o que é ela então? Construindo um recorte perceptivo onde possa emergir a intuição que nos permita responder a essa colocação de problema, buscamos na primeira dissertação da tese, tendo por eixo uma análise de fato, desenhar a gênese da subjetivação coletiva em nosso presente. O psiquismo no capitalismo globalizado deslizaria rumo à esquizofrenização, que nada mais é que o crescente despertar intuitivo da subjetividade em virtude de um aumento de potência dos coletivos humanos (virtualização) que tende a uma mudança de forma, a encarnação de uma nova visão de si e do mundo: a superação da transcendência (divisão entre os modos de ser ou indivíduos por representações fixas, simétrica à sensação de separação entre o indivíduo e seu meio), ou seja, um mergulho na imanência ou reconexão com o Todo coletivo e comum, Virtual. Na segunda dissertação, avançaremos a problematização em direção a uma análise de direito, partindo da ontologia spinozista (ser da Natureza) e da metafísica bergsoniana (colocar os problemas em termos temporais, processuais, e não espaciais, fixos), ao interrogar-se sobre a natureza desse comum, o Virtual ou atributo Pensamento, no qual o atributo Extensão ou Atual seria apenas um recorte para uma consciência qualquer dessa duração indivisível comum (seleção que constitui seu interesse ou resolução do problema da vida). Nesta relação que constrói ao mesmo tempo a subjetividade (visão de mundo, Espírito) e a objetividade (Mundo ou a visão de uma subjetividade), demonstra-se que o que tomamos como matéria é apenas uma abstração de forma espacial-geométrica, quantitativa, desse fluxo vital que, no Tempo (Acontecimento, Ato Puro, Verbo), é um todo, um bloco de forma temporal-afetiva, qualitativa. Assim, nossa tese ou hipótese: (1) toda psicologia é de direito (gênese, virtualidade) e de fato (prática, atualidade) uma psicologia social, seu tecido comum é o Pensamento, construído concretamente e permanentemente em redes vivas de comunicação diferencial, criativas, pois tendem por sua própria natureza temporal ao aumento de potência (alegria) segundo sua duração singular imanente − interdito à Moral como forma transcendente, que pela sua assimetria é sempre um problema mal colocado; e (2) que a visão do Virtual não apenas evidencia um novo ponto de vista da psicologia, mas coloca em questão o paradigma científico-político-noético hegemônico, voltado para o presente e o corpo, a vida como signo ou representação (análise e julgamentos, crítica), para dar visibilidade a um saber do sentido da vida, voltado para o Espírito, a imanência presente do passado (Memória) e do futuro (Criação); um saber que não nega ou negligencia o corpo, mas, ao contrário, o eleva à enésima potência de vida como pensamento e ação, reconectando todo corpo individual e presente ao corpo comum coletivo e histórico do qual jamais pode ser separado.

  • A prática psicológica no âmbito judiciário é o tema por excelência deste trabalho. São descritas, inicialmente, algumas situações problemáticas que se transformaram em questões judiciais no âmbito da vara da infância. Observou-se que houve, por parte da instituição, uma expectativa de previsibilidade dirigida ao trabalho do psicólogo, ou seja, a demanda de que a avaliação psicológica pudesse confirmar ou refutar a ocorrência de determinadas situações reais como, por exemplo, o abuso contra crianças , bem como desvelar ocorrências futuras do comportamento das partes envolvidas nos processos. Partindo de considerações teóricas a respeito de ciência, verdade e poder, procuramos cartografar medos, anseios e expectativas dos psicólogos do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro. Essa construção cartográfica se estabeleceu através dos relatos de cinco profissionais, chamados de interlocutores-heterônimos, entrevistados com base nas proposições da História Oral, bem como na perspectiva da pesquisa-intervenção, nas quais o pesquisador se coloca como parte do trabalho prospectivo. Os relatos deram ensejo a reflexões de caráter teórico, nas quais foram utilizadas como referências conceituais a genealogia foucaultiana, a Análise Institucional, a Teoria do Ator-Rede e a Teoria do Abolicionismo Penal, entre outras. A instituição judiciária foi analisada com base em sua dimensão histórica e em suas articulações com o poder, que forjam um espaço profundamente hierarquizado e vertical em seu contexto e relações internas. Dessa análise, emerge a figura do magistrado, detentor de um poder quase ilimitado, a quem se deve reverenciar e temer. A pesquisa empreendida teve como objetivo explicitar a dimensão coletiva de uma experiência que costuma ser vivida (e sofrida) de forma particular e isolada, como se somente coubesse aos sujeitos envolvidos a custo de muito sofrimento, tensão e eventualmente descontrole e adoecimento a submissão obediente a imperativos de ordem institucional.

  • Esta pesquisa tem dois movimentos: no PRIMEIRO PIVÔ, propõe-se uma genealogia histórica do problema da infância no pensamento francês contemporâneo, a partir da obra conjunta do filósofo e professor da Université Paris VIII (Vincennes/Saint Denis) René Schérer (1922 ) com o ativista e escritor Guy Hocquenghem (1946 1988). Ensaiando a escuta de um debate atualmente silenciado a problematização da infância como experiência exterior, transbordante e perturbadora da ordem civilizada, materializada tanto no combate aos quadros explicativos dos saberes psi quanto na crítica à pedagogização sistemática das relações sociais, sexuais, econômicas e políticas no que concerne às crianças , esta meteorologia da moral acompanha as variações do clima em que estas ideias ganharam consistência na França entre as décadas de 1960 e 1980, seja por meio de obras históricas, filosóficas, sociológicas, literárias, cinematográficas, fotográficas etc., seja através da ação política em torno da liberdade sexual e de suas reverberações na expressão do desejo infantil. Pela indisponibilidade da maioria destas obras em português e no intuito de favorecer o acesso a pelo menos uma delas, o SEGUNDO PIVÔ consiste na tradução de um dos principais trabalhos de Schérer e Hocquenghem: o livro Co-ire: album systématique de l enfance ( Coir: álbum sistemático da infância), publicado em 1976, sob o número 22 de Recherches, revista do Centre d Études, de Recherches et de Formation Institutionnelles (CERFI), editada por Félix Guattari (1930 1992). O Co-ire apresenta uma constelação (histórica, literária, filosófica, pictural etc.) de imagens antifamiliares da infância, na qual a criança deixa de ser tomada da perspectiva de um objeto ou categoria de análise para ser pensada na multiplicidade de seus agenciamentos com o mundo. Segundo esta perspectiva, são as potências imprevisíveis da criança (e não seu suposto inacabamento ) que nos interpelam a pensar a infância. Trata-se de uma obra que não se ocupa de totalizar o que mostra, explorando a força que as imagens, sendo consteladas, passam a contrair e ressoar não por se exibirem à plena luz da racionalidade moderna, mas, ao contrário, por se colocarem à propícia penumbra , algo que se insinua sem se entregar. Schérer e Hocquenghem montam esta constelação da infância como um chamamento e um desafio que ultrapassa as páginas do livro em questão: como mostrar e situar estas outras constelações da infância sem ameaçar sua existência frágil? Como preservar seu brilho próprio e sua distância em relação aos saberes e poderes de hoje? E, nesta mesma direção, o que significaria pensar a criança segundo uma imagem propriamente contemporânea ? A partir da história deste livro e para além da contribuição resultante da sua tradução para os leitores e pesquisadores de língua portuguesa , este trabalho se orienta por uma perspectiva que considera a infância antes de tudo como campo problemático em movimento. Razão pela qual esta pesquisa é tão somente uma tentativa de renovar a aliança intensiva com a infância constelada por Schérer e Hocquenghem, cuja força e beleza são celebradas no Co-ire, numa cumplicidade estética com os movimentos passionais que fazem da própria infância potência perturbadora do mundo.

  • Numa experiência de militância no campo da esquerda e dos direitos humanos , algumas posturas e práticas se fazem questão. Cobranças e culpabilizações, o imperativo de dar conta de tudo , a exigência de uma suposta legitimidade para lutar, discursos de ódio, desqualificação do outro para se auto-afirmar, mínimas ações que insistem em sua negatividade ao denunciarem medo, ressentimento, controle e surpreendentes apaixonamentos pelo poder: vemo-nos, por não poucas vezes, do lugar de militantes de esquerda , reproduzindo aquilo mesmo que queremos combater. Pensando junto a Michel Foucault e seu provocador prefácio à edição estadunidense de O Anti-Édipo (obra de autoria de Gilles Deleuze e Félix Guattari), pergunta-se sobre como resistir a esses microfascismos e paixões tristes que se alojam em nossos corpos e se manifestam em nossos discursos e práticas. O que está intrincado nas frases desse pensador e que ecoou em vozes de outros intelectuais-militantes contemporâneos seus quando escreve que não é preciso ser triste para ser militante, e que a ligação entre desejo e realidade possui uma força revolucionária? E na recomendação análoga, de liberar-nos das velhas categorias do Negativo? De que forma esse recado é tão atual? Como intensificar e/ou criar práticas militantes mais perpassadas por uma alegria enquanto potência de agir, sem com isso cair em ingenuidades e esvaziamentos? Munida com a leitura de autores como os já citados Foucault, Deleuze, Guattari, e também Baruch de Espinosa e Friedrich Nietzsche, pretendeu-se lançar o olhar sobre esses atravessamentos nos processos de subjetivação militantes, colocando em análise suas implicações. Nessa ontologia histórica de nós mesmos reside uma pergunta e um trabalho éticos: como lidar com essas linhas que compõem o que temos feito de nós mesmos? Para que não reproduzamos pura e simplesmente as forças que são modulações do poder sobre a vida, como dobrá-las , na relação consigo e com o mundo? Tomando o plano macro e micropolítico da experiência como território de pesquisa, uma militante-psicóloga-pesquisadora escreve cartas, em busca de encontros para uma composição que só seria possível se povoada. Numa escrita de si, diluem-se autoria e endereçamento, produz-se pensamento e engendra-se uma estética da existência que problematiza além de militâncias e esquerdas, modos de fazer pesquisa e a própria psicologia. A aposta ético-política é na potência de práticas militantes e de um viver não fascistas. Nada está garantido: não se chega a um suposto modelo que seria superior aos demais nem a uma fórmula para tanto. Trata-se, isso sim, de afirmar um exercício de cuidado de si árduo, cotidiano e parresiástico, que transforma e inventa a própria vida, a posição gauche e o mundo. Tomar a liberdade não como ponto de chegada, e sim como prática incessante de desprendimento de si mesmo e do poder. Quem sabe assim, e justo em meio aos afetos terríveis produzidos num presente abominável, se possam afirmar modos de pesquisar e modulações militantes mais libertárias, que sejam de uma alegria algo áspera e potente.

Última atualização da base de dados: 02/09/2025 00:00 (UTC)

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